Rainbow War

Pobre Perla um ova!


– V-Vocês na-não querem e-e-entrar e e tomar u-um ch-chocolate quente? – gaguejou a pobre garota, com uma voz bem mais aguda e alguns decibéis mais alto do que o normal.

– Nossa você sabe fazer chocolate quente? Você deve ser boa na cozinha – disse eu, tentando ser educado.

– Ah, ela é boa em muita coisa, você pode apostar! – o tom do Hugo deixou claro que ele era mais experiente em matéria de namoro do que eu imaginava – Vamos pra sala esperar um pouco.

– Não tem perigo dos seus pais pegarem a gente aqui? – perguntei um pouco mais alto pra ela ouvir.

– Não, mamãe é médica é hoje é o plantão dela e papai só chega às 8 da noite. Podem ficar relaxados – dizia isso quando ela não estava nada relaxada.

– Então ta – disse eu me sentando na poltrona enquanto Hugo se jogava no sofá e relaxava tirando o tênis e a camisa.

Continuei conversando com ele por um tempo e acabei descobrindo que ele sempre vinha aqui depois da aula, geralmente avisado por um torpedo no recreio de que a barra estava limpa. Pelo jeito que ele se comportava naquela casa, dava pra ver que nenhum limite era intacto enquanto ele estivesse lá. Quase tive inveja. Quase.

– Aqui está o chocolate quente! Aqui está o seu, Hugo – disse ela entregando a caneca pra ele e dando-lhe um beijo que foi mais quente que o chocolate – E aqui está o seu!

Sabem aquele efeito que eu tenho sobre ela? Bem, ele se comprovou de uma maneira nada agradável: ela simplesmente conseguiu fazer a caneca de chocolate escaldante cair na camisa do colégio e pode apostar, caiu um bom bocado no meu amiguinho também. Cara, eu gritei com a queimadura e Hugo se juntou comigo na dança do índio abanando e com Perla gritando desculpas com uma voz agudíssima. Eu tenho que aprender a ser menos sedutor.

– Filho, eu realmente sinto muito! Me desculpa mesmo, eu sinto muito! Vem comigo, pra eu te ajudar! – disse ela e me puxou pro andar de cima da casa numa velocidade ofuscante e me atirou no banheiro do quarto dela.

– Não precisa, é serio eu to b… - eu estava tentando dizer isso a ela, mas ela colocou a mão na minha boca e fez um “shhhh” definitivo.

– Jack, você não devia estar aqui! Ficou maluco? – disse ela.

– Maluco, eu? Por quê?

– Não se faça de bobo! Eu não te falei pra me avisar antes de aparecer, e principalmente antes de vir acompanhado do meu namorado?

– Como assim? Eu nem te conheço, garota! Você ficou maluca?

O rosto dela pareceu assumir um tom de confusão, e nesse momento eu aproveitei pra tirar a mão dela da minha boca e poder falar com mais clareza:

– Eu te conheço de algum lugar?

Acabou o efeito histirizador que eu tinha sobre a Perla, e eu simplesmente ficara um pouco decepcionado quando ela falou simplesmente:

– Não. Acho que eu confundi as pessoas, me desculpa. Enfim, me dá as roupas que eu vou lavar e botar pra secar.

– Hugo não vai achar um pouco esquisito você ter me levado pro banheiro?

– Tira logo!

– Sim, senhor! – disse eu ao Sargento Brandão.

Em menos de um segundo eu estava apenas de cuecas, expondo toda a minha magreza com os músculos levemente definidos pra ela e não teve nem mesmo um suspiro.

– Sua roupa fica pronta em umas 2 horas. Enquanto isso é bom você ligar pros seus pais, almoçar e fazer o dever de casa. Não precisa se incomodar de andar de cuecas pela casa, só certifique-se de não aparecer nas janelas.

