Príncipe Martin sobrevoava o enorme Deserto de Sanúbia á caminho do País de Sanúbia, que se desenvolvia lento em um pequeno ponto, as margens do deserto, quando viu um pequeno dragão de cor azul claro, mesclado com verde água e algum metal claro e bonito, esplendorosamente brilhante. Este era um filhote do Dragão de Platina. Os dragões vinham se reproduzindo com outras raças, o que muitas vezes resultava em pequenos dragões como este, ou criaturas humanoides com traços draconicos, que costumavam ser mais poderosos do que o primeiro exemplo. Desviou-se do caminho do dragão, por precaução, e continou seu destino.

Chegando á Sanúbia, encantou-se com uma enorme fonte de água cristalina que eles mantinham no centro do mercado. Adentrando a cidade, desceu de seu grifo e caminhou ao encontro de uma senhora vestida com tecidos finos da cabeça aos pés. Intrigou-se com o fato de todos estarem muito vestidos, num país onde o clima era tão quente. Quando aproximou-se suficiente da senhora Sanúbiana, pôde ver o quanto era bela e apreciar por debaixo do tecido transparente, seus cabelos negros e lisos, que imaginou ser muito longo. Ela o ofereceu água da fonte, que era potável. Martin aceitou, enchendo seu cantil, que apesar de ainda não estar vazio, a água que jazia nele já estava quente havia muito tempo.

A tormenta de lembrar a morte do pai ainda o atingia na alma, mas sentia orgulho, pois mesmo depois de perceber que havia sido traído, o rei não desistiu de fazer justiça. Por outro lado, não queria ser egoísta, mas não deixava de pensar no quanto gostaria que seu pai fosse, ao menos uma vez, covarde, e que nem tivesse começado a maldita guerra, para que nunca tivesse de ver seu reino em ruinas como estava, nem seu povo morto. Crianças, idosos, mulheres, ninguém foi poupado das chamas de gelo do Dragão de Prata e, cada vez que pensava no quanto queria vingá-los, lembrava de que apenas um único Dragão conseguiu Destruir todo o reino e matar todos os cavaleiros, inclusive os Cavalheiros da Ordem do Sol, e pensava no quão fraco era. Mas havia de ter um jeito de encontrar um ponto fraco naquelas criaturas.

Depois de refrescar seu grifo, perguntou á moça sobre uma taverna, ou estalagem e a mulher o guiou até o Rato Equilibrista, uma taverna mal frequentada e suja, como todas as outras, pensou. Depois de entrar tentou obter informações sobre a situação dos outros reinos com relação a obliteração de seu reino. O taberneiro informou-lhe que todos sabiam que ninguém havia sobrevivido, e que os Reis estavam mais cuidadosos. Os Dragões cuidaram de deixar todos a par do acontecido, como forma de aviso. O medo cresceu dentro de Martin, mas nunca abandonaria a missão que seu pai lhe deu, por mais difícil que fosse conseguir aliados. Aproveitando-se do fato de ninguém ter percebido o grosso anel em seu cordão com o símbolo da Casa Real de Solaris, Martin o escondeu em um pequeno bolso que tinha preso ao cinto.

Esmeralda, por sua vez, seguia caminho até o País de Sanúbia, onde era rota de todo tipo de negociação e importação entre reinos. Alguém devia ter alguma informação de sua irmã para dar. O enorme navio arcano, como havia sido prometido, tinha muitos homens, aias e soldados. O monge ao qual seu pai a havia juramentado também estava presente, seu nome era Kyousuke. Um belo moço, que parecia ser apenas um ano mais velho do que Esmeralda.

