Raios De Luz

Encontrando a Luz


Falkon colocou a caixa entre as minhas mãos e me disse para abri-la. Obedeci, não tive como hesitar, estava curiosa demais. Abri a caixa e dentro dela tinha uma pedra transparente e brilhante. Ela era menor que a minha palma, mas parecia se encaixar perfeitamente na minha mão.

Tive que testar, mas quando meus dedos tocaram nela, senti um formigamento que subiu pelo meu braço e se espalhou para o meu corpo em questão de segundos, deixando minha visão turva e meus ouvidos paralisados, que parecia ter afetado meu sangue, ele parecia não circular mais. Eu não tinha controle do meu corpo.

- Fox! Fox! Responde! O que aconteceu?! – Ouvi a sua voz ao longe.

Falkon estava na minha frente, ele estava sem me tocar, sua voz parecia preocupada, mas eu só via borrões dele. Queria sinalizar para ele o que estava acontecendo, mas eu não conseguia me mexer, e o formigamento já estava doendo e eu queria deitar. E a pior parte veio: a cegueira provocada pela luz.

Eu conseguia ver tudo. Mas tudo estava claro demais. Eu me sentia energizada como nunca e tinha consciência da força que tinha, me sentia ótima, apesar das novas cores.

Minha pupila parecia dilatada, o que significava que meus olhos estavam assustadores, um pequeno arco azul envolta da grande esfera preta.

- Você está bem?

Falkon estava preocupado, ele tocou a minha mão e foi ai que eu senti algo. Algo muito forte, bem mais forte que o que senti quando toquei aquela pedra. Não. Isso era bom, era um formigamento ótimo que me faria até rir se eu não tivesse tão assustada. Ele me deu calafrios, aquele pequeno toque. Falkon parecia sentir o mesmo, parecia estar sentindo mais do que eu. Quando minha onda de calor acabou, Falkon estava deitado no chão, tendo alguns calafrios com os olhos fechados.

Ele abriu seus olhos depois de um tempo e olhou para sua mão que estava envolvida pela sua mão esquerda. Ficamos olhando nossas mãos durante um bom tempo, até eu dizer:

- Você... Sentiu isso? – Falei com dificuldade, ainda sentindo alguns calafrios.

- Sim... – A voz de Falkon saiu fraca.

- Incrível... – Ele disse.

Ficamos mais um tempo sentados, nos observando.

Eu já tinha soltado a pedra na caixa há muito tempo.

- Agora parece um bom momento para o contrato.

Falkon sentou-se ao meu lado, virado para mim.

- Parece.

Não hesitei, não pensei. Ele parecia um pouco tenso, mas ansioso para sentir aquela tremedeira.

- Vou fazer com carinho.

Não entedia o porquê de ele estar sendo tão cuidadoso, mas assenti de qualquer forma, pois queria sentir aquilo nos meus lábios, eu queria os lábios dele sobre os meus. Parecia... Certo.

Falkon aproximou seu rosto, suas mãos na frente de seu corpo, como as minhas. Estávamos prontos para pegar a mão um do outro, mas pensamos ao mesmo tempo, não queríamos distrair aquele calor que iriamos nos proporcionar. Então deixamos as nossas mãos estendidas. Estávamos muito perto um do outro agora, ele podia sentir minha respiração e eu a dele, fazendo os fios do meu cabelo que estavam jogados perto dele, balançarem. Nossos olhos estavam fixos um no outro, meus olhos ainda estavam grandes, dilatados, mas eles se fecharam quando seus lábios tocaram os meus, fomos atingidos novamente pela onda de calafrios, formigamento e transe.

Eu não conseguia me concentrar em nada além do que eu estava sentindo.

Falk gemeu quando eu pressionei meus lábios com mais forças nos dele. Não me controlei e segurei suas mãos, sendo retribuída com a força dele e a onda intensa.

Me afastei, sem querer que aquilo nos levasse a nada mais.

