Edward

Eu a via sentada olhando para o lado de fora admirando sua classe. Sua postura e sua calma. Ela não parecia estar indo a um baile real e sim a um chá informal que conhecia a todos, como ela conseguia essa passividade toda diante de um evento como esse?

— A primeira vez que fui a um baile fiquei muito nervoso.

— Qual idade? – ela se virou olhando para mim e seus olhos me deixando sem palavras.

— Eu tinha por uns dez anos. Meu pai fez questão que fosse apresentado a corte desde cedo.

— Certeza que ele tinha boas intenções. Sua mãe fala muito bem dele.

— Ele foi um homem muito diferente.

Ela cerrou seus olhos.

— Diferente? Que palavra incomum para descrever um Duque. – sorriu divertida.

— Ele dizia que a riqueza de nosso título estava no nosso empenho em fazer mais do que ir a bailes e gastar fortunas em vez de fazer algo útil.

— Seu pai deve ter conversado muito com o meu então. – falou sorrindo mais amplamente.

— Mamãe não disse nada sobre seu pai até sua chegada.

— Devem ser memórias difíceis. – falou compreensiva – Às vezes nossos momentos mais calmos e pacíficos trazem verdadeiras revoluções a nossa mentalidade.

Ela sempre tinha essas frases que conseguiam me abalar completamente e poderia dizer que estava gostando disso.

— Acha que a multidão atrapalha?

— Acho que momentos de paz sejam necessários para nossas vidas. Se apenas fazemos coisas uma atrás da outra sem parar e repensar, não podemos nunca sair da Caverna.

— Caverna?

— O conto da Caverna de Platão. – falou como se isso fosse de conhecimento generalizado.

— Conhece Platão.

— Eu disse que li muito sobre a Grécia.

— Isso é filosofia. Um pensamento profundo sobre o homem e sua capacidade de ver o mundo. Não apenas a Grécia em si.

Ela deu os ombros como se isso fosse nada.

— A Grécia deve ser um lugar lindo. – disse sonhadora – berço da filosofia. Dos pensamentos mais controversos, profundos, profanos e revolucionários. Se não estuda filosofia fica dentro da caverna.

E então a carruagem parou não me deixando falar mais nada. Ela ajeitou seu vestido e eu saí para ajudá-la a descer. Tinham outras carruagens, várias delas com convidados observando a gente por alguns segundos. É claro que apenas de olhar Isabella se destacava, ele não estava preso e sim penteado de forma a destacar o tamanho e brilho de seu cabelo, sem mencionar as flores de diamantes.

— Vamos Duquesa. – disse sorrindo. Ela pegou meu braço e senti o perfume com a aproximação. Subimos as escadas com toda formalidade atrás de muitos convidados, alguns conhecidos outros não.

O corredor estava com tapetes vermelhos e Isabella olhava os quadros nas paredes com verdadeiro interesse.

— Os quadros são magníficos. Alguns como este destacam as montanhas do sul da Alemanha. – ela disse olhando para um ao nosso lado grande, eu nunca tinha reparado nele. – E os bustos são obras bem semelhantes as que vemos em alguns lugares, mas com menos detalhes.

Os bustos de mármore dos antigos monarcas, era uma entrada como uma introdução ao que veríamos. Vasos com flores estavam posicionados para não deixar nenhum espaço vazio, a iluminação sempre perfeita.

Fomos apresentados logo na entrada e Vitória veio até nós com Albert com um sorriso imenso.

— Vossa Majestade. – A reverência Isabella fez seu vestido tomar uma forma arredondada linda, destacando suas flores e seu brilho intenso sob a iluminação.

— Duquesa! – ela estendeu o anel e Isabella e eu beijamos. – Finalmente conheço a Duquesa de Lorne.

—Uma honra estar aqui. Obrigada pelo convite. – ela disse e a vi se levantar elegantemente sem perder a postura.

— Está linda querida. E esse penteado lembra tanto uma grande amiga, recebi um broche dela de presente com uma pintura muito refinada.

— Obrigada.

— Sua esposa abrilhanta nossa corte Duque. – Albert falou.

— Ela abrilhanta tantas partes que nem posso descrever. – assim que o disse não percebi como fiquei surpreso da verdade que saiu. Isabella corou e Vitória sorriu.

— São um casal lindo. Parabéns pelas bodas.

— Obrigada pela presente. Eu realmente o aprecio com meus dias.

— Acertei! – Vitória disse feliz e estávamos barrando a fila de convidados atrás de nós.

— Querida vamos dar atenção a eles mais tarde, vamos atender nossos convidados. Edward organizei para que ficassem no banquete ao lado do Coronel.

— Obrigado.

Fizemos uma reverência mais simples e fomos a alguns convidados. Apresentei Isabella a todos que já tinham entrado no salão. Ela não parecia deslocada, tinha sempre algo a dizer sobre quem estivesse em nosso círculo, não bebeu e logo serviram um copo de água para ela se refrescar e em seguida um suco gelado, o que era um tratamento muito especial.

