Cebola passou um bom tempo arrumando o cabelo e se olhando no espelho. Conferiu seus bolsos: carteira, chaves do carro e camisinha, caso precisasse. Ele riu por dentro, pois sempre acabava precisando. Ligou para Cascão enquanto entrava no carro:

— E aí, cara. – disse enquanto ligava e colocava no viva voz. – Vai pegar carona comigo, não é?

— Ih, mano. Briguei com a Cascuda ontem de novo e a gente meio que terminou.

— De novo? – aquilo era bem recorrente, tanto que Cebola não sabia porque Cascão sempre evitava festas.

— Cara, ela é impossível. – suspirou Cascão. – Então vai só você e Mônica no carro, né?

— Vamos lá, Cascão. – Cebola tentou convencer o amigo. – Se está solteiro por que não vai?

— Você sabe o tanto que eu gosto da Cascuda... – ele respondeu. – Ela não gostaria nem um pouco de eu estar lá.

—Mas pensa, cara! – ele revirou os olhos. “Gado” – Você pode tentar reatar com ela na festa, e ainda vai poder ficar de olho nela!

— Quer saber, você tem razão. – Cebola conseguia imaginar Cascão levantando da cama.

— Só toma um banho e vamos. – ele riu.

Agora era vez de conversar com Mônica. Pensou se ela era uma garota de mensagens ou de ligação. Resolver ligar para ela, mas antes que conseguisse discar todos os números, uma ligação apareceu na tela. Olhou fixamente antes de atender.

— Oi, Cebola! – a voz estridente fez ele tirar o celular do ouvido por um instante. Pois bem, pelo menos ela tinha parado de chamar ele de amor.

— Carmen. – respondeu.

— Nossa, que grosso. – ela riu. – Olha, chamei umas amigas pra ir com a gente e queria saber se ainda tem dois lugares vagos.

— Você não ia com a Denise? – Cebola perguntou com o tom calmo, mas por dentro estava agitado. – Já não tenho mais vagas no carro.

Estava mentindo e sabia, mas pelo menos era por uma boa causa.

— Ah, eles podem ir com outras pessoas. – Carmen mudou o tom de voz para um que ela achava ser sedutor. – Depois da festa a gente podia ir pra minha casa, o que acha disso, amor?

Só a menção de transar com Carmen já trazia muitas lembranças. Cebola estava em um impasse, por um lado tinha a novata gostosa e do outro a loira mais desejada da escola, que ele por acaso já tinha comido várias vezes.

Não demorou muito para tomar sua decisão.

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Magali tentava em vão ligar para Joaquim, mas só dava na caixa postal. Sabia muito bem que ele era ocupado, mas pelo menos uma vez ele podia ir para uma festa com ela. Odiava o fato de ele ter que assar pão de noite. “Mas justo hoje?”

Por acaso já estava na festa, do lado de fora, e só queria entrar logo e chapar. Tinha tanto tempo que não bebia, e salivava por uma cerveja já tinha dias. Olhou para os carros chegando, quase rezando para ser suas amigas, Ana e Marina. Ah, claro que tinha a Mônica também, mas ela ia chegar com Cebola. Se chegassem na festa.

Marina viria com Ana e Titi, mas pensava que talvez Marina não devesse ir á festa. Ninguém sabia como estava a cabeça de Marina, e Magali não estava com vontade de levar ninguém de ambulância para o hospital, não que isso já tivesse acontecido.

— Você ligou para mim, por favor deixe um... – Se estivesse bêbada, provavelmente quebraria o celular no chão.

Avistou a Hilux de Cebola se aproximar e arregalou os olhos ao ver a cena. Carmen descia do carro com um tubinho preto que marcava muito bem sua silhueta, logo depois Cascão e mais duas meninas desceram do carro, e pela fama deles, não queria nem imaginar o que iria acontecer quando estivessem bêbados.

— Cebola! – Magali entrou correndo na frente dele. – Cadê a Mônica?

— Não está comigo. – riu com Cascão.

— Percebi. – ela respondeu revirando os olhos para os dois. – Achei que ela vinha com você.

