Edward

— Isso está entediante amor. – Tânia reclamou pela terceira vez. Pedi que preparassem um lanche para comermos nos jardins na parte mais afastada da casa, tinha uma área muito bonita com flores e um gramado muito bem cuidado.

— Pensei que fosse gostar de me ter por tanto tempo. – falei olhando ela deitada olhando o céu. Seu vestido não combinava muito com a parte campestre, mas era bonito. Ela usava anéis e joias também.

— Eu gosto... mas estamos perdendo os bailes. As festas. Edward lembra da festa que fomos na última temporada? – disse sorrindo com a memória e me olhando pela primeira vez com seus olhos brilhando. – Dançamos a noite inteira. Eu estava com um vestido exclusivo de Madame, e todas me invejaram.

— O vermelho. – falei lembrando da cor muito forte que claramente a deixava mais destacada. – Você estava linda naquele dia.

Ela se sentou.

— Não sente falta disso? Querido éramos o casal mais falado. Poderíamos...

— Tânia isso está se tornando cansativo. – E estava.

Eu vim ficar com Tânia no segundo dia em que casei, como esperado todos foram embora, inclusive mamãe. Ela parecia muito feliz por ter acabado tudo e alegou dar privacidade a nós dois. Isabella não se importou quando arrumei as malas, na verdade eu quase não a via. Ela acordava cedo para cavalgar, depois cuidava dos cavalos e sumia pela casa. As empregadas pareciam sempre muito ocupadas com alguma ordem, a casa sempre muito florida e aberta.

Tânia tinha feito uma decoração extravagante, a casa que seria para ser um refúgio tinha cortinhas de cores escuras e muito brilho.

— Estamos aqui há uma semana. – disse sorrindo para ela – Como pode estar entediada?

Eu estava aproveitando pouco tinha que admitir, mas mesmo assim não participar dos bailes e eventos estavam sendo um presente agradável.

— Senhor. – Harry apareceu me surpreendeu. Por alguns segundos fiquei grato pela sua presença e levantei.

— Aconteceu algo?

— Temos alguns assuntos que não podem ser adiados. – disse apenas, ele não falava nada perto de Tânia.

— Você não deveria estar tomando conta da esposa?

Ele a encarou.

— Estou. É por isso que preciso que o senhor venha comigo.

— Edward ir? – ela levantou limpando seu vestido e mostrando seu desagrado ao vê-lo sujo. – Vou precisar trocar de roupa antes de irmos querido. Harry o problema é em Londres não? – disse animada.

— Na verdade não. É em sua casa senhor.

— Aqui é a casa dele Harry. – disse furiosa.

— Na residência oficial do Duque.

— Isso é um absurdo! Ele vai te levar de mim direto para ela?

— Tânia pare de ser absurda. – a repreendi.

— Absurda? Estamos presos nesta casa sem poder ver nossos amigos e ela simples te chama e você vai?

— Ela não me chamou. Houve algum problema ou Harry não estaria aqui.

— Problema? Numa casa maior que esta, título, mais criadas e com certeza toda fortuna a disposição dela.

— Isso é muita indelicadeza sua senhorita. – olhei para Harry não esperando sua fala.

— Você é apenas um empregadinho dele. Indelicadeza sua aparecer aqui. Eu vou para Londres Edward, estou perdendo minha juventude neste lugar.

Ela saiu e olhei para Harry pensando. Tânia arrumou a desculpa perfeita para deixar a casa que comprei ela e voltar para sua amada Londres.

— Seja lá o que for, vamos tratar disso indo até Berkshire.

Eu fiz questão de tomar um banho e estar sem qualquer cheiro de Tânia, não sei por que isso importava já que Isabella não tinha o menor interesse em mim ou que nosso casamento fosse uma mentira. Ela não se importava, mas eu estava me importando. Demorei mais do que precisava deixando Tânia gritar suas ordens pela casa, ela pediu a carruagem e não se despediu de mim.

Desci as escadas com Harry já me esperando com as luvas e chapéu.

— É algo sério? – perguntei já andando até a carruagem, ele abriu e entramos.

