Rainbow War

Um verdadeiro furacão de novidades


POV Perla/Kahel

Achei que fosse ter um troço quando a Tati me olhou com aquela cara de “eu não te conheço de algum lugar?” mas consegui manter a frieza e não estragar o disfarce. Enfim, ela acabou me convidando pra entrar e disse pra esperar enquanto trocava de roupa pra me levar na casa da Fernanda. Era estranho voltar ao mesmo lugar onde ela tinha quase me matado momentos depois de ter se juntado a minha equipe. A vida é mesmo muito irônica.

Sentei no sofá e digitei uma mensagem pra Romolo dizendo que tinha chegado e que tinha chegado na casa da Tati e que ela me levaria na casa da Fernanda, e que provavelmente eu voltaria antes das seis horas. Guardei o celular na bolsa no exato minuto que ela saia do quarto usando um vestido florido de alcinhas, uma sandália rasteira e uma bolsinha. Ela ficava linda usando qualquer coisa. Espero que ela goste de mulheres, porque eu estou quase pra trair Hugo com ela. Êpa! FOCO, PERLA, FOCO! NÃO É HORA DE PENSAR NISSO!

– Podemos ir? Você não quer uma água, um suco, um lanche antes de irmos? Pode demorar um pouco? – a cara dela era de preocupação comigo.

– Não se preocupe, eu estou bem.

Ela sorriu e fomos em direção a parada de ônibus para pegar algum ônibus que eu não fazia idéia de qual era. Fiquei conversando besteiras com ela, e por um momento, esqueci que ela era a garota má que quase tinha matado três adolescentes há alguns dias. Quase pude ver a inocência nos olhos dela. Quase. O ônibus chegou um pouco antes de eu perguntar pra ela alguma coisa sobre os dias passados, então entramos e num ônibus mais lotado que uma lata de sardinhas. Onde que essa menina morava?

Passamos um tempinho passeando pela cidade, para no final chegarmos em um bairro mais humilde com casas modestas e pessoas igualmente modestas. Mas diferente do que eu imaginava, não era perigoso. Parecia que era uma festa ambulante, pois tudo era palhaçada. As pessoas ali não tinham nem metade do que eu tinha e mesmo assim eram felizes com o pouco. Eu realmente precisava aprender muita coisa. Começamos a caminhar do ponto que paramos e fomos percorrendo algumas ruas e dobras aqui e ali, para no final, sairmos numa rua com casas bem bonitinhas. Chegamos a uma que era cor salmão e com um portãozinho de ferro na frente. Entramos.

– Tia Sonia! Nanda! Cheguei e trouxe uma amiga! – gritou a Tati em frente à porta da casa. Depois de um tempo, ouvi uma resposta de lá de dentro que não pude entender muito bem, mas logo, a porta se abriu e lá tinha uma garota linda, mas bem pequenina, negra como um chocolate e tão gostosa quanto um. Seus cabelos cacheados estavam no estilo Nega Maluca, e seu rosto tinha olhos sedutores e negros como a noite. A boca firme e bem feita dava uma vontade muito grande de beijá-la. Seu corpo parecia ter sido feito sob medida e tudo nela era-me atraente.

– Tati, quanto tempo hein garota? Como vai você? Nunca mais apareceu aqui. Ficou rica foi? – perguntou ela dando um abraço apertado na amiga de longa data.

– Ai, que nada Nanda! Nem que eu ganhasse na mega da virada, eu ia deixar de vir te visitar. Mas é que esses dias eu tenho me sentido tão estranha, que eu não consegui nem arredar o pé de casa. Sei lá. Nem vontade de ir pra escola eu tava.

– Credo, tu sabe o que era? Já foi no médico, ou psicólogo? Vai te tratar, amiga, antes que isso fique mais grave ainda.

– Eu vou. Ah, essa garota aqui é a Perla. Ela foi lá em casa te procurar, então eu a trouxe aqui. Podem conversar a vontade, vou aqui dar um olá pra minha avó.

