Na sexta-feira, Mônica acordou não com seu despertador, mas com mensagens de suas novas amigas perguntando se iria ou não para a festa. Tomou um banho e respondia as mensagens enquanto bebia um copo de suco. Ainda não tinha se decidido.

No dia anterior tinha ligado para sua psicóloga perguntando o que achava da ideia.

— Mônica você é livre para fazer o que quiser. – um tapa na cara teria doído menos. – Não precisa mais da minha ajuda para fazer suas próprias decisões. Se você quiser ir, eu apoio, se quiser ficar em casa eu também apoio. Só pense se vale mesmo a pena.

Passou a aula inteira olhando para a janela e levou um susto quando alguém bateu a porta forte na sua frente. Era aquele menino que ela tinha visto passar no outro dia, agora estava sem uniforme e vestido de preto da cabeça aos pés e para a surpresa de Mônica, se sentou ao seu lado.

Olhou para ele e depois para trás e suas amigas estavam todas curiosas. Porém pelo resto da aula o menino ficou em silêncio e cinco minutos antes da aula acabar foi embora.

— DC simpático como sempre. – Magali sussurrou baixo. – Ele também..

— Oi, Mônica. – Cebola se sentou no mesmo lugar que DC estava antes, interrompendo Magali. – Já decidiu se vai pra festa hoje?

— Até mais tarde eu decido.

— Me avisa. – ele alcançou a mão de Mônica e a apertou, fazendo a menina olhar para ele. – Eu posso te dar uma carona até lá.

— Achei que você ia dar carona para a Carmen, Cebola. – Ana entrou no meio e Cebola tirou a mão olhando zangado para ela. – Quem disse isso foi você.

— Eu estava enganado então. – disse com raiva e sorriu para Mônica. – Acho que vai sobrar uma vaga no carro, eu te mando uma mensagem, tudo bem?

Mônica acenou com a cabeça e assim que Cebola se distanciou suas amigas fizeram um círculo em sua volta.

— Você não vai com ele! – Marina explodiu de uma vez. – Eu VI ele falando que ia levar a Carmen.

— Seja menos idiota, Marina. – Ana revirou os olhos. – Todas nós vimos, Mônica.

— Se ele quer me levar, qual o problema? – Mônica cruzou os braços e olhou para todas. – Ele sempre foi legal comigo, nunca me destratou.

— Ele é assim com todas, Mônica, não se iluda, por favor! – Magali implorou. – Pra ser bem sincera, ele só quer acrescentar mais uma pra lista dele.

— Cebola não parece ser desse tipo. – ela disse com os olhos baixos. – Não consigo imaginar ele assim como vocês falam.

— Pergunta pra Irene então! – Ana apontou para uma menina alta e com cabelos bem curtos. – Ela chegou duas semanas depois da aula começar e ele estava agindo do mesmo jeito que está agindo com você agora! Ele quer carne nova.

— Tudo bem! – Mônica fez ela se calar. – Vou deixar uma coisa bem clara: por mais que vocês falem e falem, eu não estou afim dele pra começo de conversa.

— Sei. – Marina sussurrou e revirou os olhos. – Só não queremos que você sofra.

— O que vocês acham? – Mônica perguntou magoada. – Que só porque ele é legal comigo eu vou me apaixonar?

Elas se entreolharam e falaram em uníssono:

— Sim.

Continuaram discutindo até a outra aula começar, que passou voando. Mônica se perguntava se a aula passara rápido porque ela não queria ir para a festa. O ar condicionado estava desligado e mesmo assim ela ainda tremia de frio, e quando se preparava para ir para casa e ia saindo da sala, presenciou uma cena que preferiria não ter visto.

Franja, o namorado de Marina, beijava Cascuda, a namorada de Cascão. Perdeu o fôlego assistindo a cena. Não sabia se ia embora ou se voltava para a sala. Pensou na sua mais nova amiga, totalmente apaixonada por aquele idiota.

Instintivamente pegou seu celular e tirou uma foto e mandou para o grupo das meninas. Depois se afastou e chamou o elevador. Não sabia se tinha tomado a decisão certa, mas se algum dia namorasse e sua amiga presenciasse uma traição e não fizesse nada, ia sentir muita raiva quando decobrisse.

A porta do elevador se abriu e Mônica hesitou antes de entrar. DC estava lá dentro com os dois fones de ouvido e a encarou por um tempo.

— Vai descer? – isso a despertou e fez ela entrar correndo no elevador, apertando o botão do térreo.

Se sentia uma idiota, e só conseguia pensar que ele também pensava isso. Ficava nervosa perto dele e não sabia o porquê. Talvez por ele ser muito alto ou por ser incrivelmente atraente.

Seu cabelo era preto e seus olhos mais ainda, pensava neles enquanto lembrava dele a encarando. Ouviu seu celular tremendo e se lembrou de Marina, abrindo a bolsa com um certo desespero. Estava tão nervosa que acabou derrubando algumas coisas da sua bolsa.

Se abaixou rápido e começou a pegar suas canetas que haviam caído. Notou que DC também ficou de joelhos para ajudá-la. Já estava começando a dar pontos para ele pela gentileza quando o elevador abriu e ele a encarou.

— Aqui. – disse enquanto os dois se levantavam.

