Pov. Milene

Minha boca está seca! Escuto algumas vozes abafadas, tendo me concentrar para entender...mas não consigo. Respiro fundo e tento manter a calma...abra os olhos Milene! Abra! Tento mais uma vez, parece que meu corpo está começando a reagir. Abro devagar e vem um clarão, fecho novamente. Alguém fala comigo..abro novamente e minha visão está desfocada, pisco algumas vezes...começa a focalizar aos poucos..até ficar nítido quatro pessoas em minha frente.

— Senhorita? – uma moça de jaleco com um crachá escrito Dra. Stewart se aproxima de mim. Olho ligeiramente para meu corpo estou no soro e ligada a aparelhos.

— Sim – respondo lentamente.

— Lembra o seu nome? – pergunta preocupada.

— Sim, Milene – respondo como se fosse evidente.

— Reconhece essas pessoas? – aponta para as quatro pessoas em minha frente.

— Só uma – respondo um pouco insegura.

— Quem? – a médica anota alguma coisa.

— Meu marido. Aquele loiro com cara de azedo – aponto para Rogers – Não tem como esquecer...por culpa dele estou aqui – explico friamente.

— HÃ? – Rogers se aproxima com uma cara de bobalhão. Olho para os demais, todos estão com os olhos esbugalhados.

— e os outros? – olho novamente para o senhor, uma mulher e um rapaz em minha frente. Forço minha mente e não consigo.

—Desculpa, não sei quem são! – falo e sinto uma pontada em minha cabeça.

— Só pode estar de brincadeira – o Senhor fala irritado.

— Você lembra o que aconteceu? – Steve me pergunta baixinho.

— Sim, estava indo embora e acabei tropeçando... acho – tento usar a mente novamente, mas a dor volta.

— Com isso você teve uma contusão que gerou uma concussão. Seus neurônios despolarizaram afetando sua memória – a médica fala como se fosse super normal – O Senhor é seu avó, Matteo D´Angelo Garth, a mulher sua tia Beth e o rapaz um dos seus primos, Henrico. A Senhorita não é casada, seu nome é Milene D´Angelo Garth.

— Desculpe, mas eu sou Milene Garth Rogers. Não sei nem como estou aqui. Eu moro em Manhattan com..ele – o desespero bate e sinto minhas mãos geladas.

— Não precisa se exaltar Senhorita Garth – a médica retira o soro que acabou e movimento um pouco os braços.

— Senhora Rogers – corrijo a médica que dá um sorriso sem graça - Por quanto tempo fiquei desacordada? – pergunto com medo da resposta.

— Dois dias – Steve me responde.

— O que? Meu Deus preciso voltar ao trabalho- tento me levantar, mas uma tontura me atinge em feio.

— Acalma-se. Caso contrário terei que dar um sedativo – a médica me segura pelo ombros me deitando novamente.

— Ok – respondo fraca com os olhos fechados.

— Vamos deixar ela descansar um pouco – escuto a médica falando e a porta se abrindo. Suspiro um pouco aliviada. Abro os olhos e vejo Steve deitado no sofá pensando. Fecho os olhos novamente, não quero encará-lo.

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Pov. Steve

Dois dias antes – Torre dos Vingadores

— Vamos para Belmont, Fury! – Peter tentava acalmar os ânimos. Olho para Stark e minha vontade de socá-lo volta.

— Acho melhor. Como vocês dois saem no tapa no meio de uma missão? – Fury ralha e Thor faz careta chamando atenção de Nat – Posso saber pelo menos o motivo?

— Ele me irrita! – digo em uníssono com Stark fazendo-o revirar os olhos.

— Na verdade é só porque o Steve desmentiu a nossa desculpa, por termos destruído uma boa parte da cidade e termos perdido para Loki – Bruce respondeu calmamente tirando os olhos do jornal e guardando os óculos.

— Por isso? – Fury esbraveja – Vocês são incompetentes e tem que dizer a verdade.

— Não! Foi só um deslize – Stark resmunga me irritando mais ainda.

— Assumir os erros é um ato nobre Stark! – provoco fazendo-o bufar.

— Pena que não sou nobre! – responde-me com um tom ácido saindo da sala.

— Onde vai? – Nat pergunta levantando-se.

— Por ai! – fecha a porta.

— Vá com Peter para Belmont – apontou para mim – Não deixa o pirralho cometer nenhuma loucura. É o melhor a se fazer...você já é conhecido pela cidade e família – olhou-me tentando ser paciente.

