Ao voltar do aniversário dos irmãos Pines, Pacífica percebe que os grandes portões na entrada da mansão de sua família estavam abertos. Olhando a direita, vê a limusine Cadillac DTS dourada de seis portas. De pé ao lado dela estava Hadley, o motorista. Um homem no início dos 40, olhos avelã e cabelos louro-cinza com um uniforme cinza-azulado Um criado abre a porta dupla da mansão assim que a vê se aproximar. Tão logo põe os pés no vasto saguão, ouve a voz irada do seu pai perguntando:
— Pacífica Elise Northwest! Porque demorou tanto?
O pai estava usando o seu habitual terno preto com camisa social branca, gravata verde e sapatos marrons. A mãe um vestido roxo de alças finas com decote redondo, botas pretas de salto alto e brincos de diamante. A garota responde:
— Vocês mesmos disseram que eu podia ir á festa de aniversário dos irmãos Pines.
— Sim, mas você devia ter voltado há mais tempo! – diz a mãe.
— E nós temos de sair daqui o quanto antes! – acrescenta o pai.
— Ei, onde é o incêndio?
— Incêndio? – responde a mãe – De fato, seria preferível que esse lugar estivesse ardendo em chamas, ao invés da tragédia que está prestes a acontecer!
— Do que vocês estão falando? Eu não estou entendendo nada!
— McGucket! – fala Preston, agitando o punho cerrado. – Nós colocamos um homem de confiança para vigiá-lo. Recebemos uma chamada dizendo que após ter saído da festa dos Pines, aquele lixo ambulante optou por voltar a sua cabana decrépita sabe-se lá por qual motivo! E apesar de agora ser um multimilionário ele está indo para lá a pé! Com sorte, talvez demore algumas horas até vir para cá. Mas quando chegar, nenhum de nós deve estar aqui para dar-lhe boas vindas nessa mansão, que nosso antepassado Nathaniel Northwest ergueu com tanto esforço!
Pacífica fecha a cara, pois sabia da verdade: quem de fato havia se esforçado na árdua tarefa de construir a enorme mansão havia sido os trabalhadores de Gravity Falls, motivados pela promessa de Nathaniel que mais tarde poderiam participar da festa de inauguração do local.
Porém Nathaniel se negou a cumprir a palavra, sem se importar com o fato de que dezenas de homens haviam morrido durante as obras. Desse ato sórdido originou-se uma maldição terrível, cujas consequências ela veio a conhecer bem demais. Apesar disso, opta por não contradizer o pai, para não começar um bate-boca.
Mas quando vê a mãe dar um passo a frente para pegá-la ela recua, dizendo:
— Esperem um minuto! Antes eu tenho de ir ao banheiro no meu quarto!
— Não demore lá! – diz o pai, bastante irritado.
Pacifica sobre as escadas correndo e vai até o quarto dela, que era do tipo suíte. A mobília já havia sido levada. Ao fundo havia um banheiro com piso de mármore e azulejos verde água até o teto. Tinha uma pia, vaso sanitário, chuveiro, banheira jacuzzi e dois cabides cromados. Mas o roupão púrpura de microfibra com monograma personalizado e as toalhas rosa choque de linho egípcio também não estavam nos seus lugares. Mas não importava. Ela senta na jacuzzi e telefona para Mabel. Depois, pensa em outras pessoas queridas para quem também devia dar alguma explicação sobre aquela partida repentina.
Lembra-se de Ava e Betty, que deviam estar dentro do avião da companhia de turismo, voltando do Havaí. Era impossível saber se elas estavam acordadas ou dormindo, carregando os smartfones ou se os aparelhos estavam dentro da bagagem de mão. A opção era óbvia: começa a digitar rapidamente, a fim de enviar um SMS.
Papai ferrou clã Northwest. Mansão vendida para pagar dívidas.Saindo de GF agora. Ignoro destino.
Lágrimas começam a cair sobre a tela do iPhone. Ela luta consigo mesma para conter a emoção e envia a mensagem.
Após fazer isso, começa a escrever outra para Candy e Grenda porque no mesmo dia que tinha comprado um smartfone para Mabel, também havia comprado o mesmo modelo para elas, além de vários outros presentes para ambas e também para Dipper.
Saindo de GF agora junto com meus pais. Ignoro para onde iremos. Lamento não ter começado a ser sua amiga bem antes. Aguarde notícias.
Outra vez, lágrimas caem sobre a tela, enquanto ela envia aquela mensagem. Nesse momento, ela ouve batidas na porta e a mãe dizendo:
— Saia logo daí!
