Realeza em tanto

Capítulo 27


Eu estava chocada com o que a Rainha acabara de dizer. Era impossível. Será que Killian lhe contou? Não podia ser isso, ele ter-me-ia contado se o fosse fazer. Mas então como é que ela sabe? Será que ouvi mal?

–Como disse, Vossa Majestade? – perguntei para ter a certeza do que ouvira.

–Para além de sonsa também és surda? Pensavas que conseguias esconder isto por muito tempo? Lamento informar, minha querida, mas eu sei tudo o que se passa neste palácio. E se por momentos pensaste que ias mais além, estás muito enganada.

–Como assim mais longe?

–Vais dizer-me que te meteste com o meu filho porque gostas dele? Eu bem sei qual foi o teu motivo e esse foi o dinheiro e a fama.

–Isso é mentira! – exclamei – Eu e o seu filho gostamos um do outro. – acabei por confessar visto que não havia outra alternativa a não ser confirmar. Por isso tentei defender-me demonstrando que eu e Killian queríamos ficar juntos.

–Ele até se pode ter encantado contigo afinal tu és o fruto proibido mas tu? Tu não gostas dele, és simplesmente uma caça fortunas que aproveitaste a oportunidade de vires trabalhar para o palácio para o conquistares. Mas ainda bem que existem pessoas que sabem fazer o que é certo e denunciam estas coisas.

–E posso saber quem foi essa pessoa, Vossa Majestade? – perguntei tentando ao máximo não demonstrar o tom de ironia que a minha pergunta tinha.

–A tua colega de quarto, Alison Fields. – disse a Rainha vitoriosa. Já eu não conseguia acreditar. Para além de a Rainha ter descoberto ainda tinha de ser a Alison a contar? Mas era óbvio. Ela queria vingança. Vingança por eu ter estragado os planos dela de conquista ao príncipe. E aposto que ela ainda ficou com mais raiva quando descobriu que eu e o Killian estávamos juntos. Afinal eu tinha tudo o que ela sempre quis, o príncipe.

–Bom saber. E é bom saber mais ainda que Vossa Majestade julga muito mal as pessoas. Mas isso agora não importa, cada um tem a sua opinião. Mas aviso-lhe que não vou desistir do seu filho. – respondi determinada.

–Aí é que tu te enganas. O destino do meu filho já está traçado. Ele irá casar-se com a Eva.

–Se conhecesse o seu filho saberia que ele não quer isso. E como lhe disse, eu não vou desistir do Killian.

–Mas tu não tens alternativa, Alexia. Tu vais partir, vais voltar para casa.

–Eu já lhe disse, e volto a repetir, que não vou desistir do Killian. E, além do mais, ele nunca me deixaria partir. – disse confiante.

–A questão é que ele não vai saber que tu partiste, minha querida. Quando ele der conta, já tu estarás a quilómetros de distância. – disse a Rainha com um sorriso vitorioso.

–Mas serei eu própria a contar-lhe. Como lhe disse, Vossa Majestade, o Killian nunca me deixará partir.

–Alexia diz-me uma coisa. Como está a tua família? – perguntou a Rainha e eu olhei-a confusa. Não estava a perceber onde ela queria chegar com aquela pergunta. – Ouvi dizer que o teu pai não é uma pessoa lá muito amistosa.

Olhei para a Rainha incrédula. Não conseguia acreditar no que ouvira. Como é que ela soubera sobre a minha família? COMO? Eu olhava para ela sem qualquer tipo de emoção e a Rainha olhava para mim com um sorriso pervertido. Ela sabia que tinha tocado no meu ponto fraco. Ela sabia que eu, naquele momento, estava com todas as minhas defesas em baixo. Ela sabia que eu estava nas mãos dela e não tinha outra alternativa a não ser fazer o que ela queria. Desaparecer daqui. Desaparecer da vida de Killian.

–Como? – consegui perguntar.

–Já devias saber que eu consigo saber de tudo o que quero. – disse triunfante – E agora que tenho a tua total atenção vais ouvir tudo direitinho. Amanhã à noite abandonarás o palácio. Trabalharás durante o dia como se nada se tivesse passado. Farás tudo como eu disse. Se contas ao Killian ou se decidires que é com ele que queres ficar, eu arranjo uma maneira de a tua mãe ser presa e os teus irmãos ficam à guarda do teu pai…

Eu não ouvi o resto que a Rainha falara. Aliás, o que eu tinha ouvido já tinha sido suficiente. Apenas acenei em concordância com tudo o que ela disse e a Rainha sorriu vitoriosa.

