No laboratório secreto, Pacífica encara o monstro que então some diante dos olhos dela que fica nervosa, sem saber se o inimigo tinha ido embora como antes, ou se estava usando outro poder.
— Abaixe! Vire! Golpeie!
Aquilo parecia não ter sentido,porque porque adiante não havia nada.Mesmo assim ela obedece sem hesitar,movendo a arma da direita para a esquerda. Ao fazer isso consegue sentir a lâmina cortando alguma coisa e então, um líquido branco jorra, atingindo-a nos olhos.
Pacífica larga a arma e põe as mãos no rosto, enquanto grita a plenos pulmões sentindo os olhos arderem. James que estava invisível reaparece, olhando para o grande e profundo corte em sua barriga.
No porão acima Preston tem um sobressalto ao ouvir o grito feminino, ”Priscilla” sorri, mas antes que possa fazer algum comentário uma granada de atordoamento artesanal do tamanho de uma espiga de milho cai proveniente das escadas. Todos os cultistas olham para aquilo, mas Gabor agarra “Priscilla” e a força a se virar de frente para o painel e de costas para a escada.
A granada explode com um estrondo ensurdecedor e um clarão cegante, enquanto os monges entram e começam a atacar todo mundo, cientes de que estavam em inferioridade numérica e que tinham de neutralizar o máximo possível de inimigos, antes que eles se recuperassem.
Alastair e “Priscilla” se viram e ao verem os membros do culto sendo derrubados como moscas, contra atacam: Alastair saca uma pistola Desert Eagle de 10 milímetros.

“Priscilla” põe a estátua ensanguentada no altar e conjura uma magia que a faz disparar projéteis de energia negra das palmas das mãos.
O monge ancião saca um medalhão circular que tinha uma estrela negra de cinco pontas dentro de um duplo círculo sobre um fundo verde. Uma projeção energética com um metro e meio de diâmetro surge diante dele. Os projéteis de energia e as balas da pistola ricocheteiam na barreira mística.
“Priscilla” é atingida no peito pelo próprio ataque, enquanto uma das balas da pistola atinge Gabor no peito fazendo-o cair de joelhos e as outras perfuram o assoalho, passam através do teto do laboratório, atingindo mais frascos nas prateleiras e fazendo James olhar para cima, sem entender o que estava acontecendo. Mais produtos químicos são derramados e se misturam ao que já estavam destruindo o assoalho de madeira. A mistura começa a queimar caindo dentro dos túneis de uma velha mina de carvão, com muito gás metano acumulado em vários bolsões.
Começa uma devastadora reação em cadeia. James, que estava se preparando para matar Pacífica é arremessando o lado, batendo com a cabeça e as costas na parede de pedra e depois, cai atordoado no chão.
Outra abre um grande buraco, e o velho monge pode ver Pacífica de bruços no chão e a alguns metros o Caçador Espectral, que já começava a erguer-se de novo, olhando para a menina caída, e mais ansioso do que nunca em matá-la.

O velho monge vê a pequena estátua ensanguentada no altar e com um chute lateral, a quebra em vários pedaços. Quando isso ocorre o monstro grita em agonia, e rapidamente se desfaz numa poça de gosma azul acinzentada.
Enormes rachaduras vinham de baixo para cima, destruindo as paredes e fragmentando o chão. O time de monges interrompe o ataque para tentar ajudar os cultistas ainda de pé, mas eles recusam começando a cometer uma série de erros: empurram ou atacam os monges, que se veem forçados a deixa-los para trás.
Uma explosão joga dez cultistas inconscientes para cima. Eles batem no teto e depois, caem em um buraco. Outros seis são atingidos por pedaços do teto ao chegar à ampla sala de estar. As correntes que prendiam Priscilla soltam-se dos suportes e ela cai no chão como uma boneca de trapos. Um abalo faz a porta secreta ceder, ficando pendente por uma dobradiça apenas. Com uma rapidez surpreendente o velho monge passa pelo túnel, desce as escadas, pega Pacífica e sobe.
“Priscilla” estava caída de bruços no chão. Gabor tentava se levantar, mas com Pacífica nos braços e o lugar ruindo o velho monge não podia ajuda-los e a contragosto, sobe as escadas. Um dos monges tinha aberto o portão duplo, mas ao invés de sair por ele os nove cultistas restantes perdem tempo tentando dar partida em seus veículos e antes que consigam, fendas se abrem no chão engolindo a todos.
Preston já estava na limusine, fazendo algo que nunca imaginara fazer: dirigi-la pessoalmente. Enquanto manobra para sair, Preston vê o velho monge passar correndo por ele com Pacífica nos braços:
— Quem é você e o que pretende fazer com a milha filha?