Pacífica guarda o Iphone, e levanta e usa um pedaço de papel higiênico (a única coisa ali que ainda estava no lugar) para secar as lágrimas e outro no aparelho, que é desligado e guardado. Molha as mãos, secando-as com mais papel higiênico. Joga tudo no vaso sanitário e dá descarga. Depois sai e vai para o saguão e junto com os pais, vai para a limusine.
O motorista abre a porta do meio e a de trás. Preston e Priscilla se sentam no banco traseiro de frente para o motorista, enquanto Pacífica opta por ficar em frente a eles ao da grande caixa plástica alaranjada e branca com porta gradeada onde estava Goldie, a labrador de pelo castanho dourado. No entanto, toda a atenção dela estava voltada para a paisagem que podia ver pela janela traseira.
A cachorra começa a latir assim que percebe a chegada da dona, que diz algumas palavras para acalmá-la e depois examina o cinto de segurança que segurança a caixa. Estava bem firme. Então se senta e põe o cinto também. Os pais dela já haviam feito á mesma coisa. A limusine parte, enquanto Pacífica olha com tristeza para a mansão que havia sido o seu lar desde quando era apenas um bebê.
Após terminar de descer a colina em pouco tempo o Cadillac chega a uma bifurcação, onde vira a direita. Pacífica sabia que aquilo os levaria a uma estrada de terra onde teriam de percorrer um longo caminho até chegar ao aeroporto. Por que fazer tal coisa, se a outra opção resultava num trajeto melhor e mais curto?
Então lembra algo importante: indo pela esquerda o carro passaria por Gravity Falls, e era óbvio que seus pais não queriam ser vistos pela população enquanto iam embora. Não deixava de ser esquisito que os orgulhosos Northwest estivessem saindo de fininho da cidade que haviam tratado como sua propriedade particular durante 150 anos.
Porém, levando-se em conta que o pai dela e os outros homens que haviam liderado o clã fundado por Nathaniel, o cruel e inescrupuloso vendedor de esterco, eram um bando de canalhas, cujas biografias se pareciam mais com prontuários criminais, era muito adequado que tudo estivesse terminando daquela maneira. Esse pensamento faz a garota rir baixinho.
— O que há de tão engraçado, Pacífica? – pergunta-se a mãe.
— Sim, conte para nós. – acrescenta o pai. – Também precisamos nos divertir.
— Deixa pra lá. Vocês nunca entenderiam. – responde a menina enquanto a limusine percorre velozmente a estrada de terra, levantando uma enorme nuvem de poeira.
Por causa da escolha, eles demoram 25 minutos para percorrer um trajeto que poderia ter sido feito em apenas 10. Ao chegar ao aeroporto Preston fica surpreso ao ver o jato Global 6000 branco e dourado do jovem barão Fundshauser parado perto de um hangar, sendo reabastecido. Pergunta a um funcionário que estava passando por perto.
— Você sabe por que aquele avião está aqui?
— Sim, senhor Northwest. Pelo que os tripulantes disseram, o jovem barão veio á cidade para encontrar uma garota chamada Grenda. Ele pretende leva-la junto com os pais em uma viagem a Europa. O senhor vai espera-lo?
— Não tenho nada a tratar com o barão Fundshauser. Além disso, eu também possuo uma agenda a cumprir. O meu jato está pronto?
— Sim senhor Northwest, me acompanhe.
Hadley vai junto com a família Northwest, carregando a caixa onde estava Goldie. O jato dos Northwest era um Phenom 300 verde aqua e branco. O casal se senta e Norton coloca a caixa de Goldie sobre uma das poltronas marfim prendendo com firmeza o cinto de segurança da caixa, depois faz um aceno com o boné e sai.
O jato decola minutos depois. Olhando pela janela, Pacífica sente uma profunda tristeza enquanto eles sobrevoam Gravity Falls, a cidade onde ela havia crescido e encontrado o amor.
(Será que irei rever esse lugar algum dia? E quanto a Mabel? Já sinto tanta falta dela!).
No entanto, havia outros assuntos mais urgentes que a preocupavam.
— Será que agora você pode me dizer onde estamos indo, pai?
— Para a nossa segunda mansão, na Califórnia.
— Segunda mansão? Eu não sabia que nós tínhamos uma!
— Ninguém sabe dela. Registrei-a no nome de solteira da sua mãe, Golava. Usei outro escritório de advogados diferente do habitual, que cuidou dos detalhes da compra e também guarda uma parte da minha fortuna. Assim, quando os credores vieram sobre nós como um bando de abutres, não puderam tirar um patrimônio que nem sabiam que eu tinha!
Pacífica aperta os lábios para não fazer qualquer comentário.
(Uma jogada legal, mas ardilosa. Bem típica do pilantra que você é, pai!).

