Rainbow War

Eu emociono Perla


Quando o recreio bateu, eu ainda estava mais que afetado pela proposta mais do que indecente do Hikari, eu estava completamente atordoado. E só de pensar que eu iria pra boate com ele na sexta, que por acaso era daqui a dois dias. Eu precisava começar a economizar dinheiro urgente.

– Jack, vem aqui! – a voz de Romolo me chamou – Preciso conversar um pouco com você sobre a nossa ida na casa do Kahel, porque eu acho que seria educado marcar um dia que dê pra ficarmos a vontade com ele.

Olhei pra ele com uma leve indiferença, que não era característica minha. E ele notou isso.

– Você parece diferente hoje. Aconteceu alguma coisa com o seu amigo?

– Que amigo? – perguntei mantendo a indiferença.

– O japinha que queria falar contigo hoje de manha.

– Ah, o Hikari. Ele não é mais meu amigo, é meu namorado.

Eu estava tão distraído que nem me toquei que eu tinha falado aquilo logo pra ele. Só fui perceber quando eu encarei Romolo nos olhos e juro que pude ver um resto de desapontamento nos olhos dele, mas ele sustentou meu olhar e ainda continuou conversando normalmente.

– Era por isso que ele te chamou e disse que queria falar a sós contigo? – o tom da voz dele mostrava claramente o que ele sentia em relação ao Hikari (e talvez a mim).

– Na verdade, ele queria me mostrar uma pesquisa que ele tinha feito sobre aliens, e até que tinha umas paradas interessantes como um vídeo de mim e do Kahel quebrando o Darkshadow ontem na praça. Ele fez chantagem comigo pra não revelar o vídeo pra ninguém e esse foi o preço que ele colocou.

– Que garotinho esperto. Quando vai ser o primeiro encontro do casal? – Romolo não era muito de brincar assim comigo, por isso até estranhei um pouco, mas levei na boa.

– Vai ser sexta-feira, na boate. Eu vou ter que levar e bancar ele a noite inteira. Porque você e Kahel não se reúnem sexta a tarde e nós três de novo no sábado pela manhã?

– Sem querer ofender, mas acho que você não tem pique pra encarar uma boate até altas horas e levantar no dia seguinte pra uma reunião negócios. Vamos marcar pra sábado à tarde, e ainda ficamos com a noite livre.

Olhei pra ele uma vez, procurei, olhei a segunda vez, examinei meus ouvidos e olhei pela terceira vez pra ver se era mesmo o Romolo que eu conhecia que estava falando comigo naquela hora. Ele não era muito de sair pra lugar nenhum, e de repente, ele estava praticamente me chamando pra sair! Eu posso cair pra trás, porque eu sinceramente não acredito?

– Você está me chamando pra sair? – perguntei, e senti meu coração acelerar um pouco quando ele sorriu e disse:

– Não sei. Kahel com certeza vai querer procurar outros aliens e de noite é mais adrenalina, porque vamos estar no terreno do Darkshadow.

Tchibum! dentro de um lago congelado! Eu estava totalmente ansioso pela resposta, mas agora eu achava que podia ter passado sem essa. Sempre que ele diz “não sei”, pode-se atribuir 50% de chance pra sim e 50% de chances pra não, e as chances pra não sempre são maiores do que pra sim. Resumindo, aquilo era um não.

– É né, boa sorte pra vocês então! Eu tenho que babar o Hikari enquanto o tempo existir pra não sermos descobertos. Ah, depois nos falamos mais, eu combinei de passar o recreio hoje com o Hugo.

Ele me olhou com uma cara muito estranha e fez seu famoso “AHN!?”

– Quem é Hugo, pra começo de conversa?

– Um menino que eu conheci hoje, ele jogou uma bola na minha cabeça.

Dessa vez Romolo, não falou nada, simplesmente disse “Aiai” e foi-se embora. E eu fui pra pracinha do colégio procurar o Hugo.

– Você demorou – disse ele quando me viu chegando – Toca aqui, bro.

Passado os cumprimentos, nos sentamos e conversamos um pouco. Ele era uma criança ainda, mas se interessava muito por tecnologia. Conversamos basicamente sobre computadores, tecnologias, ciência e outras coisas assim. O menino nunca mesmo ia ter problemas com física e matemática. Mas o tema da conversa ficou um pouco tenso quando começamos a falar da existência de vida em outro planeta, coisa que eu sabia muito bem que existia.

– Eu tenho certeza que existe vida em outro planeta. Não faz sentido que em um universo tão infinito quanto o nosso, nós sejamos o único planeta que tem vida! – ele era bem veemente falando

– Pode ser, mas não tem como termos certeza – eu não ia dar essa bandeira toda – até que se possa viajar até um planeta e comprovar que exista de fato um ser que tenha um sistema nervoso central, um sistema vascular e etc. a vida em outro planeta é uma mera especulação.