— Não deveria estar procurando seu namorado? – Cascão disse brincando, porém Magali fez uma careta. – Estou brincando! Calma, Magali.

— Eita! – Cebola abriu as mensagens. – Droga, tinha esquecido de avisar ela que não dava mais para ir.

— Idiota! – Magali já estava ligando para Mônica. – Nem pra ligar pra ela!

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Mônica estava parada na frente do prédio já tinha mais de vinte minutos. Sabia que Cebola estava atrasado e que a festa tinha começado já tinha mais de uma hora. Suspirou e pegou o celular, que estava tocando.

— Mônica! – Magali falava alto demais. – Cebola não vai conseguir te buscar!

— Ah... – A vontade de ir para a festa murchou. – Então deixa, nem estou com vontade de ir mesmo...

- O que? – Ela gritou. – Ah, mas você vai sim! Já pedi pra outra pessoa te buscar e mandei a localização! Fica tranquila.

Ao mesmo tempo que tentava ouvir o que Magali falava, dois faróis iluminaram seu rosto e a cegaram por alguns segundos. Ouviu uma buzina, mas deu um passo pra trás quando viu quem era o motorista.

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Marina estava no carro aguardando pacientemente Aninha junto com Titi. Ele estava muito gato, usando jeans preta e uma blusa azul. “Mas é um idiota” Ainda não sabia como Aninha tinha tanta paciência com ele.

Aninha apareceu na porta da casa, usando uma legging preta e dourada com um cropped preto e botas de couro. O corpo dela era de longe o mais bonito que Marina já tinha visto e sentiu pena de Titi, entendendo um pouco do ciúme que ele sentia. Estava sentada no banco de trás quando Aninha abriu a porta.

— Acho que vamos ter que buscar a Mônica, amor. – Ela disse entretida com as mensagens no celular. – Não, espera. Magali mandou outra pessoa buscar.

Acabou ficando quase triste. Seria bom ter alguém para conversar e não assistir as discussões do casal até chegar no local.

— Você tem mesmo que mostrar a barriga? – Titi perguntou.

— Sim. – Ana respondeu olhando para frente.

Ao invés de brigar, para a surpresa de Marina, ele respirou fundo e continuou dirigindo. O silêncio deu oportunidade para Marina pensar em sua vingança. Sabia que certamente Cascuda e Cascão estariam na festa, mas não tinha coragem de chegar para ele e mostrar a foto. Ou será que teria?

Ao chegar na festa, desceu do carro e foi andando na frente do casal. Já bastava as fofocas sobre o seu término, não queria ser conhecida por segurar vela. Entrou no local abafado e logo avistou rostos familiares. Magali já estava animada quando a encontrou dançando perto da entrada.

— Já está louca? – abraçou a amiga que ria. – Cadê a Mônica?

— Ela já deve chegar. – Magali disse rindo. – Quim não me atende, Marina. Será que eu vou terminar com ele também, aí vamos ficar todas solteiras!

— E você quer terminar com ele? – Marina sabia que os bêbados geralmente falavam a verdade, e franziu o cenho. – Essa não é você, Magali.

— Essa sou eu de verdade! – e voltou a dançar e Marina arregalou os olhos quando olhou para os lados e viu ao menos três homens a observando.

— Ah, não. – Pegou Magali pelo braço. – Você vem comigo.

Arrastou a amiga que protestou enquanto iam para o meio da pista de dança.

— Você é chata. – Magali disse um pouco atordoada. – Mas eu te amo.

— Eu sei, eu sei. – Marina riu e dançou com a amiga. – Você vai me agradecer tanto depois.

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As duas dançaram até ficar cansadas e suadas, quando Magali sentiu seu celular tocar. Temendo ser Joaquim, saiu da festa para poder atender com mais calma. Estava com Marina do lado de fora, que reclamava a todo momento que precisava ir ao banheiro.

Seus ouvidos estavam um pouco abafados quando atendeu.

— Oi, amor. – Disse com a voz mais calma do mundo.

— Bebê, mil desculpas por não estar aí na festa! – ele se desculpou e o coração de Magali se derreteu um pouco. – Aproveita aí com as meninas!

— Você não vai vir? – ela perguntou atraindo os olhos de Marina. – Ah, então está bem. Sem problemas.

