Realeza em tanto

Capítulo 35


Quando Killian referiu que íamos para casa, passou-me pela cabeça que iríamos para minha casa. A sério que passou. E realmente fomos até lá. Mas não foi para ficar. Fomos de passagem para buscar a minha mãe e os meus irmãos. Quando Killian referiu que íamos para casa, ele estava a referir-se ao palácio. Confesso que fiquei surpresa com essa sua afirmação. Ele iria levar toda a minha família para o palácio sem o conhecimento dos pais. Sim, porque eu fiz questão de lhe perguntar se ele tinha falado com eles. A sua resposta foi que quando chegássemos, ele resolveria o assunto.

Quando chegamos a minha casa, a minha mãe já estava a colocar as malas na rua. Pelos vistos o Killian andou a falar com ela. Sinceramente não acredito que tenha sido muito fácil convencer a minha mãe. Acho realmente que foi um milagre tê-la convencido.

Antes de partir, a minha mãe foi-se despedir da família de Ethan. Ela e Diana eram amigas há longos anos. Só Diana sabia o que meu pai fazia com a família. Só ela e Ethan. Porque assim como a minha mãe confiou o seu segredo mais profundo a Diana também eu confiei a Ethan. E garanto que nunca me arrependo de o ter feito. Ethan é o melhor amigo que alguém pode ter.

Já prontos, voltamos a entrar todos na limousine. Os meus irmãos estavam encantados com a grandeza daquele carro. Nunca eles tinham visto um carro tão grande. Era realmente incrível ver a felicidade nos seus pequenos rostos. Rostos inocentes que sorriam por coisas como estas. Assim era a infância.

Involuntariamente, levei as minhas mãos ao meu ventre. Também eu esperava que o meu filho ou filha tivesse esta inocência no rosto. Esperava conseguir tirar-lhe sorrisos destes que fariam o meu dia.

Killian, ao ver o meu gesto, levou também a sua mão ao meu ventre. Ele estava realmente feliz com aquela gravidez. Apesar de novos, sinto que era aquilo que nós queríamos para a nossa vida.

Antes de seguirmos para o palácio, eu pedi para fazermos uma última paragem. Eu ainda tinha alguém de quem me queria despedir. Quando expliquei a Killian que queria encontrar Arthur, todos aqueles ciúmes do outro dia voltaram. Mas, diferente da última vez, ele aceitou e, relutantemente, disse ao motorista a morada para onde nos iríamos dirigir. Achei fofo, ele não ter feito nenhuma cena. Claro que não impediu de Killian fazer uma careta quando mencionei Arthur. Mas ele sabia que é só a ele que eu amo.

O motorista, que descobri se chamar Sean, parou em frente à mercearia da dona Irina. Como um carro daqueles não era visto todos os dias por ali, várias pessoas começavam a observar e comentar o porquê de estar ali uma limousine.

Saí da limousine, sozinha, e segui até à mercearia. Cumprimentei algumas pessoa que por ali passavam pois conhecia-as das suas idas à mercearia.

Dona Irina encontrava-se em volta das contas que nem deu por mim a entrar na mercearia.

—Boa tarde dona Irina. – cumprimentei assustando a senhora de idade à minha frente.

—Alexia. – disse vindo até mim para me abraçar – Eu fiquei tão preocupada. O meu Arthur dizia que tu estavas bem e que estavas a recuperar mas eu só acreditaria nisso quanto te visse.

—Eu estou bem dona Irina. – disse tentando tranquiliza-la.

—Soube também o que se passava na tua casa. Porquê que nunca disseste nada? Eu poderia ter ajudado.

—O que importa é que agora está tudo bem. – olhei em volta da pequena loja na qual trabalhei dois meses. Apesar de tudo, ia ter saudades – O seu filho não anda por aí?

—Ele e a Freya foram levar umas compras à dona Aurora, do fundo da rua. Eles devem estar a chegar.

Durante a espera, continuei a conversar com a dona Irina. Soube que o negócio estava a correr melhor. Soube que o relacionamento entre o Arthur e a Freya estava melhor do que nunca. Claro que ele continuava com aquela atitude de galã cada vez que alguma rapariga bonita entrava na mercearia. Mas ela sabia que ele só tinha olhos para ela. Essa era a essência do Arthur. De certeza que isso foi uma das coisas que fez a Freya se apaixonar por ele.

—Alexia. – berrou Arthur só para me assustar. O que realmente resultou. Voltei-me para ele e comecei a dar-lhe leves socos no peito. Ele rapidamente me dominou e deu-me um abraço – Nem preciso perguntar se estás melhor. – brincou arrancando risadas de todos os presentes.

—Arthur, eu vou embora. – disse.