O jato chega ao seu destino: Meanville, uma cidade de 182.000 habitantes nos arredores de San José. Pacífica pela janela, notando que apesar do maior tamanho, o lugar tinha em comum com Gravity Falls o fato de estar localizada em um vale cercada por montanhas. Aquele pequeno detalhe a faz pensar nas mensagens que havia enviado para as suas amigas.
(Como será que elas estão reagindo?).
Chegando ao lar após voltar do ponto de ônibus onde havia se despedido dos irmãos Pines, Candy Chiu encontra a sua mala já pronta, e parte imediatamente rumo ao acampamento de música. Ela só lê a mensagem de Pacífica no alojamento a noite, após o jantar.
Os pais de Grenda ficam fascinados por ter em casa um autêntico membro da realeza europeia. Eles e a filha ficam conversando com o jovem barão por horas, enquanto o Iphone jazia dentro de uma das malas. Em seguida, as duas embarcam no jato do barão e desfrutam do excelente serviço de bordo, enquanto sobrevoam o Atlântico.

Grenda fica tão fascinada pela viagem e depois com o suntuoso castelo, que só lembra-se do smartfone no dia seguinte. A princípio fica preocupada, porém Marius a tranquiliza, dizendo:
— Se Pacífica teve de mudar de cidade, mas está com os pais, não vejo qualquer problema. Além disso, pense na grande bagunça que é uma mudança: é preciso desmontar móveis, fazer a remontagem, examinar a nova casa. Uma nova cidade significa também outra escola, matrícula, compra de material didático, conhecer os colegas. Espere alguns dias,mesmo porque se houver alguma emergência, ela ou os pais ligarão para você.
Aquele raciocínio parecia lógico e Grenda aceita, acalmando-se.
— É, acho que você está certo Marius. Agora vamos passear pelo castelo de novo! Esse lugar é enorme e tããão lindo!
E de mãos dadas, eles se vão.

Ava e Betty só veem a mensagem de Pacífica após desembarcar no aeroporto de Seattle e tirar seus smartfones da bagagem. Elas ficam perplexas e ao mostrar aquilo aos parentes, eles também não acreditam na mensagem: os Northwest, endividados a ponto de ter de vender a enorme mansão de sua família onde haviam morado por quatro gerações e sair de Gravity Falls?Aquilo só podia ser algum equívoco ou então, uma brincadeira de Pacífica!

