Peguei o caderno maior do que o normal em minhas mãos percebendo apenas naquele momento ser um caderno de desenho, apenas penas de metal seriam capaz de fazer um desenho tão perfeito com anotações tão bem alinhadas.

— Harry olhe isso.

Ele se aproximou e viu a mesma coisa. Vários desenhos. Anotações.

— Leah disse que ela passa muitas horas aqui sentada e que às vezes o chá é servido aqui.

Coloquei tudo no lugar e saímos. Descendo as escadas percebi do que a protegiam. A vi sorrindo falando com Leah e senti a mesma proteção tomar conta de mim. O mesmo sentimento que todos ao redor sentiam, mas com uma força ainda mais maior.

— Uma carruagem senhor. – Harry disse e então todos olhamos a movimentação dos empregados. Isabella se olhou em um espelho por apenas reflexo. Ela estava linda em seu vestido de inverno verde musgo. Terminei de descer as escadas e ela me percebeu.

— Sabe quem é? – perguntei esperando os empregados anunciarem.

— Não. Sua mãe me mandou uma carta avisando que estaria em Londres.

— Harry disse que ela queria ver a Ópera, foi para Londres com um primo e prima nossa. A temperada terminou e finalmente as coisas ficam mais calmas antes dos convites de casamento.

— Imagino que seja mais calmo, estava muito lotado.

Harry entrou com um pacote nas mãos.

— Seu pedido chegou Duquesa. – ele disse a entregando um embrulho e fui até a mesa em que ela pôs algo que parecia ser leve demais pelo tamanho. – Vou pegar os outros pedidos.

— O que é?

— Olhe... – disse animada como uma criança. E a vi me mostrar um tecido com listras e formas em xadrez.

— Nunca vi essas formas antes... – disse tocando no tecido.

— Nem verá. – falou orgulhosa – Na Escócia cada família tem sua própria forma e cor que fazem parte do seu kilt.

— A roupa tradicional. – falei conhecimento um pouco.

— Sim, esse pertence a minha família há séculos.

Vi suas linhas pretas, espaços vermelhos mais fechados e vi também algumas linhas verdes finas que finalizavam tudo perfeitamente.

— É lindo. – falei pegando o tecido mais grosso que o normal.

— Achei que podia pedir para fazerem uma roupa tradicional para você e uma vestido para mim. Pensei que Franz poderia fazer uma pintura nossa para colocar na casa em Lorne. Talvez pudéssemos pedir broches para usarmos.

— Que ideia excelente. Conhece Franz?

Ele era um pintor muito requisitado pela Rainha. Albert mesmo fez várias pinturas de Vitória com seus filhos.

— Ele fez uma pintura minha a pedido de Jacob. – disse um pouco pensativa.

— E onde colocou esse quadro? – deveria ser lindo. Não conseguia alguém mais capacitado para capturar sua beleza.

— Não tive muito tempo para pensar no que fazer com ele, achei que não fosse gostar de ter um presente de Jacob aqui...

— Isabella ele foi seu marido. – falei me aproximando dela e percebendo que nunca tivemos tal intimidade – Seu amor. Tenho certeza que esse quadro é lindo e desejaria tê-lo perto. É grande?

Ela sorriu um pouco tímida.

— Um pouco. Estou sozinha nele. – disse rápido e percebi que ela queria que eu entendesse que ela não estava com ele.

— Decidido. O quero no meu escritório.

Ela me olhou surpresa.

— Mas...

— Podemos fazer arranjos e colocar ele lá. Tem umas paredes vazias. Tem mais quadros?

— Acho que sim... preciso pensar... seu escritório?

— E no hall de entrada do salão, a parede ficou vazia percebeu?

— Apenas uma...

— E temos também a sala de visitas intimidas, adoraria ter algo ali.

— Tem uma pintura de sua avó.- falou pensativa.

— Podemos colocar em algum quarto.

— Num quarto?

— Claro, é uma pintura antiga.

— Da sua avó. – falou abismada.

— Exato. Vamos colocar seus quadros nesses lugares...onde eles estão guardados?

— Bom, eu mandei alguns para Rosehill, mas...

— Vou pedir para Harry ir buscar.

— Isso é um absurdo Edward! – falou assustada e sorri. – Do que está rindo? Isso é um exagero, Mary pode enviar eles perfeitamente.

— Quero eles intactos aqui.

— Parece uma criança cheia de vontades. – disse contrariada, mas sua expressão me fazia querer rir mais.

— Talvez eu seja. – dei os ombros rindo e vi Harry entrar com mais alguns pacotes. – Mais tecidos? – perguntei rindo.

— Franceses e indianos senhor. – Harry disso indo entregar a ela os pacotes.

— Edward! – ela disse ainda um pouco contrariada.

— Harry entregue tudo e venha para meu escritório. Temos que providenciar algumas coisas.

Saí da sala ouvindo ela falar algo um pouco impróprio e sorri a vendo dessa forma. A imaginei vermelha e ri ainda mais alto. Vi com Harry o transporte dos quadros para a casa, teríamos que ter cuidado com o tempo úmido e queria que eles chegassem o mais rápido possível.

Conforme os dias iam passando e via sua rotina, seu trabalho que parecia sempre inacabado e sempre exigia muito dela. Fiquei observando suas roupas simples, seu jeito divertido e alegre ao redor daquilo que ela amava, ela passou a estar mais arrumada quando estava perto, porém sempre a pegava um pouco suada ou cansada quando tinha tido um dia muito agitado trabalhando em suas plantas.