– Talvez seja mera especulação se você olhar por essa ótica de que os aliens devem ter aquilo que nós temos. Quem garante que isso é necessário pra sobreviver lá fora como eles fazem?

– Por que esse é o inicio de toda a vida. Todas as criaturas vivas têm esses sistemas.

– Está se esquecendo das bactérias e dos seres vivos microscópicos!

– Disseste bem! Microscópicos! Isso com certeza existem no espaço e é uma forma de vida. Mas não é uma forma de vida inteligente, e sim uma forma de vida autômata.

– Briófitas não têm sistema vascular e mesmo assim são seres vivos.

– Tá, então incluindo em uma hipótese, pode existir plantas alienígenas. Mas isso não comprova a existência de aliens.

– E se eu dissesse que tem um alien aqui, nesta cidade?

Dessa vez, meu pobre coração me deu um susto tão violento que eu devo ter ficado branco, ou em algum tom mais preocupante do contrario, Hugo não teria me dado aquele olhar estranho.

– Cara, você ta com uma cara cruel! Ta se sentindo bem? – ele parecia preocupado que eu desmaiasse ali mesmo.

– Preocupado?! Quem está preocupado?! Eu estou totalmente normal!! Não tem nada de anormal por aqui, tem!?

Eu dizia isso, enquanto sentia um calor conhecido no peito se estendendo vagarosamente por todo o corpo e começando a se concentrar nas minhas costas. Quase tive uma sincope tentando imaginar num jeito deter minhas asas loucas por liberdade.

– Cara, você realmente ta preocupado. Vamos fazer o seguinte: hoje depois da escola eu vou visitar minha namorada e ela tem algumas amigas que são show de bola! Sempre que se está preocupado, você tem que procurar uma mulher pra descarregar.

E deu uma risadinha tão sugestiva que eu relaxei. Eu realmente estava precisando de uma mulher pra extravasar meu estresse. Considerando que as amigas da namorada do Hugo tivessem 12 anos no máximo, então seria quase um crime dar em cima delas. O que de qualquer jeito eu não poderia fazer, já que eu estava namorando com o Hikari. Um namoro forçado, fruto de um chantagem barata que não tinha amor nem nada, só interesse!

– Feito, só que você vai ter que esperar um pouco, porque hoje eu tenho o sexto horário.

– Que mané esperar que nada, meu filho! Eu tenho Educação Física hoje, e só vou sair no sexto! – a cara dele não era exatamente de tristeza por isso – Você vai se divertir muito com as amigas da Perla, elas são foda!

– Ta, então a gente se encontra na saída! Até lá.

Quando sexto horário bateu, eu já estava morto de alivio que finalmente ia me livrar da companhia indesejada do HIkari e de todas a brincadeiras insuportáveis que ele fazia durante esse tempo. Eu praticamente fugi da sala de aula, com os livros e cadernos atirados de qualquer jeito dentro da mochila e com uma de assassino perigoso que deve ter feito as portas do Inferno se abrir pra todos os demônios virem me buscar pedindo pra ensiná-los a fazer a carranca.

Quando cheguei ao pátio externo do colégio, Hugo ainda não tinha chegado e, provavelmente eu teria que ficar esperando. Surpreendentemente não demorou muito, e Hugo chegara ao pátio também cercado por uma galerinha que parecia brilhar de tanto suor. Por isso prefiro natação a futebol. Ele deu um sorriso sincero e se despediu dos amigos e começamos a caminhar ate o ponto. Conversamos mais um pouco sobre as amigas da namorada dele e quando o nosso ônibus chegou, eu já tinha certeza que ele era um cara muito bacana e que poderíamos ser bons amigos.

Chegamos na casa da namorada dele e ficava em um bairro próximo ao meu, na verdade eu estava achando que conhecia aquele bairro de algum lugar, mas não sabia da onde. De qualquer maneira, ele tocou a campainha e deu um grito de “querida, cheguei” e a garota rapidinho veio atender a porta. Tenho que reconhecer que eu estava totalmente enganado a respeito da Perla. Imaginava uma garotinha inocente em seus 12 anos e diante de mim se erguia uma garota linda E gostosa, muito sorridente com seus 15 anos, pele branca com olhos e cabelos encaracolados pretos, com seu poderoso 1,63m e tudo o que se tivesse direito de uma garota como ela. Confesso que se ela não fosse namorada do Hugo, teria passado uma cantada poderosa pra ter uma chance.

Mas pelo jeito que ela me olhou, percebi que eu não teria chance nenhuma enquanto eu vivesse: o rosto lindo e sorridente dela se enrijeceu, os olhos se arregalaram um pouco e ela agora antes relaxada, emanava uma tensão que eu nunca tinha visto. Cara, agora eu entendo porque o Hikari quis namorar comigo. Se eu tenho esse efeito nas mulheres… ela já estava até suando frio!