Porém o monge o ignora, entrando na van pelas portas traseiras que estavam abertas e quando a Vandura sai, ele a segue. Os três veículos se afastam depressa do local e a sede do Erebus implode caindo dentro de um enorme buraco, enquanto mais estrondos vindos do subterrâneo ecoam, acordando muita gente no meio da noite.
Enquanto segue a van, Preston pensa nos acontecimentos das últimas horas. Após ter sido atingido pelo poder de Bill Cipher e testemunhado os fenômenos bizarros do Estranhageddon, ele acreditava que nada mais poderia surpreendê-lo na vida. No entanto, havia acabado de perceber que estava errado! O que mais iria acontecer?

Quando percebe, estava percorrendo uma estrada secundária até chegar ao que parecia ser um condomínio nas montanhas, circundado por um muro ocre com quase dois metros e meio de altura e telhas curvas no topo. Adiante, grandes portões duplos de madeira, que abrem quando eles se aproximam. Vê um amplo estacionamento, e para trás da van.
Ele olha ao redor: havia dezenas de casas com um ou dois andares, umas poucas com três. Em muitas delas, painéis solares. Postes de madeira com fios neles. As ruas tinham calçamento e meio-fio de pedras. As pessoas que estavam na rua pareciam familiarizadas com as vans dos monges, mas não com um carro luxuoso como a limusine dele, começando a comentar entre si, e permanecendo a distância, sem se aproximar.
Em frente havia uma escadaria de pedra cinza levando até um prédio vermelho de um só andar com telhado em estilo oriental e duas janelas redondas com elaboradas grades de metal esmaltado. Entre elas, uma porta dupla de madeira marrom.
O motorista e um ajudante saem das portas frontais da van e vão até a parte de trás do veículo, abrindo as portas dali. O grupo que estava sentado nos bancos internos desce, com dois monges robustos carregando Pacífica e a loura nos braços. Preston pergunta a uma garota de cabelos pretos arrumados numa pequena trança:
— Que lugar é esse?
— Você está em Hipperharta. – responde ela enquanto se junta aos colegas de equipe, subindo as escadas com Preston ao lado.
— Quem são vocês? O que pretendem fazer com a minha filha?
— Todas as suas perguntas serão respondidas no salão de convidados.

