Realeza em tanto

Capítulo 36


—Como é que foste capaz de trazer esta galdéria para aqui? – perguntou a Rainha perdendo completamente o controlo. Eu, involuntariamente, apertei o braço de Killian.

—Não lhe admito que fale assim da Alexia. – respondeu firmemente Killian. Era a primeira vez que eu o via a enfrentar a mãe.

—Eu falo como eu quiser, estou em minha casa. – a Rainha voltou-se para os guardas – Todos para fora! Já!

Os guardas seguiram as ordens da Rainha Isabella e saíram da sala do trono. Agora só lá estava eu, o Killian, a Selena e os reis. A Rainha Isabella continuava a encarar-me com raiva. Ela queria-me longe dali. Aquilo era claro como água. Agora a atitude do Rei é que me estava a deixar completamente intrigada. Ele continuava sentado sem proferir uma única palavra. Ele apenas observava.

—Eu e a Alexia estamos apaixonados e vamos ficar juntos.

—Acreditas mesmo nisso, Killian? Ela é uma impostora. Apenas está interessada no dinheiro e no poder.

—Ela não é assim, mãe. – intrometeu-se Selena.

—Cala-te Selena. – ordenou a Rainha.

—Não vou ficar aqui calada a vê-la tratar mal as pessoas. Pessoas com quem me importo.

—Sai! – ordenou a Rainha. A Selena olhou de relance para o pai e este indicou para ela sair. Sem nenhuma palavra. Apenas gestos.

Selena dirigiu-se para a saída, deixando-me com Killian e com os seus pais. O ambiente estava de cortar à faca. A tensão estava no ar.

Killian segurou a minha mão com força em sinal de que tudo ia ficar bem. Eu acreditava nele. Nós conseguiríamos ultrapassar isto.

—Mãe entenda que eu e a Alexia estamos apaixonados e vamos ficar juntos. Quer queira, quer não queira. Não vai ser a mãe que nos vai separar. Já tentou uma vez e como pode ver, não resultou.

—Como assim já tentou uma vez? – perguntou o Rei falando pela primeira vez naquela conversa. A sua voz saiu firme como se de uma ordem se tratasse.

—Sim pai. A mãe sabia do meu caso com a Alexia. Descobriu que estávamos juntos e decidiu separar-nos. Chantageou a Alexia e…

—Como te atreves? – perguntou a Rainha aproximando-se de mim. Killian colocou-se imediatamente à minha frente. Ele sabia perfeitamente que eu conseguia defender-me sozinha, mas ele agiu mesmo assim. Ele queria a todo o custo que eu não me enervasse – Que mentiras é que ela te andou a contar, Killian?

—Não foram mentiras nenhumas, eu acredito nela. Eu sei que a mãe a chantageou, ameaçando que mandava a mãe dela para a cadeia para que o pai ficasse a tomar conta dos irmãos. A mãe sabia perfeitamente das atitudes violentas do pai dela e mesmo assim não fez nada. Que tipo de pessoa você é para não ter o mínimo de compaixão por aquelas pessoas. Elas sofriam muito com aquele monstro e a mãe sabia e não fez nada.

—Isto é verdade? – perguntou o Rei encarando a Rainha. Pelos vistos, ela tinha feito isto sem o consentimento do marido. Começava a perguntar-me que outras coisas ela poderia ter feito sem o conhecimento do Rei – Isabella responde-me.

—Querido… - começou a Rainha.

—Não precisas de dizer mais nada. – disse o Rei, levantando-se e aproximando-se de nós – Querida, o teu nome é Alexia, certo? – perguntou-me o Rei. Eu apenas acenei que sim. As palavras simplesmente não saíam – Em primeiro lugar, quero pedir desculpas em nome da minha esposa. Sinto-me muito envergonhado por pensar que ela seja capaz de uma atrocidade destas. Como está a tua família?

—Eles estão aqui no palácio, pai. – respondeu Killian – No dia do meu casamento, eu soube que a Alexia tinha ido parar ao hospital por causa…por causa do pai. Eu simplesmente não podia ficar aqui parado.

—E deixaste a princesa Eva aqui. Por causa desta aqui. – meteu-se a Rainha outra vez na conversa.

