No porão, Pacífica pergunta:
— Onde você esteve durante todos esses anos?
— Você pode achar que é maluquice, mas a impostora que se faz passar por sua mãe me pôs dentro de um tipo de prisão cristalina, criado por ela através de magia negra.
- Mãe, sem querer menosprezar o que ocorreu com você, uma prisão mágica de cristal não é algo tão incrível. Eu lutei contra gnomos que apreciam bolas de golfe ambulantes, e vi coisas ainda mais estranhas no Estranhageddon.
— O que foi esse Estranhageddon?
Pacífica descreve os fenômenos bizarros ocorridos durante os dias após Bill Cipher liberar a estranheza de sua dimensão por toda a região de Gravity Falls. E fala da batalha épica que ela e várias outras pessoas haviam travado contra o bando de demônios liderados por Cipher, usando o bizarro mecha criado pelo velho McGucket. Priscilla comenta:
— Agora entendo porque você disse que a minha prisão mágica não a surpreendeu. Diante de tudo que você viu e fez, ela não parece grande coisa. Mas para mim foi algo terrível porque assim que fui envolvida por aquela coisa, entrei em hibernação ou algo do tipo. Ao sair, a lembrança sua que eu tinha era a de um bebê fofinho com apenas dois dias de vida, que eu nem cheguei a amamentar. Meus peitos ainda estão cheios de leite!
Pacífica olha para o amplo busto de sua verdadeira mãe.
— Talvez você deva fazer doações a um banco de leite materno.
— Essa é uma boa ideia!

— Quanta ternura nós temos por aqui! – diz alguém.
Elas olham para ver quem havia falado. Era “Priscilla”, que estava entrando vestida com um longo robe preto de mangas longas e capuz, acompanhada por um grupo de 23 pessoas com trajes iguais aos dela, que se sentam no chão com as pernas cruzadas em dois grupos, á direita e a esquerda das escadas. Os únicos a permanecer em pé são “Priscilla” e Alastair.
— O que deseja de nós? – pergunta Priscilla.
— Para começar, saber como você escapou do Caixão de Cristal.
— Eu não sei. Aquela coisa apenas desapareceu.
— Mentirosa! - retruca a outra, esbofeteando-a - Aquele feitiço deveria tê-la mantido aprisionada para sempre!
— Talvez a sua magia não seja tão poderosa quanto supõe – comenta Pacífica – Ou ela pode ter sido desfeita por uma Onda de Estranheza. Aquelas coisas tinham efeitos imprevisíveis.
— Isso faz sentido.Bill Cipher distorcia a realidade a seu bel-prazer,espalhando o caos por toda a parte.O Sombrio iria gostar muito de tê-lo como braço direito.Mas se aquele demônio de um olho só recusasse essa honra,o nosso deus o destruiria com seu poder inigualável.
— E quem é esse tal de Sombrio? – pergunta Pacífica.
— O mais poderoso e magnífico dos deuses! Outras divindades falam em paz e tolerância. Mas só ele sabe o que de fato é importante: espalhar sofrimento e loucura entre todos aqueles que são tolos demais para não reconhecerem a grandeza dele!
— Se o seu deus tem esses dogmas, ele é louco!— diz Pricilla – E você,mais maluca do que ele!
— Devia ser mais respeitosa, porque eu tenho a sua vida em minhas mãos.
— Assim falou a adoradora do Demônio. Ou de algo tão sinistro quanto. – comenta Pacífica.
— Vejo que a insolência é característica hereditária na sua família. – comenta “Priscilla”, olhando para Golava.
— E a insanidade, da sua! Durante todo o tempo em que fingiu ser a minha mãe, o que você mais fez foi estimular meu pai a fazer bullying psicológico comigo!
— Ah, Preston Northwest! Tão egoísta e autoritário que nunca aceitaria servir ao Sombrio, mas que podia ser facilmente induzido a agir de acordo de um modo que agrada ao meu deus. Foi muito divertido manipulá-lo como um fantoche, e fazer você sofrer!
— E qual o seu ganho nisso?
— O sofrimento é um objetivo em si mesmo. – comenta “Priscilla” chegando mais perto de Pacífica, que aproveita a chance para apoiar os pés na parede e depois fazer um movimento súbito, atingindo a impostora no queixo e arremessando-a para trás, enquanto um dente salta no ar e menina diz:
— Sendo assim,receba essa retribuição, ”mamãe!”
Golava sente orgulho da filha, enquanto os cultistas se apressam em socorrer sua líder. Quando a põe de pé outra vez, Alastair pergunta:
- Quer eu mate a pirralha, mestra?
— Não. Eu tenho uma idéia muito melhor! Que elas saibam o que é sofrer com a Maldição do Pavor de Azathoth!
A sinistra magia é conjurada. Pacífica e Priscilla começam a gritar de dor, enquanto os cultistas apreciam a cena com um prazer mórbido.