— Uhul, sem namorados hoje! – Marina comemorou fazendo Magali rir. – Vamos voltar lá para dentro.

Magali concordou e as duas voltaram para a festa.

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Mônica se perguntava por que diabos o carro do DC estava parado na sua frente. Seu coração estava disparado e por um momento desejou virar fumaça. Ele desligou o carro e saiu, olhando diretamente nos olhos dela.

DC, para desespero de Mônica, estava mais gato do que nunca. Usava um jeans azul claro e uma blusa preta gola V. Antes de fechar a porta do carro, sentindo o vento frio, pegou sua jaqueta de couro e a vestiu.

Seu plano mental era ignorá-lo até o dia da formatura, mas lá estava ele, andando em sua direção, o único da cidade que sabia seu segredo.

Olhou para trás, para a porta do prédio, calculando quanto tempo teria para sair correndo.

— Nem pense nisso. – ele disse como se lesse sua mente.

Ela não respondeu e apenas observou DC.

— A gente vai pra festa ou vamos ficar a noite toda aqui? – ele perguntou meio bruto. – Quero dizer, eu não me importo, mas você deve estar com muito frio.

E era verdade. Talvez pela chegada dele, Mônica não tinha de fato percebido que estava com tanto frio.

— Tudo bem. – ela se lembrou do incidente mais cedo e quase correu para dentro do carro.

Aquele dia estava sendo o mais vergonhoso de toda sua vida.

— Eu sou Maurício, mas todos me chamam de Do Contra. – ele sorriu para ela quando entraram no carro.

— Vocês usam bastante apelidos. – Mônica comentou baixinho.

— É porque a maioria se conhecesse desde criança. – ele colocou o cinto e ligou o carro. – É natural que façamos isso.

— Sei. – um silêncio brotou no carro até Mônica acordar de seus pensamentos. – Meu nome é Mônica.

— Eu sei quem você é. – DC murmurou e quando perceberam, já haviam chegado.

— Obrigada pela carona. – ela tentou um sorriso, recebendo apenas o olhar fixo dele enquanto andavam.

— Magali me mandou mensagem falando que se alguém não fosse te buscar naquela hora, você não iria. – e depois riu. – E não ia mesmo, até tentou fugir quando me viu.

— Isso não é verdade. – ela riu junto. – É que não fico muito confortável em festas.

— Eu imagino.

E com aquelas palavras deixou Mônica muda. “Eu imagino”, ele com certeza imaginava! Sabia que ela tinha problemas com bebidas, então imaginava muito bem que ela poderia a qualquer momento ter uma crise a qualquer momento.

Tentou não parecer magoada, mas foi inevitável, seu humor passou de quase bem para muito mal em questão de segundos. Pensou se seria melhor voltar para casa andando, visto que o lugar ficava a poucas quadras do seu prédio.

— Ei. – ele segurou a mão dela, fazendo-a parar de andar. – Está tudo bem.

Puxou sua mão rapidamente antes que se permitisse sentir alguma coisa.

— Eu estou bem. – Mônica afirmou. – Estou bem.

— Eu sei que está. – DC sorriu mostrando os dentes. – Vamos entrar?

Já ia responder, mas antes que tivessem a oportunidade de entrar, a porta se abriu num baque, saindo de lá um garoto loiro muito bêbado, que Mônica reconheceu como Toni.

— Mas que belezinha. – dava pra sentir de longe o cheiro de bebida que ele exalava. – Não é que é mesmo gostosinha?

DC se retesou e ficou na frente de Mônica e só aí ela percebeu que ele estava falando dela.

— Já tá bêbado, Toni? – o moreno perguntou de forma jocosa. – Não são nem meia-noite.

— Mano, estou irado. – ele falava enquanto tentava andar. – Que tal irmos lá pra dentro?

— Não, obrigada. – Disse Mônica cruzando os braços.

— Ora essa.. – Toni se aproximou dela, passando de DC e segurando-a pelo ombro. – Vamos lá, uma garota como você tem que ficar com alguém como eu.

— Não me toque! – sua antiga personalidade voltou com tanta rapidez que até ela se assustou.