Tati saiu de dentro da área em frente à casa e foi para a casa ao lado. Ela ainda deu um ultimo sorriso antes de abrir a porta e entrar. Quando me vi a sós com a Fernanda, pensei que seria a hora ideal para uma conversa.

– Quer entrar e tomar um café com suspiros? Acabei de fazer, estão fresquinhos. – disse ela olhando pra mim com um sorriso gentil.

– Claro! Eu adoraria.

O interior da casa era bem modesto. Uma casa não muito grande com dois quartos uma sala, cozinha e um banheiro. Acho que tinha uma área lá atrás que provavelmente era a lavanderia, então até que não era muito fora dos padrões. Sentei-me na mesa da cozinha e esperei o café com suspiros. Eu tinha a sensação que ela não iria ser tão fácil quanto a Tati.

– Então, o que você queria conversar comigo? – perguntou ela, colocando uma xícara de café fresquinho na minha frente, com um prato de suspiros. Tomei um gole de café pra me dar coragem e comi um suspiro pra me dar força.

– Já aconteceu alguma coisa estranha com você? Tipo, você fazer coisas anormais ou perigosas?

Ela balançou a cabeça negativamente. Senti meu coração desanimar, então continuei um pouco mais insegura.

– Olha, você é um alien. Sei que é estranho ouvir isso, mas é assim mesmo. Você não é humana, veio de um planeta distante e tem uma missão aqui na Terra. Mas o problema é que existe um psicopata envolvido com toda essa loucura e ele quer matar todos os aliens existentes, então eu estou procurando por todos eles para salvá-los das garras do Darkshadow. Sua amiga Tatiana foi vitima dele. Quando a visitamos, ele apareceu e conseguiu se apropriar dela, tanto é prova que você viu o que ela disse. Por favor, Fernanda, não me ache louca. Eu posso provar pra você o que eu digo, e mais. Depois de você, ainda existem outros dois E.T.s que precisam se revelar. Por favor, não surta com isso!

– Isso é uma piada? – perguntou ela, me olhando um pouco irritada.

– Não, eu juro! Eu posso provar! – olhei para todos os cantos procurando alguma coisa que ela não se incomodasse, e acho que um copo cairia bem – Me dá um copo de alumínio, eu vou te mostrar.

Fernanda me olhou como se eu estivesse brincando com a cara dela, e no final me olhou totalmente descrente e disse:

– Pega você!

Levantei-me e peguei um dos copos de alumínio mais amassados que tinha lá, e levei de volta pra mesa. Certifiquei-me de olhar bem o copo pra saber se não tinha nenhum dizer, porque isso não teria volta. Pousei o como na mesa e me concentrei bem, aos poucos o copo foi ficando mais mole ao ponto de eu poder manipulá-lo com nenhuma dificuldade. Fiz do copo uma bailarina, depois um soldadinho, depois um dinossauro, depois um coração, uma estrela, um Graal, uma cruz, um carrinho, um aviãozinho, e depois que me cansei de brincar, transformei de volta no copo, sem nenhum amassado.

– OK! Isso foi estranho! Como você… você é… eu não… Eu sou… O que está acontecendo? – ela ficou totalmente chocada, então achei melhor acalmá-la um pouco.

– Você precisa se acalmar, e esse lugar não é mais seguro. Darkshadow pode chegar a qualquer momento, e se ele te pegar, não sei como vamos conseguir vencer a guerra!

– Guerra? Que guerra? – ela realmente estava em estado de choque, e eu não tinha explicado tudo pra ela.

– Fernanda, vem logo. Eu juro que você não vai se arrepender se - vier comigo!

