- Capítulo 1;

Acabamos de desfazer a última caixa agora. Graças a Deus acabou. Deixe-me fazer as apresentações: Ludmila é a minha mãe, é morena, cabelos castanhos com olhos negros. Ainda tem um corpinho de 16 anos. Meu pai é o Lúcio, ele é loiro dos olhos azuis, branquinho, mas forte. Eu puxei uma parte de cada, tenho o corpo de minha mãe, os cabelos claros, mas a pele do meu pai. Meus olhos são cor de mel. Nome completo? Marina Castros Martinis. Estado Civil? Forever Alone. Amigas? Em um país meio longe daqui!

A minha família é classe alta e moramos aqui em Paris. Tem um bairro que fala português aqui... Eu vou estudar em um internato a mais ou menos 2h de Paris. Acho que meus pais não devem suportar mais ver a sua filha de 16 anos horrível em casa, pelo menos é o que eles parecem demonstrar. Dia 5 de Janeiro eu vou pra esse tal Internato. Ser a “menina isolada” de novo. Minha mãe me prometeu que nós iríamos ver o Ano Novo lá em cima da Torre Eiffel:

- Filha nós vamos lá na Torre Eiffel no ano novo. Guardo as nossas entradas desde que soubemos que viríamos para cá.

Minha reação: Êêêêh! – Irônia detectada.

Agora, estou exatamente no quarto de hóspedes dessa casa, meus pais me amam tanto que nem fizeram um quarto pra mim... Peguei as malas e comecei a fazê-las. Desempacotando e arrumando. Deixei nas gavetas apenas as roupas que usarei esta semana. Peguei meu notebook e entrei no MSN. Uma amiga minha estava on, era a Melanie.

Mel D. diz:

Oi Máh. Como vai aí em Paris?

Máh C. diz:

Oi Mel. Se você acha que definir tudo bem é: está em uma cidade desconhecida, sem amigos, sem saber falar francês e seus pais te odeiam, é eu estou no paraíso.

Mel D. diz:

Pooxa amg ://

Queria que você estivesse aqui.

Máh C. diz:

Eu também queria estar aí.

Mel D. diz:

Amg tenho que ir. Namorado ligando ;p

xau, te adoro s2

Máh C. diz:

Sorte sua de ter alguém te ligando.

xau, tbém.

- Mel D. está off-line –

Eu não ia aguentar ficar aqui em casa, principalmente quando tem pessoas que não gostam de você. Vou sair pela cidade... Tomei um banho demorado, escovei os dentes com dificuldade por causa do aparelho, ainda não peguei a manha disso. Penteei meus cabelos, coloquei os óculos. Peguei um suéter amarelinho, uma camisa social branca por baixo. Uma calça jeans e um casaco longo. Peguei a minha bolsa coloquei meu notebook, celular e câmera dentro. Fiz um coque bagunçado.

- Tô saindo – Falei e bati a porta da frente.

Regrinhas básicas dessa cidade: pode dirigir a partir dos 16 anos, baladas a partir dos 15. Mas eu não curti muito a parte da balada. Como eu sei que meus pais fazem tudo pra me ver calada eu insisti por dois anos, para eles me comprarem um carro e assim foi feito.

Uma dúvida que não deve está saindo da cabeça de vocês: POR QUE SEUS PAIS TE ODEIAM? Se eles odeiam ou não eu não sei, mas eles demonstram. Eu fui do tipo uma gravidez acidental e a minha avó insistiu que minha mãe não fizesse o aborto. Acho que eles têm raiva ou coisa do tipo...

Peguei meu carro e fui dirigindo por aí. Passei em frente a uma cafeteria, decidi parar por ali, lá tinha wi-fi. Entrei e o cardápio estava em francês, droga! Peguei meu notebook, mas não foi muito necessário, um garçom jovem, devia ter a minha idade, chegou quando eu estava tirando ele da bolsa.

- Bonjour, Miss’d comme quelque chose sur le menu? – Seu sotaque era lindo.

- Olha me desculpe. Não sei se vai me entender, mas não entendi nada do que você disse.

- Então a senhorita não fala francês?

- Graças a Deus! Que bom que ouviu as minhas preces – Olhei pra ele – Bem, não falo. Sou do Brasil.

- De que lugar?

- Do Rio.

- Ótimo, achei uma carioca que nem eu!

- Ótimo – repeti.

- Bem, o que eu disse em francês foi: “Bom dia, a senhorita gostaria de algo do cardápio?”

- Querer eu quero, mas não entendo uma palavra disso – Apontei por cardápio – Mas aqui tem um chocolate quente grande com chantilly?

- Sim, senhorita. Vou pegar.

- Só mais uma coisa – Ele me olhou – Tira esse senhorita, por favor.

Ele só riu e foi para o balcão fazer os pedidos. Ele era branquinho, cabelos claros, olhos claros e usava óculos. Estava hipnotizada por ele até que escuto alguém falando.

- Hm. Aqui seu pedido – Ele ia saindo, mas parou deu meia volta – Você vai fazer alguma coisa lá pelas 20h?

- Pera que eu vou olhar na minha agenda – Ele riu – Não, não.

- A gente poderia ir ao cinema, como amigos. Para nos conhecermos, antes de eu ir.

- Vai embora?

- Vou para o internato. Meus avôs não estão conseguindo se sustentar então vou dar um tempo a eles.

- Qual o nome?

- Sei não, mas é um que só tem gente americana, brasileira... Tudo menos franceses. Quer dizer, têm alguns...

- Acho que eu vou pra esse também... É um que fica mais ou menos 2h daqui de Paris?

- Esse mesmo, você vai também? – Fiz que sim com a cabeça – Ótimo, pelo menos vou conhecer duas pessoas. Mas então hoje às 20h no cinema?

- Claro! Eu vou indo, tenho alguns lugares para conhecer.

- Bom... Posso te mostrar uma parte. Acho que você não vai conseguir conhecer muita coisa.

- Por quê?

- Você não fala francês.

- Não zombe de mim. Um dia eu aprendo. Mas mesmo assim, eu tenho que ir.

- Certo – Eu ia saindo e ele me alcançou – Só esquecemos de uma apresentação básica.

- Hã?

- Sou Murilo – Ele estendeu a mão.

- Marina – A peguei.