Secava meu cabelo com a mesma toalha em que tinha secado meu corpo duas vezes naquela noite, a toalha de Mark agora estava um pouco manchada de verde e meu cabelo estava em um tom verde médio, nem tão claro como um florescente e nem tão escuro como a água suja de uma piscina, estava mediando e, mesmo embaixo da luz fraca do banheiro, eu havia gostado do resultado. Deixava a toalha de lado enquanto Mark me fitava parado com as mãos no portal da porta, virei-me em sua direção com um fraco sorriso nos lábios, estava pedindo sua opinião silenciosamente e não precisei falar para que ele dissesse que estava “realmente legal”, o que me fez soltar uma breve risada.

Voltamos para seu quarto e ele disse que voltava em alguns minutos, coloquei minha blusa de frio tampando meus ombros, pois estava sentindo frio, apesar de seu quarto ser aconchegante e quente, talvez por ser um pouco fechado, com uma única janela, o ar ficasse mesmo mais abafado ali dentro. Ele logo voltou segurando em volta de seus braços alguns pacotes de salgadinhos e um refrigerante grande, jogou os pacotes em cima da cama e me convidou para sentar abrindo a garrafa de refrigerante e tomando um gole logo em seguida.

– Não posso beber álcool no trabalho – ele soltou uma fraca risada – então, o que me resta é refrigerante.

– Não está tão mal.

– Assim como seu cabelo – ele piscou e logo apontou para os pacotes – venha, pode comer.

– Eu tô faminta mesmo – dei uma fraca risada sentando-me de pernas cruzadas em cima de sua cama macia.

Ficamos um tempo em silêncio, ambos parecíamos igualmente famintos, mas ele fez apenas uma piadinha sobre ter algum problema por estar sempre com fome, comer demais e nunca engordar. Apenas ri enquanto saboreava meus salgadinhos de presunto assado e dividia a garrafa de plástico com ele. Algum tempo depois estávamos os dois famintos, jogados na cama de frente para a porta, eu estava em uma posição completamente torta, com a cabeça encostada na parede, mas sem as costas completas o que poderia me dar um jeito insuportável, mas a questão é que eu tinha que manter minha barriga para cima, pois estava muito cheia.

Ele apontou para o pôster do filme enquanto se encostava do meu lado, os pacotes de salgadinhos, uns vazios, outros pela metade e ainda uns dois fechados, nos separavam por centímetros.

– Você conhece, certo?

Balancei a cabeça.

– Vi você olhando para ele antes do banho.

– É meu filme favorito.

– E você chora toda vez em que ele canta para a garota que ele ama, estou certo?

– Não – dei uma fraca risada.

– Mesmo? – ele virou seu rosto para me olhar.

Dei de ombros assentindo em silêncio.

– Na minha opinião esse filme tem uma das melhores trilha sonoras de todos os tempos.

Fitei os cartazes dos homens nervosos e cabeludos – Para quem tem tantos cartazes de rockeiros dizer que a trilha sonora desse filme é boa é algo realmente surpreendente.

Ele jogou seu corpo por cima dos pacotes e me fitou deitado na cama – Sou eclético.

– Certo – ri o fitando.

Não havia mais o que falar, e começamos a rir freneticamente quando ele soltou um arroto tão alto que ecoou em seu quarto. Não sei porque estava rindo enquanto tinha que me preocupar em me esconder direito, em não ser pega e conseguir achar uma saída que não fosse ser presa.

– Por que está fugindo? – ele perguntou em um tom de voz baixo e tão amigavelmente que não consegui ignorar ou lhe dar uma má resposta.

– Eu matei um cara.

– Meio que suspeitei quando a jornalista te chamou de assassina.

Dei um fraco sorriso.

– Aposto que ele era um babaca – ele ergueu as sobrancelhas.

– Ele era.

– Então ele mereceu – ele tornou a sentar-se na cama, mas desta vez de frente para mim.

Dei apenas um fraco sorriso.

– Já sabe o que fará depois daqui?

Balancei a cabeça negativamente fitando minhas pernas nuas, usava apenas um short jeans, logo virei meu rosto em sua direção com um pequeno sorriso – Mesmo se soubesse, não diria.

– Esperta – ele ainda me fitava – bem, desde já, te desejo sorte.

– Valeu.

– Posso saber seu nome?

– Não – respondi de imediato.

– É só o nome – ele deu uma fraca risada – vamos!

– Não – repeti o fitando ainda com o sorriso nos lábios.

– E se eu te der um sorvete de graça? – ele levantou os polegares aumentando seu sorriso.

– Não – gargalhei balançando a cabeça negativamente – sem nomes.

Ele então ficou de pé e cruzou os braços me fitando sem um mísero sorriso, o fitei ainda calma tirando meu sorriso dos lábios também. Se ele quisesse me expulsar por não lhe dizer meu nome, que fosse, não me importava, tinha acabado de conhece-lo e por mais legal que ele tivesse sido até então, não confiava nele. Ele logo disse quebrando o silêncio:

– Sabe, a questão aqui é que eu queria só saber seu nome. Por que – ele apoiou suas mãos na cama em volta do meu corpo e inclinou seu tronco para frente enquanto chegava seu rosto bem próximo ao meu, prendi a respiração o fitando – não costumo beijar garotas sem saber pelo menos o nome.

– Sem nomes – respondi mordendo meu lábio bem à sua frente.