Meu medo era de Darkshadow ou mesmo Jade entrar naquela casa e eu ter que lutar contra um deles. Sabia muito bem que seria horrível me virar naquele espaço apertado, então precisava levá-la pra fora o mais rápido possível. Consegui tirá-la da mesa e arrastá-la para fora de casa. Já estava morta de pavor de Darkshadow aparecer por aquelas bandas e eu ter que lutar contra ele no meu corpo atual. Levei a Fernanda até o lado de fora e uma vez no ar livre, pude me sentir segura, mas ainda não podia baixar a guarda e até porque a Tati estava na casa ao lado.

– Pra onde você está me levando? – perguntou a tonta, e eu nem tinha um resposta pra isso.

– “Para um lugar seguro” é a melhor resposta que tenho agora. – eu estava uma pilha de nervos e pra piorar, não fazia a mínima idéia de como chegar na parada, pois tinha prestado pouca atenção para o trajeto e mais para o jeito como a Tati estava.

Pensei em invocar a ajuda da Tati de novo, mas desisti assim que me lembrei que a essa altura a única pessoa com quem eu poderia contar de verdade eram Jack e Romolo, que por azar estavam bem longe de mim, na minha casa. Eu precisava de uma idéia antes que alguma coisa de ruim acontecesse. Pensei em ligar para alguém vir me buscar, mas era o mesmo que fazer propaganda do que estava rolando pelo mundo. Fiquei tão estática quanto a Fernanda.

– Qual é seu nome mesmo? – perguntou Fernanda, com uma cara aérea.

– Perla.

– O prazer é todo meu. Pode me chamar de Nanda.

Agora eu estava em estado de choque também. Ai, eu odeio ser a fraca da história! Queria ter a mesma força que Kahel tinha, e o pior que eu nem podia invocá-la agora. Precisava me manter com os pés no chão antes que o mundo inteiro desabasse sobre mim.

– Se eu vou mesmo para um lugar seguro, então pelo menos me deixe tomar um banho. – disse a Nanda.

Mulher é mulher até quando está em estado de choque! Voltamos pra dentro, só que perceptivelmente mais calmas… Darkshadow poderia ser muitas coisas, mas não era tarado o bastante para aparecer durante o banho de uma garota. Isso realmente seria imperdoável! Então fiquei na cozinha enquanto ela foi rapidamente para o banheiro e ouvi quando a água começou a cair. Espero que ela demore um pouco, pois o café e os suspiros estavam divinos. Achei por bem ligar para Romolo e Jack para avisar que eu iria levá-la até lá.

Saquei o celular da bolsa e disquei o número do Romolo e então esperei ele atender. Com um pouco de sorte, eu conseguiria falar baixo o suficiente para não atrair a atenção de ninguém e ainda poderia levar isso na maior descrição. Depois de um momento esperando, finalmente alguém atendeu do outro lado.

Alô?

– Jack? O que você está fazendo com o celular do Romolo? – perguntei eu com uma leve desconfiança.

Eu tava entediado, aí peguei ele pra jogar. ­– porque essa história não me convence?

– Sei. To ligando pra avisar que vou levar a Fernanda para aí e que ela está em estado de choque então, por favor, me ajudem com ela. E se não for pedir muito, poderiam ir adiantando o jantar? Quando eu chegar, só coloco as coisas no fogo e pronto.

Tu acha mesmo que eu tenho cara de quem sabe cozinhar? Se eu souber botar água pra ferver, já está de bom tamanho! – disse o louco. Odeio quando eu peço ajuda e a pessoa me dá uma desculpa esfarrapada.

– Certo, então vamos ver como eu faço. Se eu chegar em casa em meia-hora, deve dar tempo… Mas você não sabe mesmo cozinhar? Não é frescura de botar a mão na massa?

Sua doida, eu te juro como não se cozinhar nada! O que você tem em mente para o jantar? Se for pizza, eu posso dar um jeito – Jack é um louco.

– Olha, a minha idéia era mesmo fazer um arroz básico, e alguns bifes ao molho madeira. Mas acho que é complicado demais pra vocês, a não ser que você e Romolo trabalhem juntos na cozinha, e usem o livro de receitas na parte de cima da estante da sala. Boa sorte.