— O senhor Alexander está aguardando o senhor.

— Alexander? Quem seria esse?

— Pelo que me explicou o administrador dos bens da duquesa.

— Bens?

— Ele não entrou em detalhes, mas a senhora o recebeu muito bem. Os dois pareciam velhos conhecidos.

— Ela o recebeu sozinha? – perguntei estranhando isso.

— Ela está sozinha senhor.

Não falei mais nada o caminho inteiro. Porém, quando cheguei em Berkshire as mudanças de ares eram nítidas. A casa estava linda. Tinham vasos de flores na entrada, flores lindas.

— O que seria isso? – apontei para os vasos que continham as flores.

— São vasos feitos de mármore. A senhora colocou na entrada afirmando que elas iriam aguentar o inverno. Parecem ser plantas que suportam tanto o calor, como umidade ou o frio intenso.

— Ela disse isso?

A entrada ganhou uma vida incrível. Cada um de um lado recebia tão bem quem entrava que chegava a ser algo sobrenatural.

— E de onde vieram esses vasos?

— Vieram do porto senhor. Eu apenas a vi pedindo aos empregados colocarem cada um de um lado.

Entrei olhando a casa e sentindo o perfume agradável de flores, era suave, mas tão gostoso. Logo uma empregada chegou pegando minhas coisas. Ela estava vestida com um uniforme diferente.

— Mudaram os uniformes?

— Sim, a senhora pediu que todas as mulheres usassem uniformes com cores mais claras. Aventais brancos e cabelos mais soltos.

— Isso é...

— Uma grande mudança. – ele completou.

— E onde ela está?

Ele me olhou como se a respostas fosse algo que ele não soubesse.

— Bom, eu não sei o nome daquilo... tem agora um jardim fechado. Ela chama de estufa senhor.

— Estufa?

— Pelo menos é o que eu acho.

— Como isso apareceu em Berkshire?

— Não apareceu, foi construído. Ele é feito de vidros grossos que vieram da França e tem...

Não esperei ele falar e fui andando pela casa a procura da tal estufa. A construção ficava um pouco distante da casa principal e era gloriosa. Parei para observar como era grande, com um formato oval e tinha vidros por todo lugar.

— Quando isso foi construído?

— Sua mãe e ela que sabem. Os construtores vieram da Alemanha.

— Alemanha?

— Sim, ela parecia conhecer bem eles. Depois chegaram as plantas, flores, vasos e tudo que tem ali dentro que veio do porto com os indianos. Ela passa o dia ali praticamente.

Como eu não tinha visto isso antes? A nossa janela dava para entrada da casa. Os quartos dos convidados que poderiam ter esta vista linda. Olhei e vi os estábulos com um ar renovado e mais moderno.

— Ela reformou a casa. – constatei.

— Sim.- Harry disse.

Fui andando por um caminho de pedras feito com muito esmero. Haviam padrões de flores feitas por pedras.

— É francês. – Harry disse. – O escultor disse que era parecido com um palácio francês.

Surpreendente o bom gosto. A porta tinha uma fechadura diferente também e assim que abri senti o calor. Os dois indianos do porto estavam a todo vapor. Era uma floresta. Uma verdadeira floresta. Tinham várias plantas em grandes mesas de todos os tipos, a maioria eu nunca tinha visto. Os indianos pareciam estar regando de forma singular algumas plantas. O calor era suportável, mas muito incomum.

— A temperatura é sempre assim aqui? – perguntei a Harry, mas fui tomado pela imagem de Isabella de cabelos soltos parcialmente em um penteado completamente diferente, ela conseguia ainda ter ele soltos e ter a parte presa em um coque lindamente feito. Sua roupa parecia com as da empregada, sem qualquer adorno, sem volume e um avental cobria o vestido bege que ela estava usando.

— Senhor. – os indianos mais uma vez me cumprimentaram com as mãos juntas e uma abaixar diferente. Isabella pareceu perceber a minha presença e percebi como ela estava vontade em volta de tudo aquilo. Em volta de flores, plantas, ervas. O que seria aquilo?

— Isabella. – falei e ela me olhou surpresa.

