Meus olhos paralisaram no rosto dela. Sua aparência jovem e o olhar ambicioso me davam nojo. Ela me dava nojo só pelo sorriso, aquilo me matava por dentro de uma forma que ninguém sequer entende. Pegou uma taça e saiu caminhando até o homem que eu julguei ser o marido dela. Sim, era o marido dela, Mike Miller, um dos governadores mais corruptos que existem. Só esperava o plano dar certo. Os dois caminharam até onde deveria ser um palco, mas no meio de um barco seria meio difícil um palco.
Logo abriu o discurso, mas parou com um olhar flamejante ao bater com os olhos naquelas fotos, e palavras, claro que não escrevi, digitei. Penny estava sendo traída pela melhor amiga, Marissa, que estava tendo um relacionamento não tão amigável com o marido de Penny. Essas eram as fotos, o texto era o que bastaria para que Marissa que era a dona da casa onde eu estava, se colocasse fora de cogitação.
– Senhores, infelizmente temos muitas coisas para falar aqui, mas a melhor noticia na verdade uma noticia terrível é que a Senhorita Marissa Monte Rey não irá mais morar aqui, pois está indo para Croácia. Não é Mare?
Penny piscou impiedosa e logo sussurrou algo no ouvido de Marissa, eu queria ser uma mosquinha para ouvir tudo, faria tudo por isso. Qualquer coisa.
A festa continuou como estava, e não se podia ver mais Marissa no caminho, isso era esplêndido é claro, para meus planos. Cassy não parava de me fazer andar o tempo todo, cantos e cantos. Pegando varias taças de vinho por todos os cantos, ela era impulsiva de mais, fazia o que lhe vinha à cabeça no momento.
– ah não.
Logo que vi tinha vinho espalhado por todo o terno de um... Elliott, sim era ele, meu alvo. Tão fácil, eu ganhei na loteria, sem ter apostado.
– tudo bem, eu ouvi falar que vinho faz bem para a pele.
Ele riu fraco me fazendo com que eu desse uma risada forçada, mas com um pouco de realismo, afinal ele era o alvo. Peguei um pano que estava sobre uma mesa próxima e ele sorriu ao ver a minha expressão facial de puro medo.
– eu faço isso se você deixar.
Novamente ele sorriu me deixando sem jeito, mas eu estava fria por dentro, sabia me controlar. Não era tão fácil, aprendi da forma difícil. O deixei no controle, sobre os flashes das câmeras eu podia ver seu sorriso estranho e sedutor ao mesmo tempo. Qualquer uma cairia fácil naquele emblema maligno que se chamava "Elliott Miller".
– estou bem, então... A gente se esbarra por aí.
Meu tom fraco de voz deixava tudo cada vez mais fácil, estava imune mas deixando claro minha fragilidade. Com um bom jogo de palavras pode se ganhar até mesmo a pior das guerras.
– eu espero. Espero brevemente.
Eu escapei de seus braços firmes e por um segundo ele parou de respirar. Mas logo pude ouvir sua voz no fundo.
– Mas eu nem sei seu nome...
Seu olhar quase como um cãozinho abandonado com aquele brilho no olhar quase me comoveu, mas aquilo seria mais como um jogo sombrio.
– apenas me encontre.
Ele riu fraco mais uma vez, e então eu andei livremente por todo o deck do iate. Sem sinal nenhum de Austin Moon eu estava bem, bem de mais para ser verdade. Sem rastros dele eu poderia passar o dia sem me preocupar com sabotagens, seria a segunda vez.
Estava entardecendo, a noite já tomava conta de todo o ambiente com uma brisa fresca e uma lua solitária que estava mais brilhante do que o normal. Me despedi do resto dos convidados, todos gente que eu nem sabia o nome, nem sequer o nome. Chegando em casa tirei meus saltos e os carreguei só com uma mão, pendurados pelas amarras dentre meus dedos. Caminhei sóbria, levando minha mão livre até meus cabelos, eu precisava dormir, estava caindo.
– Bem vinda ao Hamptons, Ally.
Logo que ouvi aquela voz, aquela maldita voz que tinha se extinguido da minha cabeça há algum tempo atrás estava de volta, eu não aguentava isso. Larguei o salto e me virei até ele, Austin Moon que já estava se aproximando do meu rosto. Até que o empurrei contra a parede quase esmagando sua garganta. Ele gemia de dor, não estava tão em forma.
– sabe que seria fácil para mim acabar com a sua raça miserável aqui, agora?
Seu olhar de medo prevaleceu dentre seus gemidos e suspiros de dor a cada empurrão que esmagava seu pescoço, parecia fácil, eu parecia fria. Mas as memórias, malditas e torturantes memórias não saiam da minha cabeça. Principalmente ao ver seu rosto, seu olhar. E tudo que o cercava não passava de uma armadilha na qual eu já tinha caído varias vezes.