— Soube que viveu um pouco na França. – estávamos com o Embaixador Francês e sua esposa.

—Un vrai plaisir. – ela disse em um francês perfeito.

— Que pronúncia linda – a esposa disse com um sotaque francês forte.

As suas falavam em francês por algum tempo enquanto eu a admirava sorrir e balançar discretamente a cabeça.

— Como é bom ver minha Josefine com alguém que a entenda. – disse o Embaixador sorrindo as vendo conversar. – Ela tem muitos problemas com nossa língua, mas é uma excelente esposa e mãe.

— Me deixa muito feliz saber disso. – falei ainda admirando as duas conversarem.

Vitória se aproximou com uma bebida em mãos e sorrindo.

— Edward, que casamento mais feliz.

Eu vi Albert se aproximar de Isabella enquanto o embaixador se afastava com sua esposa, e os dois conversarem particularmente chamando atenção.

— Agora vendo sua beleza poderia ter me empenhado melhor no broche.

— Ele é perfeito. – falei olhando o meu. – Obrigado por essa honra.

— Olha o vestido dela, claramente o broche se perde em toda sua beleza.

Albert sorria e claramente estava à vontade com ela, algo incomum a ele. Os dois se aproximaram de nós e Vitória logo sorriu vendo seu marido. Eles tinham um amor muito conhecido entre os monarcas mundiais.

— Ela fala alemão querida.

—Nur das Grundlegende. – ela disse para Vitória.

— Quanta modéstia. – Albert disse – Estávamos falando de nossa terra natal.

— Ah.. quanta saudade, eu amo meu reinado, mas uma pena nunca poder voltar lá.

Isabella citou algumas cidades que ela visitou e descobri que ela morou muito perto da cidade natal de nossa Rainha.

— Bells? – um homem a chamou e todos viramos.

— Lewis. – ela disse sorrindo. – Como estão todos?

Fiquei surpreso com a reação dela a este homem.

— Parece que sua esposa conhece o senhor Carroll... – disse Vitória a vendo se afastar um pouco sorrindo e animada ao encontro do homem.

— Perdão pelos modos, acho que ela não percebeu que estava...

— Edward, esse homem é um grande matemático inglês, seus estudos têm revolucionado e ampliado nosso conhecimento. – disse Vitória sorrindo – Amo quando ele e Albert tem seus momentos na Academia Real de Ciências.

— Ele faz parte da Academia Real?

— Claro. – disse Albert orgulhoso. – Sua esposa é uma mulher muito culta, parecem bem íntimos.

— O falecido marido dela era um estudioso... Devem ter se encontrado em algum desses Congressos e Reuniões. – eu nem imaginava se isso era possível. – Ela me disse que eles tinham que vários amigos ingleses.

— Uma pena que não sabia que se conheciam, mamãe o colocou ao lado da sobrinha de Jane. Deve passar o banquete num tédio impressionante, só a convidei porque mamãe queria que ela se sobressaísse nessa temporada e pelo que parece deve funcionar. – Vitória parecia entediada com essa temporada.

Não demorou muito para irmos ao salão do banquete, estavam todos animados e sorridentes, as conversas fluíam bem e Vitória e Albert não pouparam elogios a Isabella. Ela estava distante, mas todos os seus passos eram observados com atenção. Às vezes poderia olhar para distraída em uma conversa e observar como agia naturalmente, como não parecia se esforçar para falar com os que ela conhecia, mas como ela parecia a Isabella polida e educada com aqueles que ela não tinha muita intimidade.

Depois do jantar fomos levados para o salão de baile.

— Vamos? – estendi a mão para Isabella. Ela pegou e fomos para o centro, ela sabia muito bem a valsa. – Não sabia que conhecia o senhor Carrolll.

— Ele e Jacob eram muito amigos. Jacob tinha muitos interesses e ele é um homem uma pessoa muito inteligente.

— Vitória me disse que ele está na Academia Real de Ciências.

— Ele merece, já leu alguma coisa dele?

Ela parecia realmente com essa possibilidade.

— Vou ler. – então ela sorriu.

— Leia, é um pouco complexo suas teorias, mas isso mudará o mundo Edward.

Então isso fez seus olhos brilhar. Não foi a valsa, as pessoas a olhando, a presença da Rainha e muito menos sua posição.

— Mudar o mundo?

— O estudo da geometria interfere diretamente nas construções e seus cálculos, poderemos ter casa mais seguras, por exemplo.

— Fascinante.

— Isso é apenas uma parte do que ele pode mudar no mundo. Uma pena sua esposa estar se recuperando do parto, ela é uma mulher maravilhosa.

A valsa acabou e o Coronel pediu sua vez, fiquei no fundo admirando ela valsar com toda sua classe e elegância. Olhei ao redor e vi como ela chamava atenção. Respirei fundo me sentindo melhor do que em anos, não porque ela estava ali sendo admirada, mas porque foi uma noite agradável. Uma noite muito agradável.

What do you want to do ?

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