Rainbow War

Não saia da cama


Hoje era um dia que eu não devia ter saído da cama. Se soubesse como tudo ia acontecer eu jamais teria nem ao menos acordado, mas infelizmente eu não consigo controlar minhas funções biológicas e nem o meu destino. Hoje eu descobri que não sou um humano, mas sim um mercuriano.

Veja bem como as coisas se sucederam: eu acordei hoje, tomei meu café da manhã, me despedi dos meus pais e fui pra escola, e no caminho eu não podia deixar de notar que alguém estava me seguindo. Parece ridículo, eu sei, mas eu me sentia assim mesmo: como se alguém estivesse a espreita de cada movimento que eu fazia, e isso estava começando a me assustar.

De qualquer forma, continuei até que finalmente cheguei ao meu colégio: um prédio de três andares com as cores do arco-íris, totalmente preparado pra abrigar gente o suficiente pra lotar um estádio. Eu entrei pelo portão deixando do lado de fora a sensação de estar sendo vigiado, e me dirigi confiante para mais um dia de aula chata e cansativa.

Agora vou me apresentar devidamente: eu sou Jack, tenho 16 anos e estou no 2º ano do EM. Sou alto de cabelos e olhos castanhos, e uma pele morena suave, e segundo o ranking, o terceiro mais inteligente da sala. Sou um cara calmo, doido, animado, e de poucos (mas fies amigos). Acho que é só por enquanto… Por enquanto.

– Alguém parece muito distraído hoje – disse uma voz atrás de mim – O que aconteceu com você?

Meu amigo Romolo apareceu atrás de mim, e isso ate alegrou um pouco do meu dia. Ele era meu amigo mesmo há pouco tempo, mas eu gostava muito dele mesmo. Tinha um jeito incrível com sua estatura média cabelos encaracolados e olhos negros.

– Comigo nada, mas parece que alguém tem me seguido desde casa até aqui. Estou um pouco preocupado com isso.

– Deve ser só coisa da sua cabeça. Procura relaxar, talvez você só esteja estressado por causa da semana de provas que vem aí.

– Nem me fala.

O sinal tocou nesse instante e cada qual para sua sala, mas como de praxe, eu fui antes beber água e ir ao banheiro. E justo hoje parecia que todos tinham deixado pra fazer isso em casa, sinal de que eu estava com muita sorte (ou muito azar). O banheiro estava vazio, e quando terminei de fazer as necessidades e fui lavar as mãos, eis que ouço uma voz terrível, feita de morte líquida temperada com pânico e outras coisas nesse nível.

– Parece que finalmente nos encontramos Jack. Você não imagina o quanto eu estive te procurando.

Apesar de ser apenas sete horas da manhã, do lado de fora escureceu para alguma coisa em um tom negro de piche, e eu acendi as luzes pra compensar. Não me pergunte de onde surgiu o camarada, mas na minha frente, tinha se materializado um camarada vestido todo de preto, e levem bem a sério quando digo isso: calças jeans pretas, botas pretas, sobretudo de couro preto sem mangas aberto mostrando um pouco do seu peito malhado. Devia ter um 1,80 m e quase 90 kg, e usava óculos escuros e os cabelos trançados. Tinha pele de chocolate.

– Você não sabe quantos anos eu passei te procurando, contando cada dia até este momento chegar, e agora que chegou – ele pronunciou cada palavra pausadamente como que saboreando – mal posso me conter!

E apontou sua mão pra mim e as sombras que tinham no banheiro começaram a me envolver e a tentar me estrangular. Eu não conseguia imaginar uma maneira de sair daquela situação, porque nunca ouvi falar de sombras que ganham vida pra matarem alguém por estrangulamento. Eu só podia esperar.

– Finalmente chegou o momento em que vou esmagar a dinastia dos mercurianos com minhas próprias mãos, destruindo o sucessor da linhagem real da casa de Hakzen. Aproveite seus últimos minutos de vida, seu verme insignificante.

– O quê? Eu não estou entendendo nada! Por que você quer me matar se eu nunca te fiz mal nenhum? – eu já estava um pouco desesperado com as sombras se enroscando pelas minhas pernas acima.

– Você pode não ter feito, mas sua raça miserável fez! A sua e as outras seis raças miseráveis! Agora que eu encontrei você, poderei encontrar os outros também e assim minha vingança estará completa!

As sombras agora se enroscavam no meu peito e pelos meus braços, e eu começava a entender o quanto as sombras eram frias. Eu estava tremendo de frio com elas se enroscando sobre meu corpo e ainda não tinha nenhuma idéia de como poderia pará-lo. Na verdade, eu já estava com medo o bastante para não ter mais lucidez, mas no ultimo momento respirei fundo e lancei mão de um ultimo recurso:

– E o que vai fazer quando sua vingança estiver concluída? – até minha voz estava tremendo.

Ele me olhou e por trás dos óculos, eu quase pude ver como seus olhos faiscando de vontade de fazer o que quer que ele tenha planejado.

– Eu vou destruir seu mundo, e todos os que vivem nele. Vou destruir todos até que não sobre nenhum!!!

E deu uma gargalhada que encheu meu peito de pavor, mas também de uma cólera que eu nunca antes tinha sentido. Eu não ia permitir que ele fizesse mal a nenhum dos meus amigos, que machucasse a minha família ou pessoas inocentes que não tinham nada a ver com isso. Minha ira agora era tão grande que eu a sentia queimar dentro de mim, literalmente falando. Eu estava me sentindo cada vez mais quente, e estava gostando disso, de como o calor se espalhava pelo meu corpo e eu queria cada vez mais.

– Não enquanto eu viver! – disse no momento em que as sombras alcançavam meu pescoço e eu senti minhas costas queimarem com brasas.

As sombras que me apertavam se dissiparam e eu olhei para o rosto do meu agressor e pude ver um resto de confusão no seu rosto, mas logo mudou pra serenidade e desprezo. Mas agora era minha vez: apontei minha mão para ele e… nada aconteceu! Mas pude sentir que minhas costas ainda tinham algo, então olhei e vi: eu tinha asas de fogo.