O lugar era grande com paredes e chão em tons ocres, decorado com diversas tapeçarias e vasos em estilo oriental, além de placas com ideogramas chineses. Sentado em um trono, estava um monge ainda mais idoso do que aquele que havia liderado o time de ataque. Era calvo, com cavanhaque e uma barba branca usando um manto ocre com gola e punhos da manga dourados. Todos no grupo abaixam a cabeça. Só Preston não faz a reverência.
— Saudações, irmão Pinãta. Quais as notícias que me traz?
— Lamento dizer que não são boas, Venerável. Pegamos os cultistas do Sombrio de surpresa, mas de repente começaram a ocorrer fortes explosões vindas do subterrâneo. Interrompemos o nosso ataque para tentar ajudar nossos inimigos, mas eles recusaram e acabaram tendo um triste fim. Trouxemos essa mulher e a criança, que eram prisioneiras deles.
— Como elas estão?
— A menina ainda estava viva quando a peguei. – continua Pinãta – Porém morreu pouco tempo após ter entrado na van.A mulher morreu alguns minutos depois.Ambas têm marcas de terem sido alvo das Mãos de Colubra. A menina tinha fugido indo para um laboratório subterrâneo, onde foi atacada por um Caçador Espectral. Mesmo estando envenenada, conseguiu queimar um dos braços do monstro com ácido, depois o feriu na barriga com uma naginata improvisada, feita com um cabo de vassoura e uma faca de caça.
— Uma façanha surpreendente para alguém tão jovem! Em seguida, pergunta:
— O monstro morreu por causa dos ferimentos?
— Não. Na sala de culto havia uma pequena estátua ensanguentada, indicando que o caçador era um cultista transformado. Eu a destruí e isso fui o fim dele.
— Uma ótima estratégia! Porque as trouxe até aqui?
— Para que sejam levadas até a Sala Divina e talvez receberem a Grande Dádiva, se o poderoso Khatanid assim decidir.
— Um momento! – interrompe Preston – Eu não vou permitir que você profanem o cadáver da minha filha!
— E quem é você? – pergunta o líder.
— Eu sou Preston Northwest, e essa menina loura é Pacífica Elise Northwest. Não sei quem é a mulher.
— Não iremos fazer o que imagina, como logo poderá constatar. – responde o ancião, que em seguida diz a um dos guardas:
— Chamem o nosso ferreiro para retirar essas algemas e guardar para derretê-las depois.
Minutos depois surge um monge de trajes marrons que liga um esmeril com disco numa tomada na parede e fica movendo o aparelho com cuidado de um lado para outro até cortas as algemas, que são postas junto com as correntes dentro de uma cesta de vime.

Então o ancião desce a escada apoiado numa bengala de figueira com nove nós, rumando para uma porta lateral que é aberta pelos guardas de pé nas laterais. Todos caminham até chegar a uma espaçosa sala de paredes e assoalho ocre onde havia uma porta dupla a esquerda deles e a direita, algo que aprecia um olho dourado, grande como um ônibus. Incrustrado no chão, um círculo feito de jade branco, mostrando uma estrela com cinco pontas curvas e no centro uma elipse, com uma labareda dentro.
Priscilla é colocada sobre a labareda. Então, palavras em chinês são ditas e o olho se ilumina. Os principais fatos na vida da jovem mulher são mostrados, entre eles o casamento com Preston, o aprisionamento dela pela cultista, a libertação por uma Onda de Estranheza, a ida até Melville e os demais fatos, até o momento da morte.
Outra pergunta é feita em chinês. Então o símbolo brilha tornando-se dourado e quando volta a ser branco, a jovem mulher se levanta. Olha em volta e ao ver Pacífica nos braços de um monge ela pergunta:
— Minha filha! O que houve com ela?
— Está morta. – responde Preston secamente, enquanto o grupo de monges olha para ele de cara fechada e Priscilla começa a chorar.
— Acalme-se senhora. – diz o ancião- Nem tudo está perdido.
Ela fica tão perplexa que para de chorar e pergunta:
— O que quer dizer com isso?
— Que ela poderá retornar a vida, se o poderoso Khatanid assim decidir.
— Isso é mesmo possível?
O monge líder faz um leve aceno afirmativo de cabeça.
— Que lugar é esse e quem é esse Khatanid de quem vocês falam?
— O nosso deus! – responde um dos jovens monges – A luz que protege a Humanidade!
— Eu nunca ouvi falar dele.
— Ele não faz questão de ser conhecido. Gosta mais de atuar nos bastidores.
— Pois para mim tudo isso é apenas uma grande palhaçada, e todos vocês são um bando de malucos! – diz Preston.
— Como ousa dizer isso, após ter testemunhado uma ressureição? – pergunta um jovem monge.
— Eu não tenho provas de que ela – e aponta para Priscilla – estava realmente morta. Só a palavra de vocês que para mim,não vale nada!
— Se alguém não vale nada aqui, essa pessoa é você!— diz Priscilla de dedo em riste – Os criados da mansão Northwest me falaram das coisas horríveis que você fez com nossa filha!
— Acalme-se senhora. – pede o ancião. A descrença dele é compreensível. Agora, para que não reste qualquer dúvida, ele poderá examinar o corpo da menina.
Preston se aproxima e tocando o pescoço da filha com os dedos constata que a menina não tinha pulsação. E apesar da angústia que aquilo lhe causava, Priscilla faz o mesmo. O líder diz:
— Quero também dizer-lhes que os olhos da sua filha foram atingidos pelo sangue de um monstro chamado Caçador Espectral. Por causa disso, quando retornar a vida, ela estará cega.
— Não importa! – diz Priscilla – Mesmo assim eu quero tê-la ao meu lado!