Retirei-me. Caminhei até ao meu quarto. Quem passasse por mim acharia que eu era um zombie. Eu estava completamente sem expressão. E, aposto também, que estava completamente branca como se tivesse tido uma quebra de tensão.

Deitei-me e tentei dormir (coisa que não consegui). Eu juro que tentei mas foi impossível. Cada vez que fechava os olhos só via a minha mãe a ser levada pela guarda e os meus irmãos a ficarem à mercê do meu pai. E depois disso…depois disso só imaginava a morte. Era impossível não pensar nisto tudo. Era impossível não pensar na crueldade que a Rainha faria caso eu decidisse ficar com o Killian…

Ouço a Malia a levantar-se por isso já deve ser de manhã. Simplesmente não consegui dormir e cada vez que imaginava algum cenário do futuro acabava a chorar. Neste momento devo estar com os olhos inchados. Queria levantar-me mas simplesmente não tenho forças para isso. A minha vontade é nunca mais sair desta cama.

–Alexia. – chamou a Malia.

Eu fingi que não a ouvi. Não queria que ela visse a minha cara. Mas, como era de esperar, a Malia aproximou-se de mim para me acordar. Quando ela viu a minha cara bem tentou disfarçar a surpresa ao me ver assim mas simplesmente não conseguiu. Depois fez a última coisa que eu esperava. Saiu. Não percebi o porquê dela ter feito isso. Quer dizer, não percebi durante alguns minutos até ver Malia a voltar na companhia de Ethan.

–Pequena o que é que se passou? – perguntou Ethan preocupado.

Eu não consegui dizer nada pois corria o risco de voltar a chorar por isso só o abracei. Ethan retribuiu e não disse mais nada. Ele sabia que eu naquele momento só precisava de um abraço.

A porta abriu-se e por ela entrou Alison. Uma raiva cresceu dentro do meu peito, afinal tinha sido ela a contar à Rainha. Soltei-me de Ethan e corri até à Alison dando-lhe um estalo. Mas ela, ao contrário do que eu esperava, começou a rir-se. Dava-lhe gosto ver-me assim. Eu queria saltar para cima dela e acabar com aquele sorriso cínico mas fui impedida pelo Ethan.

–És uma cabra! Invejosa! – gritei.

–Eu disse-te que me vingaria.– disse Alison dirigindo-se até à porta mas antes de sair ainda se voltou para trás – Aproveita o teu último dia que eu vou aproveitar o príncipe nos próximos.

A minha raiva aumentou ainda mais e só me apetecia ir atrás daquela loira oxigenada. Mas claro que fui impedida pelo Ethan. Ele continuava a segurar-me para que eu não cometesse nenhuma loucura.

–Agora é que me vais contar tudo o que aconteceu, pequena.

Eu sabia que não tinha alternativa. E eu também não queria ter alternativa, eu sabia que precisava de desabafar. Despejei toda a história sem conseguir conter mais algumas lágrimas pelo meio. A cada palavra que eu dizia, Ethan ficava mais surpreso. Tal como eu, também Ethan nunca imaginara que a Rainha teria coragem para fazer uma crueldade como aquela que ela ameaçou fazer.

Antes de me despedir de Ethan e começar mais um dia de trabalho, pedi a Ethan para entregar um bilhete meu ao Killian. Eu precisava de o ver. Eu precisava de me despedir mesmo ele não sabendo que eu ia embora.

Durante o dia, fiz todas as atividades que tinha programadas para aquele dia (um pouco menos porque a Selena estava na ala hospitalar). Mas ao contrário dos outros dias, naquele dia eu agia como um robô. Tudo o que eu fazia era em modo automático. Era como se o meu corpo estivesse a fazer aquele trabalho todo mas a minha mente estivesse noutro sítio, mais precisamente em Killian.

Depois de todas as tarefas e antes de me ir encontrar com Killian, fui visitar Selena. Ela era outra das pessoas que eu precisava de me despedir sem ela saber. Disse-lhe tudo. Disse-lhe que estava muito feliz pelo relacionamento dela com o príncipe Adam e que esperava que ela melhorasse rapidamente.

Por fim vou ter com Killian. Estou muito ansiosa com este encontro, o último. Só espero que não comece a chorar descontroladamente ou algo do género. O Killian não pode descobrir.