Porém, ao chegar à cidade basta conversarem com algumas pessoas para comprovar que tudo era verdade. Descobrir que Blubs e o seu auxiliar Durland haviam saído do armário e já estavam com o casamento marcado foi algo quase irrelevante, quando comparado com a notícia de que o novo proprietário da mansão Northwest era ninguém menos do que o velho McGucket!
Todos vão depressa até a mansão e lá, depara-se com o velho caipira que os recebe muito bem, oferecendo chá, doces e biscoitos. Durante a conversa, também fica óbvio que McGucket estava miraculosamente curado da sua loucura.
Já saindo do local, veem alguns olhos-morcego sobrevoando o pátio. McGucket diz:
— Não se preocupem! Essas coisas agora fazem parte da paisagem, mas são inofensivas! Logo vocês se acostumam!
Olhando ao redor, percebem que os criados da mansão continuavam a fazer suas tarefas, sem se importar a com a presença daquelas aberrações que pareciam ter saído de algum antigo filme B de terror. Sentido a cabeça girar, os familiares de Ava e Betty perguntam:
— Mas que diabos aconteceu nessa cidade, enquanto nós estávamos fora?

Gravity Falls. Doze anos atrás.
O local era um porão de paredes creme, com piso magenta e branco mostrando elaborados desenhos geométricos. Dentro estavam uma mulher de vestido turquesa segurando um cetro cilíndrico negro com desenhos estranhos nele, tendo ao lado dela um homem de terno, calças e sapatos cinza.
Adiante estava um prisma de cristal, alto e largo como uma porta. Dentro estava uma jovem loura peituda de olhos azul brilhante com uma nítida tonalidade turquesa, usando um tailleur coral brilhante com decote em V, os braços erguidos pouco acima da cabeça, com um sorriso esquisito no rosto e vários documentos caídos no chão a seus pés. A mulher de vestido turquesa sorri e então aciona o poder do cetro em cuja ponta surge um círculo de luz vermelho, fazendo seu traje o robe tornar-se uma cópia exata do vestido da loura, incluindo os sapatos. Então ela pega a bolsa Hermes marrom dourado, põe o cetro nela e sai acompanhada pelo parceiro, que fecha o ferrolho deslizante da porta.
Os dois vão até a sala, onde um homem de cabelos e bigode castanho escuro segurava um bebê com uma roupa de sede rosa com capuz ao lado outro homem de cabelos negros e olhos verdes. Em seguida, todos vão embora.

Gravity Falls.Durante o Estranhageddon.

Uma Onda de Estranheza é emitida,percorrendo uma vasta área. Dentro do porão, o cristal inicia um lento processo de sublimação, transformando-se em vapor. De súbito, no local antes vazio surge uma mulher usando um longo vestido bege cuja borda ia até o chão, com mangas três quartos, com as mãos cobertas por luvas marrons. Um gato de pelo alaranjado a acompanhava. Doze anos antes ela não havia podido intervir lutando contra a intrusa para evitar por em risco a vida de inocentes, mas por causa daquela energia estranha poderia ajudar aquela cativa de modo simples: ergue os braços com um voltado para a janela basculante e outro para a porta, enquanto círculos de luz dourada brilham ao redor de suas mãos. Janela e porta se abrem. A mulher de vestido bege sai junto com o gato, deixando a porta aberta. A brisa que entra pelas aberturas ajuda na dispersão do vapor.

Gravity Falls.2 de Setembro.