Estávamos os dois arfando, eu tinha caído para trás assim como ele. Eu me senti tonta, mas era bom. Acho que se eu me drogasse seria mais ou menos assim, sempre querendo mais, sempre insatisfeita, mas quando acontecesse, sempre tendo uma onda incrível.

Me recuperei primeiro, fiquei olhando Falk. Ele estava tendo alguns espasmos, mas parecia muito bem. Toquei em meus lábios e um pouco daquele transe voltou, como um resto de veneno. Apesar de ser em um lugar diferente e mais sensível, dessa vez foi diferente. Era como se eu sentisse outra pessoa enquanto eu tinha o meu prazer também. Sei que parece difícil de entender, mas eu sentia outra pessoa sentindo aquelas vibrações, de um jeito diferente.

- Isso foi incrível! – Falkon desarrumava seu cabelo sem olhar para mim.

Ele estava na ponta do sofá inclinado para frente, sua cabeça quase apoiada em seus joelhos.

- Eu quero tentar de novo.

Ele olhou para mim e se inclinou.

- Não!

Rapidamente, eu estava do outro lado da sala. Ele se assustou com a minha velocidade.

- Você não quer?

Ele se levantou e veio até mim, ficando bem perto.

- Não serei seu brinquedinho.

Ele me ignorou.

- Parece que eu senti mais que você.

- Talvez por que fechamos o contrato, isso também significa que deu certo, e você que tem maior probabilidade de morrer...

- Não... – Falkon descartou minha ideia – Nos tocamos antes.

- A pedra...

Falkon olhou para mim.

- Seus olhos... Estão enormes... Os meus estão assim?

Falkon segurou minha cabeça com as duas mãos e a levantou para ele, para que eu olhasse seus olhos. Sua pele era impedida de tocar a minha totalmente graças ao meu cabelo, mas eu senti tudo, quando ele só sentiu um pouco. Senti a onda de vibrações me chacoalhando e me deixando bamba, meus olhos foram fechados, pesados. Se ele não tivesse segurado minha coluna, eu teria caído. Mas seu braço tocou o meu e ele também foi impulsionado por aqueles choques, nos dois caímos no chão. Ajoelhados e Falk com seus braços ao redor da minha cintura, eu parecia estar sendo eletrocutada, mas era incrivelmente bom. Dessa vez eu ri. Senti novamente a energia de outra pessoa.

Consegui nos afastar e Falkon ficou de quatro no chão arfando.

- Seus olhos não estão assim... – Consegui falar.

- Temos que aprender a administrar isso.

- Você já ouviu falar disso?

Estávamos sentados no chão, eu estava abraçando meus joelhos e Falk estava com as pernas cruzadas uma sobre a outra.

- Não, mas também nunca ouvi de um caçador virar guardião.

- Talvez seja isso, talvez essa seja a punição...

- Ondas de puro prazer? – Falk me interrompeu. – Além de que como eu disse, o contrato veio depois.

- Você também se sente assim? Digo, as ondas de prazer...

- Sim. – Ele balançou as pernas.

- Eu me sinto tão... Poderosa! – Flexionei as mãos em frente do meu rosto.

- Eu também!

- É como se eu pudesse correr 20 km sem parar!

- Sim! Como se eu pudesse ficar meses sem dormir e sem comer.

Paramos de falar, lembrando o choque que causamos um ao outro.

Falk levantou a cabeça e me olhou nos olhos.

- Deixe-me ver os seus olhos. – Falkon estendeu seus braços.

Me aproximei cautelosamente, com cuidado para ele não me tocar. Ele tinha entendido que ele era imune ao contato onde havia cabelo, mas não eu.

Falk segurou minha cabeça e a levantou. Ele quase não me tocava, mas mesmo assim eu sentia e tentei não fechar os olhos.

- Isso é um pouco assustador. Você não esta com vontade de me matar, né?

- Não, pelo contrário. – Essa frase saiu voando da minha boca.

Mas felizmente só fez Falk rir.

- Como está? – Perguntei.

- Parece que quanto mais prazer você sente, mas suas pupilas aumentam e cobrem seus olhos.