Um dos jovens monges sai e logo volta uma tigela de cobre com água benta é trazida para limpar os olhos da menina, que depois é colocada dentro do símbolo místico. Então, a primeira pergunta é feita em chinês. Os principais fatos na vida de Pacífica são mostrados. Priscilla fica boquiaberta e indignada. Esbofeteia Preston, dizendo:
— Você é muito pior do que os empregados da mansão falaram! Por tudo que fez a nossa filha, merecia ser castrado com uma faca cega! Se Pacífica voltar a vida, vou querer não só a guarda dela, mas também o divórcio! E olhando para o líder da comunidade, pede:
— Por favor, prossiga.
A segunda pergunta é feita. O símbolo brilha com uma intensa luz dourada e após alguns segundos, Pacífica se senta e abre os olhos. Priscilla sente um aperto no coração, ao ver que a filha estava com os olhos totalmente brancos, sem nenhum vestígio da íris. Mesmo assim, corre até ela e a abraça, chorando de felicidade.
— Pacífica, meu amor – diz a mãe – Não tenho palavras para descrever como me sinto, mas também tenho uma má notícia a lhe dar.
— Eu já sei que estou cega, mãe. Mas não é tão mau quanto parece, porque ganhei algo em troca. Acho que podemos dizer que é um sentido de radar.
— Radar? – pergunta Preston.
— Sim, pai. Não sei como explicar melhor, mas consigo perceber que estou numa grande sala. Além de você e mamãe tem mais pessoas aqui, agrupadas demais para que eu possa conta-las. No teto, há seis lustres pendurados.
— Inacreditável! – exclama ele.
— Pode dizer algo mais sobre os lustres, como forma, tamanho ou quantidade de lâmpadas em cada um deles? – pergunta Pinãta.
— Infelizmente não. – responde a menina, enquanto os jovens monges comentam entre eles sobre aqueles milagres.
— Com o treinamento apropriado, você poderá aprimorar esse dom. – diz o Venerável.
— Peço permissão para me encarregar dessa tarefa. – pede Pinãta.
— Concedida.
— Eu quero ficar ao lado da minha filha. Mas antes tenho outros problemas para resolver. Um deles é voltar ao hotel Golden Oak para pegar a minha bagagem. Só que eu me registrei lá usando uma peruca ruiva, que deve ter ficado naquele antro de loucos.
— Eu a peguei, assim como a sua bolsa. – diz Preston.
— Porque você fez isso, pai?
— Pelo mesmo motivo que também peguei a sua bolsa e a daquela impostora: não queria deixar para trás nenhuma pista para a imprensa ou a polícia virem atrás de nós.
— Atrás de você, melhor dizendo. – questiona Priscilla. – Mas isso não importa. Sei que já deve ser tarde, mas quero ir até o hotel e depois a mansão desse aí – diz, olhando furiosa para Preston – a fim de pegar todas as roupas e coisas da minha filha.
- Venerável Pai – diz monge com rabo de cavalo – Gostaria de ajudar essa mulher. Acho que o melhor meio é usar a van para transportar a bagagem da menina.
— Boa ideia, irmão Bruce. Leve dois irmãos junto com você. Mas antes, troquem de roupas.
— Um momento. – diz Pacífica – Antes quero dizer algumas coisas a meu pai.
Priscilla segura à filha pelos ombros, virando-a na direção de Preston.
— Quero que você guarde segredo sobre tudo que viu aqui. Eu quero ter Goldie, mas peço que continue cuidando Lunar, até eu decidir o que farei com ele.
— Entendido. Mas agora quero fazer um pedido. – diz olhando para o Venerável. – A feiticeira que fingia ser minha esposa confessou ter usado um cetro mágico para alterar a minha mente. Gostaria que os efeitos da magia negra dela sejam desfeitos, e as lembranças da transformação do meu motorista num monstro, apagadas da minha mente pelo seu deus pagão.
— Você insulta Khatanid, e mesmo assim tem a ousadia de pedir a ajuda dele? – pergunta um dos jovens monges, indignado.
— Vamos deixar o poderoso Khatanid decidir se esse homem é merecedor de alguma dádiva ou não. - responde o Venerável. E olhando para Preston, acrescenta:
— Caminhe até o centro do Signo Antigo e aguarde.
Preston obedece. A pergunta é feita e o signo brilha por alguns instantes. O Venerável diz:
— A dádiva foi concedida. Com um bônus apropriado.