Desliguei antes que pudesse ouvir os protestos. Queria aquele jantar pronto e gostoso quando voltasse pra casa, e pode anotar: eles aprenderiam a cozinhar nem que eu tivesse que botá-los numa escola de culinária francesa, com um chef mundialmente famoso! Agora era hora de planejar a saída dalí, e é claro que eu precisaria de alguém pra me guiar durante esse trajeto até a parada. Só espero que a Nanda saiba onde é.

Depois de alguns momentos, ela (finalmente) saiu do banho e foi para o quarto enrolada na toalha, quase tive um acesso. Olhei o mais disfarçadamente que pude para a pele lisa, os seios fartos, o bumbum durinho. Meu Deus, que mulher era aquela? Hugo que me perdoe, mas eu iria pra cama com ela se assim ela desejar. Enfim, ela foi para o quarto e voltou algum tempo depois com um macaquinho jeans escuro bem apertadinho e alça no pescoço. Que pernas lindas!

– Podemos ir! – falou ela um pouco tremula ainda. Duvido muito que ela esteja em boas condições.

Ela pegou uma bolsinha marrom e saímos de casa. Agora ela teria que me guiar por aquele labirinto de bairro. Mas ela estava mais firme, e então acho que não terei problemas. Saímos da casa dela no exato momento em que Tati saiu da casa da avó dela, e não houve jeito de evitar que ela nos encontrasse. Agora era jogar com a sorte.

– Você já vai, Perla? – perguntou aquela garota, com seu sorriso encantador – Quer que eu te leve até a parada?

– É, pode ser. – falou Nanda antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa pra desviar a atenção dela da gente.

– Que bom! Vamos. – ela ia andando quando parou e nos olhou com uma cara de preocupada – O que aconteceu com vocês? Parecem que viram um alien. Vocês têm alguma coisa que queiram me contar?

Fiquei momentaneamente dividida a contar tudo de novo, mas ela poderia surtar, e eu tinha certeza do que ela podia fazer. Assim como Kahel e eu éramos um só, Jade e Tati também devia ser a mesma pessoa, então não seria nada legal enfrentá-la no meio de tantos civis. Se fosse pra eu estapear o alter-ego dela, que seja bem longe dos inocentes. Enfim, sorri para mostrar que estava bem, e continuamos andando até que ela se esqueceu do nosso problema.

Continuamos conversando amenidades durante todo o trajeto, e fiquei me perguntando como uma garota tão doce poderia surtar de uma hora para outra. Tinha alguma anormal naquilo tudo. Digo, mais anormal do que aliens lutando pela própria sobrevivência. Quando Darkshadow possuiu-a da primeira vez, sabia que não seria permanente, e que uma hora ela despertaria. Mas quando vi o que ela faria com a gente no colégio do Jack hoje mais cedo, tive certeza absoluta de que ela estava possuída.

Imersa nesses pensamentos, prossegui sem prestar atenção a muita coisa, inclusive em como o caminho estava mal conservado. Não pergunte como, sei que tropecei numa pedra, ou cai num buraco ou qualquer coisa do gênero, mas fui ao chão e acabei ativando o bracelete sem querer. Mas não tinha reparado nisso. Então levantei-me como uma lady, e olhei pra elas com aquele ar de distraída e disse:

– Vamos andando? – pra que fui abrir a boca? Na hora reconheci a voz de Kahel e quase tive um surto quando reparei que estava olhando-as de cima, e não da mesma altura.

O mais incrível é que Nanda me olhava com assombro e Tati, bem, Tati me olhava com se tivesse me visto morrer. Nunca senti uma tristeza tão grande quanto a que saia dos olhos dela na forma de lágrimas. Não havia raiva, nem desprezo como nos olhos da Jade. Havia apenas dor. Tanta dor que eu já não entendia como era possível que ela se juntasse ao Darkshadow. Pensei que ela fosse chorar, ou desmaiar, mas não.

