George

Eu e a Ziza nos conhecemos desde que nos entendemos por gente. Ela se mudou para a casa em frente a minha quando éramos muito pequenos, e a partir daí nossas mães nos abrigaram a ser amigos.

Eu era dois anos mais velho que ela, mas sempre parecia o contrário. Sempre fora muito madura e tivera uma personalidade forte, embora eu preferisse dizer que ela era mandona.

Claro que fomos parar na mesma escola, onde eu cuidava dela como um irmão mais velho, a defendendo de tudo como se fosse de porcelana. Inclusive, ela estava lá quando conheci Paul no ônibus.

Quando ela ia na minha casa, combinávamos de alternar as músicas, cada um escolhia uma. Pouco a pouco fomos descobrindo e compartilhando nossa paixão pelos instrumentos, mas ela preferia a música clássica.

Quando fez oito anos, sua mãe deixou que fizesse aulas de violino e conseguiu convencer a minha a me deixar fazer de violão.

Três anos depois, quando eu já sabia tocar incrivelmente bem, ela fez por mim algo que nunca vou esquecer.

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— George! Daisy está na porta! - Minha mãe gritou e eu desci as escadas correndo.

Abri a porta e ela estava toda enrolada em casacos grossos, me observando como se eu fosse o ser humano mais cruel do mundo. Ao seu lado estava um embrulho gigante e a caixa de seu violino, que ela colocou debaixo dos braços ao entrar.

—Por que demorou tanto? Achei que ia morrer ali.

—Desculpa - ri. -Vim o mais rápido que pude.

—Uhum, sei. - Me lançou um olhar torto. -Aqui, feliz aniversário.

Ela me entregou o embrulho azul com um laço vermelho.

— O que é?

—Abra de uma vez e descubra, bobão.

Nós nos sentamos perto da lareira, no chão, e eu comecei a abri-lo.

Fui desembrulhando aos poucos, tentando não criar muitas expectativas. Isso foi quase impossível quando tirei todo o papel azulado e percebi que a caixa tinha o formato perfeito de...

—UMA GUITARRA! NÃO, ISSO É MENTIRA! É brincadeira, né Ziza? Você não está me dando uma...Não, não pode ser.

—Parabéns! - Ela riu e me deu um tapinha no ombro, pegando seu violino. - Por que não tenta afinar?

Nós passamos toda a tarde e um bom pedaço da noite tocando. Ela com suas partituras e eu tentando aplicar o que já sabia de violão na guitarra. Um tentava ajudar o outro, sempre foi assim com a gente.

Vê-la tão concentrada na música era lindo e eu vou estar mentindo se disser que o meu eu de treze anos, cheio de espinhas e com meus tênis surrados, não tivesse uma quedinha pela linda Daisy de onze anos, com um aspecto angelical e longos cabelos caramelo.

Foi o melhor aniversário da minha vida e, alguns anos depois eu descobri que ela guardara dinheiro por quase um ano inteiro para me comprar aquele presente. Não sei se por causa da lembranças ou por ela ter se esforçado tanto, guardei a guitarra com carinho mesmo depois que já não a usava mais.

Naquele dia frio, ela foi o meu Sol.