– seu pai não apoiaria isso. Ele confiava em mim. Como você já confiou um dia, querida Ally... Ou devo chama-la de Juliet? Certamente sim.
Sua voz quase nem saia, de tão forte que eu estava o prendendo contra a parede, podia sentir sua respiração de tanto que nossos rostos estavam próximos, senti nojo. Eu não queria me aproximar de ninguém que pudesse me sabotar. Mas o soltei, dando um suspiro de fôlego em prol de mim mesma.
– Meu pai confiou em todos, todos o traíram. Você é como eles idiota. Só mais um nesse jogo imbecilizado.
Seria possível para mim acabar com a raça dele, mas assim eu iria gastar tempo por nada, ele era só uma pedra no meu caminho. Logo me olhou com medo, sentindo, provavelmente gosto de sangue escorrendo pela sua boca. Eu poderia ter feito mais estrago do que isso.
– ok, mas eu poderia te ajudar. Eu posso ser um bom aliado, e um bom inimigo. Até amanhã, Alls.
Seu sussurro me deixava arrepiada, ele caminhou até a porta, logo parou. Me encarou como se quisesse me ter, mas eu não o teria. Me guiei em seus olhos castanhos profundos,mas encarei franzindo o cenho. Com o punho cerrando, que tremia pela força colocada ali.
– Se ficar no meu caminho eu acabo de vez com você, confie em mim, se tem uma coisa que eu não tenho nesta vida é a Piedade. Se não quer sofrer com essas consequências saia do meu caminho.
Enquanto me aproximava ele também fazia o mesmo, parecia estar solitário, como sempre, isso me angustiava. Ele deixou bem claro que iria sumir de vez, se é que não fez isso.
– claro. Já vou indo... Mas, ficaria feliz em saber que Dallas Winchester ainda tem uma paixãozinha pela pequena e adorável Ally Dawson, acho que você devia saber.
Ele parou em espera a minha resposta, mas eu nao estava muito bem com isso, queria quebrar a cara dele. Fazer seu sangue pingar pelo chão em gotas grandes e concentradas, mas isso não me tornaria vencedora, acabaria comigo.
– Ally Dawson não existe mais.
Ele deu gargalhadas leves, e saiu cambaleante pelas escadas curtas. E aquelas memorias voltavam suavemente pela minha cabeça contaminando todo o rastro de ódio que lá havia.
{Flashback}
Ela saiu, saiu da onde nunca queria ter entrado. Seu casaco com capuz verde cobria metade de seus olhos que pareciam negros naquele momento. Ela não sorriu a ele, pois não o conhecia. Ela só tinha o visto quando seu pai lhe mandou algumas coisas. E novamente perguntava seu nome que não vinha a mente.
– Ally Dawson, eu pensei que fosse mais velha. Não é bem o anjo que seu pai me descreveu. Acho que errei de reformatório.
Ele estava lá encostado na ponta daquele carro negro com altas rodas. Com um olhar frio e solene. Nenhum dos dois queria comentar sobre isso se fosse possível poderiam desaparecer a qualquer momento.
– Meu pai não me vê fazem dez anos. Quem é você?
A voz rouca da menina de cabelos completamente tingidos de Preto com reflexos roxos estava ecoando por todo aquele lugar, ela se aproximou. Viu o loiro que de mais longe parecia mais velho, mas eles tinham a mesma idade. Ou era o que aparentava naquele instante.
– Austin Moon, seu pai me contratou como estagiário, ele foi a única pessoa que confiou em mim. Era como um pai para mim.
Ela sorriu um pouco e tirou o capuz dos olhos, a vista dele ela era quase perfeita, ou perfeita até de mais. Logo aquele pequeno sorriso desmanchou, deixando sua boca cair e formar um olhar triste.
– Era?
Ele desviou o olhar, abaixou a cabeça, era difícil de mais, nem mesmo alguém de sangue frio não iria conseguir uma proeza dessas.
– Seu pai faleceu, mas como você já tem 18, possui metade da minha companhia. Quer dizer, a dele. Eu sinto muito...
Ela mordeu os lábios, queria chorar mas não sentia que isso seria certo, não naquele momento.
– porque deve sentir? Meu pai era um mentiroso, um impostor. Então porque devo confiar em você? Hã?
Ele se esquivou, mas colocou uma das mãos livres no ombro dela, que ficou paralisada. Mais uma vez ela sentiu-se frágil, fraca e insolente. Ela não queria isso para si.
– Porque... Eu não sei, confie em você mesma. Vai achar as respostas.
Eles ficaram por durante um tempo lá, parados e frios. Mas ninguém ligava para isso, nem mesmo ela.