– Kahel. – disse ela num sussurro – Kahel! – gritou ela e me abraçou numa correria desenfreada. Eu senti o sofrimento dela quando ela me apertava como se eu fosse desaparecer – Kahel, me desculpa! Eu não sabia o que fazer, quando Darkshadow veio pra cima de mim, eu simplesmente perdi o controle! A energia dele é muito forte, eu fiquei tomada pelo desejo dele! Não era eu, Kahel, eu jamais machucaria vocês, eu prometi!

Felizmente Nanda teve o bom senso de abraçá-la também, e consolá-la da melhor maneira possível. E ao mesmo tempo, olhava pra mim como se eu devesse muitas explicações pra ela. O que era bem verdade. Tentei chegar mais perto, mas fui repelida pela mão veemente da Nanda que dizia que o melhor agora era manter distância. Espero que ela tenha um plano.

Mas as coisas nunca correm do jeito que a gente quer: do nada, a Tati parou de chorar e se afastou da Nanda com uma cara de medo que eu tentei muito lutar para entender, mas no fundo, eu já sabia que só tinha uma alternativa.

– Darkshadow chegou! – dava pra ver pelos tremores dela – Nanda, Kahel. Fiquem longe de mim, e qualquer coisa que eu disser, não levem em consideração. Não sou eu!

Automaticamente, me posicionei do lado da Nanda que ainda estava meio assustada e fiquei olhando fixamente para ver do onde aquele palhaço surgiria, e foi aí que eu notei uma coisa: Estava meio tarde e as ruas estava quase desertas, excerto por dois ou três caras que estava fumando um baseado logo mais na esquina. Ótimo! Com drogado não dá pra contar nem pra dividir a verdinha! Estava um pouco escuro, o que significava que eu teria problemas pra enfrentá-lo, então a minha melhor saída era evacuar rápido.

– Se você sair agora, vai perder a maior da nossa festinha – essa não. Essa não, essa não, essa não! – Kahel, seu danadinho, quer dizer que você quer levar nosso prêmio pra casa? Eu já tinha achado-a a muito mais tempo do que você! Devolva-me!

Tati já voltou a ser o que era. Acho que Darkshadow estava mais perto do que eu podia imaginar. Gostaria muito de ter uma visão dele antes de ele aparecer por trás de mim, me derrubar, e me prender e tentar levar a Nanda de mim. Isso não ia acontecer. Me posicionei na frente dela, e me preparei para a batalha.

– Hum, quer dizer que o Kahel, na verdade é A Kahel? Eu realmente não esperava por isso. – Merda.

A sombra dela se tornava progressivamente mais escura no asfalto, até que se tornou mais negra do que apartamento fechado em noite de apagão e lua nova. E começou a borbulhar como piche fervente. Eu sabia o que vinha agora: da escuridão brotou uma cabeça, e foi subindo como em um elevador até que se tornou um corpo completo feito de sombras, que foi se solidificando e revelando a cara que eu mais odiava no mundo. Darkshadow tinha se revelado.

– Na verdade, eu acho que o viadinho só está se travestindo mesmo. Você sabe como é, né? Está com vontade de rodar a bolsinha por aí e não acha quem queira comprar essa coisa pra levar pra casa! – disse a Tati.

Se aquela vadia não tivesse me dito pra desconsiderar o que quer que ela falasse enquanto Dark estivesse por perto, eu simplesmente teria avançado na cara dela com tanta fúria que ninguém nesse mundo poderia salvá-la. Se tem uma coisa que eu odeio nesse mundo é o preconceito. E acredite, se alguém tiver vontade de falar essas picuinhas perto de mim, que se prepare pra apanhar, porque eu bato é certo!

