Edward

Eu ainda olhava assustado para Isabella segurando o bebê. Ela olhava e sorria para a manta quente e grossa que Leah tinha conseguido.

— Eu pretendia colocar ela em um colégio de freiras...- falei baixo.

— E privar ela de uma família? Esconder como se fosse algo vergonhoso? Olhe esse bebê lindo Edward.

Ela me mostrou o menor bebê que já tinha visto e sorri sem ao menos perceber.

— O mundo já é cruel demais com as mulheres para fazermos essa injustiça com ela.

— Não temos como explicar o bebê.

Ela me sorriu arteira.

— Claro que temos.

A carruagem parou e entramos na casa que estava silenciosa demais. Leah ajudou Isabella com o bebê e Harry estava com a ama de leite na outra carruagem descendo. Isabella subiu rapidamente e respirei fundo quando entrei em nossa casa.

— O médico está aqui para consultar a Duquesa.

Olhei para Harry espantado.

— Que médico?

— Senhor... apenas há um médico na sala querendo consultar a Duquesa.

Fui até a sala e vi um senhor parado com uma maleta.

— Boa noite Duque. – ele fez uma pequena reverência. – Soube do parto prematura da Duquesa por sua empregada pessoal Leah. Alexander me chamou, cuido da saúde da Duquesa há uns anos e gostaria de saber se poderia ver minha paciente agora.

— Eu.... o senhor disse Alexander?

— Sim, ele me enviou uma carta me pedindo que viesse a Londres a pedido da Duquesa, ela não confiava no médico anterior e sei como Isabella pode ser teimosa.

—E quando foi isso?

— Há uns dias. Estava de férias com a família da minha esposa e recebi uma carta me pedindo para viajar urgentemente para ver Isabella. Mas quando cheguei me avisaram para esperar, ela está bem?

— Eu não sei...

— Pode ser assustador mesmo um parto prematuro. Imagino que não estavam esperando por nada disso.

— Não mesmo. – falei respondendo as minhas próprias questões.

— Que bom que veio doutor. – Leah apareceu e eu a encarei. – A duquesa está preocupada com o estado do bebê.

— Imagino que sim. – ele disse sorridente.

— Vamos subir, ela aguarda o senhor.

Por puro reflexo subi junto com Leah e o médico. Eu não sabia o que esperar disso. Eu nem imaginava como começaríamos a explicar para um médico aquela história, ou mais alguém. Leah passou direto pelo quarto dela e foi para um grande no final do corredor. Eu fiz o caminho olhando para ela que parecia estar muito tranquila, mas mesmo assim nervosa enquanto falava do bebê. Apenas do bebê.

E deitada numa cama de camisola, cabelos soltos e um bebê nos braços estava Isabella. A cena mais linda que eu poderia estar vendo naquele momento. A ama de leite apenas ali no fundo ajeitando alguns panos, bacias e várias coisas que eu nem ao menos imaginava que estavam ali.

— Que susto Isabella. – o médico brincou e ela sorriu.

— Nasceu antes da hora... – ela disse e entregou o bebê para ele. Imediatamente ele foi até o fundo examinando o bebê com muito cuidado, olhei para Isabella que piscou arteira para mim. – Como ela está?

O bebê chorou e vi como ela queria levantar para ir até o médico, mas Leah apenas a olhou lembrando ou relembrando do seu estado, suposto estado.

— Ela parece bem... pequena demais, mas bem. Preciso que evitem visitas, tenham o máximo de higiene possível, fervam tudo e não a deixem no frio. O cômodo precisa estar sempre muito limpo e quente.

— Sim...

Ele enrolou o bebê e entregou novamente a Isabella que prontamente pegou o bebê ninando ele com muito cuidado.

— Evite carregar peso, subir e descer escadas, não coma nada muito pesado e tome bastante líquido. Eu recomendo chás e frutas.

— Claro, vou providenciar.

Ele tossiu me olhando.

— A Duquesa parece frágil e o parto desgastante... – eu olhei para ele o encarando – Evitem qualquer contato físico mais íntimo por uns quarenta dias. No mínimo.

Eu olhei para Isabella que estava corada de vergonha e Leah apenas abaixou o rosto.

— Claro. – disse apenas.

— Eu vou deixar algumas prescrições para dores e qualquer incômodo que possa ter Duquesa, mas evite levantar da cama.

