Revelados

Conto - Violeta Inesquecível


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‘’Uma garota, tão pequena quanto uma violeta,

Que se move como uma pétala,

Está me puxando para sua direção com mais força de que sua própria massa.

Só então, como a maçã de Newton,

Eu segui em sua direção sem parar.

Meu coração continua batendo entre o céu e o chão.

Esse foi meu primeiro amor.’’

(Goblin)

POV NAHUEL

—Jehanne Nilla Vittori.- Carly diz com a voz levemente embolada pela bebida, tocando a ponta do meu nariz a cada palavra que diz. -Reconhece esse nome, Nahuel?

—Ham...Deveria? -Questiono.

Sinto o pequeno sorriso em meu rosto por vê-la corada e bêbada. Porém Carly parece irritada com algo e me encara com o nariz enrugado enquanto nega com a cabeça levemente, não parece ser uma boa escolha uma vez que o movimento parece que a deixa tonta.

—Isso não é resposta. -Cambaleia enquanto fala novamente tocando a ponta do meu nariz. -Você não me respondeu: Jehanne Nilla Vittori. Reconhece esse nome?

Sim, eu me esquivei. Porque a resposta seria estranha: Não. eu nunca ouvi antes...Porem ao mesmo momento, sim, eu reconheço.

Quase com um sussurro em minha mente. Um abraço cujo qual hoje é penas uma sensação.

—Esse é o nome de nascimento de Jane, a irmã de Alec. -Carly diz e isso me chama atenção. Minha amiga respira fundo uma vez e me olha o mais fixo que consegue entre os olhos nublados. -Vou te explicar porque estou nesse assunto com você. -Aponta para meu peito –Você pensa...

—Carly. -Edward aparece atras dela e lhe vira pelo ombro para ele, o rosto um pouco tenso. -Alec está te chamando. Deveria ir vê-lo.

Carly olha sobre o ombro vendo o namorado ao longe.

—Não está não. Ele está conversando com meu pai. -E volta-se para mim. -Então, Nahuel, como eu ia dizendo: Você...

—Carly. -O vampiro a interrompe novamente fazendo-a virar para ele -Então vá dançar com Garrett novamente, ele está com muitas saudades suas.

Minha amiga olha o irmão por um momento e enruga o nariz, cambaleia um pouco.

—Você sabe o que quero dizer a Nahuel, não é? Você sempre sabe por que é fofoqueiro que sabe a vida de todos.

—Você está bêbada, não é o momento para isso. -diz o vampiro e começa a lhe levar pelo ombro -Além disso, nem eu entendo direto essa história, quem dirá você.

Enrugo a testa confuso. Edward me olha com um pequeno sorriso rápido.

—Nada demais, Nahuel, ela só está bêbada.

—Garrett! -diz Carly em tom alto abraçando o vampiro, que lhe retribui -Vamos dançar novamente!

Vejo minha amiga indo para a pista de dança com o vampiro de cabelos escuros que lhe conta algo que a faz rir mais alto

-Jehanne... -Sussurro para mim mesmo.

—Essa é a casa, Nahuel.

A suave voz de Kyung-Mi soa ao meu lado, trazendo-me de volta aos pensamentos que não percebi ter me deixado levar.

Paro o carro em frente a uma casa espaçosa e de aspecto tipicamente americano, um balanço infantil descansa em uma arvore enfrente a casa. Descemos do carro emprestado pelos Cullen e logo estamos a pequena escada que dar acesso a casa.

Kyung -Mi abre a porta da frente a luz é acessa automaticamente na sala vazia. Assim como ela havia me falado antes, não há mais ninguém na casa hoje pois todos foram a um aniversário. Ela está hospedada na casa de amigos da família.

Ela vira-se para mim, o pequeno sorriso simpático sempre presente faz os olhos repuxados parecerem menores. Kyung olha-me e inclina o rosto.

—Quer tomar um pouco de café?

Um leve rosado surge em seu rosto junto com sorriso e vejo-me respondendo com um sorriso também.

—São quase 10 da noite, Kyung -Mi.

O vento frio do outono sopra entre nós e a faz encolher minimamente em seu vestido amarelo. Ela cruza os braços tentando se aquecer e me olha ainda feliz.