Na sede da Watch & Warn Douglas Hawkins estava preocupado. Sua empresa tinha 84 anos de tradição, durante os quais nunca havia tido algo como aquilo: ter uma cliente e sua filha raptados a luz do dia e um de seus homens, neutralizado por desconhecidos!
Ele tinha certeza de os membros do Erebus estavam envolvidos, mas sendo apenas dono de uma agência de detetives, ele não tinha autoridade para invadir o local e nem podia chamar a polícia para fazê-lo, baseado apenas em suspeitas. Estava de mãos atadas.

Enquanto isso em Dakota do Sul, o jato particular de Preston Northwest havia decolado pouco tempo antes, iniciando a viagem de volta para Melville e quando o Phenom começa a sobrevoar o estado de Nevada, Preston faz uma chamada para falar com a filha. Mas não obtém resposta porque a menina estava dentro de um porão e sua bolsa Hermes na sala de estar do clube Erebus, sem ninguém perto para ouvir o toque de chamada.
Quando a ligação cai, ele acha aquilo esquisito. Pacífica não era mais submissa como antes, mas também nunca iria ignorá-lo daquele modo. Então ele liga para a mansão, e quando o mordomo atende ele pergunta:
— Eu tentei falar com a minha filha e não consegui! Que diabos está acontecendo?
— Lamento informar que ela está desaparecida! Saiu para passear no Parque Aurora junto com Goldie, mas algum tempo depois um rapaz desconhecido retornou junto com o animal, dizendo que o havia encontrado vagando pelo parque.
— E porque não me chamou logo em seguida, para relatar isso?Cretino incompetente! Se algo de mau tiver acontecido com a minha filha,irei me empenhar ao máximo para que você e todos os idiotas que estão nessa casa, mofem na cadeia por negligência criminosa!
Ele desliga o celular e toma um pouco de uísque, tentando relaxar. Quando fica mais calmo, faz outra chamada.

Dentro do porão, ”Priscilla” ainda estava apreciando o sofrimento de suas vítimas quando sente o celular sob o manto vibrar. Muito a contragosto, sai do porão, fecha a porta e senta no sofá da sala de estar. Ao ver que a chamada era de Preston, atende se esforçando para parecer calma e amável.
— Olá querido! Como foi a viagem de negócios?
— Bastante lucrativa, mas isso não importa. Onde você está?
— Na casa da minha tia Cristine, que está doente.
Ao ouvir aquilo, Preston sente uma sensação incômoda, como se houvesse um pequeno caranguejo andando em sua nuca. Ele extravasa o nervosismo dizendo:
— Deixe a sua tia aos cuidados dos médicos e enfermeiras. A nossa filha está desaparecida! Assim que eu chegar, vamos tratar disso do jeito certo!
— O quê?Mas como? O que aconteceu?
— Sei apenas que ela foi passear no Parque Aurora e sumiu.
— Porque os criados a deixaram sair de casa sozinha?
— Ela estava com Goldie. Obviamente, isso não foi proteção bastante. Agora, saia e volte para a mansão. Melville não é como Gravity Falls, onde nossa autoridade era absoluta.
— Concordo. Vou demorar um pouco para chegar em casa, porque minha tia mora num bairro afastado. Preston querido, eu estou consternada!
— Não mais do que eu. – responde ele, sentindo o incômodo tornar-se pior.