A prisão cristalina enfim desaparece por completo. A loura cai de joelhos e depois está com as mãos apoiadas no chão, tão ofegante quanto um corredor ao final de uma maratona. Doze anos após o seu confinamento,Priscilla Velten Northwest enfim estava livre!
Quando sente que está em condições de andar, ela pega os documentos caídos no chão e põe todos em bolsos do tailleur. Sai da casa deserta e após algum tempo encontra uma estrada que por sorte, era a que levava a mansão Northwest. Chega ao pé da colina ao início do anoitecer e começa a subir a estrada sinuosa. Em um dos quartos Fiddleford Hadron McGucket estava sentado diante de um computador, observando-o com atenção.
Os seus trajes haviam mudado desde a partida dos Pines: ele estava usando uma camisa social branca de mangas compridas, calças jeans e sandálias de couro marrom. Mas ainda continuava com o seu velho chapéu.
Então escuta um grande alvoroço vindo da entrada. Pouco tempo depois, seu filho Tate surge na porta e ele lhe pergunta:
— O que está acontecendo?
— Uma mulher maluca está diante do portão, perguntando onde estão Preston e Pacífica.
— E o que tem de errado nisso?
— É que ela afirma ser Priscilla Northwest! Devo chamar o Blubs, pai?
— Não, deixe-a entrar. Eu quero falar com ela.
Momentos depois, McGucket está sentado em uma poltrona de mogno com estofamento madrepérola. Quando a mulher entra, indica um lugar perto dele e diz:
— Bom dia! Eu sou McGucket, o novo dono dessa mansão. E disseram que você deseja falar com o proprietário anterior.
— Sim! E também quero ver o meu marido Preston e Pacífica, a minha filha!
— Lamento dizer isso, mas eles saíram dessa mansão e da cidade dois dias atrás!
— Preston Northwest disse para mim que amava essa mansão, construída pelos seus ancestrais! Ele nunca a venderia!
— Bem minha senhora ele teve vende-la, porque fez um mau investimento e ficou com dívidas até o pescoço! Mas estou bastante curioso, porque os empregados me contaram que você diz ser Priscilla Northwest!
— Porque eu sou! Acabava de chegar a essa cidade, quando fui raptada e aprisionada por uma feiticeira, que me pôs dentro de algum tipo de cristal enorme!
Em qualquer outro lugar todos teriam rido a beça após ouvir aquelas palavras, antes de expulsar aquela intrusa do local. Mas ali era Gravity Falls. Como todas as pessoas da cidade, aqueles empregados haviam visto os fenômenos bizarros do Estranhageddon. Por causa disso, continuaram aglomerados no saguão ou nos corrimãos do segundo andar, observando.
— Me conte tudo que conseguir lembrar, até os últimos momentos.

A loura começa a falar, contando desde o nascimento no Alasca até quando havia conhecido Preston quando ele se encontrava na no Havaí em uma viagem de negócios. Do breve namoro e do casamento em uma cerimônia discreta. Da gravidez passada num luxuoso chalé enquanto Preston participava de reuniões financeiras relacionadas com suas empresas. Sobre a volta do marido para busca-la e a ida para os Estados Unidos, onde o súbito rompimento da bolsa de água forçou o jato particular de Preston a pousar em San Francisco para que ela desse a luz. A ida para Gravity Falls. E então a feiticeira a tinha aprisionado dentro de alguma coisa, da qual ela não conseguia se lembrar com clareza.

Todos os criados (sobretudo os mais antigos) sempre haviam achado muito estranhas as enormes diferenças entre Pacífica e seus pais. Preston tinha cabelo castanho escuro e olhos verdes. Priscilla (ou a mulher que sempre havia se apresentado a eles com esse nome), cabelo castanho dourado e olhos castanhos escuros. A menina até parecia ter sido adotada, apesar das declarações em contrário de Preston e sua esposa que eles não ousavam contradizer, para não perderem o emprego.
No entanto, examinando com atenção a recém-chegada, a situação mudava por completo. As semelhanças entre ela e Pacífica eram tão óbvias que chegavam a ser escandalosas: ambas tinham o mesmo cabelo liso louro-dourado, os olhos azul turquesa, o formato do rosto.
— Agora, apesar de amar o meu marido, o que eu mais quero é ter a minha filha outra vez nos braços! Ela é só um pequeno e indefeso bebê!
Nesse momento o mordomo, um homem calvo com um grosso bigode castanho escuro diz:
— Peço desculpas por me intrometer na conversa madame, porém a senhora cometeu um equívoco quanto à idade da senhorita Northwest. Na verdade, Pacífica tem 12 anos!
Doze anos? Aquela mulher maldita me roubou todo esse tempo? E onde está a minha filha?
— Nós não sabemos! – diz uma empregada gorducha de cabelos castanho claro arrumados num coque, que também estava no saguão. – Elas saíram daqui sem falar nada a respeito.
— Praticamente arrastaram a coitadinha da Pacífica junto com eles! – diz outra empregada, de cabelos pretos curtos e olhos verdes.
— Além disso – acrescenta um empregado Afro-Americano, que estava perto do corrimão no andar de cima – Parece que ordenaram aos empregados da companhia de mudança, para não dizer nada sobre onde estavam indo, porque nenhum deles quis conversar conosco.
— Oh não! E agora, como irei encontra-los?
— Eu sei de um jeito! – diz McGucket – Os Northwest saíram da cidade em seu jato particular, e nenhum avião decola sem antes apresentar um plano de voo! Alguém me traga um telefone! Quero ligar para o aeroporto!
Um telefone branco sem fio logo está nas mãos dele, que faz um telefonema e diz:
— Preston foi para Melville, na Califórnia.
— Muito obrigado, senhor McGucket! Mas e agora? Como irei chegar lá? Tenho apenas a roupa que estou vestindo, alguns documentos pessoais e os meus cartões de crédito. McGucket fica pensando durante algum tempo.
— Posso olhar os seus documentos, madame?
Ela tira dos bolsos do tailleur os cartões de crédito e uma licença de motorista entregando-os a McGucket. Ele examina tudo com atenção e depois diz:
— Não sou especialista, mas tudo me parece autêntico, o que é bom. Mas seus cartões já passaram do prazo de validade, e a licença de motorista também. Só que não vai ser possível para você pedir outros documentos, até conseguir provar perante a lei que outra pessoa usurpou a sua identidade!

