Rainbow War

Tatiana Christine Sanches


Cheguei em casa algum tempo depois, e devo dizer que a viajem nem demorou porque eu tinha a cabeça imersa até a borda de perguntas de como o Romolo tinha o número da Perla, passando por teorias de espiões da CIA e Shield, ou a agentes secretos do governo britânico, ou mesmo infiltrados do pentágono. Felizmente todas caíram por terra quando coloquei o aspecto idade na mesa, e outras cartadas se puseram a mostra: Perla era a meia-irmã de Romolo, e agora eles se comunicavam sobre tudo, inclusive sobre mim. Mas eles não se pareciam em absolutamente nada, só o aspecto dos olhos e cabelos, contrapus. Mas mesmo que isso fosse possível, isso é impossível! Deixei essa teoria pra lá também e me pus a examinar as próximas. Não tinha mais nenhuma.

Pensei em mais algumas teorias no trajeto até em casa, e continuei pensando nas teorias enquanto a tarde literalmente voava e a noite chegava ao meu quarto, mas tudo parecia sem sentido e mais irreal do que os aliens! Pensando bem, nada fazia sentido e mesmo que fizesse, eu não estava muito disposto a pensar sobre isso agora. Minha cabeça estava pegando fogo, e podia literalmente fazer isso se eu não parasse de pensar nisso por um tempo. Talvez, por senso de oportunidade, Hikari tenha escolhido justo essa hora pra me ligar. Vai entender o destino.

Jack, como você está? – parece que a voz dele, melodiosa e doce conseguiu fazer meu estomago revirar – Você saiu um pouco intempestivamente de sala, nem me deu tempo de ficar com meu namorado!

– Não me lembra disso agora, que eu to pra pegar fogo!

Ele com certeza deve ter uma mente bem pornográfica, porque ele levou pra um lado bem diferente do que eu pretendia.

Espera até sexta a noite na boate que você vai ver o quanto eu vou te fazer explodir de calor!

– Espera sentado em cima do meu pau! Eu vou nessa boate contigo mais pra te fazer ficar de boca calada do que por gostar de você!

Então você admite que mesmo não sendo muito, você se sente atraído por mim? – perguntou ele com sua sagacidade e sua sensualidade louca.

Me amaldiçoarei pelo resto da vida por ter dado essa mancada espetacular. Eu sou simplesmente um grande imbecil por dizer que me sentia atraído por ele, mesmo que não fosse tão mentiroso assim. Mas mesmo assim, eu ainda estava furioso demais com ele pra ser totalmente sincero, então preferi continuar maltratando ele até ele se desculpar por me chantagear.

– O dia que eu precisar de um vagabundo qualquer que te chamo, ta bom Hikari? – minha voz tremia de raiva dele – e não me estressa mais do que eu já estou estressado porque senão…

– Senão o que? – a voz dele ainda era divertida – Olha, eu que estou no comando da situação, lembra? Toma muito cuidado comigo, é bom começar a me adular mais!

Nesse momento, eu não agüentei mais a presepada e a prepotência que era aquele garoto no telefone comigo, e não tive duvidas, bati o telefone na cara dele visivelmente menos estressado. Mas a paz durou pouco quando eu me lembrei de ligar pra Romolo pra saber como ele tinha o numero da Perla, e isso era uma coisa que eu não queria fazer com meus pais por perto. Fugi pro meu quarto, e como se adivinhasse meus pensamentos, meu celular tocou acusando uma ligação de Romolo.

– Alo – disse eu, com o celular colado na orelha e me jogando na cama – Romolo, como é que as coisas estão por aí?

Bem, na verdade, estão tão boas que eu decidi ligar pra você – disse ele com a voz grave e carinhosa – Eu consegui finalmente controlar meus poderes por inteiro, não só para fazer coisas pequenas aparecerem como grandes coisas também. E o melhor é que é ouro.

– Que legal, isso é mesmo bom! – disse eu com uma pontada de inveja – Eu ainda não domino meus poderes totalmente, por isso tenho que ser cuidadoso com minhas emoções.

Por que você não vem aqui em casa treinar um pouco? De repente eu te mostro como fazer se o principio for o mesmo.

– Seria um prazer, mas agora eu não tenho muito tempo pra isso, eu tenho que te contar uma novidade. Sabe aquele garotinho com quem eu ia passar o recreio hoje?

Sei, aconteceu alguma coisa entre vocês?

Eu juro que se Romolo estivesse do meu lado, eu teria metido um tabefe tão grande na cara dele que teria lascado um daqueles dentes perfeitos daquela boca tentadora. Mas diante desses pensamentos, pensei em meter o tabefe em mim mesmo.

– Por que antes de você formar uma sentença idiota completa, não espera pra saber o que os outros vão falar? – eu devia estar um pouco histérico – Ele me disse que conhecia uma garota que podia ser uma alien, e o nome dela bate com um dos nomes da pesquisa do Hikari. Acho que você e Kahel deveriam aproveitar e dar uma passadinha lá amanhã pra conferir.