Ele desliga. Ela faz o mesmo e volta aguardar o celular no bolso do vestido sob o traje cerimonial negro. No avião, Preston põe o smartfone na cadeira ao lado e fica pensativo. Então, se lembra de algo importante.

Quando o feitiço termina, Pacífica e Priscilla mal conseguiam respirar. Haviam padecido dores atrozes por duas horas. Com um sorriso maligno, a impostora diz:
— Perceberam como sou poderosa? E então, agora farão tudo que eu mandar?
Priscilla nem conseguia responder. Mas Pacífica era durona:
Não serei sua marionete nem depois de morta!
— Engana-se pirralha! Você irá se tornar uma obediente marionete, depois tiver tombado perante o poder das Mãos de Colubra!
Então a impostora faz um gesto estranho e em segundos seus braços se transformam em serpentes, que picam Pacífica no pescoço e Pirscilla no seio direito.

Vinte minutos após contato telefônico entre o casal Northwest, o Phenom 300 aterrissa em um dos aeroportos de Melville, ás 9 horas e 45 minutos da noite. A saída do aeroporto é normal, mas quando a limusine Chrysler 300C prateada se aproxima de um viaduto, Preston ordena a James:
— Vire a direita.
— Mas senhor, esse não é o caminho para a mansão.
Cale-se! Quem decide para onde iremos sou eu! Você apenas obedece!

Durante 15 minutos o carro segue um aparente curso errático, até que chegar a uma rua da periferia com pavimento de pedras. A iluminação pública era ótima e o local limpo. Porém mesmo assim, ele sentia um desconforto crescente enquanto prosseguiam.
Ninguém andando nas calçadas.Não havia cães ou gatos nas ruas.Nas casas,varandas e jardins desertos.Tudo ali parecia dizer: ”Caia Fora!Você não é bem-vindo aqui!”.

A limusine chega a um cruzamento. À direita, um pequeno parque público com brinquedos que já haviam tido dias melhores. À esquerda, uma casa com portas e janelas fechadas por tábuas. Um galpão fechado adiante. Uma cerca com piquetes de concreto assinalando o fim da rua. Uma casa estilo bangalô pintada em tons de cinza e preto cercada por um muro de tijolos marrons, intercalados com grades de ferro, com diversos carros e motos estacionados no pátio interno um portão frontal duplo. A casa era o único local com alguma atividade.
— Como vamos entrar aí? – pergunta ele em voz alta a si mesmo.
— Essa será a parte fácil. – retruca James, virando-se e apontando uma pistola Glock 17.

Pouco tempo depois, a impostora escuta o som de passos descendo a escada e logo depois vê o marido entrar no local com as mãos erguidas e logo atrás James, que explica:
— Ele descobriu a localização da casa, mas não sei como!
— O que tem a dizer sobre isso, querido?
Presto estava olhando para a filha e a linda loura peituda, acorrentadas na parede onde pendiam como se não aguentassem mais continuar em pé. Fica indignado com aquilo, mas ciente de que estava em situação desvantajosa, responde:
— Você não é habilidosa o bastante para enganar um trapaceiro como eu. Usei a função GPS do iPhone a fim de achar onde estava o celular de Pacífica e depois, o seu também. Agora, pode me dizer o que significa tudo isso?
— Traída pelo meu próprio smartfone! – diz “Priscilla” que havia tomado precauções como deixar a limusine dela num estacionamento e alugar um carro para ir ao clube. Bem, como aquela aqui – E aponta para Golava – não está em condições de falar, eu irei esclarecer tudo.
Tornei-me uma adoradora do Sombrio ainda na adolescência. No início dos meus vinte, era a vice-líder do culto instalado em outra sede, porém a minha ascensão para o posto principal foi interrompida quando um inimigos nos atacaram. Eu e escapei por um triz e perambulei pelo país até encontrar o tenente Gabor e viemos para essa cidade onde tivemos de nos separar e eu fui para o Oahu no Havaí, mas percebi que as condições não eram favoráveis à criação de um novo grupo por lá. Apesar disso, achei o legendário cetro de Z’olum capaz dentre outras coisas,de controlar mentes e distorcer memórias.

