16 de Setembro

As explosões só acabam de madrugada e quando isso ocorre, o Erebus havia desaparecido num enorme buraco com 27 metros de profundidade e 45 de diâmetro, com rachaduras no chão que iam até 90 metros de distância. Felizmente a maioria das casas dentro dessa área estava fechada e nas que tinham moradores, ninguém se machucou. Mesmo assim, nos meses seguintes a prefeitura de Melville teria de gastar milhões de dólares para mapear os antigos túneis e aterra-los, com o objetivo de prevenir acidentes futuros, assim como á construção segura de novas casas.
Ao verem os membros do clube saírem do local dentro de sacos para corpos, os vizinhos enfim tem coragem para falar sobre seus temores em relação ao local.Alguns pedaços do painel mostrando o Sombrio acirrou a curiosidade da imprensa que logo começa a escrever coisas como: ”Clube Erebus: Fachada Para Um Culto Maligno?” Os jornais sensacionalistas vão ainda mais longe nas especulações e no tipo de manchetes.

Em Hippiehartha, Pacífica começa um duro treinamento com Pinãta. Primeiro, havia uma sessão de meditação depois, treinamento sobre manter o equilíbrio e então, treino em artes marciais. São tantas as quedas que ela quase desiste. Pinãta a encoraja, dizendo:
— Não desanime. Todo mundo começa sua jornada como um autêntico idiota.
Aquelas palavras a reconfortam. Pinãta era como o avô carinhoso que ela nunca havia tido porque Auldman (o pai de Preston) havia morrido quando ela era apenas um bebê. Após o treinamento, ela pergunta a mãe sobre o avô materno, que responde:
— Se conhecê-lo algum dia, não creio que vá gostar dele. Ele se chama Gunnar, é um farmacista que mora em Juneau no Alasca, e é muito ganancioso. Queria que eu me cassasse com Renzo Lemene, o filho mais velho do rico dono de uma empresa de balsas. Um tipo vulgar, que gostava me exibir pra todo mundo como se eu fosse um troféu! Imagine que certa vez durante uma festa, ele passou a mão pelas minhas costas e apertou o meu seio direto no meio de um salão repleto de gente!
Eu o esbofeteei e ao saber disso o meu pai me repreendeu, dizendo que eu devia ser “mais compreensiva” com o sem vergonha! Depois disso eu peguei as minhas economias, saí de fininho e fui para o Havaí, onde obtive um certificado em medicina veterinária. Mas trabalhei apenas três anos, antes de cair na lábia de Preston Northwest e me casar com ele.
Após a conversa Golava leva a filha para tomar banho e em seguida descansar em um quarto do templo que havia sido cedido para elas. Depois, sai para conhecer Hipperharta melhor.
A primeira vista, o lugar parecia um condomínio fechado. A arquitetura das casas ao redor tinha estilos variados. Havia uma bonita praça pública, com bancos e brinquedos bonitos e bem cuidados. Todas as ruas eram pavimentadas com pequenos blocos de pedras, extraídas de uma pedreira próxima. O cimento para os blocos do meio fio era comprado de fora, assim como diversas coisas de uso cotidiano. O dinheiro para isso provinha da venda de alimentos orgânicos, venda de artesanato, as aulas em artes marciais, abertas para todos os interessados e uma conta em banco para receber doações eventuais. Pinãta faz um comentário inesperado:
— Certa vez o repórter de uma revista popular veio aqui e de depois escreveu um artigo dizendo que Hipperharta era “um mistura de mosteiro shaolin e comunidade hippie”. De fato, aqui temos uma interpretação mais flexível para quem entra no mosteiro. Só raspa a cabeça quem quer. Se optar por manter os cabelos e arrumá-los em qualquer estilo, isso será permitido. Eu me lembro dos anos 60, quando os jovens seguiam o trinômio “sexo, drogas e rock n’ roll”. Bom, aqui o consumo de drogas é proibido, o sexo está restrito a quem tem idade o bastante para isso e o rock é só um entre vários tipos de música apreciados por nós.
Golava gosta de saber daquilo e depois resolve esclarecer uma dúvida:
— Se tivessem capturado os membros daquele culto, o que aconteceria com eles?
— Trazer até aqui, e pô-los um a um no Signo Antigo. Isso iria conectá-los ao poderoso Khatanid, que expurgaria o mal de suas almas, curando os insanos, além de apagar as lembranças de terem sido membros de um culto de suas mentes. Assim, eles poderiam voltar a ter uma vida normal.
Longe dali no escritório que tinha em casa, Preston usa o computador para fazer pesquisas sobre a profundidade do mar nos arredores de San Jose.

