Após aquele conhecido nome ecoar entre as árvores do acampamento, o mundo congelou. Will mantinha o olhar fixo em um ponto da árvore e seu punho se fechava com força enquanto seu cérebro processava o que acontecia. O ar parecia se tornar rarefeito e tudo em sua volta distanciava-se lentamente, até que a doce voz de sua namorada o trouxe de volta à realidade.

– Will... – A menina tremia e suava frio.

O arqueiro buscou o que restava de suas forças para conseguir manter a confiança em sua voz.

– Alyss, vamos ficar em silêncio. – O garoto ainda tinha o coração disparado e adrenalina em suas veias, porém não podia demonstrar seu nervosismo para a mensageira, ou ela poderia surtar e revelar sua localização.

Foi Crowley que quebrou o silêncio.

– Bom, é claro que estamos providenciando para que Will esteja na maior proteção possível. Não iremos perder ninguém, mas de qualquer forma, gostaria de pedir que todos fiquem atentos.

Houveram murmúrios e discussões à parte entre os membros da corporação, com isto Crowley pôs fim a reunião e retornou à sua tenda.

– Will... – Era Alyss novamente, parecia estar prestes a se desfazer em lágrimas – Precisamos fazer alguma coisa! Isso parece perigoso... E se ele te encontrar? O que você vai fazer?! – A menina já não estava mais sussurrando, à medida que ficava nervosa falava cada vez mais alto. O arqueiro virou-se e segurou a mensageira pelos ombros.

– Alyss, se acalme, eu fui trein...

– Não! – Interrompeu – Você não foi treinado para enfrentar esse tipo de assassino! – As lágrimas já haviam começado a escorrer dos olhos da garota.

– Não fui...? Qual você acha que é a minha função? Atirar em alvos de árvore pra sempre? – Alyss balançava a cabeça em negativa.

– Mas você é um aprendiz...eu... eu não quero te perder assim! – A garota balbuciava palavras sem sentido entre lágrimas e falava gradativamente mais alto, chamava cada vez mais atenção, foi apenas então, em um ato de desespero que Will puxou Alyss e a beijou.

Se beijaram por um longo tempo, aquela havia sido a única ferramenta que o arqueiro tinha em mãos para acalmar e silenciar Alyss, e teria durado mais se uma voz séria e autoritária não tivesse interrompido.

– Eu não queria atrapalhar vocês dois mas... – Era um homem baixo, com uma barba rala prateada, e sustentava um olhar sério que Will conhecia muito bem. Era Halt. - Essa reunião é particular.

– Halt! – A menina exclamou com o rosto corado e uma expressão de nervosismo. – Desculpe por isso, nós...eu...

– Foi minha culpa. – Will interrompeu.

– Eu imaginei. – Halt retrucou enquanto levantava a sobrancelha e bufava. – Quer dizer que agora você não respeita as ordens da corporação?

– E desde quando a corporação esconde informações de mim? – Inconscientemente, Will levantou a sobrancelha da mesma forma que Halt fazia quando estava furioso.

O arqueiro mais velho cruzou os braços e franziu o cenho.

– Vocês dois, venham comigo. – Deu de costas e seguiu em direção ao acampamento. Alyss e Will foram logo atrás.

Ao entrarem no campo de visão de todos os presentes, os olhares pousaram no jovem aprendiz. Alguns sussurravam e demonstravam diferentes reações, a maioria eram de medo. Aquilo realmente incomodava Will, odiava ser o centro das atenções, porém, sua mente se tranquilizou ao ver Gilan se aproximar rapidamente do grupo com um sorriso no rosto.

– Will! Não esperava te ver aqui hoje, já faz tempo que não nos vemos.

–Gil...É bom te ver também – Respondeu o garoto esboçando um sorriso.

–Gilan – Interrompeu Halt – Eu preciso lhe pedir um favor.

O rapaz se colocou de prontidão e alargou ainda mais o sorriso em seu rosto.

– Claro! O que houve?

– Preciso que acompanhe Alyss até Araluen para que ela volte em segurança.

– Será uma honra. – O rapaz indicou em um gesto para que a menina seguisse em frente. – Milady...

A garota abraçou Will rapidamente, fez uma referência para Halt e seguiu com Gilan em direção à trilha que ia para fora do acampamento. Halt voltou-se para sua tenda e o aprendiz sabia que deveria segui-lo, assim o fez.

Apenas quando os dois estavam lá dentro, o arqueiro mais velho decidiu começar a falar.

– O que você estava pensando? – Halt tinha uma expressão indignada. – Mandamos uma mensagem bem simples para você.

– Simples?! – Era a vez de Will carregar os traços de indignação. – Vocês me mandaram uma carta, com uma ordem, sem justificativa nenhuma! Como isso pode ser simples? Afinal, o que vocês pretendiam? Me deixar no escuro?

– Eu pretendia lhe contar da maneira correta. Por Deus, Will, você é quase um arqueiro formado, eu esperava mais de você.

– Halt, a minha intenção nunca foi contrariar suas ordens. Eu só preciso que você entenda que eu já não sou nenhuma criança, posso receber uma notícia normalmente, como todos que estão aqui.

O arqueiro mais velho levou as mãos ao rosto enquanto tentava manter seus pensamentos em ordem.

– Will, o que estamos lidando aqui não é pouca coisa, Henry é um arqueiro extremamente habilidoso.

– E um tanto convencido, não? – Halt apenas respondeu com um olhar confuso, e então o rapaz se explicou. – Achou que era talentoso o suficiente para te vencer em uma batalha. – Foi então que seu Mestre hesitou em responder.

– Ele ia me vencer, Will. – O arqueiro mais velho agora mantinha seu olhar no chão com um semblante de lamentação – Eu só não morri naquele dia, por que Crowley apareceu e intercedeu.

Will não podia acreditar no que escutava. “Como um aprendiz poderia ser capaz de vencer Halt em uma batalha?!”.

– Crowley? Mas... como que...

– Apenas tente imaginar – Halt interrompeu. – Se a minha nova missão fosse eliminar você, Will, acha que eu conseguiria? – O garoto ficou em silêncio ao entender o que seu mestre dizia. – Exatamente. Até hoje nunca entendi o motivo de Henry ter se revoltado daquela forma, e agora não importa. – O arqueiro ergueu seu olhar para conseguir encarar o aprendiz. – O que me interessa é te proteger. Portanto, estaremos juntos na próxima missão.

– Próxima missão?

– Eu e você voltaremos à Riverwood e vamos procurar por sinais de algum possível lugar que Henry possa estar. Precisamos dar um fim nisso.

– Ir de encontro ao cara que quer me matar. – Will encarou seu mestre com um sorriso se formando no rosto. – Nada mais sensato.

– Não queira entender a lógica de Crowley ao mandar nós dois. – Ambos trocaram risadas sutis até que Halt continuou. – Volte pra Araluen e se prepare para partir, sairemos em dois dias.

Will assentiu e seguiu para se retirar da tenda até ouvir a voz de seu mestre novamente.

– ... E garoto! – O aprendiz de virou, atento. – É bom te ver de novo.