Puxou o braço de Toni e conseguiu imobilizá-lo antes que ele tentasse outra coisa e DC riu alto.

— Pensei que ia ter que bater em um idiota. – Ele disse observando Mônica.

— Ai... – Toni gemia de dor enquanto seu braço era puxado para trás. – Me desculpe, me larga.

Mônica o largou e Toni foi embora segurando seu ombro com força. Olhou para trás e cuspiu no chão, e ela iria atrás dele se DC não a tivesse chamado.

— Vamos entrar logo antes que a festa acabe. – e puxou o braço de Mônica, que estava muito aérea para perceber alguma coisa.

A festa era exatamente igual as festas que Mônica se lembrava. O som alto demais e pessoas suadas na pista de dança se divertindo. Enquanto se esgueirava seguindo Do Contra, que aparentemente ia para o bar, sentiu olhares demais em sua direção.

— Você chama atenção. – DC afirmou enquanto se sentava no banco e continuou quando viu a expressão dela. – Isso é bom.

— Eu espero. – Ela riu e de repente ficou sem graça e começou a procurar suas amigas no mar de pessoas na festa.

Viu Magali muito animada dançando com Marina, que também olhava de um lado para o outro. Quando seus olhares se encontraram, ela fez sinal para Mônica.

— Eu vou ali. – recebeu apenas o aceno de cabeça de Do Contra.

Passar pela multidão já era um desafio, que quando finalmente conseguiu chegar perto das amigas, foi interceptada por Cebola.

— Oi! – ele entrou na frente dela e a segurou pelo quadril, sussurrando em seu ouvido. – Você tá muito gata.

— E você está bêbado. – ela disse de volta rindo e se afastou um pouco.

— Só um pouco. – Cebola riu junto com Mônica. – Desculpa por ter te dado bolo, aconteceu alguns imprevistos.

Mônica ia falar que estava tudo bem, quando sentiu que alguém a observava. Ainda estava tão perto de Cebola que podia sentir seu perfume quando virou a cabeça e viu Carmen a fuzilando com os olhos.

— Imagino quais eram esses imprevistos. – Mônica se afastou dele de supetão.

— Ei. – ele segurou a mão dela. – Você tá muito gata.

— Você já disse isso. – tentou evitar sorrir.

— Mas isso é algo que todo mundo tem que saber! – ele começou a falar muito alto, chamando a atenção e fazendo-a rir.

Cascão passou, cumprimentou Mônica e entregou uma cerveja para Cebola, que a abriu com o dente. Talvez se ele tivesse conhecido Mônica há alguns meses, ela pensaria em acompanhá-lo, mas tudo que fazia era admirá-lo.

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Cascão estava indo de volta para seu lugar, perfeito para poder observar Cascuda de longe, que não tinha notado sua presença. Entregou uma cerveja para Cebola e cumprimentou a carne nova.

Sabia que era maldade chamar a novata assim, mas era a verdade. Uma coisa tinha certeza: Cebola não iria descansar até transar com ela.

Sentiu um puxão na gola de sua blusa quando olhou surpreso para a menina de cabelos longos e pretos que estava cambaleando.

— O que aquele idiota está fazendo ali? – ela apontava freneticamente para Cebola.

Sabia muito bem que era a menina ao seu lado. A famosa virgem que namora. No ensino médio, Joaquim, seu namorado sempre foi a piada do grupo. Eles namoravam por mais de sete anos e ele jurava que nunca tinha feito nada com ela.

Cascão sempre duvidou muito disso. Magali para ele era quase intocável, estava até surpresa que ela estava falando com ele.

— Hein? – ela disse tirando seus olhos do seu corpo.

— O que? – Cascão perguntou confuso e olhou para onde ela apontava. – Ah, os dois ali? Acho que não preciso explicar nada não.

— Minha amiga vai virar comida de leão. – Magali choramingou e Cascão não sabia o que fazer.

— Te prometo que ele não vai fazer nada que Mônica não queira. – ele garantiu com um sorriso amarelo.

De repente se lembrou de Cascuda e o motivo de estar ali, poder ficar de olho nela. Procurou com os olhos no último lugar que a tinha visto, porém não a encontrou. Magali viu sua preocupação, mas fingiu que não.