—Isso nunca te impediu na Correia. E se você pensar que é noite aqui, mas manhã na Coreia?

Retiro meu casaco e envolvo em seus ombros, que olha-me em agradecimento e leve timidez. Como se o que acabei de fazer fosse algo grandioso, mas eu apenas lhe ajudei com o casaco.

Carly deve ter razão, eu gosto de ser cuidadoso com as pessoas a minha volta.

Acho graça do que me disse, na Coréia ela me questionava por que tomava café tarde da noite e eu dizia que era tarde apenas lá, mas manhã no Brasil.

Sorrio para sua fala e afirmo com a cabeça.

—Tudo bem, isso serve.

Ela parece alegre e se vira para a porta, entretanto log vira-se ficando subitamente de frente para mim. Como não esperava, nossos corpos se chocam um pouco e dou um leve passo para trás afastando-me.

Kyung -Mi parece repentinamente mais nervosa. Torno-me preocupado e inclino o rosto para lhe questionar o que aconteceu.

Suas mãos tomam meu pescoço e ela se ergue puxando-me e fazendo nossos lábios se tocarem. Fico surpreso e levemente confuso com a ação, mas descanso a mão em sua cintura levemente.

Kyung gosta de mim, sei bem disso. Eu também; ela é legal, simpática e bonita. Eu seria louco se não gostasse dela.

Mas não sinto algo amoroso.

Seus beijos nunca foram mais do que bons. Algo sempre me puxa para longe.

Como acontecia com Carly, mas agora é diferente, pois por Carly eu ainda sentia um grande amor de amizade, o que tornava as coisas mais toleráveis.

Agora, com a Kyung -mi... Eu só sei que ela é especial para mim, mas nao da forma que deveria.

Ela afasta-se um pouco e olha-me timidamente, suas mãos ainda envolta de minha nuca. O pequeno sorriso retoma seus lábios.

—Eu gosto de você, Nahuel. -afirma o que havia em meus pensamentos. Inclina-se mais em mim e seu sorriso aumenta enquanto sussurra novamente: -Eu gosto mesmo de você.

Seus lábios encontram novamente os meus voltando a me beijar. Seu coração acelera enquanto suas mãos afundam em meus cabelos.

Estamos próximos, seu corpo é bonito, ela é legal... Mas no momento nada disso me faz sentir algo a mais.

Ela gosta de mim, sente algo de verdade por mim. Então por que raios eu não consigo corresponder? Por que meu corpo deseja se afastar? Por que minha mente diz que é errado?

Não. Não é errado!

É certo. Precisa ser certo!

Porque eu estou cansado. Sempre desejei ter alguém, recomeçar minha vida...Tentar algo novo. E agora aqui está Kyung -Mi, sendo doce e simpática e falando que sente algo por mim. Sendo a personificação de tudo o que desejo.

Não, não vou dar razão a pensamentos que me fazem querer me afastar nem ao meu corpo que deseja deixá-la.

Tudo isso penso em um segundo enquanto nos beijamos. Descanso a outra mão em sua nuca e começo a corresponder ao beijo.

Eu só quero saber o que preciso fazer para entender o que minha mente e corpo desejam para entrarem em sintonia com o momento.

Com esse pensamento, tudo se conturba dentro de mim. A ideia de permitir-me pensar livremente no que sinto tanto anseio dentro de mim faz algo pairar em minha mente. É uma memória antiga, apagada, sem foco, são apenas recortes. Quase como uma sensação, mas que me nubla e sobrepõe a realidade.

Não me paro com os pensamentos, deixo que minha mente tome controle e me dê o que tanto desejo.

É quando tudo se torna bom.

Certo.

Perfeito.

Os lábios que agora estão sobre os meus são mais rosados e possuem sempre um pequeno tom de superioridade, e eles me trazem beijos que me reaviva. Ilumina. Como a luz Solar.

O corpo próximo ao meu possui a energia vibrante, mesmo que escondido em uma mascara fria. Não, esse corpo é Iluminado. Perfeito.

Tudo é apenas recordes de pensamentos, memórias. Não consigo ver realmente o rosto ao qual anseio, mas sim as pequenas partes. Como os cabelos que afundo os dedos para trazê-la para mais perto de mim, eu sei que eles são em um loiro pálido que se estendem por todo seu corpo até após a cintura.