Os Northwest e os jovens monges não entendem o significado daquelas palavras, mas também não fazem perguntas. Mais tarde, o Venerável diria aos monges: “O dom que aquele homem detestável recebeu é algo que irá ensinar-lhe uma lição que ele precisa aprender.”
Todos saem, e dez minutos depois três monges entram na van enquanto Priscilla entra no banco traseiro da limusine e fecha a porta, dizendo para Preston:
— Diriga!Eu não irei me sentar ao lado de alguém tão desprezível quanto você!
Sem escolha, ele obedece. Enquanto vai rumo á cidade, pensa em tudo que havia acontecido. Pacífica nem precisaria ter para que ele guardasse segredo sobre as ressureições porque, se falasse aquilo para alguém, o chamariam de louco. Porém, mais importante do que isso eram as coisas que a impostora havia dito a ele.
Ele nunca havia dado importância ás próprias falhas morais, porque havia aprendido com o pai e o avô que os Northwest estavam acima de tudo e de todos. Porém a bruxa louca havia mostrado que tais coisas serviam apenas para atrair gente como ela, que havia torturado e envenenado Pacífica, além de enviar um monstro para mata-la. Aquilo era algo para pensar.

Ainda na estrada secundária, ele pega o celular no bolso e faz uma chamada. Quem atende é o mordomo, e ele dizem:
— Rudolf, sou eu. Encontrei Pacífica, mas saiba que ela vai se mudar. Comece a por as roupas, sapatos e pertences pessoais da minha filha dentro de malas. Quero que tudo esteja pronto para viagem quando eu chegar. E ponha a coleira em Goldie, porque ela também irá partir.
Ele liga o rádio para ouvir música, porque a esposa nada dizia e o silêncio era enervante. Fica pensando que tipo de dom teria recebido do misterioso Khatanid. Talvez a capacidade de prever o futuro, ou alguma coisa que o ajudasse a ter mais sucesso nos negócios?
Preston tem de aguardar no passeio do Golden Oak enquanto Priscilla sai da van usando peruca e óculos escuros para entrar no hotel, de onde volta vinte minutos depois. Ao chegarem á mansão ele aciona o controle remoto para entrar na garagem, enquanto a van estaciona junto ao meio fio. Já dentro do lar ele diz ao mordomo, um homem de 38 anos com olhos verdes e cabelos castanho acinzentados, usando terno marrom, camisa branca, gravata e sapatos pretos:
— Abra a porta para as nossas visitas.