Um dia eu o vi começando a cortejar aquela loura. Mas então percebi algo interessante: outros homens a teriam desejado pela beleza e ou personalidade, você a via apenas como uma reprodutora. E isso porque é um egoísta que se preocupa só consigo mesmo e a expansão dos seus negócios. Não tem consideração alguma pelas pessoas ao seu redor. Para você, todos são descartáveis. Mas o seu dinheiro poderia ajudar a recriar o meu grupo cultista. Entretanto, como já estava casado eu tinha de tirar a minha rival do caminho.
Foi por acaso, mas com enorme satisfação, que descobri que Brian, seu piloto de jato na época também era um adorador do Sombrio. Assim quando você concluiu seus negócios no Havaí, ele me ajudou a embarcar como clandestina no seu jato e me falou de várias coisas em Gravity Falls, inclusive a mansão Dracul. A aterrisagem de emergência em San Diego por causa do rompimento da bolsa de água de Priscila foi algo imprevisto, mas irrelevante.

Já em Gravity Falls, Brian me ajudou a entrar no porta malas da sua limusine e eu usei o cetro para sugestioná-lo a ir a mansão De Misteris onde as energias místicas que saturam aquele local e suas imediações facilitaram muito os meus passos seguintes: fazer você e o seu motorista Jeff tirarem um cochilo, enquanto eu induzia Priscilla a deixar Pacifica em seus braços e sair comigo até uma caverna próxima, onde pude aprisiona-la em um Caixão de Cristal. Usei o cetro para alterar a sua memória e a de Jeff, substituindo as imagens da verdadeira Priscilla em suas mentes pela minha.
Assim, você passou a acreditar que havia se casado comigo e que eu era a mãe biológica de Pacífica. Mas agora que sabe a verdade Preston, terei de matá-lo. Depois, usarei seu dinheiro para tornar o culto ao Sombrio na Califórnia mais poderoso do que jamais foi!

Pacífica estava ao lado. E mesmo enfraquecida pelo veneno, ela não pretendia ficar parada. Queria atacar e ferir a impostora mais uma vez, antes de morrer. Nas horas anteriores a chegada do pai, ela havia se contorcido de dor por causa da tortura mágica, suando muito. As mãos estavam quase saindo das algemas que haviam sido feitas para prender adultos, mas eram grandes para uma menina de 12 anos.
Porém, no momento que ela se solta, James vê e alerta:
— Cuidado, mestra!
A impostora se volta. Alastair começa a se aproximar como um leão prestes a dar o bote. Pacífica encosta na parede, onde pisa em uma das cabeças de dragão e apoia a mão esquerda na parede. Sente um pedaço da parede indo para trás e a cabeça de dragão para baixo.
Um rangido estridente ecoa pelo ar. É tão alto que Alastair, Preston, os cultistas e a impostora tapam os ouvidos. James quase larga a arma para fazer o mesmo. Olhando pra a direita, Pacífica vê uma porta secreta abrindo e luzes acendendo e para após se mover 25 centímetros. Um adulto não conseguiria passar, mas uma criança sim.

Pacífica entra sem hesitar. Ao fazer isso percebe que no lado interno da porta havia uma placa de aço e a moldura era do mesmo material. Depois empurra a porta. Nos dois lados da parede, alças e uma barra retangular de aço maciço. Era óbvio que o criador daquele lugar havia pensado na possibilidade de ser vistos por algum inimigo enquanto a porta se fechava e posto aquilo para bloquear a passagem, ganhando mais tempo para fugir. Ela põe a barra nas alças e corre, torcendo para que não houvesse armadilhas no túnel, e aquelas luzes não apagassem de repente...