Sua parte sóbria tentava convencer a parte bêbada que não deveria contar as novidades da Cascuda.

— Você não bebe? – entrou na frente dele e começou a dançar.

— As vezes. – Cascão observou o corpo de Magali se movendo ao ritmo da música. – Hoje não estou no clima

Poderia ser impressão sua, mas sentiu que ela estava dando em cima dele.

— Você viu a Cascuda? – ele perguntou distraído.

— Vi! – ela arregalou os olhos e se conteve. – Não, não.

— Você a viu ou não? – Cascão se irritou.

— É... – a mão de Magali coçava para pegar o celular, mas seu bom senso falou mais alto. – Não.

— Então os boatos são verdade? – ele comentou. – Marina agora tá solteira?

— Sim. – Magali disse com raiva. – Aquele idiota traidor sem vergonha!

— Espera. – Cascão não conseguiu segurar o sorriso. – Quer dizer que o FRANJA traiu a MARINA? Por essa eu não esperava, caramba!

— Pois é né! – Magali já estava começando a ficar fora de si. – Como que ele teve coragem, a Marina é a menina perfeita!

Os dois conversavam animadamente sobre os pontos positivos de Marina quando uma menina segurou o braço de Cascão e o puxou, e tudo foi tão rápido que Magali se afastou dos dois.

— Quer dizer que você vem pra festas agora, é? – Cascuda estava quase gritando de tanta irritação. – E ainda fica de conversinha com a Magali?

— Eu estava te procurando! – Cascão retrucou subitamente com raiva. – Você sumiu no meio desse povo.

— Isso não explica o porquê de estar conversando com essa aí. – ela quase cuspiu enquanto falava e olhava para a menina magra dançando. – Magali namora, você sabe disso?

— Claro que eu sei, Cascuda! – ele falou desesperado. – Por isso que só estava conversando com ela, você acha que eu faria isso pro Joaquim?

Viu resquícios de alguma coisa nos olhos de Cascuda, que se calou. Achou aquilo tão diferente do normal dela, que quando estava com ciúmes frequentemente brigava durante horas.

— Tudo bem... – Ela suspirou. – Eu sei que estou exagerando, é só que eu não gosto dela. Sempre tão exibida na natação, não fala com ninguém e treina sozinha.

Cascão se perguntou se aquilo era motivo para ter raiva de alguém, porém ficou em silêncio. Por um segundo viu um vulto lhe agarrar e lhe beijar durante algum tempo e ficou parado, sem reação.

— Que porra? – Cascão se afastou assustado. – Marina?

— Eu mesma, bebê! – e se agarrou a ele olhando Cascuda. – Agora você não pode reclamar não, tá bom? Se você pode beijar o MEU namorado eu posso beijar o SEU.

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— A gente podia ir para um lugar mais tranquilo. – Cebola disse pra Mônica, ainda agarrado junto a ela.

— Não sei...

— Só para conversar. – ele se explicou. – Aqui a música é muito alta.

Mônica estava calada por diversos motivos. Ainda estava abraçada a Cebola, porém não sabia se gostava daquilo ou estava sendo concedente. Entendia muito bem o seu corpo, estava com as mãos suando e seu coração batendo rápido, porém algo a impedia de sair com Cebola para outro lugar.

Sua mente vagava para lugares distantes, como uma vala que ele poderia jogar seu corpo se fosse um maníaco. Tentou muito tirar aqueles pensamentos da cabeça e disse que iria pensar e se afastou.

— Mas pensa bem. – ele segurou sua mão e sorriu. – Eu gosto demais da sua companhia.

Sem responder, olhou para os lados e viu Magali prestes a desmaiar e cair no chão, e conseguiu segurar sua amiga que ria alto. Tratou de levar ela para o bar e fazê-la sentar.

— Você sempre passa mal quando bebe? – Mônica reclamou enquanto pedia duas águas.

— Não! – Magali gritou. – Mentira, sim.

— Agora calma, bebe isso. – entregou a água para a amiga que parou de beber subitamente.