– Escuta aqui sua vadia escrota, eu não te devo satisfação da minha vida, ouviu bem? Se eu quiser sair nua pela rua, eu posso! – gritei eu, e na raiva, não reparei que tinha falado “nua”.

– Então você é mulher mesmo? – perguntou Darkshadow, de repente muito interessado em mim. Pra falar a verdade, interessado demais! – Por isso que sempre foi mais fraca do que eu!

OK! Basta! Chegou no meu limite! Preconceito é foda, mas machismo? É hoje que ele morre!

– Escuta aqui, seu filho da mãe, não é só porque você chega aqui com esse corpo todo bombadão que você pode meter o dedo na nossa cara e dizer que os homens são melhores que as mulheres! Esse machismo já é coisa do século passado, e eu seu começar a te descer o cacete, quero ver que homem que vai te salvar!

Olhei admirada pra Nanda. Nem em meus maiores sonhos eu teria coragem de falar aquilo pra Darkshadow de mãos nuas. E ela ainda nem tinha usado seus poderes pela primeira vez. Eu só esperava que não demorasse muito, senão eu ia morrer aqui e ela com certeza seria levada para o lado negro da força. Tive que pensar bem rápido no que fizer, mas não fui rápida o suficiente. Darkshadow começou a batalha.

Ele se desfez em sombras e eu só podia esperar, mas Tati já tinha se transformado em Jade, e eu agora precisava de novo de ajuda. Jade vinha com uma esfera de energia na mão e lançou algumas dessas pra cima de mim. Conjurei o chão pra me defender, e uma parede de terra se levantou na minha frente, e eu a endureci ao ponto de ficar mais dura que granito. As esferas bateram e explodiram, mas minha parede agüentou. Amoleci a mesma e lancei em cima dela como uma onda, mas Jade conseguiu se defender criando uma espada de energia que cortou minha onda ao meio.

Aproveitei essa brecha e transformei as metades da onda em cordas de terra, que se enrolaram nela e apertaram bem. Endureci os mesmos, e quando ela desabou no chão, fundi as cordas de terra com o chão. Dalí ela não sairia tão cedo. Mas existia outro com quem me preocupar: Darkshadow. Me verei certa de que encontraria o mesmo estrangulando a Nanda com sombras e não deu outra. Quase me arrependi de ter me virado. Mas agora eu tinha trabalho a fazer, e pra começar, prendi os pés dele no chão sem que ele percebesse.

– Então, o que vai ser? O jeito fácil ou o jeito difícil? – perguntei estalando os dedos.

– Sempre durão, né Kahel? Opa, será que deveria dizer durona? – perguntou ele com um sorriso de sarcasmo.

– Não importa, agora me dê a garota – disse eu.

– Nunca.

Ele começava a desaparecer, mas não deixei isso se concretizar: joguei bolas de terra endurecida em cima dele e ele pareceu desistir da idéia. Mas mesmo assim, ele tentou vir pra cima de mim, e se desequilibrou com os pés presos no chão. Não que isso o tenha abalado, já que ele se desfez em sombras e lançou um monte de espinhos pra cima de mim. Consegui desviar de todos, e lancei uma onda de terra pra cima dele, mas ele não estava mais lá. De repente senti a respiração dele no meu pescoço, e me virei com um soco na mão, que o acertou em cheio. Mas ele tinha consegui agarrar meu pescoço e agora me sufocava com uma sombra.

– Você sempre é fácil de vencer Kahel. Sempre é muito fácil.

– Será mesmo? – perguntei e mandei um chute nos colhões dele que o faria cantar ópera por duas semanas.

Ele me soltou em resposta e caiu no chão com um berro de dor, que me fez rir muito: saiu mais fino do que um soprano. Aproveitei e mandei um chute no estomago dele pra sair sangue. Certo, saiu cuspe, mas já serviu. Depois disso, fui libertar a Nanda, mas me vi numa situação difícil: o Darkshadow preso era apenas uma sombra, e eu ainda tinha que enfrentar o original, sem contar que agora a Jade estava livre. Como, eu nem imaginava. Mas e ia enfrentar essa turma quantas vezes fossem necessárias.

