Rainbow War

A batalha de Aurum


Sabem aquela frase famosíssima que todos dizem quando estão por cima da carne seca? “O céu é o limite”? Pois bem, o céu não tem exatamente um limite a ser atingido quando se tratou do fogo. O chão realmente era muito bom em abafar minhas chamas, mas quando se acumulou calor de tal forma a superar uma termoelétrica, as coisas mudam um pouco de figura.

Minhas costas estavam começando a ficar da temperatura de um motor de jato. E com certeza a diretoria também vai pensar que ouve um pequeno incêndio, já que a sala estava somente as cinzas. Mas o pior ainda não era isso: minha explosão foi tão forte que praticamente avançou em cima do rapaz dourado, e isso foi ruim. Mas o fato de quase ter torrado aquela barata preta do Darkshadow foi perfeito e eu amei.

No mesmo instante que eu explodi, criei minhas asas de fogo e fugi voando (literalmente) da sala. Precisava da ajuda de muitos pra derrotá-lo, e precisava saber quem era aquele de cabelos de ouro. Quando consegui sair da sala em chamas, procurei ao redor pelo ser dourado, mas não o encontrei. Comecei a ficar com medo de que ele tivesse sido cremado junto com Darkshadow. Estremeci ao pensar nisso. Mas ele parecia ser algum tipo de anjo, pois ele literalmente caiu do céu!

– Aquela explosão poderia ter me matado, Jack! – disse ele me encarando olho no olho – Você é um assassino louco e perigoso. Se eu não tivesse me segurado no teto, provavelmente não teria sobrevivido. Espero que o demônio sombrio não tenha tido a mesma idéia.

– E se eu tiver tido uma idéia melhor? – disse a voz mais odiada e cavernosa do mundo de dentro do inferno de fogo que era a sala.

Darkshadow tinha usado algum tipo de esfera de sombras pra se proteger e como o fogo causou destruição de tudo que pudesse criar novas sombras dentro da sala, ele usou a própria sombra para criar um caminho de sombras que o transportasse seguramente até fora da sala. Quantas sombras eu falei mesmo? Enfim, em menos de 30 segundos ele chegaria ao lado de fora se continuasse avançando no passo em que estava.

– Você acha mesmo que esse foguinho mixuruca vai me impedir de destroçar vocês? Mas é mesmo muita petulância! – disse ele saindo do inferno como só Lúcifer sairia. Se bem, que como o pai dele é Lúcifer mesmo, não me surpreendi muito.

– Jack, vá embora daqui! – disse o anjo loiro. Peraí, o que foi que ele disse?

– O que você disse?

– Eu disse: vá embora daqui! Você não tem utilidade nenhuma aqui e agora.

– E você acha que pode derrotá-lo sozinho? Ele é poderoso demais, só mesmo dois pra derrotar esse cara! Me deixa ajudar, senão você pode morrer!

– Jack, eu prometo que não vou morrer. Mas saia daqui. E meu nome é Aurum, mas você já sabia disso, né?

Olhei pra Aurum com uma mistura de confusão e preocupação, mas quando pensei em virar o rosto, ele já tinha se posto na minha frente com uma posição de batalha vagamente parecida com posições de lutadores de arte marciais: pernas afastadas com a perna direita na frente o a perna esquerda atrás um pouco flexionada, a mão esquerda próxima do lado contrário do rosto e a direita quase totalmente abaixada, na altura do umbigo.

– Jack, eu sei que meu nome é em latim, mas mesmo assim eu não falei nenhuma língua morta! Saia daqui agora!


POV’s Aurum


Eu não podia admitir bem ali no campo de batalha, mas na verdade eu me preocupava muito mais com Darshadow perto de Jack agora, do que Jack perto de Darkshadow. É uma história um pouco complicada, mas vale a pena ser contada. Mas não agora. Tenho uma coisa a fazer, e isso não será agradável.

– Aurum, você realmente está disposto a isso? Sabe tão bem quanto eu que numa luta entre nós dois, eu sempre vencerei! – disse Darkshadow, me encarando firme e forte. Sustentei seu olhar.

– Não me interessa. Não permitirei que você aja dessa maneira. Prepare-se, pois eu vou ensinar a você duas coisas.