—Já lhe pedi para não falar assim da Alexia. – avisou Killian.

—E quem és tu para exigir alguma coisa, Killian? – perguntou a Rainha em sinal de desdém.

—Sou o futuro Rei de Lusitana. Alguém que não tolera ver outra pessoa a ser maltratada. Alguém que se soubesse que uma família estava a ser vítima de uma atrocidade como a que se passava na família da Alexia, teria feito algo. Alguém que sempre quis casar por amor, mas que a mãe disse que era necessário casar por contrato. Com alguém que nem sequer conhecia. Como acha que me senti quando a Alexia foi embora? A mãe não pensou num só segundo no que eu poderia estar a sentir? No quanto eu poderia estar a sofrer? A mãe não pensou nisso.

—Killian…

—Killian, nada. Eu sempre a respeitei. Sempre fiz tudo o que me pediu. E sabe o que recebi em troca? O desejo de infelicidade para o filho. Foi isso que recebi. Mas agora acabou. Eu vou ficar com a Alexia, quer a mãe queira, quer a mãe não queira. Já não há nada que possa fazer para nos separar. Nada. O pai da Alexia está preso e a família dela vai passar a viver aqui. Eu vou casar-me com a Alexia, independentemente do vosso apoio. Se me quiserem deserdar, eu não me importo. Desde que esteja com a Alexia, tudo ficará bem.

Eu olhei para Killian, incrédula. Ele estava mesmo disposto a deixar tudo por mim. Ele estava disposto a deixar o seu cargo, aquele para o qual foi preparado desde que nasceu. Eu esperava sinceramente que não chegássemos a isso. Eu sabia o quanto o Killian amava o país e quanto os queria ajudar.

—Isso não vai ser necessário. – respondeu o Rei – Tu serás o futuro Rei de Lusitana e a Alexia será a futura Rainha.

—Owen, o que é que estás a dizer? – perguntou a Rainha incrédula. Eu estava na mesma situação. Se há uns tempos atrás me dissessem que o Rei diria que eu seria a futura Rainha de Lusitana, eu riria na cara dessa pessoa. Mas ali estava o Rei a dizê-lo. Ali estava o Rei a dizer que eu seria a futura Rainha. Ele apoiava o Killian. Sem pensar em mais nada, abracei Killian. Eu não me importava se estava na presença dos Reis de Lusitana. Naquele momento só me importava abraçar Killian.

—Ouviste bem Isabella. Eles estão apaixonados. Mais, eles amam-se. Nota-se só pelo olhar. Esta conversa termina aqui. E espero sinceramente que não interfiras mais no relacionamento deles.

—Obrigado pai. Muito obrigado. – agradeceu Killian abraçando o pai. As lágrimas começavam a formar-se nos meus olhos. Malditas hormonas!

—Agora nós precisamos de resolver outros assuntos pendentes.

—Eu sei pai. – respondeu Killian.

O Rei acabou por pedir para que eu e a Rainha saíssemos. Eu tinha quase a certeza que o assunto pendente que o Rei falava era o casamento do Killian com a princesa Eva. A verdade era que o Killian a tinha abandonado em pleno dia de casamento. Acredito que aquilo não deve ter caído muito bem aos pais da princesa Eva. Sinceramente também não acredito que tenha caído bem à princesa. É verdade que ela era muito boa pessoa, inocente, alguém que não merecia algo como ser abandonada no altar. Nem que isso implicasse a minha felicidade.

Eu estava decidida a seguir para o quarto onde estava a minha família, mas uma mão impediu-me. Era a mão da Rainha.

—Se tu pensas que vais ficar com o meu filho, estás redondamente enganada. – avisou a Rainha.

—Eu já lhe disse, Vossa Majestade, agora não há nada que me impeça de ficar. Eu amo o seu filho e o seu filho ama-me. Nada mais importa.

—Tu não pensas num só momento no Killian? – olhei para a Rainha sem entender – Como é que achas que as pessoas vão reagir quando virem o Killian com uma plebeia?

—Vão apoiar-nos. Vão ver que o Killian não liga a classes sociais. Vão ver que ele se casou por amor.