— Sim Senhor! – pirralho responde rapidamente.

— Vamos? – pergunto frustrado.

— Sim! – Peter me responde animado.

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— Vocês chegaram! – Marie nos recepcionada calorosamente. Abraço a mulher e ela começa a me analisar.

— Steve como você está diferente! Cada dia mais bonito!

— Obrigada tia! – dou um sorriso sem graça. É bom ter uma família, mesmo que seja de mentira. Afinal, se passar de sobrinho para investigar as coisas na cidade não é uma tarefa fácil. Pior ainda que se passaram anos e não descobrimos absolutamente nada.

- Vamos entrar gente, está frio! -May pega sua mala e entra dentro de casa. Pit e eu pegamos o restante e entramos. A sala da pousada está toda decorada com árvore de natal, meias na lareira e vários bonecos de neve espalhados.

— Cuidado ao subir as escadas a madeira está um pouco solta – tia Marie fala cautelosamente pegando algumas coisas na cozinha.

— Quer que eu arrume tia? – o pirralho pergunta prestativo e May começa a rir.

— Não menino – Marie aparece na porta – Não posso mexer em nada por conta do processo. Então se alguém cair é culpa daquela cobra – sinto um pouco incomodado com a maneira com a qual se refere a Milene. Errei com ela, amei ela...não sei se amo ainda. Sento no sofá desconfortavelmente chamando atenção de todos.

— Desculpe Steve! – se aproxima me abraçando.

— Tudo bem! – sou breve com a resposta. A campainha toca olho ligeiramente para Pit que se levanta e abre a porta.

— Nat?— escuto o pirralho surpreso vou até a porta e a ruiva mais furiosa de todos os tempos se encontra em nossa frente.

— O que está fazendo aqui? – pergunto perplexo.

— Culpa sua seu idiota! – soca meu ombro – Se não tivesse brigado com Stark estaria viajando – bufa irritada.

— Meninos, quem é a bela moça? – tia nos interrompe e Nat se aproxima de May e Marie.

— Sou a namorada do Steve! – arregalo os olhos.

— O que? – Pet pergunta sem entender nada.

— Prazer! Natasha Romanoff! – Nat estende a mão para Marie que aceita de bom grado – Olá May! – abraça a tia de Pit desconfortavelmente.

— Olá querida! – May corresponde respeitando o limite de Nat. A ruiva se afasta parando ao meu lado.

— O que foi isso? – sussurro.

— Idiota, preciso vigiar vocês – responde-me olhando para Marie.

— Namorada? – pergunto contrariado.

— Preferia o que Rogers? Mãe? – me olha irritada e Pet começa a rir – Anda me abraça, ela vai virar em 5 segundos. Me aproximo abraçando Nat por trás – Sem gracinha Steve, eu te mato!

— O amor é lindo! – Pet provoca e toma um tapa na cabeça – Ai Nat!

— Cala a boca menino! – ralho fazendo murchar ao nosso lado.

— Que casal mais lindo! – Marie fala encantada – Como você não me conta uma novidade dessas?

— É..bom – engasgo tentando explicar.

— Ele é esquecido! – Nat responde rapidamente vendo o meu embaraço.

— Mas, tem como esquecer que está namorando?

— Pois é! – Nat dá um sorriso sem graça.

— Eu aprovo! Menina doce e gentil Steve – Pit começa a rir e eu acompanho discretamente. Nat me dá uma cotovelada – Bem melhor que aquela garota Rogers.

— Que garota? – Nat sussurra.

— Ninguém! – saio do abraço e pego minha mala. Nat olha confusa para Pit que tenta disfarçar o clima.

— Melhor subirmos, estamos cansados tia! – Pit explica dando um beijo em sua testa – Vamos? – olha para Nat que entende o recado.

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— Quem é ela? – Nat pergunta novamente após algumas tentativas falhas.

— Ninguém Nat – suspiro olhando para o teto.

— Não adianta Nat ele não vai responder – Pit responde. Antes que eu pudesse falar algo escuto uma batida na porta.

— Entra! – falo me sentando na cama.

— Olá – May aparece na porta – Vamos sair um pouco? Marie quer ir ao D´Angelo – faço uma careta com o local escolhido e nego de imediato com a cabeça – Vai ser bom Steve e assim a Nat conhece também.

— Concordo plenamente – Nat me puxa da cama – Vamos Rogers! Nem parece que é o famoso Capitão América.