– Nada do que você tenha a me ensinar me interessa! Sua raça miserável destruiu minha vida. Eu poderia ser feliz no meu planeta, mas não. Tenho que estar aqui lutando pela minha vida, e cada pessoa que aparece na minha vida pode ser minha inimiga mortal ou minha passagem de volta pra casa. Pra mim chega! Eu vou matar vocês dois agora, e depois mato o resto, aí poderei voltar pra casa!

– As coisas não são do jeito que você pensa. Você está com raiva e isso é admissível, mas não está enxergando o verdadeiro culpado, e isso é inadmissível.

– Não me venha dar-me lição de moral! Você também não tem a menor idéia de como são seus pais, como são as pessoas que vivem no seu planeta, você não faz idéia de si mesmo!

– Mas eu faço idéia do que são amigos de verdade. Você é um amigo pra mim, Dark, mas precisa se livrar disso! Não quero lutar contra você de novo e de novo e de novo!

– Não? Então MORRA!!! – gritou ele, lançando um milhão de espinhos de sombras na minha direção. Mas esses eram diferentes, pareciam mais flechas do que espinhos. Ergui um muro de ouro grosso o bastante pra impedir que as flechas o atravessassem.

– Jack, esse é meu ultimo aviso. Saia. Daqui. Agora!

Não tive tempo de ver se ele realmente saiu, mas era hora de lutar. Apesar do pouco espaço entre nós, esperava poder ganhar se pegasse distância. Sendo assim, girei o muro e separei o corredor em dois lados. Em um deles, eu estava esperando o próximo movimento de Dark, e no outro, ele esperava meu próximo movimento. Qualquer passo agora poderia ser um descuido, e qualquer descuido abriria uma brecha que seria difícil de ser fechada.

– Sabe, uma parede de ouro é compreensível, mas pra que fazer um muro? – perguntou Darkshadow do outro lado – Isso gasta muito mais energia, e se tratando de energia, eu tenho a vantagem!

– Tudo tem um propósito nessa vida. Esse muro tem o dele. – disse eu levantando as duas mãos em palmas pra frente.

– Ah, é mesmo? E que seria…

– Esse – girei as palmas 90 graus pra fora e bati uma contra a outra. É preciso dizer que o muro de ouro fez o mesmo? Sim? O muro de ouro fez o mesmo.

Mas minha doce surpresa era que Dark não estava lá, quando fiz o ouro desaparecer. Provavelmente ele tinha se escondido nas sombras, mas agora ele deveria aparecer atrás de mim. Me virei para não ser pego de surpresa, mas não tinha nada nas minhas costas, ou tinha? Recebi um chute na bunda bem forte, e cai de quatro no chão, mas me virei antes de receber uma martelada horrorosa nas costas. Como eu estava de frente, criei um escudo de ouro pra me defender, e por pouco não fui esmagado.

– Você é lento. Disse alguma coisa sobre amigos de verdade, mas cadê seus amigos pra te ajudar nessa batalha? – disse Dark, me olhando friamente através dos óculos escuros.

– Eu não preciso de amigos me ajudando em batalhas. Já cansei de colocar a vida deles em risco, agora é minha vez de me arrisca.

Conjurei as correntes de ouro do chão e tentei amarrá-lo, mas ele se desfez em sombras e eu me levantei o mais rápido que pude para um possível ataque. Não nego que estava com um pouco de medo, principalmente depois do que ele falou. No quesito energia, ele ganhava. Não pensarei nisso por agora, senão me distrairei e aí ele vence. Em vez disso, fechei os olhos e concentrei todo o meu ser na minha audição. Foi trabalhoso, mas depois de um tempo, até respirar devagar causava a impressão de que eu ouvia um ronco do meu padrasto.

– Você é realmente corajoso. Fechar os olhos durante uma luta? Você é suicida? – ouvi a voz de Darkshadow em algum lugar ao meu noroeste, mas ignorei. Não era o verdadeiro.

– O que foi? Vai me ignorar o dia inteiro? – perguntou a voz dele agora ao meu sul.

– Você sabe o que posso fazer com você se continuar de olhos fechados? – perguntou a voz dele, mas dessa vez vindo de todas as direções possíveis da rosa-dos-ventos. Sabia que todos eram falsos, o que significava que isto era apenas um ardil.