17 de Setembro

De manhã Preston sai de casa dirigindo ele mesmo a limusine. No piso do veículo, uma valise executiva preta. Em uma loja de equipamentos esportivos, compra um par de discos de ferro para halteres, pesando cinco quilos cada. Em uma empresa de San José, aluga uma lancha de grande autonomia e dirige até o alto mar. Ali, abre a valise e põe os discos sobre a bolsa da impostora, onde estavam documentos pessoais dela, o iPhone, a aliança de casamento e o cetro de Z’olum.
Então tranca a valise jogando-a na água, após olhar no GPS do smartfone para ter certeza que estava em um local onde o oceano tinha 600 metros de profundidade. Aliviado e tranquilo dá meia volta, retornando para a cidade.

22 de Setembro

Pacifica enfim sente que está pronta para andar pelas ruas da comunidade. Algumas das crianças ficam tristes ou sentem pena ao perceber que ela era cega, mas ninguém zomba ou faz brincadeiras maldosas por causa disso. Meninas trazem suas bonecas para que ela as toque, descrevendo as cores das roupas e acessórios. Priscilla fica feliz ao ver a filha rindo, comentando sobre brinquedos e música adolescente.

26 de Setembro

Descobrir quem eram os cultistas estava sendo uma tarefa árdua por causa devido ao mau estado de seus restos mortais. A identificação de Alastair causou surpresa entre os criados da nova mansão Northwest, assim como em seus ex-colegas do Exército e os médicos do manicômio. Ninguém jamais saberia que o tenente Gabor nunca havia recobrado a sanidade. A falsa colega de faculdade apenas havia lhe ensinado como fingir isso, para que ele recebesse alta e fosse se unir a ela no culto ao Sombrio.
Ele retribuiu com lealdade incondicional, mantendo o culto em Melville fiel e coeso enquanto “Priscilla” desfrutava de uma vida luxuosa ao lado de Preston, indo até Melville de vez em quando. Mas identificar a impostora estava dando mais trabalho. Um telefonema anônimo feito de um telefone público por um agente da Watch & Warn atendendo a um pedido de Pricilla, ajuda os legistas a buscar as pistas no local certo.

28 de Setembro

As autoridades descobrem que o verdadeiro nome de “Priscilla Northwest” era Elora Mallor. Quando a polícia vai até á mansão de Preston para dar a notícia ele demonstra o espanto apropriado dizendo não saber que esposa dele, com quem estivera casado por 12 anos e que estava desaparecida havia 13 dias, usava uma identidade falsa.
Ao ler isso em um jornal naquele mesmo dia, Golava faz uma chamada para Gravity Falls:
— Senhor Mc Gucket? Sou eu,Pricilla. O momento pelo qual esperávamos chegou. Comece a reunir as testemunhas e me avise quanto todos estiverem prontos para viajar até San José. Eu me encarrego de encontrar um advogado com mente aberta o bastante para aceitar defender o caso, usando os argumentos e provas que iremos apresentar.
Em seguida, ela vai até uma empresa especializada em testes de DNA levando uma escova com fios de cabelo de Elora, que havia pegado na nova mansão Northwest. Cede amostras do próprio sangue e dos cabelos para os exames. Chamado por ela, Preston faz o mesmo.
Depois Pricilla visita várias óticas, e compra para a filha óculos de sol para ciclista, com lentes rosa pastel. Fala para Preston avisar aos criados da mansão que ela e Pacifica iram fazer uma visita no dia seguinte.