— Nat, não começa! – resmungo.

— Vou dar dois minutos para vocês descerem – May fala divertida fechando a porta.

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— Vão na frente – digo um pouco retraído olhando para o café em minha frente. São tantas lembranças.

— Ok vamos – May e Pit vão na frente me deixando com Marie e Nat. Marie me olha atentamente.

— Um dia você vai superar filho, você merece uma pessoa melhor – ignoro sua última fala e olho para um Audi parado em frente..Manhattan?

— De quem é? – pergunto apontando para o carro, Marie olha na hora com uma cara de poucos amigos.

— Pode ser que seja dela querido, vou entrar – olho pra Nat frustrado que finge cara de paisagem.

— Vamos? – pergunta como se nada tivesse acontecido.

— Vamos esperar um pouco – digo quase implorando.

— Ok! – revira os olhos encostando no carro fitando o céu – Pronto, agora vamos? – me puxa até a porta.

— NATASHA! – grito bravo. Escuto uma voz familiar e meu coração dispara...Milene!

— Hum..não vai desmaiar boneco de porcelana – Nat zomba da minha cara.

— Olá Senhora Parker! – sua voz é tão doce.

— Não é que a destruidora de lares e sonhos está aqui!

— A Senhora ainda não entendeu que trabalho para Manhattan Co. Sou funcionária assim como qualquer outra e ainda não foi destruída!

— Melhor entrarmos Steve! – Nat me encara.

— Você poderia ter interferido, mas não quis ajudar. Eu tive que me virar sozinha, graças a Deus o processo está parado agora.

— Não! Vai acabar o tempo de vocês. Não conseguiram comprovar que tem valor histórico até o momento

—Nossa a Milene é tão delicada, né? – Nat me pergunta ironicamente.

— Vai começar? – ralho fazendo a ruiva revirar os olhos. Pego na maçaneta da porta e resolvo abrir..melhor encarar.

— Não acredito que já estão brigando! – falo chamando atenção de todos. Milene parece reconhecer minha voz.

— Steve! – me chama um pouco alto demais.

— Milene! – retribuo a atenção. A morena vira em minha direção e encara Nat.

— Olá! – estende a mão para Nat que corresponde rapidamente - Prazer, Milene D´Angelo Garth.

— Prazer, Natasha Romanoff!

— Você está diferente Milene! – abraço e sussurro em seu ouvido fazendo arrepiar.

— Todos mudam Rogers! – responde amargamente tentando disfarçar.

— Percebi! Quer destruir um patrimônio familiar – afasto com um sorriso no rosto de vitorioso.

— Não era para estar salvando vidas? – Milene rebate sarcasticamente, deixando-me surpreso- É Capitão...eu sei seu segredinho.

— Você sabe? – pergunto perplexo e olho rapidamente para Nat que está tensa.

— Chega! – Matteo percebe o ambiente desconfortável– Preciso trabalhar e você descansar! – abraça a morena – John é com você, por favor!

Milene vai em direção à mesa pegando sua bolsa e saindo sem dizer uma palavra.

— Menina mal educada! – Marie resmunga e começa a discutir com Matteo.

— Como ela sabe? – Nat me pergunta preocupada.

— Não sei! – respondo confuso.

— Fury precisa saber! – fala pegando o celular, porém impeço.

— Deixa ele fora disso Nat! – seguro um pouco forte demais seu braço.

— Me solta idiota, tá chamando atenção – massageia o local – Vou avisar o Fury! – me encara.

— Poxa Natasha estou pedindo! É tão difícil assim ajudar um amigo? – pergunto exaltado fechando o punho.

— É minha obrigação – responde suspirando.

— Sua obrigação? Ajudar ...quem um dia te ajudou não é? Colaborar com quem já salvou sua vida? – vou em direção à porta, escuto May me chamando, mas ignoro. Fecho a porta com tanta força e ódio. Começo a andar rapidamente, não quero ninguém por perto.

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Véspera de Natal...

Pov. Nat

— Conseguiu contato? – olho para Pet que nega. Steve sumiu....desde ontem! Não deu nenhuma notícia. Meu celular começa a tocar é Fury!

— Alô – atendo um pouco tensa.

Nat?— Fury percebe a tensão em minha voz – Tudo bem?

Sim – respiro tentando me acalmar – Aconteceu algo?