Ele obedece, enquanto o restante dos criados (um deles, segurando Goldie pela coleira) permanecia em pé, aguardando. Logo, todos estão boquiabertos diante da loura de beleza estonteante, que entra com um rapaz atlético e duas garotas, que logo pegam seis grandes malas e vão com elas até a van. Depois, uma das garotas volta para pegar outras duas que haviam ficado para trás. Goldie fica abanando o rabo para a loura, como se já a conhecesse.
Priscilla pergunta:
— Vocês tem algo para comer? Eu estou faminta!
— Sim. –responde o mordomo – preparamos filé de peito de faisão e salmão grelhado, assim como vários outros pratos e sobremesas. Mas o faisão e o salmão já esfriaram.
— Não importa. É só esquentar e servir. – responde ela.
O mordomo olha para Preston, que faz um aceno afirmativo com a cabeça. Os monges dizem que já haviam comido, e sentam-se no sofá.
Golava e Preston comem com apetite e em silêncio, enquanto uma das criadas não consegue conter a curiosidade e pergunta:
— A senhorita Pacífica está bem? E porque a senhora Northwest ainda não voltou?
Preston olha furioso para a mulher e quando faz isso, sente uma súbita sensação de medo e angústia. Aquilo o deixa tão confuso que ele não consegue responder. É Priscilla quem faz isso:
— No momento, posso dizer-lhes que apenas Pacífica decidiu morar em outro lugar, e está em boas mãos.
Preston sente a perplexidade e a confusão dos criados. Após terminar de jantar,Priscilla pede para por parte da comida e das sobremesas para que sejam levados. Também fala com Preston a sós, sai da sala de jantar com a bolsa e sobe as escadas, voltando alguns minutos depois. Depois os criados a veem partir na van.

No entanto, as sensações desagradáveis que incomodavam Preston continuavam.
— Quem era aquela mulher? – pergunta o mordomo – E porque a sua esposa ainda não voltou, senhor?
— NÃO É DA SUA CONTA SEU...
Preston sente uma onde de medo intenso, percebendo qual havia sido o dom concedido por Khatanid: empatia. Sempre que ele fizesse alguém sentir-se mal, também sentiria no próprio corpo aquilo que a outra pessoa estava sentindo. E como ele havia ameaçado a todos de prisão caso algo de ruim acontecesse a Pacífica, a criadagem estava apavorada. Deduz que só havia um modo de sentir-se melhor, e responde calmamente:
— Quando eu estava voltando de Sioux Falls telefonei para minha esposa, e ela disse que estava visitando uma tia doente. Se ainda não voltou é porque decidiu passar a noite lá, junto com Alastair. Quando a minha filha, tenho certeza de que ela virá até aqui no momento oportuno. Agora, podem dormir.
Os criados ainda estavam confusos, porém medo e a angústia deles desaparecem, para alívio de Preston.
(Fui amaldiçoado por um deus pagão!)

Com passar do tempo ele perceberia que na verdade aquele dom era uma benção, e o ajudaria nos negócios e na vida pessoal mais do que era possível imaginar, além de torna-lo um homem melhor. Mas naquele momento, estava nervoso e vai da sala de jantar para a de estar, onde olha para os quadros que trazidos da mansão dos Northwest em Gravity Falls.
Antes de sair de lá, ele mesmo havia destruído os quadros que mostravam seus antepassados como eles realmente eram: um bando de ladrões e trapaceiros. Mas aqueles ostentavam as falsas imagens dos Northwest divulgadas perante o mundo. Durante muito tempo, havia gostado de olhar para aquilo, mas por algum motivo, isso não ocorria mais.
Havia outro quadro com ele sozinho, a mão sobre um globo terrestre e mais um com ele, a impostora e Pacífica, usando um belo vestido verde e a faixa de Miss Gravity Falls. No momento certo mandaria destruir aquilo, mas não antes que de mandar fazer uma cópia, mostrando apenas ele e Pacífica.
Então sente um nó na garganta, enquanto observava o quadro onde a filha que sempre havia desprezado era mostrada com seus lindos olhos azul turquesa, algo que ela já não tinha mais. Aquele pequeno detalhe faz a angústia reprimida até aquele momento irromper de modo avassalador, e as lágrimas também...