Nesse instante, todos ouvem o estômago da loura roncar. Alguns criados dão risadinhas.
- Parece que a senhora está precisando comer. E como chegou aqui quase na hora do jantar, por favor, partilhe a refeição junto com eu e o meu filho.
Priscilla estava faminta e exausta. Mas ao se sentar em uma grande mesa de cedro junto com os McGucket, vê uma grande quantidade de pratos saborosos diante dela. Come e bebe até ficar satisfeita e depois, o velho a chama para uma conversa.
— Acredito em tudo que disse madame. E como já anoiteceu, o melhor é dormir. Tenho muitos quartos disponíveis nessa mansão. Os criados a levarão até um deles. Durma e amanhã, conversaremos sobre a viagem que pretende fazer para reencontrar sua filha.
A maior vontade de Priscilla era reencontrar a filha o quanto antes. Porém apesar do ótimo jantar ela estava cansada, e não conseguia pensar direito. Aceita a sugestão de McGucket e pouco tempo depois está dentro de um quarto. Uma criada empresta-lhe uma camisola. Ela tranca a porta, troca de roupa, deita e logo adormece.

No dia seguinte, toma o café da manhã junto com os McGucket e após a refeição começa a conversar com os criados para saber alguma coisa a respeito de Pacífica. Fica indignada quando ouve os relatos sobre maus tratos psicológicos aso quais Preston e a impostora haviam submetido à menina, até que Pacífica ficasse condicionada como uma cobaia de laboratório, abaixando a cabeça e obedecendo a qualquer ordem recebida, bastando para isso que o pai tocasse uma campainha de ouro.
— Como ele ousou fazer tal coisa? Após encontra-lo e chutar a bunda daquela vagabunda, vou pedir divórcio e também, a custódia da minha filha! – diz ela, batendo com os punhos cerrados na mesa com força bastante para derrubar algumas garrafas e copos.
O surto de indignação elimina qualquer dúvida que alguém ainda pudesse ter sobre aquela mulher ser a verdadeira mãe de Pacífica, porque apenas uma mãe reagiria daquele modo!
Em seguida, após se acalmar, Priscilla faz um monte de perguntas sobre Pacifica. Queria saber de tudo sobre a filha: seus amigos, brinquedos preferidos, travessuras. Após quase duas horas de muita conversa com os criados ela para com as perguntas, ao perceber algo importante:
— Mas como farei depois, para explicar onde estive nos últimos 12 anos?
Nesse momento, o mordomo calvo intervém outra vez:
— Eu acho que tenho uma possível solução para esse problema.
Todos olham para ele, que prossegue:
- A região de Gravity Falls sempre foi um local onde aconteceram coisas estranhas. Proponho utilizarmos a mais sinistra de todas as lendas locais em nosso favor.
Depois que tudo é explicado em detalhes, McGucket diz:
— Ótima ideia, Copley! No momento oportuno, isso será muito útil!