– Não, mas não pretendo descobrir hoje. – disse, e abri os olhos e girei com os braços aberto. Nesse comando, espinhos de ouro surgiram e perfuraram uns 16 Darkshadows a minha volta, mas mesmo assim, mantive-me atento, pois o verdadeiro não era nenhum deles.

– Nossa! Nossa! Assim você me mata! – disse o verdadeiro Darkshadow atrás de mim, e eu sei disso porque sentia o hálito quente dele na minha nuca – Mas sabe da ironia maior é que você vai morrer por ter me matado. E como eu já estou morto, você será assassinado por um fantasma. Não é legal?

Mal tive tempo de pensar em algo pra responder, e uma sombra se enrolou tão forte no meu pescoço que eu pensei que era uma jibóia. Mas ele estava pra brincadeira hoje, pois me suspendeu no ar e tentou me perfurar com os espinhos de sombras. Consegui defender-me da maioria, mas quando se está com uma coisa apertando seu pescoço ao ponto de você não poder respirar um ml de ar por minuto, é compreensível que você saia com alguns pontos perfurados, como a canela direita, a coxa esquerda em dois lugares, o lado direito da barriga bem na altura do umbigo, três furos no braço esquerdo e um no ombro direito.

– Tão valioso e tão frágil. Sabia que o ouro amassa com muita facilidade em seu estado puro? E por isso ele recebe outros metais quando vai ser vendido no comércio, para ter uma vida útil maior? – disse ele me olhando com desprezo – Francamente, o que te faz pensar que vai conseguir me vencer se continuar assim?

Ele me largou no chão e ainda fez questão de me dar um golpe fatal: tentou me esmagar com uma parede de sombras. Por pouco não virei uma panqueca, mas também não deixei barato. Antes de a parede conseguir me atingir, rolei pro lado e escapei, e consegui um segundo de distração dele para executar um novo movimento: levantei a mão com a palma para cima, e fiz um rápido movimento para cima juntando os dedos, e do chão, agulhas de ouro de 10 cm surgiram e se enterraram fundo no corpo de Darkshadow. Sim, eu me inspirei em Premonição.

Ele gritou horrores, é lógico. Não esperava por isso, mas nem liguei. Joguei uma bala de canhão de ouro maciça bem no estomago dele que o fez voar uns bons metros, e depois, acorrentei-o bem forte. Para que ele não ficasse muito desconfortável, taquei-o no chão só pra ele esperar deitado. Eu sabia que era inútil, com apenas um movimento de cabeça, ele poderia sair dali e reiniciaríamos toda a luta.

– Isso doeu, sabia? Eu vou te matar, seu desgraçado! Você me paga por tudo o que você fez! Prepare-se para… – no meio da frase, ele parou para iluminar sua cara com um sorriso temível. Rezei por mim mesmo.

– No que você está pensando, seu louco? – perguntei me aproximando dele, capengando como um condenado – Esse sorriso só aparece quando você tem alguma coisa em mente, e eu não gosto disso.

– Existe alguém entre nós que ainda pode me vencer! E com você nessas condições, seria impossível tentar me parar! Diga adeus, Aurum. Jack será morto hoje!

E ele se desfez em sombras. Poderia ter ido pra qualquer lugar, mas eu já fazia uma excelente idéia do plano dele: se libertar, ficar próximo do Jack, e matá-lo o quanto antes.

POV’s Jack

Quando Aurum gritou aquilo pra mim, aí sim eu perdi a vontade de lutar. Abri minhas asas e subi para o mais alto que pude, e tentei me esconder em algum lugar ou atrás de uma nuvem, qualquer lugar que me oferecesse proteção e uma visão perfeita da batalha que tava rolando. Meu medo estava muito grande, e eu não entendia a razão disso. Ele estava muito mais poderoso, mais rápido, mais forte, mais resistente. Um up desses não acontece de uma hora pra outra. Ele deve ter treinado muito.

Mas isso não explicava exatamente como ele ficara mais poderoso. Tinham coisas que estavam muito mal-acabadas, e eu tinha medo de tentar entende-las. De repente veio uma cena na minha cabeça, um flash-back tão forte que eu quase tive uma visão do que ele tinha escondido pela escola:


“– Eu sempre soube que era uma garota diferente, mas mesmo assim… Eu nunca poderia imaginar que fosse uma alien. Eu sou muito sensível com energias, sabem? Posso sentir quando a sua energia está positiva e quando ela está negativa. As vezes, posso manipular a energia presente no universo da maneira como eu quero, sabem? Serve muito bem pra curar as pessoas.