— Senhor, temos um cavalheiro esperando a Duquesa.

Olhei Harry parando de ler o documento que estava prestes a assinar.

— E ele estava sendo esperado?

— Não pelo que saiba.

— Peça para arrumarem um quarto, deve ser um amigo... Vou receber e peça para avisarem a ela por favor.

Levantei me ajeitando e indo até o sujeito que estava um pouco deslocado olhando tudo ao redor. Ele tinha roupas mais simples e não me parecia um homem de posses, mas educado.

— Bom dia senhor, sou o marido da Duquesa.

Ele se virou e fez uma reverência.

— Bom dia senhor, desculpa a chegada inesperada.

— Pedi para avisarem para avisarem Isabella que está aqui.

— Desculpa, sou Charles Robert Darwin. Acho que nos vimos...

— Charles! – Isabella entrou indo até ele e o abraçando. Ela sorriu com seu jeito de menina e eu não pude de sorrir a vendo tão feliz. – Por que não me disse que viria?

— Estava apenas de passagem. Vim avisar que voltarei para Cambridge.

— Não acredito que finalmente largou Edimburgo!

Charles era um rapaz novo, deveriam ter idades semelhantes.

— Vamos sentar. – falei vendo que eles queriam conversar.

— Claro, vou pedir para servir um chá. Ainda gosta de cardamomo?

— Sempre querida.

Ela saiu e sentamos um de frente para o outro, ele claramente estava desconfortável com o ambiente.

— Pedi para prepararem um quarto para o senhor, pode descansar da viagem e aproveitar mais a companhia de Isabella.

Ele me olhou surpreso.

— Não quero atrapalhar.

— De forma alguma.

Isabella voltou carregando ela mesma a bandeja e a ajudei recebendo um agradecendo feliz e animado.

— Me diga se avançou nos seus estudos. Amei seus estudos sobre a geologia que me enviou, devorei em um dia.

— Tinha trinta páginas querida... – disse sorrindo para ela feliz e parecendo animado com a empolgação dela.

— Mas era espetacular. Isso pode mudar mesmo como pensamos sobre os animais e plantas, isso é revolucionário.

— Do que se trata o estudo? – perguntei enquanto Isabella preparava o chá de forma natural e diferente.

— É sobre o solo e como ele revela os animais e plantas que já não estão mais entre nós.

— Interessante.

— O solo seria como nossos registros mais antigos de regiões diversas do mundo. Podemos também entender por que os animais daquela região não existem mais pelas mudanças que o solo sofreu, levando a algumas espécies a sua morte.

— Isso tudo pelo solo?

— Não é interessante? – Isabella disse servindo o chá com muita destreza.

— Muito. Me sinto honrado em receber o senhor aqui senhor Darwin.

— Que isso senhor.

— Podemos mostrar nossa estufa, Charles consegui finalmente entender o cruzamento de cores.

— Que magnífico!- e nesta hora ele pareceu surpreso – Depois me envia o ensaio por favor, tenho algumas ideias sobre evolução que ainda estou iniciando e queria muito que pudesse complementar.

Nesta hora ela pareceu incerta do que dizer, sim Isabella, como explicaria isso agora?

— Vamos ver as plantas? – falei e ela imediatamente agradeceu a saída do assunto. – O senhor Darwin pode passar a noite aqui, descansar de sua viagem e ir amanhã.

— Edward que ideia maravilhosa, Charles não faça essa desfeita. – disse pegando o braço que estendi para ela.

Levamos ele até a estufa e deixei os dois bem a vontade. Percebi que ela mostrava tudo com muita atenção, os dois discutiam em termos que não entendi muito bem e ela mostrou os cadernos cheios de anotação e ele olhava tudo com muita atenção fazendo suas próprias observações que ela imediatamente sentava e acrescentava.

Saí os vendo bem servidos quando Leah trouxe sucos e alguns biscoitos. Harry estava na entrada e olhamos de longe ela pelo vidro com seu amigo.

— Ouvi dizer que ele é um jovem bem controverso. – ele disse e respirei fundo.

— Não somos todos?

— Verdade senhor. A bagagem do senhor está sendo arrumada no quarto como pedi, deixei um de nossos empregados encarregados dele. Está cuidando pessoalmente de suas roupas e algumas sujas estão sendo limpas.

— Ele deve estar viajando há dias. Diga para providenciarem tudo que ele possa precisar para continuar a viagem o mais confortável possível. E cuide do cavaleiro e dos cavalos. Devem estar exaustos.

— Na ala dos empregados está sendo servido e os cavalos Laurent está assumindo os devidos cuidados.

Nesta hora lembrei dos cavalos árabes.

— Como estão os cavalos da Duquesa?

— Perfeitos. Os alimentos chegam em dia, mas uma carruagem particular cuida da entrega, chegaram as celas novas que ela pediu e as mantas para o inverno. Também foi instalado um aquecedor parecido com o da estufa para quando nevar. Alguns remédios que Laurent pediu estão chegando nos próximos dias e vamos receber a visita de um senhor que deseja ver os cavalos de perto.

— Perfeito. – falei satisfeito. Sim, tudo que a envolvia me deixava satisfeito. – Notícias do que pedi?

— Chegam amanhã. Muito bom gosto deve dizer senhor.

Sorri feliz.

— Espero que ela goste.

What do you want to do ?

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