— Não, por aqui está tudo em ordem. Cadê o Capitão? Estou tentando falar com ele.

— Ele está ajudando a família de Pit – minto descaradamente. O pirralho me olha surpreso.

— Não vai contar? – me pergunta baixinho. Nego com a mão e faço sinal para que fique quieto.

— Quando ele aparecer, peça para me ligar.

— Sim Senhor! – Fury desliga e jogo o celular longe.

— Precisamos achar o Steve! – falo aflita – Capaz do Fury...vir pra cá!

— Nem brinca – Pit me olha preocupado.

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Pov. Steve

— Mais uma rodada Senhor? – encaro o garçom em minha frente e nego com a cabeça. Olho para o copo de whisky na mão...virei o Tony agora? Jogo o dinheiro no balcão. Algumas pessoas me encaram. Como Milene pode ter mudado tanto? Preciso ajudar Marie! Como? Falar com ela? Pedir? Suplicar? Ela virou uma pessoa tão fria.

Olho para o outro lado da rua e vejo uma morena bem conhecida. É ela! Está apressada, parece estar procurando por algo...alguém. Me aproximo rapidamente e antes que ela pudesse atravessar puxo sua cintura agarrando seu corpo delicado contra o meu.

— Steve! – fala assustada com a respiração descontrolada.

— Desculpe! Não queria te assustar! – peço desculpas e ela percebe o cheiro de álcool. Se aproxima na minha boca e fico tenso...sua boca, seu beijo!

— Bebeu? Faz efeito em você?

— Não importa. Vem comigo! – me controlo e acabo sendo um pouco grosseiro.

— Não vou em lugar nenhum com você! – ela tenta escapar, mas não consegue. Coloco em meu colo e começo a andar, Milene se debate...comigo isso não funciona! Por um momento ela fica quieta. Paro em frente à pousada colocando-a no chão.

— Na Pousada? Sério? – pergunta sarcástica se arrumando e virando em direção contrária. Seguro novamente a morena pela cintura.

— Eu tenho como comprovar que é histórica! - viro seu corpo. Sua respiração está tão perto da minha.

— Como?

— Vem, vou te mostrar – Entro dentro da pousada quase arrastando ela e tudo em minha frente. Ela entra com cara de poucos amigos e começa a olhar ao redor. Está com medo! Acha o que? Vou matá-la?

— Não tem ninguém – tento acalmá-la.

— Ok! – responde-me seca. Vou em direção à escada, escuto seus passos atrás de mim.

— Encontrei uma foto do primeiro dono, ele foi uma pessoa importante para a cidade – entro no escritório e mostro a foto de Anthony Rizzo, historiador e cientista da cidade.

— Não sei de quem se trata – me responde no automático.

— Pelo jeito não vai ser fácil – suspiro olhando decepcionado. Dinheiro fala mais alto!

— O que? – me olha confusa.

— Te convencer – minha irritação é evidente.

— Não há o que me convencer Rogers – responde-me um pouco alterada.

— Você mudou muito – busco seu olhar que não me encara verdadeiramente.

— Você também!

— Eu? Você sumiu! – grito assustando a garota.

— Você sumiu primeiro, cansei de esperar – grita de volta aumentando minha ira – É para isso que me trouxe aqui? Quer saber Rogers prometo que tentarei salvar a tão amada pousada – ironiza.

— Para Milene! – me aproximo segurando seu ombro violentamente.

— Me solta! – ela grita e se debate. O que estou fazendo? Me afasto rapidamente, fecho os olhos tentando me acalmar, soco a parede. Escuto seus passos mais afastados. Corro atrás ...desculpa!

— Onde vai? – pergunto exaltado!

— Embora...não está claro!? – responde-me grosseiramente. Milene começa a descer as escadas quase correndo– Me deixa em paz!

— Milene! – lembro do que Marie disse mais cedo. Tento avisar, mas ela me ignora. Faltando alguns degraus, Milene se desequilibra. Tento pegar seu corpo, mas ela bate a cabeça – MILENE! – grito desesperado. Ela não me responde, começo a sacudi-la...nada!

— STEVE! – Nat entra gritando e vem em nossa direção. Olha para o corpo desfalecido em meu colo – PETER! – grita buscando ajuda – O que aconteceu?

— Ela caiu da escada – falo tentando não me desesperar.

— Bebeu? – fecho os olhos – Não acredito Steve, você é mais que uma porcaria de bebida.

— Sou? – pergunto secando as lágrimas.