A saudade que esmagou meu peito durante todo esse tempo explode dentro de mim. Eu só quero matar essa falta. Beijá-la mais. Tê-la mais.

Todo meu corpo responde em anseio com o pensamento e perco a luta com a realidade deixando a que crio em minha mente seja a real.

Eu preciso de mais.

Sinto o pequeno som de ânsia e desejo subir em meu peito e enlaço sua cintura com o braço trazendo-a para mais perto, querendo sentir sua pele sobre a minha.

Eu sentir sua falta. Sentir muito sua falta.

Penso incoerentemente.

Sentir tanta falta de lhe beijar que isso me matou dia após dia.

Só preciso matar essa falta e nunca mais deixá-la.

Sentir falta de tê-la assim.

Encosto-a na parede e pressiono meu corpo sobre o seu enquanto aprofundo o beijo e dou aos meus pensamentos o que tanto deseja.

Sentir falta de lhe tocar.

Desço com uma mão em sua lateral sentindo o corpo que tanto desejo em minha palma.

Meu coração acelera e o peito aquece com as sensações.

Desço com os lábios pelo pescoço de pele branca onde sei que pequenas sardas douradas pintam toda extensão, como se o próprio sol a tivesse beijado ali.

—Vamos entrar. -A voz sussurra enquanto seus dedos estão em meus cabelos.

Céus, como sentir falta disso!

Apenas afirmo com a cabeça sem parar de beijá-la em sua pele, minha mão em sua cintura lhe conduz de costas e passamos pela porta aberta. Logo a estou pressionando-a novamente na parede ao nosso lado pois não suporto a pequena distância que se abriu entre nós.

Minha respiração é entrecortada enquanto subo com a boca em seu pescoço até encontrar novamente os lábios que tanto anseio. Minha mão sobe em sua barriga por sobre o pano do vestido, sentindo a pele que tanto me reaviva.

Beijo-a deixando tudo dentro de mim transbordar: A saudade, o anseio, o desejo.

É tão certo tê-la assim que meu peito se aperta em alegria.

Um som alto ressoa a nossa volta e ela assusta-se afastando-se pelo meu celular tocando.

Reabro os olhos para finalmente completar a visão e ver o rosto que tanto sentir falta.

É então que paro completamente e sinto meu corpo gelar.

A garota que me encara de volta é Kyung Mi. Não há cabelos loiros nela, tão pouco uma pele com pequenas sardas em seu pescoço.

Não é ela quem imaginava.

Céus, eu estava desejando outra pessoa enquanto a beijava?

A vergonha pelo que fiz me toma e paralisa-me. Uma pequena parte minha lembra-se que Carly passou com algo do tipo comigo e imaginou Alec no meu lugar. Ela sentiu tamanha vergonha como eu agora sinto?

Porém, mais terrível ainda é não saber efetivamente quem eu imaginava matando essa falta que tanto me consome.

—Nahuel...? -Inclina levemente o rosto chamando minha atenção.

Pisco aturdido e lhe encaro de volta, torcendo para que não tenha percebido o que fiz.

—Seu celular. -Aponta para o bolso de minha blusa onde o celular toca sem parar.

Forço-me a agir e o atendo sem ver quem é. A voz conhecida de Seth começa a falar.

Mas eu não o escuto, porque meus olhos se fixam novamente no suave desenho do pescoço feminino a minha frente e outro recorte da lembrança ressurge:

Estou subindo os lábios pela pele macia de seu pescoço. Sentindo o aroma único me envolver. Meus lábios encontram seu ouvido e sussurro com um pequeno sorriso:

—Você tem cheiro de casa. - Beijo a pele que sei ser sensível de seu pescoço e ela tenta reprimir a risada, mas escapa ao sentir o toque -Você é minha casa, Ayün.

—Nahuel! -a voz grave de Seth exige através do telefone -Você está aí?

Pisco retornando à realidade. Kyung está aguardando com um leve sorriso a minha frente, parece mais feliz que antes. Meu peito se aperta em perceber que se deve ao fato de nosso momento mais quente. O quanto ela ficaria triste em saber que não foi nela que pensei?

Desvio os olhos para qualquer outro lugar.