—Já suspeitava. – disse Arthur. Por mais que ele tivesse a sorrir, notava-se certa tristeza na voz – O príncipe vai finalmente conseguir levar-te de mim. – ri com os falsos ciúmes que Arthur demonstrava.

—O príncipe? – intrometeu-se dona Irina. Pelos vistos, o Arthur não tinha dito nada à mãe sobre a minha relação com Killian.

—Depois explico, mãe. Agora temos de nos despedir da nossa princesa.

—Alexia, estou muito feliz por finalmente teres encontrado a tua felicidade. Espero que realmente sejas feliz. – disse Freya dando-me um abraço – Eu sei que nós não falamos assim tanto mas mesmo assim ficarei em dívida para contigo até ao fim da minha vida. Se não fosses tu a abrir os olhos do Arthur, não sei se estaríamos juntos.

—É isto que os amigos fazem. – respondi sorrindo.

—Ó princesa, vou ter tantas saudades tuas.

—Não te preocupes que eu arranjo maneira de te vir visitar. – disse já entre lágrimas – E se houver casamento, fica descansado que o convite chega aqui. – tentei brincar. Tirando o Arthur, todas nós estávamos banhadas em lágrimas. Elas assistiam à despedida entre mim e Arthur.

Depois de muitos abraços, lá acabei por voltar até à limousine. Entrei e pedi para o motorista seguir.

—Alexia, que…

—Hormonas Killian. Hormonas. – respondi. Já sabia que Killian me ia encher de perguntas. Os meus olhos estavam inchados devido ao choro.

Durante o caminho, os meus irmãos iam fazendo os mais diversos comentários sobre os sítios que passávamos, sobre coisas que iam encontrando na limousine e assim. Eu tentava prestar atenção nas brincadeiras deles mas a minha cabeça estava uma confusão. O confronto com o meu pai. A despedida. Parece que tudo vinha em maior força para os meus pensamentos.

—Alexia está tudo bem? – sussurrou Killian ao meu ouvido para não chamar a atenção da minha mãe e dos meus irmãos.

—Sim. – respondi fraco. Aquela resposta nem me convencia a mim quanto mais ao Killian.

—Eu sei o quanto a visita ao teu pai te afetou. Tu sabias que ia ser algo doloroso para ti.

—Se me vais atirar à cara algo como “Eu avisei-te”, aconselho-te a acabares imediatamente esta conversa. – avisei. Eu não estava com paciência para lições de moral.

—Não é nada disso Alexia. – disse Killian sério – Ao te ver lá com o teu pai, eu compreendi que realmente tu precisavas disso. Por mais doloroso que tenha sido para ti teres feito isso, era algo que tu necessitavas. Tu tinhas de ver com os teus próprios olhos que ele nunca mais faria mal a ninguém.

—É verdade…

—Eu garanto-te que ele nunca mais fará mal a ninguém.

Não respondi mais nada. As palavras já não eram precisas ali. Nós entendíamo-nos só pelo olhar.

Encostei a minha cabeça no ombro de Killian enquanto ele permanecia com a sua mão na minha barriga.

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—Alexia. – ouvi Killian chamar-me. Abri os olhos e percebi que tinha adormecido. Olhei para o Killian e ele estava a sorrir para mim – Chegamos.

Só quando o Killian proferiu estas palavras é que me apercebi onde estávamos. Olhei para o exterior da limousine e visualizei o palácio à minha frente. Respirei fundo. Ali estava o meu futuro. O meu e o de Killian. Além disso, ali também estava o meu maior pesadelo. A Rainha Isabella

—Vamos. – proferiu Killian esticando a mão para sair da limousine. Agarrei a mão dele e seguimos em direção à entrada do palácio.

Genoveve estava na entrada à nossa espera. Notei a careta que ela me fez quando me viu. De certeza que ela não esperava voltar a encontrar-me. Ainda para mais na companhia de Killian.

Os meus irmãos e a minha mãe foram com a Genoveve. Esta levá-los-ia até aos seus aposentos. Killian pedira a Selena para os mandar preparar.

Eu estava pronta para ir com eles mas o Killian impediu-me.

—Eu vou levar-te até aos teus aposentos. – comentou Killian com um sorriso de lado.

Olhei para ele sem entender aonde ele queria chegar por isso deixei-me levar por ele. Ele segurou a minha mão e juntos caminhamos pela palácio.

À medida que andávamos, recordações do meu tempo aqui vieram até mim. Principalmente da primeira noite. A noite em que eu e a Malia andamos escondidas a ver o palácio. Ela toda feliz e eu com receio de sermos apanhadas. O que acabou mesmo por acontecer comigo. Quando esbarrei com o Killian e pensei que estava completamente tramada. Mal eu imaginava o meu destino depois daquele encontro.

Comecei a aperceber-me do caminho que estávamos a tomar.

