Eu estava em pé olhando o palco pequeno e claramente improvisado na biblioteca. Alice estava animada segurando alguns livros e tentando ver na multidão o que aconteceria quando o reitor entrasse com o novo benfeitor da biblioteca. Ela tinha cento e cinquenta anos, a parte talvez mais antiga de Oxford, fundada pela Duquesa de Cullen em pessoa quando doou seus manuscritos para a Universidade. Ninguém tinha dimensão de sua generosidade até que nós botânicos começamos a explorar e transformá-los em livros.

Sim, apesar de sua importância, durante anos eram apenas manuscritos retirados de sua estufa pessoal e alguns artigos publicados. Até que um professor e sua turma explorando a biblioteca se dedicaram a estudar todos os manuscritos, artigos e outras publicações dela transformando em um acervo enorme guardado nessa parte da biblioteca.

Infelizmente, esse ano a nossa biblioteca sofreu com a falta de manutenção e precisou de uma reforma muito grande. O que outros reitores ignoraram com muito sucesso esse parece ter ido atrás de patrocínio.

— Quando isso vai acabar? – perguntei para Alice querendo pegar os livros que estavam justamente na parte do palco.

— É a área nova da biblioteca! – disse animada – Ouvi dizer que foi um dos maiores investimentos em biblioteca nos últimos cinquenta anos.

— Quero apenas um livro.

O reitor entrou todo animado e sorridente. O terno alinhado e muito alinhado ao seu corpo. Juntamente com ele alguns membros da diretoria do campus. Todos aplaudiram, menos eu. Queria apenas um livro. Minha pesquisa estava atrasada o suficiente.

— É uma honra estarmos aqui hoje recebendo nosso benfeitor, responsável todo investimento e reforma da nossa biblioteca. O nosso ilustre Duque de Cullen.

A pequena multidão ficou eufórica enquanto o reitor o recebia com entusiasmo. Não tinha percebido a presença dele até aquele momento.

— Ele é lindo... – suspirou Alice do meu lado.

O olhei com mais atenção enquanto ele cumprimentava todos e se dirigia para discursar. Era realmente novo. Confiante e altivo. Acho que isso deveria ser normal na realeza.

— Minha bisavó acreditava que o futuro estava em cada planta que cultivava em sua estufa. Ela valorizava cada descoberta científica e celebrava com muita empolgação os avanços tecnológicos de sua época. Sua vida foi dedicada aos estudos e sua família. O amor dela por ambos passou por cada geração e chegou até vocês através dos livros. Seria leviano de nossa parte deixar de ajudar nossos universitários sem um lar que abriga não somente conhecimento, como também novas descobertas e inovações. Dedicamos esse espaço não somente a ela, mas a todos que vieram antes e depois dela.

Ele agradeceu e o reitor parecendo emocionado descumpriu o protocolo e o abraçou. Deus isso não terminaria hoje. Me remexi vendo o Duque claramente desconsertado e uma assistente intervindo apontando para uma saída lateral. No entanto nessa hora eu olhei de relance e nossos olhares se cruzaram. Foi estranho e rápido. Ele rapidamente foi embora e eu fiquei ali parada ouvindo Alice falar sobre algo.

— Vou ver se consigo pegar o livro agora.

No modo automático fui para área que meu professor indicou, folheei alguns livros e fui sentar nas mesas enormes junto com os outros estudantes. Isso foi estranho.