29 de Setembro

Os criados da nova mansão Northwest ficam chocados quando veem Pacifica entrar no local com os olhos ocultos por óculos de sol para ciclista e tateando o chão adiante dela com uma bengala. Após sentar no sofá da sala de estar, ela começa a falar:
— Eu suponho que todos vocês tenham visto na TV ou nos jornais as notícias sobre o culto que havia no Clube Erebus.
— Sim, o clube de adoradores do Demônio! – responde alguém.
— Ainda não consigo acreditar que a senhora Northwest era líder de algo assim! – fala outro.
— Mas ela era. – retruca Pacífica – E é melhor falarem dela como senhorita Mallor, porque aquela mulher nunca foi casada com o meu pai. A mulher a meu lado é a verdadeira senhora Northwest e também a minha mãe biológica, mesmo parecendo jovem demais para isso. Mesmo assim, peço que confiem na minha palavra, quando digo que isso é verdade.
— O que aconteceu naquele local? – pergunta o cozinheiro.
— Prefiro não falar sobre isso em detalhes. Mas o fato é que a senhorita Mallor e seu bando de malucos fizeram coisas terríveis com minha mãe e eu. Ela conseguiu se recuperar totalmente. O mesmo não ocorreu comigo.
— Vai voltar para cá, senhorita Pacifica? – pergunta uma criada.
— Não. Eu estou hospedada em outro local, recebendo ajuda especializada. Depois, eu e minha mãe vamos nos mudar para outra cidade. Portanto, não nos veremos mais.
— Se ao menos tivéssemos percebido que tipo de mulher aquela impostora realmente era... – diz o mordomo.
— Por favor,não fiquem sentindo culpa. A senhorita Mallor era uma farsante profissional. Basta lembrar que ela enganou o meu pai por doze anos!
Preston sente o alívio geral de todos, apesar da tristeza devido a cegueira de Pacifica. A menina se levanta e faz questão de abraçar cada um dos empregados, dizendo-lhes palavras de consolo. Depois, parte junto com a mãe.

A parada seguinte de mãe e filha é na agência de detetives. Ali, a comoção também é grande. Reunidos no escritório de Douglas Hawkins, estavam os agentes que haviam participado da vigília a Preston e Elora.
Pacifica repete as palavras usadas na nova mansão Northwest, acrescentando:
— Apesar de ter perdido a visão, saibam que estou muito grata a todos vocês, por terem contribuído para o reencontro entre minha mãe e eu. Agora, será que posso tocar os seus rostos, enquanto me dizem a cor de seu cabelo, olhos e pele? Isso ajudará a criar uma imagem mental que eu desejo muito guardar para sempre comigo.
Comovidos, todos concordam, inclusive Hawkins. E mesmo tristes com a tragédia, eles também sentem a satisfação do dever cumprido, ao verem mãe e filha partindo.

14 de Novembro

Após receber os resultados do exame de DNA, Golava encaminha um pedido para recuperar sua identidade roubada a Comissão Federal de Comércio em San José. A grande lacuna de tempo entre a data do crime e a do pedido logo é percebida, e ela é chamada para prestar os devidos esclarecimentos perante o próprio chefe da Comissão Federal, Martim Haworth na segunda feira da semana seguinte.