– Menino burro. Não acha que ficaria melhor no chão? Eu posso te mandar pra lá em dois tempos, aceita? – perguntou Jade.

– Aceito se você for na frente, vaca! – gritei e comecei a ir à direção deles. Agora era questão de tempo.

Jade também não deixou pra trás e veio me enfrentar. Ela andava e a energia emanava do corpo dela cada vez mais ameaçadora, mas não me deixei intimar. Chutei o chão e uma esfera de terra foi lançada pra ela, grande como uma bala de canhão e dura como ferro. Ela apenas lançou um laser de energia que partiu a bola em duas, e eu aproveitei essa deixa para dar um pulo que foi impulsionado pela terra como uma cama elástica e esperar o ataque dela de cima. Dito e feito: ela mandou um laser de energia na minha direção e enquanto ela me olhava, mandei um soco de terra no estomago dela.

Ela desmaiou o laser se desfez antes de me atingir. Cai no chão e dei outro pulo, mas dessa vez fui mais baixo, e cai em cima dela. Acho que a coluna dela vai precisar de ajustes depois dessa aterrissagem. Mas deixei isso de lado e continuei avançado em direção ao maldito dos malditos. Ele continuava prendendo a Nanda, mas isso só seria um problema na hora dos ataques. Pra aquecer, lancei algumas esferas de terra bem duras, mas com uma surpresa dentro.

– Esse truque ta ficando velho. – disse ele.

Com apenas um aceno, um buraco negro surgiu e as esferas entraram lá dentro, e eu fiquei a ver navios. Ele estava mesmo bem mais forte, e eu ainda não tinha saído do meu nível. Espera aí: olhei para onde tinha deixado a Jade caída e não vi nada. Merda! Corri em direção dele, e dei um mortal com a perna preparada para um chute, mas ele bloqueou com o braço e eu ia cair, mas usei as mãos para me impulsionar para trás e fiz uma acrobacia para cair em pé. Deu certo.

Ele veio na minha direção, agora com raiva nos olhos. Eu estava conseguindo! Se o tirasse de perto da Nanda para um luta corpo a corpo, conseguiria vencê-lo. Ele lançou os famosos espinhos e eu me defendi com uma parede de terra, e usei-a imediatamente para criar pilares que arremessei contra ele. Mas ele não estava mais lá, então abri a terra ao meu redor e deixei apenas um pequeno pilar para me segurar, e ouvi satisfeita, o som de alguma coisa caindo. Virei-me pra olhar e me deparei com Darkshadow literalmente no fundo do poço.

– Algum problema, Dark? Pensei que gostasse de abismos escuros, como o lugar de onde você veio. – disse eu, com uma ironia pesada na voz.

– Me tira daqui, sua piranha! – gritou ele.

– Pode gritar o quanto quiser, eu mesma que não vou te tirar daí. Se quiser sair, saia sozinho!

Dei um salto de bailarina e a terra veio criar uma ponte para que eu atravessasse como uma lady. Cheguei à terra firme, e consegui destruir o pilar que me segurava e joguei os destroços em cima dele, só mal. Agora ele que dê o jeito que for de sair do buraco, como Ana Carolina. Enfim, fui em direção de Nanda e pronta para libertá-la quando na minha frente, aparece a Jade. Essa garota não cansa não?

– Mais um passo e eu sugo a energia dela até não sobrar mais nada. – disse aquela nojenta. Eu mato ela!

– Você realmente ta muito corajosa, não é? Se você perder essa garota, a próxima vai morrer também? Não era você que iria unir todos para conquistar o mundo?

– Iria não! Vamos! Mas se ela é a razão de estarmos atrapalhados, então é hora dela ir embora!

