Eu acordei mais cedo que o normal para um dia pós baile e desci as escadas com Harry já me esperando.

— Conseguiu o que pedi ontem? – falei um pouco animado.

— Leah me entregou. – então ele me deu os pregadores que Isabella usava ontem. Sorri satisfeito. – A carruagem também está a sua disposição. A Rainha enviou um mensageiro convidando Isabella para um chá às cinco.

— Ela comentou ontem... – estava olhando a peça linda. Aparecia apenas a flor quando ela colocava no cabelo, mas tinha mais. – Será íntimo. Ela e a mãe. Penso que isso poderá encerrar nossa temporada em Londres, quero voltar para nosso residência.

—A senhorita Tânia enviou uma mensagem. Mas como falou do perfume...

— Pelo amor de Deus, fez como pedi?

— Coloquei todas as cartas em uma caixa de madeira e hoje as empregas darão uma faxina. Mandei abrir as janelas já e pensei em colocar umas flores.

—Perfeito! Isso deve bastar.

A carruagem me levou até uma joalheria que gostava muito. Queria comprar algo tão bonito quanto para Isabella, seria a sua primeira joia como minha esposa e queria algo tão digno de suas joias anteriores. Eu desci da carruagem entrando na loja.

— Bom dia Conde, como pediu abri a loja mais cedo. – o joalheiro disse feliz.

— Queria privacidade. – ele fechou a loja e fomos para seu escritório passando pelas peças expostas.

— Imagino que queira outra peça... para chamar atenção. – era o que pedia para Tânia, de alguma forma me arrependi de ter vindo, ele conhecia muito bem o que agradava Tânia e pareceu errado em tantas formas.

— Um pedido mais especial. – falei e sentei o vendo se ajeitar na cadeira. – Peguei a joia e o mostrei. Ele pegou seus óculos especiais e analisou a peça não escondendo a sua admiração.

— O que o senhor deseja?

— Quero algo tão bonito quanto. – falei orgulhoso.

— Bom senhor precisa primeiro entender que esta não é qualquer peça, é uma joia fabricada por um ourives chamada Gustav Fabergé, ele morou na França por anos, mas depois foi com sua esposa para Rússia. Não sei como lhe dizer isso, mas suas peças são únicas. Desenhadas a partir de um trabalho demorado e muito bem feito, ele mesmo faz suas peças de trabalho. Não usa as que ourives costumam, suas ferramentas são apenas dele.

— Como conseguiria uma peça dele?

— Primeiro o senhor precisa se comunicar com ele e enviar detalhadamente como quer a peça. Ele demora de cinco a sete meses para entregar porque ele mesmo faz suas próprias adaptações se achar que o que você quer não combina com a joia. – isso explica porque o anel de Isabella não veio como ela queria. Explica também por que as peças não pareciam como as que já vi. – Posso entrar em contato com ele e pedir o que quer.

— Poderia?

— Sim, somente precisa me dizer o que quer.

Então passamos mais de uma hora comigo detalhando a joia que eu queria.

— Tenho uma peça que chegou, com certeza não é como essa... – ele apontou para as anotações – Mas é uma tiara. Chegou da Alemanha.

Isso seria algo especial.

— Posso ver?

— Ainda não mostrei a nenhum comprador, nesta época de temporada todos querem algo, mas achei que esta tiara merecia alguém especial.

Então ele pegou uma caixa e abriu.

— Parece... um arranjo... – era linda.

— Ela é como um arco, exige um penteado especial porque como pode ver ela precisa ser colocada em cima da cabeça. É feitas pérolas e diamantes. Quando colocada você apenas vê o arco de diamantes e as pérolas. É uma peça única principalmente porque pode ser usada como colar, isso só foi descoberto agora que estava limpando e percebi que ela tinha alguns ajustes. Foi feita para uma princesa que faleceu e a família achou que vender seria o melhor.

— Não tem outra dessa?

— Não. É antiga, data de mais ou menos cem anos atrás. Até mesmo quem fez já faleceu.