Ele saiu e Leah foi acompanhar ele chamando a ama de leite para nos dar privacidade.

— Então tivemos um bebê. – falei sentando na beirada da cama, nunca a vi de camisola, mas ela estava angelical com aquela camisola branca combinando com a roupa de cama muito luxuosa cheia de bordados brancos. – Como sabia que iríamos precisar?

— Não sabia. – disse olhando o bebê. – Na verdade imaginei que Tânia fosse precisar e pedi para Alexander chamar Gustav. Eu confio nele e sei que ele vai apenas repetir qualquer história que pedir.

— Não tem medo dos outros?

Ela me olhou com seus olhos brilhantes e lindos.

— Não. Eu sei que ela vai estar segura, bem e com um futuro brilhante.

— Não incomoda... ela é...

— Nossa filha. – disse firme me olhando.

— Nunca a vi maternal. – falei sorrindo.

— Parecia impossível até a carta de Tânia. – disse reflexiva. – Eu nunca me imaginei grávida. Por diversos motivos. Por anos tudo que pensei foi em estudar, ter mais conhecimento para poder gerar outras possibilidades. No entanto, a carta de Tânia me fez refletir. Repensar. Ela disse que teria o seu filho. O seu herdeiro. E eu apensei pensei em um menino com seus olhos, ou as expressões da sua mãe. – ela estava tão doce, angelical e muito maternal segurando aquele bebê com cuidado e devoção. – O mundo pareceu se transformar quando ela disse que era uma menina, uma menina Edward... – disse emocionada – Uma menina que teria toda sua vida marcada por nascer em relacionamento não aceito pela sociedade, uma menina que nunca saberia o que é ser bonita porque ela é linda e inteligente. Uma menina que nunca ouviria de seus pais como ela é amada, protegida ou como o mundo pode ser um lugar bonito se apenas conseguirmos achar o nosso lugar.

— Seu pai te disse isso tudo?

— Sim...- disse emocionada. – Eu jamais permitiria que ela fosse para qualquer outro lugar que não fosse para o nosso lar.

E ali, com aquelas palavras ela selou nosso destino. Eu me aproximei com cuidado e olhei o bebê que dormia em seus braços.

— Elizabeth Renné Cullen, você é muito especial, linda, corajosa e forte. Eu sei que você nasceu antes do tempo porque queria ver o mundo com seus próprios olhos e trazer alegria a essa família. Eu sei que vamos aprender muito com você e espero que toda ciência traga muitas descobertas para que esse mundo seja muito melhor para você... para você minha filha.

E então emocionado eu a peguei no colo. Pela primeira vez eu a peguei no colo e não tive medo dela como tinha quando estava na barriga de Tânia. Eu não a via mais como uma ameaça e nem como algo que iria me arrepender por toda vida por não tê-la perto.

— Eu disse a Tânia em uma carta que jamais poderia assumir qualquer filho nosso. – confessei olhando Elizabeth. – Eu disse que poderíamos arrumar um lugar para ele ou ela ser criado, com bons estudos e ótimas possibilidades. Eu estava arrasado por nunca poder assumir que aquele era meu bebê. Eu chorava à noite me sentindo envergonhado do que iria fazer a alguém que não tinha culpa dos meus pecados. Porém, assumir um filho fora do nosso casamento seria algo humilhante demais.

— Sim, seria. – ela disse entendendo. – Eu ia pedir o bebê a Tânia.

A olhei surpresa.

— Eu nunca deixaria um bebê inocente ser criado por freiras ou em escolas frias que só visariam dinheiro.

— Eu te amo Isabella Cullen. Eu sei que temos um longo caminho pela frente, eu sei que começamos errado, mas eu te amo. E amo tudo ao seu redor. Amo viver rodeado pelo seu reinado de flores e sua maestria com livros, pessoas e sociedade. Eu vou lutar para cada dia meu ser para ver você feliz.

— Você me faz feliz. – disse me olhando tão profundamente. – Você sempre me fez feliz.

— Fiz? – perguntei surpreso.

— Existem várias formas de demonstrar amor Edward, nem todas elas com palavras. Eu disse que sabia ler as pessoas muito bem e sei que o que começou como um acordo deixou de ser há muito tempo, mas eu não poderia jamais competir com um bebê. Ele era seu filho e merecia sua atenção e carinho, eu tive medo de te perder. Perder o que estávamos vivendo e era muito bom, eu tive medo pela primeira vez desde que perdi Jacob.