– Você poderia nos dar uma demonstração do seu poder? – perguntou Romolo, se inclinando um pouco pra frente a fim de olhar bem fundo nos olhos dela.

– É claro – disse ela, como se ele tivesse pedido um copo d’água.

Ela se levantou da mesa e foi até os fundos da casa, e não demorou muito e voltou com alguma coisa nos braços, e me dei conta de que era um vasinho com uma pimenteira seca, mais tão seca que me perguntei por que ela ainda guardava um cadáver como aquele dentro de casa.

Ela começou a passar o dedo com carinho na planta, e a mesma assumiu um tom mais verde e mais bonito. A cada passada de dedo pelas folhas da planta fazia parecer que ela estava literalmente ressuscitando dos mortos e se tornando jovem e forte outra vez, como se na verdade a vida estivesse sendo inchada dentro dela. Fiquei totalmente passado ao constatar que o que me aparecera como um cadáver vegetal agora era um espécime lindo, com pimentas vermelhas e suculentas de dar água na boca.”

– Ele deve ter usado a Tati. Se ela fizesse o lance da planta com ele, com certeza ele conseguiria subir de nível com uma rapidez espantosa. Por isso ele estava mais do que desesperado pra conseguir ficar com ela – disse a mim mesmo. E agora eu tinha algo pra fazer: encontrar essa garota!

Desci um pouco pra ver se podia ver alguma coisa de cima, sem chamar atenção e ao mesmo tempo encontrá-la rápido o bastante pra acabar com aquela luta do Aurum com o Darkshadow. Provavelmente ela estaria em algum lugar perto para que pudesse continuar sustentando o miserável, mas onde? Era como procurar uma agulha num palheiro. Se ao menos eu pudesse entender como ela nutria Darkshadow a distancia, talvez eu tivesse uma idéia clara da localização dessa pirralha. Tinha que existir um elo, uma fonte de conexão. A menos que funcionasse com wi-fi energética. Aí seria um problema gigante.

Para ter uma noção da abrangência da nutrição de energia, vou comparar ao wi-fi: você está em algum lugar com sinal wi-fi desbloqueado e seu celular pega wi-fi. Em determinado local, o sinal é mais forte e a internet fica mais rápido, mas em outro local, o sinal fica fraco e a internet fica lenta. Então com o fluxo de energia iria funcionar como sinal de wi-fi, era só ter alguma coisa que se fortalece-se ao passar pelo fluxo. Meu problema era encontrar o que pudesse passar por essa mudança brusca e denunciar o fluxo.

Então me lembrei de uma coisa que provavelmente não faria a menor diferença numa batalha, mas fazia toda a diferença nesse caso: fogo solta fagulhas, e minhas asas não eram diferentes... As fagulhas e faíscas que eu soltava eram como minhas penas, sendo que as mesmas podiam se fortalecer a distancia se passassem pelo mesmo fluxo de energia que estava ligando ao Darkshadow.

– Hora de depenar! – gritei concentrando minhas asas ao meu redor como uma cúpula protetora. Sabia que exigiria muito de mim fazer o fogo se soltar das minhas asas, e poderia apagá-las e me fazer cair de uma altura considerável, mas… – Vamos nessa!

Expandi minhas asas e a envergadura chegou a uns 13 metros de ponta a ponta, e pela primeira vez eu esta a suando após ter usado meus poderes. Estava arfante também, afinal, tinha exigido muito de mim mesmo, mas pelo menos tinham penas de fogo voando pra todos os lados, como uma chuva de fogo. Perfeito! Agora era esperar até que uma delas batesse no fluxo e mandar as outras atrás pra descobrir onde ela estava.

– Bela chuva de faíscas, Jack! – ouvi a voz de Darkshadow no ar, e procurei por todos os cantos, mas só vi sua sombra na minha frente depois de quase piscar.

– Você não tem medo de se queimar, não? – perguntei com uma voz tão cansada que fiquei assustado. Não era normal me sentir tão cansado depois de usar meus poderes.

– Imagina, com esse foguinho que você fez não dá nem pra acender cigarro! – disse ele, e só então eu percebi um detalhe muito importante: Darkshadow estava usando asas de sombras.