Daisy

Eu saí de casa correndo, tropeçando em tudo que estava na minha frente e quase dando de cara com a porta de vidro da sala.

Eu ia me atrasar. Só tinha vinte minutos.

Peguei minha bicicleta e pedalei o mais rápido que pude, sem perder o ritmo nas subidas. Com certeza perdi uns quilos ali.

Atravessei toda a maldita cidade na Monark, suando e praguejando contra aquelas quatro pragas que exigiam que eu estivesse no estúdio em tão pouco tempo. Estava com muita raiva deles, muita mesmo.

"Nós temos uma surpresa incrível.", "Nos encontre no estúdio em meia hora", "Nem um minuto depois.".

Para eles era fácil, bastava se jogarem da sacada do hotel que os fãs os carregavam nos braços até lá. Mas eu sou uma pessoa normal e, por mais que adorasse a sensação dos meus cabelos ao vento, nada compensaria a ardência que sentia nas minhas pernas.

Quando cheguei à frente do estúdio, toda melada de suor e já sem aguentar o Sol que batia contra o topo da minha cabeça (que já estava quase fritando, devo acrescentar) , entrei batendo os pés.

—Aqueles meninos vão ver só - disse para mim mesma, cumprimentando a recepcionista e indo até a sala deles.

Abria-a e os encontrei, já com os instrumentos no colo, sorrindo como se me escondessem algum segredo.

—Chegou, finalmente. - Ringo teve a coragem de proferir.

Lhe lancei um olhar de fúria, o fazendo dar risada.

— O que é tão importante não puderam esperar que eu pegasse um táxi? -inquiri.

—Nossa Ziza, você está um caco, tá tudo bem? - George parecia realmente preocupado. Que graça, né? Nem parece que me fez atravessar o mundo pedalando debaixo do Sol quente.

— Claro que está tudo bem, só passei a maior barra naquela maldita bicicleta. Estou tão bem que nem estou, de tão bem que estou. - Quase travei a língua.

—Isso aí Daisy, andar de bicicleta faz bem para você e para o mundo. - John levantou o polegar e sorriu para mim.

—Ótimo, eu sou um amor com a mãe natureza. Agora, por favor, me digam porque me arrancaram da cama com tanta pressa hoje!

Eles estavam estranhos, dando aqueles sorrisos de segredo e olhando um para o outro, pareciam estar me enrolando.

—Ah, sim. Vamos mostrar para ela, pessoal! - Paul já saiu levantando. - Essa se chama: Here Comes The Sun.

Tos assumiram seus lugares nos instrumentos. Ringo jogou as baquetas no ar, e eu só conseguia pensar: "FOI PARA ISSO QUE ME CHAMARAM AQUI, UMA MÚSICA NOVA? SÓ PODE SER BRINCADEIRA."

Então George começou a cantar e eu prestei atenção na letra. Entedi o porquê dos sorrisos, da pressa e da enrolação.

Aquilo era para mim. Eu era apelidada de Raio De Sol entre nós. Podia entender qual era a mensagem da música, ela havia sido feita para mim.

Eu lembrei que era meu aniversário, e o quanto isso normalmente não importava para mim e comecei a chorar.