Rainbow War

Alexandre e seu soldado


Vamos por as coisas em ordem: Sim, eu tomei pílulas de Viagra por engano, sim, eu agarrei Hikari com tanto fogo que quase transamos na frente da casa dele e sim, se eu dançasse qualquer música que fosse naquele estado, o zíper arrebentava. Nada muito comprometedor que eu não pudesse dar um jeito, se eu encontrar algum remédio de castração. E sim, eu sou extremista nesse ponto!

– Jack, fala a verdade. Você está bem? – Hikari estava me olhando de um jeito bem esquisito.

– To ótimo! Nunca me senti tão bem na vida, como você pode conferir! – falei tentando fazer graça da situação – E aí, vamos nessa que é bom à beça?

– Não sei não, Jack. Você parece meio tarado demais hoje. Por acaso, você não teria tomado Viagra pra me foder hoje não, né?

Hamlet diz: “Ser ou não ser, eis a questão”. Jack diz: Mentir ou não mentir, eis a questão!

– Foi involuntário – sussurrei.

– O quê, pequeno? – ele, às vezes usava regionalismos. Nesse caso ele foi lá pro Maranhão.

– Deixa pra lá! Anda, sobe na moto e vamos de uma vez pra boate! – agora era uma questão de honra levá-lo pra longe de casa, e deixar a barra limpa pra Kahel.

– Jack, vai ser um crime eu sentar atrás de você com o Pê-chan desse jeito. Deixa que eu dirijo.

Nessa hora eu fiquei vesgo. Um olho lançou um olhar totalmente safado, tarado, absolutamente pornográfico. Mas o outro olho lançou um olhar de Drácula, silencioso e mortal. Jamais alguém que dirigira a minha moto voltara vivo pra contar a história, já que eu e Nefertiti somos praticamente casados. Hikari estava brincando com um vulcão se achava que eu iria entregar minha Nefertiti nas mãos dele!

– Acho que podemos colocar nos seguintes termos: mais cedo ou mais tarde, eu vou alcançar essas áreas, então não precisa pressa e muito menos correr perigo de morte de eu entregar Nefertiti em suas mãos.

Ele me olhou com um misto de indiferença e descaso da situação. Enfim, montei em Nefertiti (antes que muitos pensem besteira, Nefertiti é minha moto. Eu a batizei assim quando a ganhei e benzi na igreja) e fiz dois sinais: um de alivio por ninguém mais notar a estrutura do Pê-chan e outro pra Hikari chegar junto também. Tudo devidamente acomodado dei a partida e me caminhei em direção aos bairros nobres, onde ficam as boates mais chiques e requisitadas da cidade.

– Você é muito cavalheiro de gastar todo esse dinheiro comigo. Eu estava pensando nas boates do centro, pra falar a verdade.

O tom de voz dele parecia totalmente diferente depois daquele beijo. Parecia meio aéreo meio arrependido. Quase como se quisesse refazer as coisas, mas não vendo como. Será que ele se cansou de namorar comigo?

– Essa aqui está ótima. Deixa eu estacionar, e aí sim poderemos nos divertir – deixei o tom de voz bem sugestivo. Depois de muito rodar atrás de uma vaga, achei uma um pouco longe, mas era bom caminhar. Fui me levantar e percebi que ele tinha me abraçado – Há quanto tempo estás me abraçando?

– Desde que eu subi na moto, idiota! Como sempre, o distraído nem percebeu.

– Ai ai! Credo, momento Romolo. Odeio ele.

– Do jeito que você sorri quando fala dele, parece até que ama – disse Hikari – Enfim, vem cá, Jack! Pê-chan vai se acostumar com essa posição se você não vier aqui depressa – Cara (de) safado!!!

– Safadinho, fala a verdade – disse eu me levantando e caminhando até ficar a menos de dois mm dele – você quer, não quer?

Ele simplesmente se afastou de mim, pegou minha mão e começamos a andar de mãos dadas até a boate. Enquanto a minha estava gelada de expectativa, a dele parecia normal, ou talvez estivesse invertida e eu não percebi. Só sei que fiquei um pouco mexido com o fato de estarmos andando de mãos dadas sob a luz do luar. Olhei-o, e não me arrependi da visão:

Os traços nipônicos, delicados, mas marcantes do rosto dele, a pele meio característica dele, o sorriso inocente que brilhava quando ele estava felizmente entristecido, os olhos puxados e negros com uma expressão cálida do sorriso. Tudo nele me chamava e me fazia repensar no nosso relacionamento.

– Ta me olhando muito, Jack. Eu nem sou tão bonito assim – disse ele sem nem me olhar. Que bela visão periférica.