18 de Novembro

Haworth era um Afro-americano de 38 anos. Fica surpreso quando o advogado de Pricilla, Kino Ogura, pediu uma audiência no auditório da Comissão geralmente usado em palestras, mas logo percebeu o motivo, ao ver doze pessoas acompanhando Preston, Golava e seu advogado. McGucket estava muito diferente do habitual, com um terno terracota, camisa social madrepérola, gravata verde musgo e cabelo penteado. Junto com uma secretária e dois auxiliares, Haworth se prepara para a audiência.
— Dois dias após ter dado a luz a minha filha, Pacífica Elise Northwest, nessa cidade, eu e meu marido Preston viajamos para Gravity Falls no Oregon onde ele me levou para ver uma das atrações locais: uma casa de dois andares em estilo gótico chamada de Mansão De Misteris, cercada por um muro de tijolos da altura de um homem, com um portão de ferro esmaltado vermelho, que estava caído no chão.
Preston, o piloto do jato, o motorista e eu carregando a minha filha, entramos na casa que estava vazia. Preston me disse que o local havia pertencido a uma mulher chamada Ilena Szabo, desaparecida desde 1908 em circunstâncias misteriosas.
Enquanto andávamos pelos corredores e salas, o lugar foi invadido por uma espessa névoa. Senti-me cansada e entreguei Pacífica ao meu marido, me sentando em uma cadeira de encosto alto. Quando ergui os olhos, vi um vulto feminino se aproximando de Preston e fiquei de pé, indo na direção deles. Gritei para Preston, mas ele parecia não me ouvir. Tive de tatear nas paredes para tentar achar o caminho até a saída, mas acabei me perdendo, apesar do lugar nem ser tão grande assim. Acabei caindo de joelhos e em seguida, desmaiei.
Ao acordar, o sol brilhava e tudo estava claro. A limusine de Preston não estava mais parada no lado de fora, e eu tive de andar até a mansão Northwest. Ao chegar lá, soube que ela havia sido vendida ao senhor McGucket e mais incrível ainda, que haviam se passado doze anos!

Fechando a cara, Haworth diz:
— Senhora Northwest! Quero adverti-la que está em um órgão do governo federal, não num estúdio de cinema de Hollywood!
Ogura se levanta, dizendo:
— A minha cliente sabe que os fatos relatados por ela são difíceis de acreditar e por isso, peço permissão para que algumas das pessoas que nos acompanham contem o que aconteceu com elas, pois isso irá confirmar o relato que acabou de ouvir.
Haworth fica curioso e dá a permissão.

Uma mulher de cabelos brancos e olhos cinza pálido, usando um vestido malva se levanta.
— Meu nome é Lorna Morrison, tenho 69 anos, sou professora universitária de história americana e moro em Corvallis, no Oregon. Em 1952 viajei até Gravity Falls com a minha família para passar as férias de verão. Certo dia, fomos até a mansão De Mistere que segundo boatos dos moradores locais, era assombrada. Meus pais eram céticos e então decidiram ver o local de perto para tirar fotos. Mas lá dentro eu me separei deles ao ver um belo gatinho de pelo alaranjado.
O bichano era rápido e quando consegui alcança-lo, percebi que meus pais não estavam por perto. Comecei a procura-los, enquanto o local era tomado por uma névoa que chegava até os meus joelhos. Ao não encontrar ninguém, sentei em uma cadeira e comecei a chorar. Logo apareceu uma mulher de olhos azuis e cabelo louro cinza usando um longo vestido bege, com gola e punhos marrons. Ela me acalmou, perguntou o meu nome e quando falei o que tinha acontecido comigo, ela disse:
— Vou ajuda-la a voltar para casa. Mas você terá de devolver o meu gato Costel, porque eu gosto muito dele.
Concordei e entreguei o gato para ela, que me segurou pela mão e fomos andando até pararmos diante de uma porta. Então ela mexeu na maçaneta, dizendo:
— Agora, terá de voltar sozinha para o seu lar porque assim como Costel, eu não pertenço mais ao mundo que está lá fora.
Até hoje não sei o significado daquelas palavras, mas ao ver no lado de fora uma pequena praça, uma rua e mais adiante a minha casa, apenas saí correndo, atravessei a rua, abri o portão na cerca de madeira branca e apertei a campainha. Quem abriu a porta foi o meu pai. Dentro da sala, estava a minha família que olhou para mim como se eu fosse um fantasma. Logo, eu estava sendo abraçada e beijada por todo mundo em meio a lágrimas de felicidade.
Fiquei confusa com tudo aquilo e mais ainda ao ver a árvore de Natal decorada e pronta para receber os presentes. Logo fiquei sabendo que eu havia desaparecido em 24 de Julho e que estávamos em 24 de Dezembro!
— Está dizendo que ficou dentro da mansão Mistere durante cinco meses?— pergunta Haworth,espantado.
— Sim, mas eu não senti a passagem de tanto tempo. Para mim, o havia ficado na mansão durante uma hora ou duas, no máximo. Outro detalhe: a distância entre Corvallis e Gravity Falls é de 180 quilômetros. Mas também não sei explicar como apenas abrindo uma porta, aquela mulher misteriosa me fez voltar para a minha cidade natal.
— Você ou seus pais conseguiram saber quem era ela?
— Sim. Mais tarde, examinado fotos no arquivo de um jornal em Gravity Falls junto com meus pais, descobri que era Ilena Szabo, a dona da mansão, desaparecida 44 anos antes!
Lorna se senta e Ogura diz:
— Agora, peço a palavra para Dionne Copley.