—Vamos sair então? -Pergunta Seth. -Você vai embora amanha cedo, precisamos aproveitar um pouco. A não ser que já esteja ocupado...

—Eu vou encontra-lo. Me mande sua localização.

Digo rápido e desligo. Não posso continuar aqui, com Kyung -Mi. Não confio em mim agora e ela não merece isso.

Penso em como isso é extremamente parecido com o que aconteceu com Carly. Até esse momento eu a julguei, mas vendo o quanto tudo foi incontrolável, eu a entendo melhor.

—Você já vai embora?

A voz de KyungMi soa surpresa e com leve ressentimento. Volto meu olhar para ela, suas feições meigas acompanhas as emoções da voz. Sei por que está assim por a está deixando depois do beijo.

A única vertente na história é que não foi com ela.

Não suporto saber que lhe machuquei, justo ela que sempre foi tão atenciosa comigo. Descanso uma mão em seus cabelos e forço um sorriso.

—Sinto muito, Kyung -Mi. Eu preciso ir. -Você não imagina o quanto! — Foi ótimo lhe ver novamente.

Forço um sorriso e ela tenta acompanhar, mas sai algo triste e confuso.

—Quem sabe nos encontramos novamente. -ela diz.

Inclino depositando um leve beijo carinhoso em sua testa, depois olho-a com carinho, seu rosto está em tristeza mal disfarçada. Pego novamente o pequeno grampo dourado que novamente soltou de seus cabelos escuros.

—Se cuida, ok? -Digo repondo o enfeite no lugar.

Sua mão cobre a minha antes que retire o contato com seu cabelo. Kyung -Mi olha-me.

—Precisa mesmo ir, Nahuel?

Mantenho o sorriso e afirmo com a cabeça. Desço minha mão do contato com a sua e seguro levemente em seu queixo.

—Até mais, Kyung-Mi.

Ela apenas acena em um fraco sorriso e permaneço com o sorriso quando rapidamente passo pela porta e sigo em largos passos até o carro. O vento do início do outono sopra ao meu redor e sentiria frio se minha pele não fosse mais resistente que a de um humano comum.

O curto caminho até o carro parece longa e infinita. Meu sorriso se desfaz e cada passo que dou me angustia.

Entro no veículo e fecho a porta deixando-me no escuro. Descanso as mãos no volante olhando para a rua vazia através do para-brisa sem realmente ver nada.

—Céus, Nahuel! -falo sozinho –O que foi isso que acabou de acontecer?

Minha respiração está um pouco descompassada pela confusão dentro de mim. Meus olhos descem para meu braço esquerdo sobre o volante e puxo com a outra mão a manga da blusa branca; vejo sobre a pele morena a tatuagem feita poucos dias atrás: O caule da flor começa no pulso e segue até metade do braço onde a flor violeta está desenhada, ao redor dela estrelas estão desenhadas.

Não sei bem o que me levou a escolher ela, mas me sentir estranhamente bem em tê-la ali.

Sobre meus pensamentos, vejo um campo de flores que por algum motivo penso já ter estado.

Fecho os olhos fortemente e deixo a cabeça tombar em meu braço. Mesmo que não queira, as imagens distorcidas do que imaginei enquanto beijava KyungMi voltam para mim.

Relembro como cada pensamento do toque, do beijo e da sensação me acalenta por dentro.

Meu coração afunda em saudade.

Saudade de querer que essa pessoa que imaginei exista. Que eu realmente tenha vivido o que me pareceu ser tão real.

Saudades de uma garota que já chamei de Ayün. Porque eu sei que essa pessoa seria o amor da minha vida e para minha vida.

Outra coisa vem até mim: O som de uma risada feminina.

É envolvente, melodiosa, real.

A risada da minha Ayün.

Sinto meus olhos marejarem.

—Se você for real... - sussurro - Se o que imaginei for uma lembrança, como sinto ser e que por algum motivo esqueci; então precisamos nos reencontrar e eu prometo nunca mais lhe deixar ir.

Pronuncio enquanto o suave e envolvente som ressoa ao meu redor.

—Por favor, volta para mim.

Sussurro sentindo algumas lagrimas escorrerem em meu rosto.

EM ''RENEGADA'':