– Jade, você não quer fazer isso! Leve-a embora, domine-a, deixe-a tão má quanto você, mas não a mate. Se matá-la, jamais poderá se perdoar.

Eu alcancei a Tati dentro daquela monstra por uns segundos e aproveitei para fazer a terra dar uma porrada na cabeça dela. Forte o suficiente pra confundir, fraca demais pra matar. Quando ela ficou confusa, me surpreendi que Nanda tenha se soltado e largado uma chinelada na cabeça dela. Essa garota me impressiona, e me assusta ao mesmo tempo.

Mas não deu muito tempo de me preocupar com isso, pois uma mão gelada no meu ombro me fez dar um salto assustador. Me virei pra olhar e recebi um soco que me fez ir ao chão. Darkshadow. Me lembrem de invocar a Lei Maria da Penha em cima dele depois. Mas não satisfeito, ele puxou meu cabelo e sussurrou no meu ouvido:

– Escuta aqui, cachorra. Eu ia pegar leve com você, mas parece que você quer jogar pesado né? Então olha só que vai pagar o preço… – ai meu Deus, defenda essa que está prestes a morrer – Jade! Mate aquela vadia que se chama Fernanda!

– Com prazer! – disse a puta.

Abri os olhos para ver os momentos finais da Nanda, e talvez pra tentar ajudá-la de alguma forma. Mas eu não contava que um espinho de sombras fosse projetado na minha garganta e qualquer movimento que eu fizesse, ele tentava em furar na jugular. É, hoje não é meu dia. Olhei com todas as lagrimas que pude para Nanda e rezei pra que ela pudesse se salvar.

POV Nanda.

Eu via aquela maluca vir pra cima de mim com as mãos estendidas e eu tentava correr, mas alguma coisa me prendia. Fui recuando de costas e cada vez mais aquela mão estava mais próxima de mim. Eu estava completamente apavorada e acabei tropeçando em alguma coisa e caí de bunda no chão. Ótimo! Eu achei que isso só acontecesse em filmes. Mas aquilo era bem real. Ela se aproximou e eu fiquei paralisada de medo.

– Não vai doer nada, eu juro! – disse ela estendendo a mão na minha direção – Ops, quem jura mente, ou seja: EU MENTI!

Não agüentei o brilho psicopata que surgiu nos olhos dela e gritei. Dei um grito tão alto que até fechei os olhos. E pude sentir. Alguma coisa surgindo de dentro de mim, surgindo cada vez mais forte e mais poderosa. Senti o vento ao meu redor começando a girar cada vez mais forte, e o barulho começando a aumentar que nem um louco. Sabia que era eu, mas não tive medo de continuar. Estava bom demais pra deixar isso pela metade.

Abri os olhos me vi dentro de um tornado que fazia o maior rebuliço na rua. Coisas eram carregadas pelo vento, mas eu não liguei. Quis aumentar a potência, mas não precisei. Vi quando o negão e a ruivinha estavam tentando se juntarem em pleno ar, rodopiando como tudo ao redor. Mas de alguma maneira, o negão desapareceu em sombras, reapareceu junto da ruivinha e desapareceu com ela. Quando vi essa cena, aí sim eu deixei de usar meu poder e tudo que voava ao vento, caiu como uma pedra em direção ao chão. Notei que Perla estava grudada a chão. Mas grudada mesmo: ela tinha enterrado a mão direita no chão bem fundo e as pernas também.

Caminhei até ela, e me sentei no chão esperando que ela saísse. Passado um tempo, ela pareceu voltar à realidade e saiu de dentro do chão, e milagrosamente, não estava nem um pouco suja. Assim ela se sentou no chão também e pareceu querer me perguntar alguma coisa, mas não conseguiu. Ficou apenas me olhando por um tempo e sinceramente, ela era muito linda tanto como menino quanto menina. Por fim, ela disse:

– Quanto poder, hein? Ainda quer ir na minha casa?