Lembrava tanto dos brincos de pérolas que Isabella sempre usava e era uma peça única como ela. Única.

— Vou levar. E por favor, discrição.

— Como sempre senhor.

Eu saí da joalheria muito satisfeito e apesar de estar ainda muito cedo Londres parecia tão agitada conformo voltávamos para casa. Assim que estacionou eu desci e Harry abriu.

— A Duquesa está tomando café na sala comum.

— Vou me juntar a ela.

E andando até lá pensei que essa seria sua primeira joia dada por mim, eu não fazia ideia de onde tinham vindo as outras, mas as próximas seriam dadas por mim. Entrei na sala a vendo ler uma carta. O cheiro era incrível, a mesa muito bem composta e ela tomando o que achei ser chá.

— Edward. – ela disse surpresa.

— Bom dia.

— Bom dia. Posso me juntar?

— Claro. Só não sei se vai estar do seu agrado.

Me sentei olhando realmente a diferença. Tinha frutas, suco e chá. Nada de torradas, geleias ou pães.

— O chá é de quê?

A empregada começou a servir, mas assim que terminou pedi que nos deixasse.

— Camomila. Leah fez. Muito bom depois de uma noite agitada.

Tomei sentindo o sabor ainda não muito conhecido, mas agradável.

— Não usa leite ou limão?

— Com alguns sim, mas não muitos. – disse olhando tomar o chá. – Acho que recebemos um convite para Ópera. – ela disse incerta.

— Convite?

Ela me entregou o papel que estava lendo. Não era muito bem um convite.

— Vitória cedeu seu camarote real para apreciarmos uma Ópera.

— Oh... – ela disse surpresa – Isso seria hoje?

— Sim, seria hoje. Ela e Albert devem estar ocupados com algum evento ou as crianças e pediram que fôssemos a estreia da nova Ópera. Eles são muito ligados a arte.

— Gosto de Óperas. – disse satisfeita. – Não vou a uma há muito tempo... acho que a última foi quando estávamos na Áustria.

— Esteve na Áustria?

— Sim, mas logo o frio atacou os pulmões de Jacob. Voltamos para Índia. Mas não pudemos fazer muita coisa, ele ficou cada vez mais doente e quando não vimos saída voltamos para França.

— Por quê? Uma viagem dessa...

— Ele queria ser enterrado na França. – falou triste – Ficou com medo de não conseguirmos mover seu corpo para França.

— Que incomum, não imagino o que tenha passado.

— Obrigada. – ela pareceu realmente agradecida, como se até aquele momento ninguém tivesse pensado em como de uma simples doença as coisas passaram a decidir a viajar para ser enterrado. – Foram semanas apavorantes. Ele sempre esteve ali, sempre fomos parceiros e amigos. Não me imaginava sem ele. – falou tomando o chá e se contendo.

— Não fique triste. Trouxe um presente.

Ela se surpreendeu. Entreguei a caixa e ela me olhou.

— Essa tiara tinha sumido há anos... – disse pegando ela com admiração.

— Como sabe disso?

— A história da Princesa Theodora que morreu jovem e de amor é conhecida em toda Alemanha. Depois que ela morreu contam que a mãe deu para um viajante que passava de tanto desgosto por perder a filha tão nova. Era um presente de seu noivo.

— Mas se ela tinha noivo por que ela morreu de amor?

— Porque ela apaixonada pelo primo dele. – disse divertida – Eu tenho os brincos de pérolas, pertenciam a mamãe e papai conta que os achou em uma joalheria quando eram noivos.

— Agora tem o conjunto. – disse feliz.

— Sim. – sorriu divertida – Como pode achar isso?

Foi a minha vez de ficar envergonhado.

— Fui a uma joalheria pedir algo parecido com os grampos que usava no cabelo. – eu senti minha voz baixa como se estivesse com vergonha – Mas soube que são peças únicas.

—São...

— Jacob que deu de presente para você? – perguntei sentindo algo estranho.

— Não. Eu ganhei de mamãe quando casei. Ela mandou fazer quando nasci, um joalheiro conhecido de minha família.