—Não, eles não vão ver isso. Os príncipes casam com as princesas. É assim que deve ser. O Killian tem de casar com alguém da mesma classe que ele. Não tu.

—Chega mãe. – disse Selena aparecendo no meu campo – Pare de fazer a cabeça à Alexia. Pare de dizer que ela não serve para o Killian. Porque ela serve. Por muito boa pessoa que seja a Eva, é a Alexia que o Killian ama. A Alexia!

—E o que é que tu sabes de amor, Selena? Tu és apenas uma criança. – protestou a Rainha.

—Eu posso até ser uma criança, mas sei perfeitamente o que é o amor. O amor é colocar as necessidades da outra pessoa à frente das suas. A mãe diz que ama o Killian, mas não o deixa ser feliz. Deixe-o ficar com a Alexia de uma vez por todas. A mãe sabe que eles vão ficar juntos de uma maneira ou outra. A questão aqui é saber se a mãe quer ficar ao lado do Killian ou contra ele.

A Rainha não disse mais nada. Apenas saiu dali deixando-me com a Selena. Quando a Rainha virou num dos corredores, corri para a Selena e abracei-a. Ela tinha-me defendido. Tal como Killian, ela enfrentou a mãe só para me defender.

—Obrigada Selena. A sério. – agradeci. A Selena abraçou-me ainda com mais força.

—Sabes que podes contar comigo para o que precisares. A minha mãe não vai vencer. Anda, vamos ter com a tua família. Quero conhecer os famosos David e Maria. Já para não falar da dona Maryanne. Eu nunca os cheguei a conhecer.

—É verdade. Vamos até eles.

Eu e Selena seguimos pelos corredores em busca da minha família. Genoveve tinha mencionado que eles estavam num quarto no mesmo andar que a família real. Tenho a certeza que isso foram ideias do Killian. Só ele para pensar numa coisa dessas.

—Xia. – chamou a minha irmã mal entramos no quarto – Princesa Selena. – sussurrou Maria, envergonhada.

—Querida podes tratar-me por Selena. – disse Selena agachando-se perto da minha irmã – Agora somos família.

A minha irmã sorriu e abraçou Selena. A Selena já tinha conquistado a minha família.

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Estávamos a ouvir a Selena a contar uma história da sua infância quando o Killian entrou. Ninguém deu conta, exceto eu. Eu era a única que estava virada para a porta. Killian pediu-me para não dizer nada.

—Naquele dia, eu estava triste. Eu queria brincar, mas não tinha ninguém para brincar comigo. Os meus pais mantinham o Killian ocupado, mesmo quando ele era muito novo. Também não tinha nenhum primo no palácio para brincar comigo. Para verem como eu estava, eu até fui ao pé da minha mãe para lhe pedir uma irmãzinha.

—E ela não disse que sim? – perguntou Maria inocentemente.

—Não. – respondeu Selena sorridente – Por isso fui para o jardim. Como eu disse, eu estava muito triste naquele dia. Mas de repente, o Killian apareceu vestido de menina.

—Ainda hoje me lembro das dores que tive nos pés por causa dos sapatos. – comentou Killian chamando a atenção de todos – Alexia, preciso de falar contigo.

Eu concordei e saí do quarto com ele. Ele segurou na minha mão e levou-me até ao seu quarto.

—A sério Killian? – perguntei olhando provocadoramente para ele.

—A menina Alexia anda com umas ideias muito bonitas. – brincou Killian, mexendo no meu cabelo – Eu só quero contar-te o que estive a falar com o meu pai.

Envergonhada, sentei-me na cama de Killian. Realmente a minha mente estava a levar-me para outros lados.

—E o que é que ele disse? – perguntei de cabeça baixa.

—Ele quer que eu faça um comunicado.

—Sobre o quê? – perguntei curiosa.

—Sobre tudo. Sobre o casamento com a Eva, sobre nós, sobre tudo.

—E tu estás preparado para isso? – perguntei a medo. Eu estava com receio que ele tivesse voltado atrás. Estava com receio que, de algum modo, o Rei o tivesse feito mudar de ideias.

—Desde que estejas ao meu lado, eu enfrento tudo.