— Você não está atrasada para todo esse desespero. – Alice falava enquanto tomava café tranquilamente. Eu estava conferindo meu cronograma de aulas e estudos. Tinha uma palestra que o reitor fazia questão e uma que ainda não tinha confirmada para o próximo semestre. – Bella!

— Você está gritando. – falei sem olhar.

— Você precisa namorar é sério.

— Jasper não te ligou mais?

Eu iria falar sobre botânica juntamente com alguns historiadores de Harvard, não sabia se isso seria interessante. Alice falava sobre Jasper não ter sumido enquanto eu analisada a mesa que seria composta para a palestra.

— ... ele disse que precisava de um tempo. – a voz desanimada dela no final me fez a olhar.

— Você tem uma viagem de uma semana para Liverpool. – ela arregalou os olhos.

— Não fiz os planos e nem organizei nada.

Ela ficou falando disso e andando pelo apartamento. Eu odiava essa relação dela com Jasper, pareciam dois bebês engatinhando em tapetes fofos. Ninguém ia a lugar nenhum, mas estavam sempre se esbarrando pelas ruas da vida.

Guardei tudo olhando o relógio e pegando tudo que iria precisar para o dia. No final do dia eu ainda tinha que terminar um artigo para a revista de Literatura que os estudantes pediram. Abri a porta com Jacob sorrindo e com um café nas mãos.

— Bom dia linda Bells. O que temos hoje?

— Preciso devolver os livros da biblioteca, temos duas aulas do almoço e depois uma reunião de departamento.

— Aquele caso de notas e cópias não foi resolvido?

Jacob foi o único assistente que conseguia acompanhar meu ritmo, ele se formou com louvor em biomedicina e estava me ajudando nas últimas pesquisas. Ele coordenava um laboratório de pesquisa avançadas sobre o tratamento natural de doenças genéticas. Eu tinha sorte dele estar disposto a me ajudar. Nossas aulas eram muito concorridas pelos conhecimentos de botânico e medicina. Nossos cursos formavam pessoas de todo mundo e levavam para o restante das universidades estudos importantes sobre as ciências naturais.

Assim que estacionamos eu vi o nosso diretor olhando para os lados nervoso. Isso nunca era um bom sinal.

— Ele não deveria estar palestrando em ...

— Vocês chegaram! – conferi as horas e o vi quase correndo até nós.

— Achei Rússia perto demais. – falei baixo e Jacob sorriu. Esperei ele se aproximar e sorri. – Bom dia Jasper. Alice estava se perguntando se seu número mudou.

Ele ficou me encarando por um tempo e eu vi seu semblante mudar.

— Você não conferiu seus emails. – disse apenas.

— Ainda não entrei na faculdade.

— Precisa conferir ele todas as manhãs. – falou ajeitando seu terno.

— Assim que ajeitar tudo em sala eu respondo.

— Suas aulas foram adiantadas.

O olhei sério.

— Minhas aulas?

— Jacob poderia auxiliar a senhorita Swam hoje para complementar seus conhecimentos?

— Isso... eu acho... – ele estava tentando ver sua agenda no celular e eu não sabia o que raios Jasper estava fazendo. O olhava numa mistura de raiva e ódio por Alice. – Quando mudaram nossos horários?

Ele me mostrou algo totalmente diferente do que vi há poucos minutos.

— Ficou louco? – Finalmente soltei.

— Um resultado do laboratório sai agora de manhã, preciso analisar e depois enviar...

— Pedi para Sam ver seus dados. – ele disse como se isso resolvesse o Aquecimento Global.

— São meus dados Jasper. Meus dados e eu quero analisar.

— Isabella!

O reitor estava vindo em nossa direção e Jasper imediatamente se ajeitou mais, eu apenas revirei os olhos querendo seguir minha agenda.

— Bom dia senhor.

— Estou animado para sua aula hoje. A sala está lotada e temos uma jornalista que irá cobrir tudo. Sei que você e Jacob são os melhores.

Jacob iria desmaiar, ele detestava isso.

— Jornalista em nossa aula?

— Claro. O Duque estará lá, ele pediu apenas uma repórter para não atrapalhar os estudantes. É claro que isso pequeno e eu contratei alguns outros.

— Outros? – Jacob disse.

—Vamos que tudo precisa estar perfeito, estou pensando em pedir um financiamento para seu laboratório Jacob. – o reitor foi andando e falando com um Jacob fora si.

— Isso é alguma vingança por conta...

— Isso não tem nada haver comigo e Alice. – Jasper disse baixo.

— Você é um idiota.

—Estamos no mesmo barco Isabella.

— Manda seu amigo parar de me ligar ou vou acusar ele de perseguição.

— Mike é americano. Achei que iam se dar bem.

— Isso te torna mais estúpido ainda Jasper. – bufei de raiva – E que história é essa de aula?

— É algo que o Duque de Cullen pediu. Eu não mando da Academia Real. Esqueceu que faz parte dela?

— A Rainha que me deu a medalha. – falei dando os ombros. – Usei até um vestido preto que mais parecia sobre velório do que uma medalha.