E me deixou sozinho no banheiro com minha cueca boxer preta da Red Nose. Eu não tinha vergonha de andar de cuecas pela casa de outra pessoa, tinha vergonha era de aparecer na frente do Hugo só de cuecas. Mas do contrario não podia simplesmente ficar enfiado dentro do banheiro até que minha roupa ficasse pronta, então eu só podia agir normalmente e rezar pra que ele acreditasse que eu estava com calor.

Com um suspiro resignado, abri a porta do banheiro e desci para a sala.

– Nossa! Tu é mesmo calorento, brother. Nem eu to com tanto calor a ponto de ficar só de cuecas. Alias, gostei da cueca, onde comprou? – Hugo realmente não tem muita malicia certas horas.

– Comprei no centro, depois eu te dou o endereço da loja. Você já almoçou? – perguntei um pouco constrangido.

– Não, eu estava esperando que vocês dois terminassem lá em cima. Como foi? – perguntou com uma cara maliciosa que me fez ficar vermelho.

– Não aconteceu nada entre a gente – detalhe, eu falei isso olhando pro chão só de vergonha.

– Pode apostar que houve! – disse ele se inclinando na minha direção com o sorriso ainda pior – Da próxima vez, você me chama pra fazer um menegé a trois ou você é muito conservador?

Ta bom, ele é malicioso até demais!

– O almoço está na mesa! – o grito de Perla me salvou do constrangimento.

Eu e Hugo pulamos de nossos lugares e assumimos nossos lugares a mesa e sinceramente, estava divino a começar pelo cardápio: salada de alface e tomate fresquinha, arroz branco, feijão preto, bife com batata frita. Eu nunca fui guloso, mas como pra tudo tem uma primeira vez, pedi desculpa umas 20 vezes por não ter sobrado comida pro jantar. Hugo não parecia nem um pouco incomodado pela minha aparente gulodice e Perla disse que gostava quando comiam sua comida com prazer, então eu fiquei tranqüilo.

– Já ligou pros seus pais? – Perla realmente parecia uma mãe e não uma adolescente de 15 anos.

– Vou ligar – e sai da sala pra ligar pros meus pais.

Quando disquei o numero e esperava que alguém atendesse não pude deixar de notar que convenientemente o celular da Perla também tocou e como eu estava mais perto, peguei o celular dela e dei uma olhada no numero. E gozado, pareceu muito familiar.

– Obrigada Jack, mas pode me dar meu celular agora – ela pegou o celular e se mandou pro quarto, bem na hora que minha mãe atendeu ao telefone.

– Oi mãe! Olha, eu não vou pra casa agora, eu passei na casa de uma amiga antes e depois eu volto. Eu já almocei, não precisa ficar preocupada. Tchau, beijo, te amo.

Desliguei o celular, percebendo que eu estava um pouco estressado com a situação que estava sendo criada por esses meus novos amigos e com essa aventura de aliens que eu estava vivendo.

– E aí, o que ela falou? – eu nem tinha reparado que Hugo tinha estado a menos de 25cm de mim espiando toda a conversa. Ele tinha um passo muito mais silencioso do que o aceitável.

– Ela disse tudo bem, que faz bem ficar com os amigos por um tempo. Mas o que você dizia hoje na hora do recreio? – eu tinha que saber quem era o alien que ele conhecia, se era eu ou se era algum dos outros aliens ou se era uma invenção barata.

– Sobre qual dos assuntos?

– O de existir um alien de verdade aqui, na nossa cidade. Você falou com tanta convicção que eu fiquei até curioso.

Ele me lançou um olha absolutamente indecifrável e um sorriso de gente grande, quando disse a pessoa:

– Uma garota da minha rua chamada Tatiana. Ela é muito legal, mas é inegavelmente um alien. Quer conhecê-la?

– Tatiana do que? – perguntei com verdadeiras borboletas palpitando dentro do meu estomago como ginastas olímpicas.

– Tatiana Christine Sanches. Você poderia ir lá comigo um dia desses pra visitar a garota, vai se surpreender muito.

