O que rei George desejava realmente era que Esmeralda ficasse noiva no dia de sua festa de despedida, para que não houvesse dúvidas de que, se retornasse, não se manteria no reino por muito tempo. Esmeralda, nem ninguém poderia ir contra seus planos com Argentus, e ela estava perto demais de descobrir. Era melhor para o bem dela que se mantivesse a margem disso. Foi o que desejou, não só como rei, mas também como pai.

Ele havia feito um juramento com o Rei de Solaris, e agora, sabendo q o reino fora obliterado e que o príncipe mais jovem, a quem Esmeralda havia sido prometida desde o ventre de sua mãe, encontrava-se consequentemente morto, ela estava livre para casar-se com outro nobre de qualquer reino bem desenvolvido. No entanto, ao contrário do que presumira, nenhum príncipe de qualquer outro reino se apresentou. Parecia que todos os reinos estavam á par de sua traição para com o Reino de Solaris.

Solaris era um reino cheio de costumes e lendas que encantavam todos dos Reinos de Dragões... Os maiores heróis dos antigos nove Reinos vieram de lá. Uma das lendas, que logo se mostrou verdadeira era a da Marca do Sol. Dizia-se que em Solaris havia homens que montavam sobre grifos, estes sempre nobres cavaleiros da realeza. Entre a nobreza encontravam-se sempre entre 15 e 20 homens que nasciam com a Marca dos Cavaleiros celestiais. Estes eram abandonados nas Cordilheira dos Grifos que ficava em Solaris, quando ainda recém-nascidos. Depois de quinze dias os homens do reino deviam procurar o bebê em questão e, se uma mãe grifo o tivesse alimentado como um de seus filhotes, este devia voltar quando completasse 15 anos para buscar seu irmão grifo, em quem montaria por toda sua vida, e com quem compartilharia de todas as suas glórias. Os grifos não eram animais apenas bonitos, eram nobres. Muito mais, aliás, do que muitos dos cavaleiros do Reino. A mãe grifa poderia, também, comer o recém-nascido, ao invés de cuidá-lo. As mães biológicas sofriam muito quando tinham seus filhos tomados de seus braços para um destino tão incerto. Algumas davam as costas á honra e escondiam a marca que havia em seus bebês, mas quase não acontecia.

Principe Martin Turin de Solaris, o príncipe mais novo, nasceu com a marca dos Cavaleiros Celestiais e foi aceito pela mãe grifo, já havia quinze anos. O plano era buscar seu irmão grifo e ocupar a linha de frente da guerra que seu pai, a essa altura, travava contra o Dragão de Prata. O que Rei Luther de Solaris, pai de Príncipe Martin, não esperava é que os soldados de Selenia não comparecessem ao Acampamento de Guerra que fora preparado para eles e para Rei George, com quem fez um acordo havia quinze anos de que se uniriam numa revolta contra Argentus, assim que seu filho Martin tivesse idade suficiente para desposar Princesa Esmeralda, que ainda jazia no ventre da mãe, na época.

O príncipe encontrou o irmão grifo e partiu depois de acostumados um ao outro, para o acampamento de concentração das tropas, mas o que encontrou nem sequer era Solaris. Já pensava estar em uma terra devastada qualquer. Era normal achar terras obliteradas pelos dragões, mas sentia o frio de gelo, que em Solaris não era nem um pouco comum e se perguntou onde estariam todos os edifícios e povos, então, voou por mais alguns metros, onde encontrou corpos tão congelados que poderiam ser quebrados, e uma vez que a baforada de gelo de um dragão congela algo, aquilo nunca se derreterá. “Um Grifo da Cordilheira dos Grifos, nunca erraria o caminho para lugar algum, muito menos Solaris”, pensou, com um nó na garganta, sem querer acreditar no que via... Não havia um edifício sequer... Fora tudo congelado até se despedaçar e virar apenas entulho. Definitivamente só poderia ser obra do Dragão de Prata. Procurou por sobreviventes, sem sucesso, e então, por baixo de alguns corpos de Cavaleiros da Ordem do Sol (Os Paladinos, que montavam grifos. Aqueles que nasceram com a Marca do Sol) tão congelados que viraram cristais, havia um anel que brilhava, o qual Martin pôde reconhecer, num dedo completamente congelado. Desceu do grifo de imediato e correu chutando entulhos de seu caminho. Tirou, um por um, os corpos de cima do corpo com cuidado para não quebra-los e, como imaginava, jazia seu pai, quase morto. Martin o reanimou, pois havia sido sufocado pelos corpos de cavaleiros que o protegeram durante as baforadas, o que impediu que ele fosse atingido mais do que 30% do corpo, muito embora não fosse bem o que o rei queria. Mesmo sendo protegido pelos cavaleiros, jazia fraco e era quase impossível que sobrevivesse, pois fora muito atingido pelo gelo, e as partes onde fora congelado não tinham mais cura.