— Edward... aconteceu alguma coisa?

Ela veio andando até mim limpando as mãos que apenas agora percebi que estavam sujas no avental branco.

— Harry me disse que Alexander está aqui.

— Oh... isso poderia esperar. – ela olhou feio para Harry – Alexander poderia esperar o Duque retornar.

— Ele voltou. – Harry apenas disse.

— Um absurdo incomodar ele sobre isso Harry.

— Não me incomoda. – cortei a pequena briga dos dois. – Então... o que seria isso? – perguntei tentando parecer o mais casual possível.

— Isso é uma estufa. – disse olhando ao redor. Era enorme. – Temos um orquidário ao fundo, quer ver?

Ela me levou para o fundo enquanto eu observava tudo com admiração.

— Não conheço essas plantas.

— São plantas de todo mundo. Essas precisam de calor para poderem sobreviver, por isso precisamos segurar o calor através dos vidros e da fornalha que fica ao fundo.

— Por isso está quente.

— Sim, mas precisam da temperatura certa, por isso controlamos através de um aparelho que marca a temperatura exata. O mercúrio dentro dele indica em qual temperatura estamos. – ela apontou para algo grande instalado perto de uma das paredes de vidro.

— Então... você gosta de flores, plantas...

Ela me olhou um pouco antes de responder.

— Sim. Gosto bastante, Jacob era um grande estudioso.

— Ah... sim claro. – falei e ela me mostrou as orquídeas.- Nunca vi orquídeas tão bonitas.... – falei admirando as cores e misturas de cores.

— São únicas. – ela disse admirando – Misturas de uma com as outras. Tentativas e erros na maioria das vezes...

Ela ficava linda no meio daquele jardim fechado. Uma empregada chegou com uma bandeja com uma grande jarra e vários copos.

— Obrigada querida. Muito atencioso.

A menina fez uma reverência e saiu.

Percebi que a jarra ficou em uma mesa que continha vários livros, cadernos, tinteiro e pena. Me aproximei dela olhando o tinteiro. Era diferente, tinha flores desenhadas por todo e feito de um material diferente.

— Aço. – ela disse atrás de mim. – Conserva melhor a tinta nesse calor.

— Faz anotações?

— Podemos dizer que sim.

Ela serviu a todos como igual. Senti como Harry ficou um pouco sem graça ao ser servido por ela, mas os indianos não. Eles beberam com muita sede.

— A cada meia hora precisa beber água, o calor faz com que suamos mais que o normal.

Ela explicou a água. A água parecia ter um gosto refrescante.

— A água....

— É uma água aromatiza com flores comestíveis. Eu gosto muito. – disse com prazer – Mas vamos resolver isso antes que pense que Harry o tenha chamado a toa.

Ela deu algumas ordens para os indianos indicando a jarra e exigindo uma pausa para um lanche. Eles agradeceram e saímos andando pelo caminho com ela bem a vontade. Uma empregada nos recebeu na porta.

— O chá deve ser servido na mesma hora senhora?

— Sim, não esqueça de colocar um pouco do cardamomo que dei. Eles gostam de mais forte e bem quente. E com um lanche mais reforçado por favor.

— Claro. – ela disse sorrindo.

— Serão apenas eles, mas mesmo assim não deixe de servir. O Duque está em casa, vamos lanchar na sala de visitas íntimas, por favor arrume tudo.

— Com certeza. Os bolos e biscoitos estão sendo feito desde que Harry avisou que ele viria.

— Que maravilha. – ela disse satisfeita e vi como isso deixou a empregada muito feliz. Ela tinha esse efeito de deixar todos aos seus pés apenas com seu sorriso.

— Vou me trocar, pode me esperar na sala de visitas. Harry pode chamar Alexander já que fez tanta questão de chamar Edward para isso.

— Trocar de roupa?

— Estou imunda Edward, vou apenas ficar mais apresentável.

Ela saiu e fiquei pensando como ela poderia ficar mais apresentável do que estava. Os cabelos, o vestido simples e sua energia contagiante.

What do you want to do ?

New mailCopy