Falkon demostrava para si mesmo tocando mais a minha cabeça e fazendo minhas pupilas aumentarem e diminuírem.

- Será que isso vai passar?

- Vai, com certeza.

Falkon observou meu rosto.

- Nada mais mudou. Você só parece... – Falk parecia estar escolhendo a palavra certa – Mais brilhante.

Ele tirou as mãos da minha cabeça e a pequena onda de prazer passou.

- Deixe-me tentar algo...

Falk parecia disposto a tentar de tudo.

Estendi minha mão para seu rosto e passei meus dedos por sua face sem encostar em sua pele, mas eu podia sentir a energia pulsando, eu estava sentindo os arrepios e ele parecia sentir também porque suspirou gravemente.

- Isso é muito bom.

- Temos que fazer isso parar, você está sentindo que está diminuindo?

- Parar...? Bom, eu sinto que a primeira vez foi mais potente do que as outras... Tirando o... Beijo.

- Sim, o beijo realmente conduziu muito mais.

Fiquei encabulada e vermelha.

- Como eu vou te proteger se cada vez que te tocar sentirmos algo tão forte?

- Temos que treinar isso, para diminuir.

- Mas não acabar.

- Não, não quero que acabe. – Respondi rápido.

Falk entendeu errado, ele riu.

- Parece que sou seu guardião agora.

- É, parece que sim.

- Legal... – A criança voltou.

Ri dele.

- Acho melhor dormimos, seus olhos já estão voltando ao normal.

- Não antes de você me dizer o que é aquela pedra.

Levantei e peguei a caixa com a pedra, voltei a me sentar em frente à Falk.

- Isso é o seu foco.

- Meu foco? Pensei que meu foco fosse algo menos físico...

- Isso é o que o seu foco representa: a Luz. – Falk pegou a pedra. – Vê como brilha? É isso que você é você simboliza a Luz, a pureza.

- E como eu uso isso? Eu sinto que tenho muito poder, sei o que sou capaz, mas não sei usar.

- Na noite você não tem muito efeito, os raios solares não são muito ativos através da lua, mas você ainda conserva algo.

Falk colocou a pedra de volta.

- Você é como uma flor... Sem Luz você morre, a única diferença é que sem você a Luz morre.

- O-O que?

- Digo, simbolicamente... A sua família é a Luz, por isso que não podem acabar.

Lembrei quando Falk me caçou no bosque em frente à casa, quando ele disse que minha família tinha a audácia de continuar a geração.

- E porque você dizia que tinham que acabar?

- Por que eu não entendia. Eu estudei durante 22 horas e descobri que estava errado, sei que parece muito de repente, mas é verdade.

- E porque esconderam isso de você?

- Eles queriam que eu te caçasse, se me dissessem que para o mundo existir sua família precisava existir também... No início de tudo, quando os caçadores souberam disso, te deixaram em paz, a sua família.

“Mas não a minha família. Eles ainda tinham ressentimentos, queriam vingança então me prepararam para ser seu caçador, estava predestinado – como sempre tem que estar – que você morreria pelas minhas mãos. Todo foco tem só um caçador, que tem dons também, aqueles caçadores que são escolhidos depois não tem nada.”

“Sua família tinha decidido deixar só os necessários vivos, pois a mistura genética de um foco de Luz e outro foco dava algo... Maravilhoso demais para o mundo humano, eles eram caçados e mortos sem remorso. Por isso disse aquelas coisas para você, mas me deixei esquecer que você não é fruto de dois focos, e sim de um foco e de um humano, o que deixa as coisas melhores.”

- Isso quer dizer que não sou tão maravilhosa assim.

- Na verdade é muito pior, seu cheiro é bem mais forte, mas a sua gravidade de problemas é diferente de a de um foco de Luz e outro foco.

Ficamos calados, eu absorvendo a ideia de que minha família tinha parado de reproduzir, pois eles eram poderosos demais. “Apenas os necessários”, Falk dissera.

- E se me matarem?

- Eu não vou deixar.