– Pai, precisamos sair daqui... Vamos, eu o ajudo... – disse Martin, com urgência.

– Prefiro morrer por esta guerra, a ter de viver com a derrota por mais alguns poucos anos. – disse o rei, estranhamente sorrindo.

– Está delirando... Vamos, precisamos tratar dos lugares onde fora atingido. – Insistiu Martin, já chorando, embora tentasse esconder as lágrimas do pai.

– Martin Turin de Solaris, peque o anel com o sinete de nossa casa, vingue e reconstrua Solaris. – Disse o rei, já moribundo, sem conseguir buscar mais ar.

– Pai, não... – Soluçou Martin, ainda incrédulo. – Vamos, eu te levo pra algum clérigo...

– Não há lugar para mim nesses Reinos de Dragões, Martin... Não chore. Você é o novo Rei de Solaris e não pode demonstrar fraqueza diante da injustiça. – Por fim Martin encontrou forças pra encostar-se a seu pai, e pousando a cabeça do rei sobre sua perna, pode sentir como estava gelado. – Preciso descansar Martin. Entrego-te o meu legado. Sinto muito pelo seu irmão, a esposa e meus netos. Não restou ninguém e eu sucumbiria á loucura se me mantivesse vivo. Preciso dormir... – O rei fechou os olhos, como quem realmente está dormindo e Martin sentiu a vida do pai se esvair aos poucos.

Ficou sentado por horas e podia sentir o corpo parar de se mover com a respiração urgente de quem busca os últimos suspiros. Foi então que pegou o anel do dedo do rei e pôde reconhecer o sinete de sua família. Pôs em seu próprio dedo, mas ficou largo, então guardou para depois pôr em uma corrente. Desejou poder dar um enterro digno a todos os soldados que deram a vida por seu pai e pela causa, mas eram mais de 40.000 homens. Sentiu ódio da forma como imaginou que aconteceu a guerra. Um único dragão chegando, no campo de concentração, que nem era onde a guerra aconteceria. Mas como ele sabia que ali havia uma rebelião por acontecer? Rei George, o covarde que abandonou a causa, como quem esqueceu e, provavelmente, avisou ao Dragão de Prata. Agora todo o Reino de Solaris, exceto a Cordilheira dos Grifos, jazia destruído, de forma irremediável, mas Martin ia matar, um por um, os Nove Dragões e se possível reconstruir, ainda não sabia como, o Reino de Selenia, de onde era rei. Por fim, enterrou o corpo do seu pai, e dos cinco soldados que jaziam por cima dele. Aos outros, fez uma prece ao Deus do Sol, chorando suas mortes, um por um. Pois quando tirasse seus pés de Selenia, nunca mais choraria por eles. Não havia lugar para pesar, num coração que só desejava vingança.

Martin montou em seu irmão grifo, a única lembrança, além do anel, que tinha de seu reino. Sabia que o animal também sofria com o que vira. Começou a pensar em um nome para ele, pois era um Lorde Grifo de Solaris. O mínimo que merecia era um nome que honrasse o cargo, e partiu, a fim de vingar-se dos Dragões. Não sabia como, nem quando, mas supriria tudo o que lhe foi tomado. Inclusive a vida de seus mais próximos entes.