Edward

— O que está fazendo querido? – Tânia tinha seus olhos vendados enquanto saíamos da carruagem, a ajudei ansioso para mostrar ela o presente que estava dando. A parei de frente, no lugar perfeito, a dama dela saiu da carruagem olhando tudo com um ar surpreso.

Sorri feliz e então tirei a venda dela. Tânia olhou tão abismada quanto poderia.

— O que é isso? – ela me olhou com uma expressão indecisa.

— Comprei para você. – falei sorrindo.

— Uma casa de campo?

— Uma casa.

— Mas estamos a uma hora de Londres Edward... querido como eu poderia viver aqui?

Disse sorrindo.

— E ela é menor que a minha casa de Londres. Não poderia colocar nem metade das minhas coisas aqui. – ela estava achando um pouco de graça na situação.

— Não é para morar, não teremos como nos encontrar em Londres. Preciso ficar em minha casa enquanto estarei lá. Não podemos mais ser visto.

— Achou a noiva! – disse feliz.

— Sim, vamos nos casar em duas semanas e precisamos ser mais discretos. – ela me abraçou e a girei a fazendo gargalhar.

— Quem é? Alguma das meninas...

— Não, uma viúva francesa, amiga de mamãe.

Ela não escondeu como achou isso engraçado.

— Edward! Uma viúva? Meu amor não precisa desse sacrifício... ela deve ser...

— Não é sacrifício. Isabella é dez anos mais jovem que eu. É uma jovem viúva.

A expressão dela mudou.

— Ela tem... ela é nova? – sorriu um pouco.

— Sim, ela é protegida de mamãe. Ela já foi casada e ela está ciente que isso é um acordo.

— Oh... uma moça muito esperta. – falou e se virou para a casa. – Vamos ver a casa querido, me mostre tudo.

A casa era mais modesta, caberiam apenas os empregados básicos. Comprei ela de um casal que estava se mudando para mais perto dos filhos e estavam muito felizes com a venda. Ela ficava discretamente no caminho para Berkshire então eu poderia fazer esse caminho sem que isso fosse suspeito.

Tânia olhou tudo falando de mudanças, trocar as cortinhas e comprar mais móveis. Eu sorria para ela e sua animação. Ela disse que viu um espelho lindo que colocaria na sala de visitas e ficaria perfeito com alguns adereços. Sua dama ia atrás vendo a casa com um certo ar preocupação, eu sabia que seria uma mudança drástica. Enquanto voltávamos ela sorria e fazia planos me deixando feliz.

Sua casa era bem localizada em Londres e tinha lugar para duas carruagens. Vários empregados e damas. Ela realmente estranharia um pouco a mudança, o almoço estava pronto quando chegamos e fomos logo servidos.

— É claro que estarei presente o máximo que puder, mas as coisas irão mudar um pouco. – falei tomando um pouco do vinho. Ela estava com um vestido verde claro chamativo na parte de cima. Um pouco revelador demais, mas acho que ela queria apenas ressaltar o colar que dei a ela. Ficou muito bonito nela.

— Eu sei que terá seus deveres. – disse tranquilamente – Mas já tínhamos discutido isso amor, está tudo bem.

O almoço foi como sempre leve e regado a suas risadas, fofocas e histórias. Tânia tinha seu próprio modo de viver e conseguia ser feliz. Eu amava o jeito dela alegre e espontâneo. Talvez nunca entenderia por que ela não seria aceita.

—Tenho que ir. – falei me vestindo olhando o relógio. Ela estava deitada nua com seus cabelos soltos e rebeldes. A tarde foi maravilhosa.

— Pensei que passaria mais tempo. – disse com um bico doce.

— Tenho um jantar com a Rainha, não posso me atrasar.

— Com a Rainha? – ela sentou se cobrindo um pouco.

— Sim. – disse terminando de me vestir – Ela precisa dar o aval para o casamento e me chamou para um jantar privado.

— Privado? – ela se surpreendeu.

— Somos primos, ela deve querer saber mais sobre isso.