– Então hoje você simplesmente se transformou. Você está lindo!

E estava mesmo! Ele era pequeno, e colocou uma calça jeans escura justa, uma camisa básica branca com gola e “V”, um colete cinza e um chapéu preto estilo Bruno Mars que ficou lindo com penteado franjinha emo no cabelinho preto dele, e o fiel All Star branco. Resumindo, ele era a imagem da beleza.

– Hikari, vai indo na frente, que eu tenho que fazer uma ligação – disse eu e me afastei dele um pouco.

Caminhei até um canto afastado perto da entrada e com algumas pessoas em volta pra proteger meu celular de olhares indesejáveis. Cacei o numero na lista até achar a pessoa que me convinha e disquei firme e forte da minha intenção. Era hora de terminar com a chantagem de uma vez por todas!

– Kahel, a casa do Hikari ta liberada. Vai lá e não deixa pista nenhuma sobre você, viu?

– Falou, Jack! Boa sorte hoje no encontro, até porque será o ultimo.

Desliguei o telefone, e fui me encontrar com Hikari.

– Jack, é a nossa musica! Vamos pra pista!! – Hikari e eu amávamos aquela musica, até porque parecia muito conosco:

There are so many things to say
So many feelings
I was hiding
Every night and every day

And somehow
I understand now
That you are my desire

My true squire

And now I confess
Because I can not guess
If you believe in love or not
Well, do what?

Keep on loving you
Continue making fun of you
I could not get away
Because I want to stay

Forever by your side
Even falling apart
I'll never betray
Because I love you this way

– Eu adoro essa musica! – gritou Hikari, pirando no meio da boate e eu junto.

Essa tem sido nosso tema de novela desde que estreou nas rádios há uns três anos. Uma mistura muito louca de pop com eletro. Simplesmente diva! E eu e ele dançamos demais essa musica enquanto tocava, e quando ela parou, ainda ficou ressoando em meus ouvidos enquanto eu o olhava. Ele estava se divertindo tanto!

– Jack, o quê é que foi? Você não está nem dançando!

– Se eu dançar, o Pê-chan rasga a minha calça!

– Ah, fala sério! Quanto Viagra você tomou pra ficar numa situação como essa?

– Duas pílulas! Acho que daqui a pouco perde o efeito!

– Tu é que ta dizendo!

E voltamos a dançar como podíamos. Mas logo senti sede, então fui ao bar pedir alguma bebida.

– Por favor, uma cuba libre. Bem gelada!

– Com muito ou pouco álcool? – perguntou o barman.

– Bota meio a meio. Meio litro de vodka e meio copo de Coca.

Aquele barman jamais vai esquecer a minha fuça enquanto viver, mas teve que engolir essa e mandar ver no drinque. E quando ele finalmente preparou, disse:

– Seu amigo gosta mesmo de dançar, né?

Hikari!

– É meu namorado. E um excelente dançarino por sinal, mas não sei. Até há pouco tempo, ele era meu melhor amigo e eu tenho medo de que estejamos apenas confundindo os sentimentos!

– Às vezes, o verdadeiro amor nasce de uma verdadeira amizade – disse o barman olhando no fundo dos meus olhos.

Credo, nem eu agüentei esse clichê todo! ARGH!!! Bebi o drinque num só gole e voltei mais afogueado pra dançar até as pernas rasgarem com Hikari. E dançamos muito mesmo, mas logo logo as coisas foram ficando mais entediantes na boate e eu comecei a ter um colóquio com Pê-chan, mais ou menos desse jeito:

– Pê-chan, que tal irmos embora daqui e levarmos o Hikari a um lugar mais interessante?

– Sabe, tem um lugar muito interessante que inaugurou a pouco tempo e tem falado muito bem dele mesmo. Nós podíamos ir pra lá.

– É uma boa idéia, qual é o nome do lugar? – eu tinha que perguntar.

– Sexcrets. Dizem que as instalações são divinas e que tem tudo por um preço maravilhoso. Mas é bom verificarmos por conta própria, não acha?

– Com certeza! E como trouxemos o Hikari, nada mais justo do que ele vir conosco como convidado de honra. Pelo menos é o que eu acho.

– Apoiado, apoiado!

E lá vamos nós, fazer uma pequena zona no Sexcrets. Fui falar com Hikari e disse a ele que íamos agora para um lugar surpresa e que ele jamais iria se arrepender de confiar em mim. Resumindo a história: dei uma acochada segura no Hikari por trás, e sussurrei no ouvido dele:

– Acho que aqui está muito cheio, vamos para um lugar mais discreto?