Como era esperado, era Ethan o guarda que estava ali naquele momento. Agradeci-lhe antes de entrar.

Killian estava distraído a ler uns papéis. Aproximei-me silenciosamente. Ele nem reparou que eu tinha entrado. Aproximei os meus lábios do seu pescoço e depositei um singelo beijo nele. Rapidamente, Killian voltou-se para mim e sorriu. E eu só pensava que aquela seria a última vez que via Killian sorrir para mim. Sem pensar, puxei a sua gravata de modo que ele ficou de pé em frente a mim. Depois, comecei a beijá-lo desesperadamente. Entre os beijos, tirei-lhe rapidamente a gravata e a camisa. Killian afastou os seus lábios dos meus por breves instantes.

–Calma. – disse Killian dando-me um sorriso como aqueles que só ele sabe dar.

–Killian, eu preciso de ti. Agora! – pedi. Podia notar-se o desespero na minha voz.

–Tens a certeza? – perguntou Killian.

–Nunca tive tanta certeza na vida. – disse empurrando-o para cima da cama. Tirei a blusa e deitei-me em cima dele voltando a beijá-lo.

Killian acabara por adormecer. Sim, nós fizemos amor e posso dizer que não me arrependo num só instante. Eu precisava de me despedir dele. Eu precisava dele…

Levantei-me sem fazer barulho. Vesti-me e dirigi-me à sua secretária. Eu precisava de me despedir, precisava de lhe escrever uma carta a contar o porquê de me ir embora. E foi o que eu fiz. Peguei numa caneta e num papel que Killian tinha na secretária e comecei a escrever.

“Killian, eu nem sei por onde começar. Tu, mais do que ninguém, sabes que eu sou péssima com palavras. Muitas vezes me viste reagir através de atos porque não me conseguia exprimir com palavras. Mas mesmo assim nunca me criticaste porque sabias que essa era a minha forma de demonstrar o meu amor por ti. Porque sim, eu amo-te, podes acreditar. Desculpa não te ter dito isto quando disseste que me amavas mas essa foi uma daquelas situações em que eu não sabia o que fazer e por isso reagi como reagi. Mas posso dizer-te que agora me arrependo de não o ter dito pessoalmente porque sei que não vou ter outra oportunidade. Porque sim, eu não vou ter outra oportunidade para te dizer isto. Ontem à noite foi a última vez que te vi. Deves estar a perguntar-te o porquê de ontem ter sido a nossa última noite junta e o porquê de eu ter escrito uma carta. Eu darei as respostas. Porque tu, mais do que ninguém, mereces saber a verdade.

Eu voltei para casa. E eu quero que saibas a verdadeira razão porque como disse anteriormente tu mereces a verdade. A tua mãe descobriu sobre nós. Eu sei que tu andavas a prepará-la para quando achasses o momento certo mas ela descobriu antes disso. Sinceramente, eu acho que ela nunca nos aceitaria juntos, arranjaria sempre uma forma de nos separar como fez neste caso.

A tua mãe descobriu sobre a minha família. Não me perguntes como mas ela descobriu tudo o que o meu pai faz connosco. Ela disse que, se eu não desistisse de ti, arranjaria uma maneira de que a minha mãe fosse presa e assim o meu pai ficaria com a custódia dos meus irmãos. Tu sabes que eu te amo, mas também amo a minha família e não podia permitir que uma coisa dessas fosse acontecer. Eles são a razão de eu ter vindo para o palácio. Eles são a minha razão de viver. Eu por eles virava o mundo de pernas para o ar. E por isso não tive escolha. Era entre a minha felicidade e a salvação da minha família. Desculpa, eu não queria estragar todos os nossos sonhos.

Segue com a tua vida assim como eu seguirei com a mim. Pelo menos vou tentar. O certo a fazeres é casares com a princesa Eva. Isso é o que a tua mãe quer. E nós dois sabemos que se a tua mãe quer não temos outra alternativa a não ser aceitar. Espero que, apesar de tudo, sejas feliz.

Espero que nunca te esqueças de mim assim como eu nunca me esquecerei de ti. Porque tu foste o amor da minha vida. Porque, apesar de curta a nossa história, é a mais bonita história de amor que conheço. Só te peço que nunca me esqueças…

PS: Não digas à tua mãe que te deixei uma carta nem tentes ir contra ela. Tenho receio do que possa acontecer com a minha família.

Com amor,

Alexia