Red Dress

Slide the Red Dress


Meu vestido vermelho. Meio vinho, como a bebida adocicada que repousava em sua taça. Meio vermelho vivo, como o sangue que corria em nossas veias. Longo, aveludado, tão delicado quando o toque de suas mãos percorrendo meu corpo.

Eu descia a escadaria com aquele vestido. Cuidadoso, é claro, e queria parecer tão delicado quanto sou costumeiramente para seus olhos. Ergui um pouco o vestido do chão com a ponta de meus dedos cobertos com a luva e murmurei seu nome, chamando-o com um leve sorriso de canto.

Você levantou o rosto e me olhou, caminhando até a beira da escada e estendo sua mão para mim. Segurei-a e desci o resto dos degraus - que não eram muitos -, até me encontrar frente à você e poder ver de perto seus olhos, tão belos e sinceros comigo.

Sua mão envolvia minha cintura e a outra permanecia segurando a minha, você ia me conduzindo até a mesa com carinho e gentileza que - ah, céus - eu não queria que chegássemos perto da mesa nunca...

Pois bem, pra que eu contar algo que você já sabe? O que eu deveria falar aqui não é isso... E sim, continuar a contar a nossa história.

Vou começar dizendo da nossa pequenina, que nasceu. Nossa pequena flor que nasceu no dia 09 de setembro, dois dias após termos nos mudado para nosso novo lar – é, agora moramos num castelo enorme, com mais quarto do que precisamos, evidentemente, mas nada que não seja bom!

Por falar em nosso novo lar, vou falar aqui de como foi a noite de estréia do nosso quarto... Lembra que a gente se amou em cima do piano, no canto do quarto? E eu usava aquele vestido. O meu vestido longo e aveludado, vermelho vinho. Como a cor da bebida de sua taça.

Fetiches... Hum, eles existem e eu, certamente, tenho vários. E um deles foi exatamente ser amado por você, meu marido, sobre o nosso piano. Outros, como os que aconteceram ainda em meu apartamento, também despertam meus sentidos...

Já disse que quero tentar tudo com você? É... Com você e pra você, eu não nego nada... Meu sensei masoquista...

E eu amo fazer tudo com você, não posso evitar de me sentir desejado de ouvir suas palavras tão sutis em meu ouvido, dizer o quanto me ama e o quanto sou seu... Submissão? Já conversamos sobre isso, não é? Mas, bem, vou falar aqui, publicamente, que eu amo me sentir submisso à você quando nos amamos... Amo muito sentir suas mãos me segurarem forte e com carinho, ao mesmo tempo, enquanto tenho o prazer de senti-lo...

Uff... Falo demais de sexo, não é? Gomen... Devo estar parecendo uma menininha virgem... Mas não é isso, é que eu amo tanto isso que mal consigo evitar de contar pra você... Eu queria conseguir falar pra você o que sinto sempre... Mas é complicado, raramente eu consigo te dizer verdadeiramente o quando é bom, sabe que fico tímido as vezes... Mas não por isso, exatamente.

Tá, tá. É EXTREMAMENTE bom sentí-lo; ser tocado, gemer seu nome... Waa~ Vou ficar louco daqui a pouco só de pensar nisso... Aí não vai dar muito certo, já pensou?

Bem, vamos deixar a parte sexual de lado... E vamos falar de sentimentos.

Eu sou o tipo de pessoa que acredita que amar é a arte mais bela. Mais valiosa do que uma pintura, mas exata e exímia do que uma escultura, mais impactante que uma instalação... E tão perfeita quando uma efemeridade... Coisas efêmeras não duram, não muito. Coisas que são efêmeras, como a metamorfose de uma lagarta em borboleta, tem fim um dia.

O meu amor é uma coisa efêmera. Todo dia acaba para renascer ainda mais forte; a cada segundo que passa, meu amor é maior e se torna algo impossível de se controlar, mais forte do que eu posso sustentar, mais denso e complexo que meu próprio coração é capaz de agüentar... Por isso, divido com você.

Bem... O que falar do amor que eu sinto por você quando palavras, expressões, gestos e atos sequer são suficientes para mostrar tudo o que baita em mim? Não sei mesmo o que dizer ou fazer, porque é muito mais forte do que eu o que fica aqui dentro. Você consegue sentir tudo isso quando eu me entrego à você? Quando sorrio leve sentindo seu abraço? Pode sentir como sou todo e apenas seu toda vez que nos olhamos, mesmo que em silêncio, e entrelaçamos as nossas mãos fortemente enquanto ficamos de testa colada?

São por esses e tantos outros motivos que digo... Toda vez que olho aquele vestido vermelho vinho da cor da bebida e da cor do nosso alimento, eu me sinto avivado.

Por quê?

Porque sempre lembrarei de três coisas ao olhá-lo. Primeiro: vermelho é a cor da paixão, a cor do amor, e não há cor mais significativa para nós do que essa cor, que é a cor das duas coisas que nos mantém vivos – o amor e o sangue; segundo, o veludo me lembra a maciez com que suas palavvras me envolvem, a suavidade do seu toque em minha pele, mesmo que gelado, e a leveza que me tem em seus braços.

Por fim, aquele vestido sempre vai me lembrar uma coisa. O momento em que ele escorrega pelo meu corpo e atinge o chão. O momento de consumação máxima do nosso amor.

O momento certeiro de que sou apenas seu.