Ela olhou para a mão dele que segurava, para seu horror, seu broche de noventa dias sóbria. Praticamente arrancou da mão de DC e saiu do elevador com pressa. “Droga, droga!” pensava com raiva. Foi para casa e no caminho Marina ligou para Mônica.

— Você DEFINITIVAMENTE vai hoje. – a voz dela saiu fraca e afetada. – Vai acompanhar a nova solteira!

— Você terminou com ele? – Mônica sabia que seria inevitável, porém ainda sim estava surpresa – Isso significa que eu sou uma destruidora de relacionamentos?

— Pelo contrário. – Marina riu. – Você me salvou, Mônica. Eu também deveria ter imaginado, ele nunca saía para almoçar comigo e dizia que ia estudar. Fui burra demais.

— Você não é burra, Mari. – Mônica disse com a voz calma. – Você é muito inteligente, até terminou com ele.

— Isso é um ponto. – ela ouviu Marina fungando. – Não sou como a Aninha, que voltou com o Titi.

— O que? – Mônica perguntou surpresa enquanto abria a porta de seu apartamento.

— Sim. – Marina suspirou e continuou. – No dia que ela aparecer com algum roxo...

— Nem fala isso! – ela balançou a cabeça e mudou de assunto. – Eu vou hoje então, Marina. Avisa para a Magali.

— Isso! – ouviu Marina pular. – Já que o Cebola vai passar ai, mais tarde a gente se fala! E não esquece de mandar foto de sua roupa!

Mônica riu e desligou o telefone. Suspirou e olhou ao redor do seu apartamento. Foi até a cozinha e abriu a bolsa, jogando tudo lá em cima. Pegou o broche e a carteira de cigarros, que mantinha orgulhosamente fechada, desde o dia que comprou, dois meses atrás.

“Ninguém da faculdade pode ver isso” e decidiu deixar na cozinha. Sentiu-se mal por deixar o broche lá, ele a acompanhava para todo lugar. Era como também uma prova de que estava sóbria há tanto tempo, para se convencer quando estivesse tendo uma crise.

Não sabia o que era pior, Do Contra achar que era uma idiota ou ele saber que ela era viciada. Decidiu que a segunda opção era definitivamente a pior. Se ao menos tivesse falado alguma coisa, mas não! Só foi embora correndo com cara de culpada.

“Por que eu não falei que era de uma amiga?” choramingava um pouco, mas depois pensou que podia ser pior. “Poderia ter sido o Cebola.” Aquele pensamento a atormentou tanto que resolveu deixar o broche na cozinha mesmo.

Por mais que o Do Contra a deixasse nervosa e fosse irresistivelmente lindo, nunca tinha conversado com ele e não eram amigos. Por um momento ficou com medo dele sair contando para alguém, mas depois se acalmou. “Ele não vai conseguir provar mesmo”

Parou em frente ao seu espelho e se analisou pensando com qual roupa iria. As meninas da faculdade pareciam ser bem arrumadas, tanto que ás vezes se sentia até mal com suas roupas simples. Só usava jeans e camiseta, porém já tinha visto Magali usando vestidos e macacões muito lindos.

Elas pareciam ser tão arrumadas e Mônica se sentia mal. Abriu o guarda-roupa e encarou, esperando que um milagre acontecesse e a fizesse gostar de ser mais arrumada.

.

Marina olhava com raiva para o espelho. “O problema sou eu, definitivamente!” Seus olhos se enchiam de água toda vez que pensava que tinha acabado de chorar. Ser traída. Falava tão mal da Carmen que agora a chifruda era ela!

— Idiota! – se bateu na cabeça. – Idiota, idiota!

Claro que já tinha suspeitas do Franja, pois no fundo ela sabia que ninguém estuda tanto a ponto de não ter quase um minuto para ficar com a namorada.

Seus cabelos longos e cacheados a deixavam com mais raiva. Só não os cortava naquele momento porque Cascuda também tinha cabelos curtos. Seria então porque a outra era loira e ela era ruiva?

Tentava em vão culpar alguma coisa. Se jogou na cama, esperneando alto. Pensava que terminar com ele algum dia seria difícil, mas foi com facilidade que cuspiu um monte de palavrões e gritou com ele por telefone. Não queria ver ele nunca mais.

Pensou na sua festa de quinze anos e correu para pegar o álbum. Arrancou todas as fotos que os dois estavam e jogou no lixo. Pegou o varal de fotos que ele tinha feito para ela e jogou com ódio na lixeira. Conversar com Mônica tinha acalmado seus nervos, porém faltava muito tempo para a festa e até lá esperava não ter enlouquecido de raiva.

Andou de um lado para o outro até cansar as pernas. Queria alguma coisa para quebrar, e seus olhos se viraram para a mochila de Franja, que ficava na sua casa quando os dois dormiam juntos.

Tremendo, abriu a mochila e pegou os cadernos, com resumos quase perfeitos das matérias que estudavam. Foi sensata e tirou fotos para caso precisasse, mas depois rasgou todas as folhas, e se tivesse álcool por perto iria queimar tudo. Estava de joelhos no chão chorando, e de repente um pensamento apareceu em sua cabeça e não conseguiu esquecê-lo.

Queria vingança.