11 de Dezembro de 1940

Suzu olha para os corpos dos quatro assassinos enviados pela Sociedade do Dragão Negro. Eram homens jovens, com idades entre 22 e 26 anos. Apesar disso seu empregado Pablo de 56 anos, os havia derrotado! Mas era uma vitória sem sentido, porque ele e Pablo estavam gravemente feridos. Ele pensa sobre aquela tragédia, iniciada oito meses antes quando o Dragão Negro havia descoberto que a esposa dele Misako, na verdade era uma chinesa que tinha mudado de nome. Algo inadmissível para uma organização ultranacionalista, obcecada com a pureza racial.
Misako e o filho deles Norio foram raptados, para obriga-lo a iniciar a tradução dos raríssimos livros crípticos de Hsan, que seriam um trunfo inestimável para as Forças Armadas Imperiais na guerra mundial que já havia começado, e ameaçava expandir-se ainda mais. Porém, á medida que o trabalho progredia, mais do que os danos á sanidade Suzu se assustava com o poder contido naqueles pergaminhos, e o mau uso que seria feito deles. Mas com a esposa e o filho nas mãos da impiedosa organização, ele tinha de se submeter.
Mas um dia, um amigo leal conseguiu trazer-lhe um bilhete de Misako, informando que Norio havia morrido por causa de uma hemorragia no estômago que os raptores haviam demorado a tratar. E quando ele estivesse lendo aquela mensagem ela teria cometido seppuku (suicídio ritual) para deixar a Dragão Negro sem meios de prosseguir na chantagem.
Ao ler aquilo, Suzu decidiu queimar os pergaminhos e a tradução, já quase concluída.

Porém antes que ele destruísse o material de algum modo a organização descobriu sobre o bilhete, enviado seus capangas que haviam tombado diante de Pablo, um veterano da Guerra Civil mexicana e sua faca de caça, feita com o ótimo aço de Toledo.
Suzu abre o cofre na parede onde estava todo o trabalho dele e junto com Pablo, desceu ao porão abrindo a passagem secreta, feita pelo dono original da casa. Após a porta se fechar atrás deles e chegarem a um laboratório, Suzu aponta para o pequeno espaço quadrado do patamar, onde a escada fazia um L, dizendo ao empregado para queimar tudo ali, eliminando para sempre aquele conhecimento maligno.
Usando uma garrafa de saquê Pablo cumpre a ordem e Suzu sorri, antes de fechar os olhos. Pablo não tarda a seguir o patrão rumo à outra vida, sentindo grande satisfação por ter derrotado quatro assassinos em sua última luta, e também por saber que a Dragão Negro iria desperdiçar tempo e recursos, procurando dois homens e algo que já nem existia mais.

Tempo Atual

Chegando ao fim do túnel, Pacífica desce uma escadaria de tijolos marrons e se vê em um laboratório com assoalho de madeira e muitos frascos em dois grandes armários com portas duplas envidraçadas. Havia também um armário de madeira com porta simples, e espalhados no local, três esqueletos. O primeiro estava caído ao lado de mesa com diversos equipamentos de química, vários deles com substâncias dentro. Ele tinha os restos de um grande jaleco branco que ia até quase os tornozelos e botas de couro.
Sentado no chão com as costas apoiadas na parede, estava outro esqueleto com uma grande faca de caça ao lado. A arma tinha cabo de osso, com o nome Alarcón gravado na lâmina de 25 centímetros. O terceiro estava ao lado da escada, com as mãos na altura dos quadris.
(Onde é que eu fui me meter?).
Andando pelo local, logo descobre uma escada em espiral num canto, mas logo volta após descobrir que por algum motivo, a porta de saída não abria. Ela estava encurralada, sentindo dor e mal estar por causa do veneno.