Um suspiro resignado do outro lado da linha mostrava que Romolo não queria fazer parte daquela tarefa. Mas que outra escolha ele tinha? Precisávamos encontrar os outros aliens o quanto antes e fazer com que se juntassem a nós pra poderem derrotar Darkshadow. Acho que pra isso teríamos que visitar as pessoas em seus respectivos lares.

Você poderia vir com a gente – disse ele com sua voz mais tentadora – Iria ficar muito menos chato com você. Faz o possível, eu vou ligar pra Kahel e pedir pra encontrar a gente depois do colégio amanhã.

Num ímpeto, tive uma idéia.

– Não precisa, deixa que eu ligo, você já gastou muito seus créditos hoje. Eu vou indo, tchau!

Desliguei o celular e fiquei pensando, mas estava muito claro, então desliguei a luz e fechei a cortina e fiquei pensando. Pensando em uma coisa que agora talvez eu pudesse até pensar que… Mas talvez eu estivesse errado e uma coisa que eu sabia era que se eu estivesse errado, então tinha coisa estranha na história. Mesmo que fosse pouco, eu tinha uma provável pista.

Com os dedos firmes e uma atitude positiva, disquei o numero do Kahel, e deixei tocar. Tocou uma vez, e tocou duas, e tocou três, e tocou quatro e tocou mais uma e mais outra e mais outra antes dele se dignar a responder.

O que foi Jack? Alguma novidade? – a voz dele era exatamente como eu lembrava, podia pertencer tanto a um menino quanto a uma menina, embora seu corpo fosse de menino, seu rosto, tudo em si era masculino, mas a voz…

– Bem, eu acho que vamos precisar dar um rolê pela cidade amanha, porque vamos ver uma possível garota alien. Romolo, disse que é pra você estar na porta da nossa escola amanha no horário da saída.

Sério? Isso é muito bom de ouvir! Eu passo amanha mesmo na porta do colégio de vocês e poderemos ir, tudo bem? Eu vou estar na porta da frente, e com a mesma roupa daquela vez.

– Tudo bem, sabe que ônibus você pega pra ir até lá não é? – era agora, ele se denunciaria.

Não preciso ir de ônibus, eu posso chegar antes de vocês respirarem indo a pé! – e com isso, minha suspeita se confirmava cada vez mais.

– Ta bem, então. Nos encontramos amanha mesmo, tchau! – desliguei apreçado demais pra pensar direito sobre o que eu faria amanha pra me livrar do Hikari. Tinha assuntos mais importantes na mente como o fato de que eu conheceria Tatiana Christine Sanches, e juntaria o Kahel comigo e Romolo mais uma vez.

– Você vai me levar pelo caminho até em casa, meu namorado fiel? – perguntou Hikari, quando o sinal bateu e me lembrando do quanto eu passara a odiá-lo.

– Infelizmente pra você e felizmente pra mim, eu tenho coisas mais importantes pra fazer e não vou poder te dar atenção até talvez o fim do mundo – e só pra atormentá-lo um pouco – E quem disse que eu sou um namorado fiel?

O sorriso dele foi largo e cheio de dentes. Eu até que amoleci um pouco, me lembrando do tempo em que éramos apenas bons amigos.

– Você não trai nunca. Não importa o quanto esteja com vontade, simplesmente não consegue trair a pessoa com que você está. Foi por isso que eu escolhi você, como meu primeiro namorado. Porque você jamais iria fazer algo como me trair.

Pensando bem, eu nunca tinha reparado, mas era possível que eu entendesse agora porque ele me chantageara daquele jeito. Ele nunca me viu ficando com garotos, e eu sempre falara das minhas namoradas, e nem uma única vez eu tinha visto o Hikari, nem com garotos nem com garotas. Agora que isso me vinha à cabeça, eu percebi que na verdade o Hikari só queria um primeiro amor, e estava me usando pra isso.

– Tem razão Hikari, eu jamais traí ninguém e você não vai ser o primeiro – disse com a voz mais branda e o sorriso mais sincero que consegui, apesar da raiva de ainda estar nessa situação – Nosso primeiro encontro vai ser na sexta, a que horas?

– Por que você não passa lá em casa umas 18 horas? Eu acho que é um horário adequado, assim você ainda me leva pra jantar depois nós vamos pra boate – a cara dele mantinha uma expressão de confusão, mas ao mesmo tempo de curiosidade com minha mudança de pensamento.

– Perfeito, até lá então Hikari! – e saí em disparada pro portão do colégio esperando que meu plano desse certo, mas pra isso eu teria que me encontrar com Kahel e persuadi-lo a roubar algumas coisas pra mim. E quanto mais tempo eu estivesse do lado do meu “namorado” melhor.