— Eu falei com o Cascão! – ela deu gritinhos felizes. – Sempre quis e nunca tive coragem e hoje consegui.

— E seu namorado?

— Ele não vem. – ela soprou os cabelos da franja. – Um chato.

— Sei... – empurrou o copo na boca da amiga para lembrá-la de beber. – Eu estou muito cansada.

— Tá é uma gata! – disse ao observar a amiga.

Mônica passou uma hora tentando decidir com que roupa iria, e sabia que recebia olhares de caras afim dela. Usava um vestido vermelho colado um pouco longo com um cinto preto e tinha passado maquiagem de verdade pela primeira vez desde que tinha chegado.

Seu rosto estava perfeito, tinha passado bastante pó de contorno nas maçãs do rosto e caprichado no delineado gatinho. O batom vermelho complementava a roupa, fazendo ela parece ao mesmo tempo sexy e inocente.

— Se eu não fosse hétero, já estaria em cima de você. – Magali confessou e as duas riram.

Mônica bebericou sua água olhando para o lado onde Cebola estava, agora com Carmen. “Não é possível eles serem namorados”, pensava ao lembrar dos olhares, porém não viu nenhuma ação dela para impedir Cebola de ficar agarrado com Mônica.

— Nem pense nisso! – Magali colocou o dedo na cara de Mônica.

- Por que vocês me impedem TANTO de ficar com ele? – ela estava um pouco chateada. – Ele não foi nada menos que ótimo comigo desde que eu cheguei.

— Porque ele só quer te comer, amiga. – Magali afirmou fazendo gestos com a mão. – Estamos protegendo você.

— Agradeço a proteção de vocês. – abraçou a amiga que retribuiu e depois se afastou. – E que ideia genial foi essa de mandar o DC ir me buscar?

— Ele mora perto de você e não tinha saído de casa ainda. – Magali cerrou os olhos. – Por que?

— Nada. – bebeu mais da água. – Não sei se gosto dele.

— Todas acabam gostando. – ela riu. – Quem consegue resistir a ele? Impossível, eu digo. Ele é tão lindo, acho que o mais gato de todos.

— Bom, nisso eu acho que posso concordar. – Mônica disse meio sem graça.

— Ele só é difícil de entender.

— Concordo.

Ficaram em silêncio por algum tempo e Mônica não deixou Magali levantar até que estivesse ao menos parecendo um pouco sóbria. Sabia muito bem o que era ser largada pelas “amigas” bêbada em lugares desconhecidos, então não largaria a amiga por nada no mundo.

— Posso dormir na sua casa? – Magali perguntou de repente. – Minha mãe vai brigar, mas ela não pode me ver nesse estado.

— Sim, claro. – Mônica ficou feliz que a amiga estava mostrando sinais de sobriedade.

— Será que a gente pode ir agora? – Já era mais de uma da manhã. – Me desculpa, amiga, mas eu não estou me sentindo muito bem.

— Ainda bem que você falou isso.

E era verdade, Mônica via a cada momento alguém pegando uma cerveja e aquilo deixava sua mão coçando. Estava muito orgulhosa da sua força, nunca pensou alguns meses atrás que poderia ir para uma festa e não beber. Porém, não deixou de se lembrar de quando saía das festas somente quando elas acabavam.

— A gente chama um Uber? – Mônica perguntou enquanto saíam pela porta.

— Não, eu preciso andar. – Magali rejeitou com a mão e tirou as sandálias de salto que usava. – Eu só quero dormir um pouco.

— Tudo bem. – Mônica resolveu seguir a amiga e tirou os sapatos.

Já estavam quase atravessando a primeira rua quando ouviram alguém chamar.

— EI! – era Marina correndo atrás delas. – Me esperem.

— Oi! – Mônica disse com vergonha. – Aquela hora eu fui distraída.

— Sei. – ela respondeu irônica. – Vocês estão indo pra sua casa?

Magali já não falava nada e Mônica temia se a amiga iria passar mal no meio da rua.

— Sim, Magali não quer que a mãe a veja assim.

— Eu vou com vocês. – Marina engoliu em seco. – Acho que eu preciso beber para esquecer tudo que eu fiz hoje.