Chegando ao deserto de Sanúbia Esmeralda e seus tripulantes se depararam com um pequeno Dragão de cor azulada que criou uma enorme tempestade de areia. O Capitão do Navio conseguia manter a situação sobre controle, mas a embarcação não tomava altura suficiente para se desviar da terrível tempestade. Quando o dragão percebeu a presença do navio que abrigava tanta gente, foi ao ataque e com uma das patas conseguiu atingir e quebrar toda a parte da frente, junto com todos os tripulantes que alí estavam. Esmeralda não conseguia registrar as imagens porque foi tudo muito rápido. Kyousuke a tomou nos braços e, quando o navio começou a cair aos rodopios, pulou. Quando alcançaram a areia ele a envolveu com os braços, a protegendo o máximo que podia e rolaram para longe de onde calcularam que a embarcação iria cair. Estilhaços de madeira caíram em cima de Lorde Kyousuke, que jazia em cima de Esmeralda a protegendo.

Com toda a areia que o dragão havia levantado, não foi possível enxergar um palmo a frente do rosto. Com muito esforço o monge conseguiu se levantar. Toda armadura que trazia no corpo só aumentava a pressão da queda, mas conseguiu manter Esmeralda sem um arranhão, e era o que importava. O Dragão, vendo que o navio jazia arruinado e que não havia nem esperanças de haver vida entre os tripulantes, foi-se embora, para o lado oposto do País de Sanúbia.

Por sorte, Esmeralda e Kyousuke estavam muito perto de Sanúbia, embora o deserto não ajudasse em alívio algum para a curta caminhada. Esmeralda quis descer do colo do cavalheiro. Sabia que não era justo ser carregada em uma caminhada que era de tanta dificuldade para ela, quanto para ele. Depois de pô-la no chão, o monge sacou um punhal afiado que ele mesmo havia depositado por dentro da manga do vestido da princesa, presa a uma lasca de couro no antebraço, e pediu permissão para cortar o tecido até os joelhos e arrancar as mangas, porque sabia o calor que todos aqueles panos iam proporcionar-lhe. Esmeralda permitiu e o ajudou. Tirou todos os tecidos por baixo da saia de seda, deixando apenas o calção, tirou também o corselete que vestia por baixo da parte superior do vestido. Kyousuke manteve-se de costas enquanto ela se aprontava, desconsertado, e durante o caminho manteve-se olhando para baixo, com medo de constrangê-la, porque era impossível desviar o olhar dos seios firmes por baixo do fino tecido de seda que marcava com perfeição, seu busto.

– Está bem, milorde? – Perguntou Esmeralda, estranhando o comportamento do cavalheiro.

– Sim, estou. Temos um pouco de comida seca para viagem, se tiver apetite. – Respondeu o monge, ainda sem olhá-la.

– Não, acabamos de comer. Só tenho sede, mas acredito que suporto até Sanúbia. – A princesa sorriu, educada.

– Ainda temos água no cantil. Receio que esteja quente, mas se quiser...

– Não se incomode Sor. Quando quiser algo, serei a primeira interessada em pedir. Se quiser comer, ou beber algo, sinta-se a vontade. Estamos em meio a um deserto, minhas vestes estão em ruínas, meus criados mortos, sem direito nem sequer a um funeral decente, meus cabelos despenteados, minha pele queimada e minha boca rachada de tão seca. Todos os protocolos foram quebrados. Não somos mais dama e cavalheiro, somos semelhantes – Vendo o nervosismo no cavalheiro pela falta de conforto ao qual ela estava acostumada, Esmeralda riu, afim de acalmá-lo, mas pouco adiantou.