— Graças a Deus você leu todo o manual.

Jacob era um homem de dados, estatísticas, tecnologia e poucos amigos. Estávamos no maior auditório de Oxford, um rapaz imediatamente pegou todos os nossos equipamentos para ligar e perguntou se precisávamos de mais alguma coisa.

— Isso está lotado. – Jacob disse baixo. – Vamos falar sobre...

— Medicina natural. – respondi rápido. – Vai ajudar o rapaz com os equipamentos para gente terminar logo isso.

É claro que aquilo rapidamente se tornou um show enquanto eu revisava com Jacob nossas falas e acalmava ele. Jasper trouxe um chá e o fiz tomar controlando sua respiração. Finalmente estávamos prontos e alinhados, soltei meu cabelo, passei um batom e uma aluna buscou o sapato de salto preto que eu deixava no meu escritório. Foi o tempo de ver a cena que beirou a bizarro e louca da minha vida, o Duque entrou junto com o reitor e todos levantaram e aplaudiram sua presença.

— Bate palmas e sorri. – Jasper disse baixo. Fiz como ele mandou focando na figura que cumprimentava todos com animação e sorria no momento exato, fazia uma graça com alguns alunos que estava na primeira fileira e depois sentou na primeira fila me olhando diretamente. Novamente. Novamente nossos olhares se cruzaram.

— Bom dia aos ávidos por saber.

Meus alunos riram, era uma piada de nossas aulas, mas plateia imensa não acompanhou. O Duque os olhou parecendo sorrir discretamente.

— Uma carta mudou o rumo da nossa história. Uma carta em 1958 escrita por Alfred Wallace convenceu Darwin que sua teoria não era apenas revolucionária como necessária para a humanidade. Uma carta nos trouxe aqui. Incrível como nunca sabemos que pequenas e curtas palavras podem fazer não é mesmo? Assim como nossa flora. Da menor semente a maior árvore, das inundações o arroz e das frutas vitaminas. Tudo isso forma um ciclo natural não apenas de evolução, mas de proteção da espécie humana. O que é evoluir se não a seleção de quem sobrevive? No mundo pós pandemia a humanidade percebeu pequenos detalhes, revisou seus conceitos, procurou na ciência sua solução e aqui estamos.

— Como podemos envolver a botânica nesse mundo?

Sorri para Bryan.

— Boa pergunta Bryan, como pequenas cianobactérias podemos nos ajudar? Numa escala evolutiva?

— Não teríamos mais fotossíntese? – Paul falou rindo.

— Não. – respondi fazendo todos apenas arregalarem os olhos e o Duque cruzar suas pernas parecendo interessado.

O auditório ficou escuro e em um efeito dramático apenas o planeta Terra apareceu de longe.

— Pequenas criaturas vivem nesse Planeta. Cada uma com diferentes funções e escalas evolutivas. – a terra começa a girar – e suas evoluções ajudam uma as outras. Nossa missão?

— Divulgar como as plantas são seres essenciais para os seres humanos e outros organismos. – minha turma disse em coro.

— E fazer todos entenderem que a sobrevivência das gerações futuras habita em seres pequenos como fungos, algas e qualquer ser multicelular que habita nesse Planeta.

A luz acende e eu olho para meus alunos, convidados e o Duque.

— As ciências naturais são as que curam resfriados sem que seja preciso tantos remédios sintéticos, regulam nosso organismo com apenas uma dose e não há indícios de superdosagem. Por ser natural, apenas eliminamos naturalmente o excesso ajudando outros órgãos a funcionarem.

— Um chá seria a solução do Planeta senhorita Swam?

Olhei para o Duque surpresa. Ele sorriu sabendo o que fez comigo.

— Tudo que for natural é bem vindo quando bem usado.

— Inclusive nosso famoso chá.

— Inclusive o chá. – repeti e Jacob passou para os slides.

No final estavam todos querendo falar comigo e as aulas, mas o reitor foi muito generoso com o Duque passando ele na frente de todos.

— Senhorita Swam, apresento nosso benfeitor o Duque de Cullen.

— Apenas Edward por favor senhorita Swam, estamos afinal na sua casa.

E mais uma vez aquele olhar cruzado como se ele fosse um antigo conhecido.

— Isabella Swam. Apenas Isabella.

— Sua pesquisa é revolucionária. Parabéns.

— Tenho uma equipe excelente.

— Vou cumprimentar cada um, quero conhecer mais de sua pesquisa e ver o laboratório do senhor Black que ouvi tanto. Soube que tem parceria com ele?

— Testamos nossos estudos no dele. É vital que na botânica não sejamos levianos com o poder medicinal de cada elemento.

— Como ela é responsável não é mesmo Duque? – disse o reitor sorridente. – Vamos continuar nossa visita?

— Sim. – Edward estendeu suas mãos e eu cumprimentei. – Um prazer conhecer uma pesquisadora como a senhorita.

— O prazer foi meu de conhecer o senhor.

Ele então se foi e deixando com a multidão de alunos, mas antes de sair olhou para trás e por alguns segundos eu jurei que esses olhares estavam me abalando.