— Acha que ela pode reprovar?

— Ela pode, não sei se o fará. – na verdade essa jantar foi um convite inesperado. Quando enviei meu pedido de casamento não pensei que ela fosse se interessar tanto. Somos primos, mas nos vemos apenas em bailes e formalidades. Vitória era Rainha e tinha muitos afazeres.

— Me conte tudo amanhã.

— Estarei nos Hale, chamarei Jasper para ser meu padrinho e a irmã dele Rosalie para ser madrinha. Os dois...

— Os Hale serão seus padrinhos?- disse não escondendo sua surpresa.

— Sim querida. Eles são próximos de mim e de mamãe.

— Mas sua noiva nem os conhece. – disse com uma expressão estranha. – Ela aceitou?

— Não nos falamos desde o dia que a pedi. Foi uma sugestão de mamãe quando estava vindo para Londres e achei apropriado.

— Sua mãe gosta dela. – disse um pouco triste.

— Mamãe era amiga da mãe dela, é claro que gosta.

— Ninguém sabe dela amor. Isso não é no mínimo estranho?

— Ou perfeito. – falei e ela sorriu vindo até mim e senti o perfume. O perfume que Isabella reconheceu, sabia como era feito e entendia muito bem dele. Por alguns segundos pensei se ela tinha um.

— Vá. Quanto antes ir, voltará. – falou sorrindo novamente.

— Volto. Me espere.

Eu saí sem saber o que haveria nos próximos dias.

A carruagem mais formal e bonita que tínhamos estava na frente quando desci as escadas da casa para ir para o Palácio. Estava nos trajes mais formais e com todos os nossos broches e a faixa vermelha com as devidas joias. Papai usava sempre que ia ao Palácio e todos nós tínhamos nossas próprias faixas dadas pessoalmente pelo Rei. Enquanto Londres era iluminada a carruagem percorria o caminho até o Palácio, Vitória não gostava de atrasos para nada, ela sempre foi muito rígida e eu não queria chegar depois do combinado.

Um empregado abriu a porta e fui anunciado na sala íntima. Fiz uma reverência a vendo linda em seu vestido lindo e formal e Albert também apropriadamente vestido. Eu sabia que sua tiara era um presente de casamento dele para ela, e ela usava com muito orgulho.

— Edward!

Ela se aproximou e beijei seu anel quando estendeu a mão.

— Quanto tempo querido. – ela me abraçou sorridente. Ela estava linda.

— Vossa Majestade está muito linda. Parabéns.

— Bem vindo Edward. – Albert se aproximou e eu fiz a reverência devida. – Vic estava ansiosa por esse jantar.

Fomos servidos. Um cálice de licor. Lembrei de Isabella falando sobre bebidas.

— Imagino que a surpreendi com meu pedido. – falei sorrindo e a vendo sorrir.

— Não imaginava que se adiantasse e conquistasse o coração de alguém antes da temporada. Mas sua mãe explicou tudo na carta.

— Mamãe? – perguntei tentando não parecer perplexo.

— Sim, recebi sua carta ontem. Ela disse que Isabella é uma jovem viúva, mas muito próxima a sua família. – ela olhou para Albert com carinho – Foi amor a primeira vista como foi o nosso? O Coronel Jackson disse que sua beleza se iguala a de uma deusa.

— O Coronel disse isso?

— Sim, ele assim que chegou veio me falar que queria ficar um pouco aproveitando a companhia dela. A esposa é muito amiga dela. Se gostam muito pelo que entendi, claro que não posso negar isso a ele. E vou preparar a cerimônia para dar a ele uma posição na Ordem, será perfeito!

— Ele merece – Albert disse sorrindo.

— Sim, tudo será magnífico.

Um empregado anunciou o jantar e fomos a sala privada dela. Vitória era jovem, linda e muito em paz com seu reinado. Ela trazia a elegância e a juventude a tudo que fazia.

— Pelo jeito teremos uma Duquesa muito discreta. – ela disse enquanto comíamos.