— Você... tem sentimentos por mim....

— Claro que tenho – disse sorrindo e eu sorri bobo a vendo como minha mulher. Minha esposa.

Leah entrou e nos olhou como se entendesse que interrompeu um momento íntimo.

— O senhor precisa avisar sua família. O médico deixou os documentos para registro do bebê, como também seu endereço para que pudéssemos chamar caso precise.

— O que vamos dizer aos empregados? – perguntei a Leah.

— Todos sabem senhor que a Duquesa estava com uma gravidez delicada e que não queriam comentar isso temendo que fosse causar um pequeno estrago em sua condição com a ansiedade alheia em cima de sua gravidez.

— Como vamos mentir para todos os empregados?

— Que mentira senhor? Todos estávamos cientes da condição delicada dela.

— Deus amado Leah. – o bebê começou a chorar e ela veio pegar imediatamente.

— Vou levar para ama de leite e vou arrumar roupas.

Ela saiu e eu fiquei assustado com a sua firmeza.

— Isso pode virar um escândalo facilmente. – disse cansado.

— Só se você contar.

— Descanse. Vou resolver com Harry algumas coisas.

Não queria comentar que iria ver onde enterrar Tânia com dignidade. Saí do quarto, percorri o corredor e desci as escadas olhando as empregadas olhando com expectativa.

— Como está a Duquesa? Ela se saiu bem?

— O bebê senhor... Leah disse nasceu antes do tempo.

E ali estavam as pessoas mais leais que Isabella poderia ter.

— Ela está bem. É uma menina.

Todos exclamaram contentes.

— Vai precisar de muitos cuidados e atenção.

Todos concordaram se olhando.

— Obrigada pela preocupação, a Duquesa precisará de repouso e uma alimentação reforçada.

— Deixe comigo senhor. – disse Lauren com fervor.

— Nos próximos dias não poderei apresentar Elisabeth porque o médico disse que ela é pequena e frágil, mas assim que ela estiver mais forte poderemos mostrar nossa filha.

— Oh que encanto. – exclamou uma das empregadas.

— Todas as roupas de cama, toalhas e tudo mais precisa ser muito bem limpo...

— Cuidaremos disso senhor. – disse a chefe das arrumadeiras. – Água fervendo para lavar tudo e selecionarei quem irá fazer as trocas para evitar que a pequena tenha contato com muita gente.

— Agradeço. – falei e Harry entrou neste momento. – Podem descansar, foi um dia longo e sei que teremos dias agitados pela frente.

Todos saíram felizes e comentando do bebê baixo.

— O médico foi ver o corpo da senhorita Tânia.

— Onde vamos enterrar ela?

— A Duquesa pediu que fizéssemos algo pequeno e discreto atrás da estufa.

— Atrás da estufa? Como iremos explicar isso?

— Eu pensei que poderia ser apenas uma placa de mármore colocada em cima. Nada muito chamativo.

— E vamos colocar o nome dela?

— Ela se chamava Tânia Charllote Smithin. Não creio que todos saibam que ela se chamava Charlotte senhor.

E então dois dias depois, com a benção de um padre numa cerimônia muito discreta, Tânia foi sepultada com muito esmero. Isabella providenciou tudo de seu leito mesmo. Gardênias foram plantadas como ela instruiu por seu ajudante e sei que quando florescesse ficaria muito bonito. A placa seria de mármore , mas ainda estava sendo feita e olhando ao redor, no silêncio que a rodeava, eu esperava que ela tivesse paz. O local era muito bonito. Tinha árvores, os pássaros pareciam querer brincar entre os galhos, borboletas iriam vir na primavera e sei que assim que as flores florescessem, tudo ficaria em harmonia.

— Obrigada por tudo. – falei olhando apenas a terra que agora guardava seu repouso final. Sua empregada a vestiu com um lindo vestido branco, penteou seus cabelos, eu dei um terço para ser colocado em suas mãos. E fiz questão que colocasse as joias que ela mais gostava para serem enterradas junto com ela. A vi antes de fecharem o caixão, e ela parecia finalmente em paz. – Prometo cuidar de Elizabeth. Prometo que ela será a mulher mais feliz deste mundo.

E então me virei sabendo que dali por diante, nenhuma promessa minha seria quebrada. Jamais.