Uma mulher Afro-americana de meia idade, com cabelo preto-azulado e olhos castanhos escuros se levanta:
— Sou Dionne Copley, administradora de empresas e moro em Seattle, Oregon. Nasci em Gravity Falls e em 1963 me alistei no Corpo feminino do Exército. Em 1965 fui enviada para Saigon, no Vietnam, onde trabalhei no setor de comunicações. Um ano mais tarde conheci Raymond um piloto da marinha que se tornou o meu marido. Na primavera de 1969 fiquei grávida, e fui enviada de volta aos Estados Unidos.
Certo dia, já no sétimo mês fui passear sem rumo certo e quando percebi, estava perto da mansão Mistere. Ouvi trovões e olhando para o céu, percebi que estava repleto de nuvens escuras. Mesmo sabendo que não conseguiria chegar a minha casa antes da chuva começar, eu tinha medo de entrar naquele lugar assustador.
Desviei os olhos por alguns momentos e ao olhar de novo vi Raymond de pé na varanda da mansão. Ele desceu depressa a pequena escada e pegando a minha mão, me levou para dentro enquanto dizia:
— Não me diga que você pretendia correr até a sua casa debaixo de chuva com uma barriga tão grande!
— Ray! Quando foi que você voltou? E porque está em Gravity Falls, se mora em Seattle?
— Porque você é a minha esposa, e está aqui!
Alguns minutos depois, começou uma chuva que logo parecia um vendaval como os que eu tinha visto no Vietnam, com trovoadas que faziam estremecer as janelas da mansão. Mas a presença de Ray me acalmava e ficamos conversando sobre banalidades, até que a guerra tornou-se o assunto principal. Ray disse que a situação lá não estava indo bem.
— Não estamos lutando para vencer por medo de um confronto mais sério com os chineses ou os soviéticos. Desse jeito, acabaremos perdendo...
No lado de fora, a tempestade terminou e o sol voltou a brilhar. Ray disse:
— Chegou a hora de você voltar para casa.
Começamos a caminhar com as mãos dadas e ele me perguntou:
— Já escolheu o nome do bebê?
— Como posso fazer isso, se ainda faltam dois meses para o nascimento e eu não sei o sexo?
— Tenho o palpite de que será menino. Então, dê a ele o nome de Luther. Por causa de Martim Luther King.
Gostei daquela ideia e continuamos a conversar até que Ray disse:
— Você e nosso filho devem sempre lembrar que vou amá-los, mesmo que não esteja por perto. E soltou a minha mão. Achei aquilo esquisito e quando virei para perguntar por que ele havia dito aquilo, eu não percebi o vi em parte alguma.
Fiquei confusa, mas prossegui e logo cheguei em casa, onde encontrei a minha mãe chorando. O meu pai também com lágrimas nos olhos, me pediu para sentar e entregou uma carta da Marinha. Só então fiquei sabendo que Ray havia morrido seis dias antes, no Vietnam.
Aquilo me arrasou e achei melhor não falar sobre o meu encontro inusitado. Pedi baixa do Exército. Dias depois recebi a carta de uma companhia de seguros. Ray havia feito um de seguro de vida, me nomeando como beneficiária.
Quando o bebê nasceu era um menino como Ray havia dito e é claro, dei a ele o nome de Luther. O dinheiro do seguro me ajudou a cursar a universidade. Consegui um bom emprego e me casei de novo, tendo mais um menino e uma menina. Hoje também já tenho dois netos.