No porão, os cultistas param exaustos, após fracassarem em derrubar a porta. A frustração deles era enorme, porém o orgulho de Preston era maior ainda. Olhando para a impostora que por tanto tempo ele havia chamado de esposa ele sorri e diz:
— Pacífica pode não ser mais a filha perfeita, mas ainda assim é uma Northwest! Ela vai escapar e trazer a polícia, que colocará todos vocês atrás das grades!
— Está enganado! Aquela pirralha não viverá para fazer isso!
E olhando para os seguidores, ela pergunta:
— Qual de vocês aceita ser transformado em um Caçador Espectral?
Entregando a pistola para Alastair que logo põe Preston na mira, James encosta o joelho direito no chão e abaixando a cabeça, diz:
— Por favor, mestra conceda-me essa honra!
A impostora sorri, abrindo um dos armários onde havia várias estátuas de gesso com vinte centímetros de altura, reproduzindo as feições de vários cultistas. Pega a de James. A zeladora e outros dois cultistas sobem as escadas voltando com pequenos cães que ficavam na casa, mas cuja possível utilização em um ritual como aquele sempre havia sido prevista. Um feitiço é murmurado e exceto por Gabor se ajoelham, encostando as faces no chão.
Preston contempla estarrecido o seu chofer transformar-se numa abominação com dois metros de altura, pele azul acinzentado, grandes dentes afiados como os um tubarão, olhos redondos e vermelhos grandes como bolas de pingue-pongue, e mãos em forma de pinças. Segurando a pequena estátua ensanguentada, ”Priscilla” ordena:
— Agora, encontre Pacífica e mate-a!
O monstro avança rumo a porta e diante do olhar perplexo de Preston, passa através dela, como se fosse um fantasma...

Segundo depois, uma sensação desagradável Pacífica se virar, olhando para as escadas onde vê surgir à horrenda abominação que até alguns minutos antes, havia sido um homem.
(Esse monstrengo poderia entrar para a turma do Bill!)
Ela começa a circundar a mesa, tentando achar algo para se defender. Esbarra no crânio do esqueleto que ali estava. Pensa em jogá-lo no mostro, mas descarta a ideia. Era preciso respeitar os mortos, mesmo na expectativa de morrer em breve. Olha para as prateleiras e lembra que laboratórios químicos costumam ter muitas substâncias perigosas. Mas qual frasco haveria algo que pudesse ajuda-la?

— Primeiro armário. Segunda prateleira. Sexto frasco a sua direita.
Pacífica não perde tempo tentando verificar de onde provinha a voz. Apenas acha e pega o frasco e quando o Caçador Espectral se aproxima, ela arremessa o vidro que é destruído por um tapa do monstro faz jorrar meio litro de ácido clorídrico que começa a queimá-lo desde a mão em forma de pinça até o ombro. Desesperado com a terrível dor, ele atravessa uma das paredes e some.

No porão, todos ouvem o barulho. Preston encara a impostora e diz com um sorriso:
— Parece que a minha filha acaba de ferir o seu monstro de estimação.
— Ela teve apenas sorte, que logo vai acabar!

Pacífica olha em volta, procurando outra coisa para se defender. Vê a faca. Poderia ser útil, mas ela era pequena demais para se aproximar daquele enorme monstro sem que ele a pegasse antes. De súbito, uma imagem surge na sua mente e ela sente uma compulsão de criar algo semelhante. Abrindo o armário, encontra uma vassoura, pá para lixo, um rolo de barbante grosso. Pega a vassoura e corta a parte de baixo onde estavam as cerdas de palha. Depois usa o barbante para amarrar com firmeza a faca no cabo de nogueira criando uma versão rústica da estranha arma que tinha visto na imagem mental. Assim que termina, ouve outra voz:
— Deite e role para a direita! Agora!
Mesmo sem saber a quem pertenciam àquelas vozes misteriosas vindas de lugar nenhum e porque a estavam ajudando, ela age conforme indicado. Escapa por um triz de ser agarrada por James, que havia surgido atrás dela.
Em seguida, ela fica de pé. O monstro não conseguia entender como aquela menina era capaz de prever-lhe os movimentos. Furioso, quebra a mesa do meio. As diversas substâncias contidas nos equipamentos caem e se misturam, começando a corroer o assoalho de madeira.

Enquanto isso, duas van GMG Vandura cinza com grandes janelas retangulares nas laterais cobertas por película bronze param na rua paralela ao clube. Doze homens e mulheres, vestindo uniformes shaolin marrons e liderados por um velho monge calvo com uniforme ocre com três pares de círculos azuis com bigodes brancos que se uniam as costeletas de uniforme ocre saem pelas portas traseiras da primeira van e entram no clube saltando o muro.