— Isabella é muito tímida. – falei algo que eu poderia lidar.

— O Coronel disse que ela perdeu os pais e toda família num trágico acidente. E agora o marido, imagino que queira mesmo algo discreto. – Albert falou e Vitória concordou.

— Sim, ela deixou isso claro. Não imagino como deva ser perder tantos entes queridos, mas vou fazer o meu melhor.

— Assim espero primo, não ouvimos nada dela que nos deixasse preocupados. Aliás, a esposa do Coronel me pareceu preocupada com o casamento. – disse me encarando – Temos motivos para isso?

— De forma alguma. Eles são muito protetores. Assim como mamãe.

— Como se deve ser a uma verdadeira dama. – disse Albert. Vitória concordou falando como ele mesmo era com seus filhos e como ele pretendia cuidar pessoalmente do casamento de todos. Que isso seria mais do que um assunto de Estado e sim de respeito.

Concordei com tudo o que falaram ouvindo atentamente. Após fomos tomar um outro licor e nos sentamos perto da lareira.

— Acho você um sortudo. – disse sorrindo e pegando na mão do marido. – Enquanto estaremos todos envolvidos em bailes e noivados, você estará em lua de mel.

— Isso é uma verdadeira benção. – sorri vendo a expressão de Albert. Eles gostavam muito de sua privacidade e de seus momentos particulares, essas temporadas eram verdadeiros martírios necessários.

Uma empregada entrou com uma caixa e entregou a ela.

— Hora do presente! – ela disse sorrindo e vindo até mim. Me levantei esperando ela me entregar.

— Espero que seu casamento seja tão feliz como o meu primo. – disse emocionada.

— Será prima.

— Então estou lhe dando minha benção e também algo que Liz comentou que ela gosta. Eu amo.

— Posso abrir? -perguntei segurando a caixa de madeira.

— Claro! A chave está dentro.

Então percebi a fechadura.

Abri assim que ela entregou e vi um livro.

— Um livro?

— Um diário. – disse feliz. – Liz comentou que ela ama cartas, pensei que ela fosse gostar de relatar o seu novo momento. Isso pode ser algo tão refrescante. Eu amo meus diários.

— Uma honra receber tal presente.

— Presente será a presença dela depois da temporada. Faço questão.

Isso me surpreendeu.

— Como?

— Precisam de um novo título. – Albert disse.

— Mas...

— Ela é escocesa, não pode continuar com o mesmo título.

— Sim... – ela era escocesa? Como não percebi isso antes.

— Não posso tirar o título de sua mãe, mamãe a adora. Isso daria muitos problemas. Não podem existir suas Duquesas de Devon, e sua mãe é muito nobre. Ela merece o título. Mamãe e ela estão sempre trocando confidências. – falou rindo – Por isso, vamos esperar a temporada. Duque de Devon e Lorne.

— Lorne? – falei não escondendo minha falta de conhecimento.

— Onde ela nasceu. Já preparei tudo para que recebam o título, vamos fazer o brasão.

— É uma região linda. – Albert disse. – Vitória e eu já viajamos para lá uma vez. As montanhas...

— As flores! – ela disse animada. – Edward como ela deve sentir falta disso.

— Sim...

— Ela será Duquesa de Lorne. Um título que honrará suas origens e dará a você um título escocês. Uma união perfeita.

— Claro. – disse ainda assimilando as informações.

— Foi uma noite muito agradável. Tenho certeza que terá muito a resolver e vamos nos comunicando. Quero saber de tudo, apenas achei Berkshire muito longe.

— Ela gosta do interior.

— Compreensível. – Albert disse- Ela veio de um lugar exuberante.

Vitória estendeu a mão encerrando a noite, beijei o anel. Fiz a reverência aos dois e saí. Na volta fiquei pensando que quando ela me entregou os papéis com seus documentos eu não os olhei. Vitória leu cada um deles. Ela era escocesa, casou com francês, viveu anos na Alemanha e tinha uma casa na Índia. Por que nada disso fazia sentido para mim?

What do you want to do ?

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