– Jack! – o grito de Romolo – Jack, espera por mim. Por que essa correria toda? Está assim tão ansioso pra encontrar a Tatiana?

– Também tem outra coisa que eu preciso fazer, mas pra isso vou precisar da ajuda de Kahel. Será que ele já chegou?

Dito e feito, ele disse que antes de respirarmos, ele teria chegado ao colégio e eu nem mesmo me preocupei com o numero de respirações que deveria contar, mas ao sair pelo portão do colégio, lá estava ele em todo o seu esplendor: o rosto lindo com olhos azuis, cabelos curtos com reflexos laranja, calça jeans azuis apertadas, e camisa laranja com mangas cumpridas cinzas. Ele estava encostado na parede do colégio ostentando toda uma realeza que fazia inveja, mas abriu um sorriso caloroso quando me olhou junto de Romolo e não dispensou um abraço de jibóia quando chegamos mais perto.

– Vocês dois não mudaram nada desde a ultima vez que nos vimos! E então, onde vamos começar a procurar? – falou ele.

– Kahel, acho que seria bom irmos pra casa dela conversar com calma, só pro caso dela surtar. Eu só vou confirmar o endereço.

E peguei o telefone, e disquei o numero do Hugo.

Fala aí bro! Quais são as novas?

– Nada de novo não, mas eu queria mesmo era o endereço da tua amiga, a Tatiana. Pode ser?

Na hora, meu patrão! Olha, tu sabe meu endereço, não sabe? Ela mora na mesma rua, só três casa depois da minha do lado contrário. Não vai ser difícil achar se você procurar pelas árvores. A casa dela parece um jardim botânico.

– Valeu irmão, tu salvou minha pele! Eu prometi que iria levar uns amigos pra conhecê-la e eu me esqueci de perguntar o endereço dela.

KKKK! Isso acontece é muito comigo, cara! Normal, mas enfim, se tu quiser passar aqui em casa depois, pode passar que eu acho que vai ta liberado pra fazer umas loucuras. Pode até levar teu namorado.

Eu podia ter passado sem essa. Enfim, eu me despedi dele e fui direto pro ponto de ônibus, pra pegar o ônibus do Hugo e tentar encontrar casa dela. Não demorou muito tempo, o ônibus passou e todos pegamos no ato, e (é claro) sentamos nas cadeiras do fundão pra fazer a bagunça doida. Ficamos conversando sobre besteiras durante uns 20 minutos que ficamos no trânsito, e quando o busão finalmente andou de novo, pedi uma licença estratégica pra Romolo e tentei encontrar uma maneira decente de pedir o que eu ia pedir pra Kahel.

– Kahel, eu vou sair com meu “namorado” na sexta de noite, e eu queria que você roubasse o notebook dele e apagasse o vídeo que eu e você aparecemos quebrando Darkshadow pra eu poder dá um pé na bunda dele e me livrar dessa chantagem maldita.

– Sem problemas, onde ele mora? – perguntou ele com a boca contorcida pra não sorrir.

– “Longe pra cassete” é especifico o bastante? Quando terminarmos essa missão, eu te dou os dados todos direitinhos, ta?

E finalmente chegamos ao nosso destino e saltamos, agora era caminhar um bom pedaço de chão, chegar até a casa do Hugo, e caminhar mais alguns metros e achar a casa da Tatiana. Nada muito complicado a essa altura do campeonato. E é claro que com os poderes de Romolo no páreo duro, não precisamos nos preocupar em “andar”, mas sim em flutuar em “confortáveis” placas de ouro pelo caminho deserto, e chegamos na casa dela em menos de cinco minutos.

– Você ta realmente treinado com seus poderes, né Romolo? – eu não conseguia ver como ele conseguiu avançar tanto em tão pouco tempo.

Ele simplesmente deu de ombros e apertou a campainha da porta da casa dela, e nos pomos a esperar. E passados alguns minutos, ouvimos passos atrás da porta e depois o som do trinco sendo aberto, e a própria porta sendo escancarada por uma índia lindíssima, digna do premio de beleza selvagem, com seus olhos castanho-escuros, seus traços indígenas, corpo perfeito, e seus longos cabelos negros levemente ondulados. Fiquei um pouco paralisado com tamanha beleza, mas me deixei levar pela energia boa que emanava dela.

– Boa tarde! Vocês já almoçaram? Querem almoçar comigo hoje? Vamos entrando, a casa é de vocês. – disse ela com uma atenção de alguém que nos conhecia a vida toda, e não a 30 segundos.

E não recusamos o convite, então entramos os três juntos com um peso na consciência por ter que envolver aquela menina tão doce e sorridente nessa batalha maluca, mas não tínhamos escolha. Tínhamos que vencer e sabíamos que ela nos ajudaria se ouvisse nossas razões (eu acho).