As últimas três palavras despertaram um frêmito de excitação nele que eu quase gemi com isso. Enfim, saímos da boate era umas 2:30 da manhã e voamos na minha moto para o Sexcrets. E pra quem não sabe, o Sexcrets é um motel chiquerrimo, mas que com o dinheiro que eu tinha dava pra ficar umas boas quatro horas lá.

Entramos no motel e escolhemos um bom quarto pra brincarmos. Claro que a brincadeira seria bem melhor se estivéssemos em algum lugar exótico, como um calabouço com correntes e instrumentos de tortura medievais. Quem sabe talvez até roupa de couro! Não, eu já estou exagerando. Acho melhor eu e Hikari chegarmos logo na parte do rala-e-rola antes que eu simplesmente exploda.

– Jack, eu sei que você quer mesmo provar que o 1º encontro pode ser perfeito, mas isso não é um pouco rápido demais? – falou Hikari, ignorando a suíte presidencial que eu tinha pego e olhando no fundo dos meus olhos.

Eu podia ver nos olhos dele, a mesma expressão que tinha quando tínhamos nos perdido dos pais dele num passeio pela praia. A expressão de medo infantil com o desconhecido, mas também de excitação com o novo. Eu podia ver isso agora e sabia que ele não tinha esse medo à toa. Tinha minhas duvidas de que outros também aceitassem tão naturalmente como meus pais haviam aceitado.

– Calma, cara! Nós só vamos fazer aquilo que você quiser. Se você acha que está muito cedo, então não vamos fazer nada. Eu te levo pra casa e nos falamos mais tarde.

– Jack, minha primeira vez era pra ser com alguém especial. Mas ninguém é mais especial do que um amigo de verdade. E um amigo como você é completamente único, e eu jamais iria me arrepender de perder com você.

Ele me deu um sorriso envergonhado e baixou a cabeça. Deus do céu, esse menino consegue me manipular com perfeição. E é por isso que ele é, foi e sempre será meu melhor amigo. Mas eu posso esquecer que não fico com amigos pelo menos por uma noite, afinal ele é meu namorado pra todos os efeitos.

Aproximei-me dele, levantei-lhe a face e dei-lhe o mais suave dos beijos. Começou como um simples selinho, e foi crescendo e aquecendo até se tornar de uma volúpia que devorava tudo que encontrava, tal qual incêndio numa floresta seca. O mato seco era um combustível perfeito para o fogo que nos consumia, revelando o inferno que eram nossos corpos unidos no abraço apertado da jibóia envolvendo sua presa.

Ao final de um tempo nos separamos, afim de olharmos nos olhos um do outro. Os olhos sempre tem a capacidade de dizer o que a alma pensa, mas nesse caso, já não era somente a alma que pensava. Pensavam juntos todo o conjunto de engrenagens que formam o ser humano, de tal modo que mesmo sem encararmo-nos, era possível dizer o que se passava apenas com um toque de nossas mãos. Nossa conexão era perfeita, e nossa amizade era fiel, mas o amor…

Depois do beijo, vieram as caricias, e depois das caricias, vieram as loucuras dos apaixonados. O quarto já não era mais um ambiente luxuoso o bastante para demonstrar o esplendor de nossa união. Na verdade, luxo nenhum no mundo era o bastante agora, já que nossa união não era somente física. Firmamos naquele momento um pacto espiritual naquele momento, na qual os termos não eram importantes. Eram apenas termos.

Hikari dormiu nos meus braços, e eu dormi protegendo-o de tudo e de todos, sabendo que agora, as coisas caminhariam em um rumo totalmente diferente. Mas um rumo bom. Um rumo que talvez fosse capas de ajeitar as marcas do passado, e endireitar a estrada para o futuro. Não sonhei com nada. Não precisava. Meu sonho estava exatamente no lugar certo, e eu não fazia questão de sonhar pelo menos por enquanto. Mas o mundo não para, e eu precisava continuar. Sendo assim, quando deu 6:30, acordei e fui embora do motel com Hikari na garupa da moto.

– Jack, foi perfeito. – disse Hikari, abraçando minha cintura ao relembrar.

– Eu sei, eu também achei.

Levei-o para casa e de lá fui para a minha, decidido a recuperar um pouco da energia que tinha gastado e com certeza falar com Kahel mais tarde a respeito do vídeo. Engraçado, de todas as coisas que eu poderia me arrepender, a única que me vinha à mente era ter enganado o Hikari só pro Kahel conseguir deletar o vídeo. E não importava o quanto eu repetisse a mim mesmo que o Hikari mereceu, que ele não tinha me dado escolha, eu sabia que o único mentiroso as história era eu.