Eu estava sem palavras e por incrível que pareça, começava a agradecer ao Hikari pela pesquisa que ele tinha feito, agora tinha sido de grande utilidade. Não perdi muito tempo, e marquei uma visita com ele pra conhecê-la e saber se ela era uma das que estávamos procurando, e quando terminamos de combinar a visita, Perla desceu a escada e anunciou que queria ter um particular com Hugo no quarto dela. Por conseqüência, eu fui direto pra mesa da cozinha (já limpa) abrir meus deveres e começar a resolver quatro paginas português que eu tinha como castigo pelo professor ter faltado, e com isso, ficar ocupado demais pra ouvir os rangidos da cama.

Como tudo o mais deu certo, acabei todos os deveres de português em 20 minutos e fui estudar pra semana de provas para o caso de precisar passar cola pro Hikari, mas fiquei entediado demais pra estudar mais e parei depois de ter revisado umas cinco matérias. E a dupla dinâmica escolheu esse momento perfeito para sair do quarto e me peguei examinando discretamente ambos dos pés a cabeça, tentando descobrir o quão intensivo tinha sido o sexo entre eles.

– Cara, você tem que relaxar! Estudar não é tudo no mundo, sabia? – Hugo tinha uma expressão maliciosa quando disse isso – A gente tem que ir agora amor, mas eu volto assim que der e você me der carta branca.

E sem muita cerimônia, pegou as suas coisas do chão, se arrumou o máximo possível e foi pra porta, me esperando. Eu dei um suspiro resignado fui pra porta também com uma sensação engraçada, mas é lógico que minha nova mãe não ia me deixar sair assim tão fácil:

– Jack, você pode ser magrinho, mas tem uma bunda realmente linda!

Olhei pra Perla com um olhar misto de surpresa, admiração, confusão, medo e alguma coisa que não soube definir. Foi quando eu me senti leve, aliás, leve até demais! Quando eu uso o uniforme, eu compro um tamanho acima pra me tapar mesmo, não gosto de roupa apertada! Isso me faz parecer ainda mais magro do que eu já sou, e muita gente diz que eu não tenho bunda, mas quando me olham na praia, a coisa muda de figura, porque na praia eu geralmente fico de sunga, mais ou menos como agora, que eu vestia apenas uma cueca boxer.

Morto de vergonha por causa desse infeliz comentário, dei meia volta e tratei de pegar minhas roupas na secadora, vesti-las e pegar meu material pra ir embora apressadamente, mas tropecei quando passei pela porta de vez. Acho que a culpa foi do pé do Hugo que “por acaso” estava no meu caminho. Perla, é obvio, foi ver se eu estava bem e eu já tinha me esquecido do comportamento agressivo dela dentro do banheiro. Ela por fim me ajudou a levantar e se despediu de mim com um efusivo abraço apertado como o de uma sucuri, mas carinhoso como o de uma mãe.

– Tchau, Jack! Eu vejo você por aí, mas se quiser voltar aqui, será sempre bem vindo!

E nos viramos (eu e Hugo) para encarar a viajem até em casa, começando por esperar o ônibus. Chegamos ao ponto e eu não consegui agüentar ficar de boca fechada sobre um aspecto, e soltei sem muita delicadeza:

– Não sabia que você gostava de pegar mulher mais velha. Quantos anos ela tem por acaso?

Ele me deu mais um olhar sacana e disse, quase rindo. Não, na verdade ele disse isso pra mim as gargalhadas:

– Vinte! – ele se dobrava de rir – Ela já está na faculdade de design de moda! As vezes eu sirvo de modelo pra ela. KKKKK!!!

Olhei pra ele completamente atordoado com o golpe da idade. Felizmente meu ônibus chegou e eu pude pega-lo sozinho pra ir pra casa. Quando subi, me atirei na cadeira e imediatamente me vi pensando em como seria namorar alguém que é sete anos mais velha do que você. Eu precisava perguntar isso a Romolo. Não demorei muito com o celular e consegui encontrar ele na agenda e quando eu estava prestes a ligar, me lembrei do número no celular da Perla, e batia exatamente com o número de Romolo.