Ele riu – Certo, terei que abrir uma exceção, então?

Dei de ombros – Talvez, apenas por essa noite, eu seja quem você quiser.

– Só seja você – ele deu um rápido beijo selando nossos lábios por uma fração de segundos e prosseguia falando enquanto distribuía beijos selando nossos lábios rapidamente – eu... Não... Ligo... De... Abrir... Uma exceção... Para... Uma garota... Sem... Nome.

Dei uma fraca risada fitando sua boca atentamente, cada movimento que seus lábios faziam eu prestava atenção, como uma criança olhando o vendedor de bala retirar o plástico do pirulito. Seus lábios formaram um sorriso logo após ouvir o som da minha risada, e apenas segurei seu rosto beijando seus lábios com tanta vontade que arrepiei no instante em que fui correspondida. Ele empurrou os pacotes de salgadinhos para o chão e logo passou suas mãos em volta do meu corpo me deitando na cama logo em seguida.

Ele parou o beijo e, após me fitar rapidamente nos olhos, sorriu e passou a beijar meu pescoço enquanto passava por ele, levemente, os dentes e a língua. Arrepiei da cabeça aos pés quando o senti morder meu pescoço e logo em seguida descer sua boca fortemente até meus seios ainda cobertos pela blusa e o sutiã.

Foi a melhor noite que tive, não que eu tivesse tido muitos homens em minha vida, Jeff e Kaio foram os únicos, Kaio foi um dos meninos que conheci no orfanato, mas ele logo se mudou e conseguiu ficar permanentemente com uma família e Jeff... Bem, Jeff sempre foi um babaca.

Deitada na cama e olhando para o teto ouvia apenas a respiração de Mark, era esperado o silêncio pós-sexo e eu não estava me importando, na verdade estava morta de sono e tudo o que queria era dormir, mas agora com tudo o que aconteceu teria que ir embora ao amanhecer e, mais uma vez, procuraria um lugar para ficar e assim seguiria minha vida, sempre fugindo e tentando começar uma vida em algum novo lugar, só não tinha ideia se iria longe e pela minha fé não passaria nem de um mês.

Aceitar meu destino, que incluía em uma cadeia igual ao meu pai, parecia mais doloroso do que ter que dormir na rua, passar fome e ter que fazer coisas inacreditáveis para sobreviver. Não queria ser como ele, não devia ser, e não seria.

– Então – Mark disse algo e antes que eu pudesse responder ele estava deitado de lado, com a cabeça em cima das mãos e o cotovelo apoiado na cama.

– Oi – disse o fitando com seu rosto acima do meu.

– Para onde vai agora?

– Estou sendo mandada embora?

– Não.

– Algum lugar – dei de ombros respondendo sua pergunta.

– Aposto que não haverá ninguém como eu lá – ele deu uma breve risada.

– Aposto que não – o fitei com um pequeno sorriso.

– Você não tem um lugar para ir, certo?

– Foi o que eu disse – o fitei.

– Terei que trabalhar hoje o dia inteiro porque a menina que fica durante o dia não pode vir por – ele fez aspas com os dedos – “motivos médicos” então se quiser ficar, meu quarto é seu.

– Já estamos nessa altura do relacionamento?

– Sou o salvador dos caras maus, lembra? – ele sentou-se na cama de costas para mim – é só um convite, sem segundas intenções, sinta-se a vontade.

O fitei vestir a roupa de costas para mim, a vestiu tão rapidamente e logo virou-se na minha direção enquanto colocava o seu crachá com seu nome. Sentei-me na cama pronta para pegar minha roupa, minhas coisas e ir embora. Era muito abusivo ficar lá e nem um pouco confiável permanecer tanto tempo em algum lugar.

– Ei – ele parou na minha frente quando coloquei os pés pra fora cama – de verdade, você pode ficar.

– Não é muito seguro.

– Ninguém entra aqui, relaxa – ele sorria – não vou dormir agora, meu turno termina em alguns minutos e terei que ficar para a menina que não vem. Você pode dormir ai, a loja fica um pouco mais cheia pela manhã e com esse – ele olhou para o meu cabelo – cabelo verde exposto ao Sol todos vão te encarar. Você precisa descansar, afinal você trabalhou bem duro.

Rimos juntos e ele manteve o sorriso em seus lábios e eu me mantive na cama. Estava exausta e ele tinha razão em um ponto: era dia e bem mais perigoso. As chances de me reconhecerem durante o dia era bem maior do que a noite nas trevas de Gotham. Apesar do cabelo verde me camuflar um pouco ele também chamava atenção o suficiente para que as pessoas ficassem olhando para mim enquanto pensavam o quanto eu era insana por ter feito o que fiz em meu cabelo, porque as pessoas são assim: elas julgam as pessoas, as vidas alheias, pois as suas são insignificantes demais para que fiquem focadas só nelas.

Ele me empurrou de leve para trás sem tirar seu sorriso do rosto, encostei minhas costas na parede o fitando, ele chegou seu rosto bem próximo ao meu e deu um demorado beijo nos meus lábios e sussurrou logo em seguida que eu deveria dormir um pouco porque minhas olheiras não ficavam boas no meu visual. Antes de sair do quarto de volta à loja ele piscou o olho enquanto fechava a porta. Talvez fosse o melhor mesmo, porque assim que deitei e virei para o lado dormi e acordei penas com Mark me chamando delicadamente.

Já era noite e estava na hora de ir embora.