—Com ele que encomendou o anel?

— Sim, ele é muito bom e gosto dos resultados. Joias são para serem sentimentais Edward. Qualquer um pode usar um colar de pérolas, mas poucas usam um broche que seu pai desenhou pensando nos seus cabelos.

Isso fazia sentido.

— Muito sensível esse pensamento.

— Muito feminino não? – ela disse como se fosse algo engraçado. – Às vezes pensam que não posso ser delicada, mas entenda, flores são delicadas e resistentes. Isso não as impede de ter beleza, simplicidade e serem harmônicas com o ambiente em que vivem.

— Revelador Isabella. Mas sempre a acho muito feminina e inteligente.

— Inteligente não combina com uma mulher. – falou baixo e gargalhei de sua forma de falar e ela riu muito feliz.

– Nossa Rainha é muito inteligente.

— Mas é uma mulher e é esperado dela ainda herdeiros, ser boa esposa, um modelo de mulher. Acredita que Lady Jane disse que a sobrinha decorou o livro Damas e seu comportamento Impecável.

— Isso existe?

— Pelo jeito existe. – falou rindo – Perguntou qual livro eu li.

— Oh Deus, chocou a pobre mulher. – falei rindo – O que disse que leu?

— Filosofia Grega para iniciantes, uma obra espetacular devo dizer.

Ri imaginando Jane ouvindo isso.

— Ela deve ter visto sete cabeças em você.

— Bom, acho que foi essa expressão.

Rimos.

— Mas qual livro está lendo agora?

— Eu não consigo ler apenas um livro apenas, existem tantos interesses e assuntos, mas agora não estou lendo um livro e sim um pequeno ensaio de que senhor Darwin gentilmente enviou para Jacob.

— Darwin? Soube que casou, mora no interior.

— Oh sim, mandei felicitações enquanto estava em Rosehill. Acho que foi assim que sua mãe me descobriu.

— Por uma carta de felicitações.

— Foi a única que enviei de lá, mas nunca fui indelicada ao perguntar como recebi seu convite. Ela e mamãe eram grandes amigas e ela ficou preocupada.

— Por que morar com ela?

— Porque ela conta muitas histórias de papai e mamãe. – disse calma – Eles foram muito amigos e eu sinto sempre que ela fala deles aquela saudade sem dor. Uma curiosidade na verdade. É bom ver eles pelos olhos dela, confirma tantas coisas.

— Imagino que sim. Vamos então a Ópera?

— Estarei pronta. – ela se levantou – Tenho que arrumar algumas coisas antes de ir encontrar com a Rainha para um chá e chegar para Ópera, deve ser divertido.

— Oh sim... lotado, barulhento entre os arranjos e muita gente curiosa.

— Parece bom. – disse sorrindo e saiu. Seu vestido vermelho claro muito bonito destacando sua beleza e seus cabelos sempre com um penteado solto. Não era nada comum, mas ela parecia estar sempre arrumada perfeitamente.

Levantei e fui até o escritório. Ele estava mesmo muito mais arrumado, sem cheiro e com dois vasos de flores e janelas abertas para nosso pequeno jardim. Harry entrou e começamos a falar sobre negócios, assinei algumas coisas e vi outras. Ele disse que mamãe enviou uma nota falando que estava muito bem e que assim que pudéssemos visitássemos ela, Isabella com certeza amaria isso.

Vi Isabella saindo para encontrar a Rainha em um vestido muito elegante, mas bem adequado a hora. Ela usava os brincos que sabia serem de sua mãe e um colar de pérolas que pareciam de ser de mamãe, sorri imaginando que ela deve ter mesmo dado a Isabella. Seu vestido tinha mais uma vez esse movimento que eu amava, a leveza da seda verde. Esse não tinha nada costurado para destacar. Apenas um verde claro e sedoso liso. Linda. Parei de olhar quando ela entrou na carruagem com Leah a ajudando e ela agradecendo mais uma vez seus cuidados. Uma verdadeira Duquesa.

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