—Killian. – parei-o e fiz com que ele me encarasse – Tu não estás a levar-me para onde eu penso que me estás a levar?

—Estou. Amor, não há problema. Nós estamos juntos, não estamos? E também já fizemos tudo o que tínhamos a fazer. – comentou Killian fazendo com que eu corasse. Killian sorriu com a minha reação – Amor, anda.

Killian puxou-me e levou para o seu quarto. Sim, era para aí que ele me estava a levar. Ele quer que eu fique com ele no quarto dele. Ele deve mesmo querer que dê uma coisinha má à mãe dele.

Killian fechou a porta e começou a beijar-me. Um beijo promissor que provavelmente acabaria com nós os dois nus na sua cama. Sorri com o pensamento.

Killian deitou-me da cama e colocou-se por cima de mim para me voltar a beijar. Mas eu parei-o. Um pensamento veio à minha cabeça. Ele começou a beijar o meu pescoço mas eu voltei a afastá-lo.

—Killian, eu preciso de saber uma coisa. – disse encarando-o.

—O quê?

—Tu e a princesa Eva. – Killian olhava para mim sem entender – Tu sabes…

—Nunca. – respondeu sorrindo – Tu foste a única na minha vida e espero que assim continue. – terminou e voltou a beijar-me. Desta vez não o impedi. Aliás, beijei-o na mesa intensidade enquanto tirava a sua blusa.

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—Eu nunca me vou cansar de fazer isto. – comentou Killian. Estávamos deitados na sua cama, nus, depois de um sexo maravilhoso.

—Só espero que a mulher seja sempre a mesma. – respondi beijando-o de leve.

—Não duvides.

Continuamos ali, entre beijos e abraços, quando alguém bateu à porta. Sentei-me repentinamente.

—Calma. – sussurrou Killian ao meu ouvido – Quem é? – perguntou.

—É o Thomas, Vossa Majestade.

—Um segundo. – Killian pegou no seu robe, que estava na poltrona ao lado da cama e deu-mo – Veste-o e vai para a toilet.

Fiz o que Killian disse. Ele demorou um pouco mais a abrir a porta. Provavelmente estava a vestir-se.

—Qual é o problema Thomas? – ouvi Killian perguntar ao mordomo.

Infelizmente não consegui ouvir o que Thomas disse. Ouvi logo de seguida a porta fechar-se e saí do toilet. Nem pensei na hipótese do Thomas ter entrado com o Killian no quarto.

—O que é que ele queria? – perguntei assim que confirmei que Killian estava sozinho.

—A minha mãe quer ver-me. – disse Killian ainda de costas para mim. Aproximei-me dele e abracei-o pelas costas. Killian era mais alto que eu, tanto que encostei a minha cara nas suas costas.

—Tu já sabias que terias de falar com a tua mãe. Eu sabia que era uma má ideia eu ter vindo para cá.

—Não digas isso. – disse voltando-se para mim – Foi a escolha mais acertada que fiz. Tu fazes parte da minha família. Tu e esse bebé que está a crescer dentro do teu ventre. Nunca te deixaria.

—Eu sei que não e é por isso que te amo.

—Já te disse que nunca me canso de te ouvir dizer isso? É a minha frase preferida.

—Amo-te. – beijei-o - Amo-te. – voltei a beijá-lo - Amo-te. – repeti vezes sem conta enquanto o beijava.

—Eu também te amo. – confessou Killian arrancando um sorriso de mim. Tal como ele, também eu nunca me cansaria de ouvir aquilo – Mas ainda há mais.

—Há mais o quê? – perguntei confusa.

—Não é só a mim que a minha mãe quer ver. Ela também quer falar contigo.

—Então vamos os dois enfrentá-la. A Rainha Isabella não nos pode separar. Já tentou uma vez e não conseguiu. – disse tentando demonstrar a minha falsa confiança. Tão falsa que o Killian percebeu.

—Obrigado. – agradeceu Killian.

Procurei as minhas roupas pelo quarto. Elas estavam espalhadas. Depois de estar pronta, segui com Killian até à Rainha Isabella. Confesso que estava completamente aterrorizada. Apesar da confiança que mostrei perante Killian, eu não sabia o que poderia acontecer. Não sabia se a Rainha teria mais alguma na manga para me separar do Killian.

Chegamos até à sala do trono. Então era lá que ela nos ia encontrar. Killian bateu de leve e logo recebemos ordem para entrar.

A sala do trono era das mais valiosas de todo o palácio. Toda banhada em ouro e para completar, o trono todo cheio de diamantes. Acredito que só esta sala dava para acabar com a fome do país.

Na sala encontravam-se alguns guardas, a Selena, o Rei e a Rainha. Esta, mal nos viu chegar, levantou-se furiosa e veio até nós dando um estalo em Killian.