Horas depois, chegaram ao destino desejado. Por sorte estava anoitecendo e o sol já não queimava mais suas peles, no entanto a desidratação ainda se mostrava presente. Quando adentraram, Esmeralda avistou uma mulher com um enorme cântaro em suas mãos. A senhora apressou-se a oferecer-lhes água. Depois de hidratados, Esmeralda e Kyousuke procuraram uma estalagem, onde pudessem se banhar e recuperar da viagem. Assim que chegaram ao Rato Equilibrista Esmeralda reparou diretamente em um distinto nobre sentado em uma mesa no canto da taverna, mas não quis incomodá-lo, mesmo por que não estava em trajes correspondentes. O rapaz usava um peitilho verde musgo de seda acolchoada, bordado com um belo grifo de fios de ouro. Tinha a pele muito branca para o clima de Sanúbia e cabelos que cacheados iam até a nuca, embora no momento estivesse preso em um rabo de cavalo pomposo, Tinha uma capa de veludo abotoada ao peitilho, Azul marinho, com bordados de fios de ouro em por dentro. Suas botas eram de couro da mais alta qualidade, como qualquer lorde usaria. Era um rapaz muito jovem, embora carregasse um aspecto cansado. A princesa forçou-se a desviar o olhar do belo senhor, quando Sor Kyousuke depositou sobre a mesa um guisado de cevada e carneiro, a melhor refeição que a estalagem oferecia. Havia também cerveja doce e geleia de amoras para a sobremesa. Esmeralda comeu pouco, já que não se alimentava havia muitas horas e se sentia muito fraca. Por muitas vezes durante a caminhada esteve a ponto de desfalecer, mas se obrigava a seguir caminho por medo de sobrecarregar Sor Kyousuke, que tanto se esforçava em mantê-la bem.

Já havia se distraído do jovem ao canto da taberna, quando ouviu uma voz de homem, baixa, doce e educada, atrás de si.

– Se incomoda que me sente, Sor? – Quando Esmeralda virou-se pôde ver os belos olhos azuis do rapaz ao qual antes ela fitava. Era ainda mais belo de perto. Lamentou do fundo do coração ter rasgado o vestido, ainda que soubesse que estaria arruinado, do mesmo jeito, se não tivesse o feito.

– Sou apenas o guardião de Lady Esmeralda. Se não for incomodá-la, sinta-se a vontade. – Respondeu Kyousuke, gentilmente.

– Sente-se conosco Milorde. Perdoe-me pelos trages. Houve uma tempestade de areia causada por um petulante dragão que destruiu o navio arcano que me transportava. Tivemos que caminhar. – Disse Esmeralda, agora de pé, sorrindo.

– Perdoe-me apela falta de modos. Sou Martin Turin de Solaris, Cavalheiro da Ordem do Sol, filho de Rei Luther Turin de Solares e irmão de Rax, O Senhor dos Grifos. – Martin referia-se ao Grifo que o acompanhava, o qual estava do lado de fora da taverna. O principe pagou a um druida local para cuidar e alimentar o grifo, pois a Rax não agradava o movimento que sempre havia no interior da taverna.

– Sou Esmeralda e este é meu monge juramentado, Sor Kyousuke. – Esmeralda preferiu deixar os títulos de família de lado. Não queria que os raptores de sua irmã soubessem que ela a estava procurando.

– Recebemos notícias desoladoras de Solaris, por meio de nosso imediato. Sentimos muito. – Kyousuke abaixou os olhos, como forma de respeito aos que já se foram.

– Compartilho dos sentimentos de Sor Kyousuke. – Disse Esmeralda, sem saber bem do que falavam os homens. Pretendia perguntar ao monge mais tarde - Sei que o momento não corresponde a uma retirada, mas preciso me recompor, Milorde. Se me permite... – Levantou-se a jovem princesa, sentindo dores em todas as partes do corpo possíveis.

– Como quiser Milady. – Martin fez uma mesura e permaneceu de pé, parando agora para admirar a beleza de cada detalhe em Esmeralda.

– Estarei aqui, se precisar. – Informou Sor Kyousuke, se colocando de pé.

– Obrigada, Senhores. Não se incomode, Sor Kyousuke. Sei que também está cansado. Retire-se quando quiser, eu não pretendo voltar. – Finalizou Esmeralda, virando de costas e tirando o manto, que havia muito a incomodava. Então Martin pôde ver o que havia de tão belo em Esmeralda. Era descente dos puros, tinha asas. Esmeralda era da família real de Selenia!

– Nem mais um passo! – Gritou Martin para Esmeralda, segurando o cabo da espada, pronto para desembainhá-la. Esmeralda parou e ficou imóvel, ainda de costas, assustada. Sor Kyousuke, prontamente, sacou sua espada e se pôs de frente para Martin.