Em seguida fala um homem de feições orientais, cabelo cinza prateado e olhos azul escuro.
— Sou Daniel Wong e tenho uma sorveteria em Gravity Falls. Tive uma infância e adolescência difíceis, mas não por causa de meus pais ou algo assim. Os culpados foram dois valentões. Um deles era um afro-americano chamado Alex Payne e o seu amigo de cabelo castanho avermelhado e olhos castanho escuro, Ryan Ewell.
Eles infernizavam a vida de seus colegas de escola no ensino elementar e continuaram a fazê-lo na escola secundária. Quando começou a Guerra do Vietnam, eles não queimaram os certificados de reservista e nem fugiram para o Canadá, como muitos naquela época. Entraram para o Exército dizendo a todos que faziam aquilo para mostrar que não temiam nada, e também por que queriam espalhar o terror entre os guerrilheiros comunistas.
Eu não sei se eles de fato aterrorizaram os vietcongs, mas ao voltar logo transformaram Gravity Falls numa filial do Inferno: espancavam qualquer pessoa que os desagradasse, bebiam e comiam sem pagar, além de muitas outras coisas que prefiro não dizer. Só não incomodavam os Northwest porque sabiam que se fizessem isso, Auldman contrataria capangas capazes de acabar com eles!
— E as autoridades não faziam nada?
— O prefeito Eustace tinha medo deles. O xerife na época Thomas Pitman e seu auxiliar, Jefferson Colbert não tinham condições de acabar com aquela situação, porque eram apenas policiais de uma pequena cidade, habituados apenas a parar bagunças feitas por bêbados, advertir adolescentes travessos e separar brigas de casais, enquanto Payne e Ewell eram soldados experientes que haviam lutado por anos naquele inferno do Sudeste Asiático.
Além disso, Pitman e Colbert tinham apenas pistolas Colt calibre 45 e eram magros a ponto das crianças da cidade os apelidarem de Bambu e Palito. Payne e Ewell tinham fuzis automáticos M-16 e eram tão altos e robustos que seus apelidos eram King Kong e Godzilla.

Certo dia eu e minha namorada Mae fomos até a perto da mansão Mistere para um encontro, que foi interrompido quando ouvimos o barulho de um carro se aproximando. Eu tinha estacionado a minha moto entre as árvores e foi ali que eu e Mae nos escondemos.
Um Buick GSX alaranjado parou diante da mansão. Payne e Ewell saíram. Estavam bêbados como gambás e acho que também tinham tomado drogas. Metralharam a mansão, depois puseram pentes de munição nos bolsos e entraram no local. Acho que empurrei a minha velha BSA 56 por quase 200 metros, antes de ter coragem para dar a partida, fugindo junto com Mae, com quem me casei anos depois.
Só mais tarde ficamos sabendo que naquele dia, 16 de Agosto de 1977, nós havíamos sido as últimas pessoas a ver Payne e Ewell.

— Como pode lembrar a data com tanta precisão? – pergunta Haworth.
— Porque o incidente ocorreu no mesmo dia da morte de Elvis Presley. Desde então, ninguém jamais encontrou qualquer pista daqueles dois desordeiros, vivos ou mortos em lugar algum! Eles sumiram como se a terra os tivesse engolido!

Haworth olha para Preston e pergunta:
— Sendo a mansão Mistere um local tão perigoso, porque foi até lá junto com a sua esposa e sua filha recém-nascida?
— Porque para mim os relatos eram só baboseira, como as lendas sobre o Pé-Grande. Tanto que o Buick de Payne e Ewell ainda estava estacionado no mesmo lugar onde eles o deixaram em 1977, mas depenado: as janelas, faróis e lanternas traseiras foram quebrados. As portas, arrancadas.Motor, instrumentos do painel, volante, rodas e estepe, roubados. Se os vândalos e ladrões não haviam tido medo de ir até lá, porque eu deveria ficar preocupado? Mas é óbvio que algo aconteceu comigo porque entrei de lá com a minha esposa e saí com uma impostora, acreditando que era a mesma mulher de antes. Prefiro não tentar imaginar o que aconteceu.