Capítulo 8: Guerra Civil

O capitão ficou nos olhando, esperando a conversa. Por algum motivo desconhecido, meu irmão falou no meu ouvido:

– Você é nosso líder, responda por nós.

– E-Eu?!

– Sim. Agora responda, para não nos encrencarmos.

Pensei em um motivo razoável e respondi:

– Viemos para repor nossos suprimentos e descansar na cidade.

– Então podem entrar. –respondeu o capitão. - Mas suas armas e poderes não são efetivos aqui dentro da cidade, jogadores!

O capitão falou essa última palavra com um tom de nojo. Então uma dúvida me surgiu.

– Vocês NPCs (no players characters) sabem quem são jogadores? Quer dizer, sabem que estão em um jogo?

– Sim, sabemos. Mas para nós isso não é um jogo, é a única vida que conhecemos e temos, nós não ressuscitamos como acontece com os jogadores. Se morrermos vamos para o paraíso ou para o submundo.

Dizendo isso, o capitão e seus soldados se viraram e foram embora. Usamos isso como uma deixa para entrar na cidade. Fomos até o mercado para comprar comida, armaduras novas, utensílios e qualquer tipo de coisa que precisássemos. Depois disso decidimos ir a um bar qualquer para comer e dormir.

O bar mais próximo que encontramos era muito luxuoso, mas tínhamos muito ouro, então nós pudemos comer algumas carnes, tomar algo e alugar um quarto, mas agora só tínhamos 200 peças de ouro.

Enquanto todos dormiam eu fiquei lendo o manual do jogo. Precisava acabar de ler sobre as classes. O manual parecia grande, mas mesmo assim li por inteiro.

Físicos (classes que utilizam o corpo e a mente):

Guerreiro: utiliza técnicas físicas para lutar, usando principalmente a força e o conhecimento de batalha.

Ladrão: utiliza a agilidade, inteligência e um pouco de força para atacar os inimigos em seus pontos fracos.

Arqueiro: Usando arcos poderosos e as vezes armas duplas pequenas, essa classe dá uma vantagem de lutar de longe, ajudando o jogador a não ser atacado.

Capitão: Usando sua força e sua vontade, inspira os aliados a lutar.

Gladiador: Conhecedor de técnicas sujas, mas fatais, o gladiador é um oponente aterrorizante.

Ninja: Grande conhecedor das técnicas mais sombrias, misturadas com poderes mentais para causar danos fantásticos.

Monge: Por mais que pareça calmo, monges são poderosos lutadores, que geralmente não utilizam armas, somente o corpo e a mente.

Assassino: Quase como um ladrão, mas muito mais perigoso. O assassino volta suas técnicas sutis para matar os adversários sem ser notado, mas pode lutar sendo o centro das atenções também.

Bárbaro: Guerreiro que é tomado pela fúria durante a luta chama-se bárbaro. Os bárbaros tem um sangue fervente, pois seu coração é como um forno, que queima a base de luta.

Guardião: Um simples escudo pode virar uma arma poderosa, principalmente nas mãos de um guardião. O guardião é como uma muralha que defende seus aliados.

Arcanos (usam o poder provindo da antiga Radiação Arcana que cobre o planeta):

Mago: Dominador da magia mais simples, mas também uma das mais eficazes.

Feiticeiro: Usando o arcanismo de uma forma bruta, pode causar grandes mudanças no ambiente, pois a feitiçaria é a forma mais selvagem da magia.

Bruxo: Parte de sua alma foi o preço para o poder, agora a bruxaria faz parte de seu ser. Sua magia pode ser tanto bondosa como cruel.

Bardo: Um cantor que aprendeu a fazer das magias sua principal poesia. Sua varinha é seu violão, assim como seu machado.

Artífice: Como um ferreiro, mas com um toque mágico. Espadas surgiram do nada, encantadas, prontas para matar, e depois de alguns segundos irão embora.

Invocador: Formas de vida malignas surgiram das runas mais estranhas, prontas para lutar ao lado do seu mestre, o invocador.

Espadachim: Não é somente um lutador de espada, pois neste mundo a espada é como uma varinha, desde que você saiba usar, o que pode tornar sua espada mágica de diversas formas.

Mutante: Usando a magia para modificar seu próprio corpo, os mutantes se tornam potentes armas de combate ou, literalmente, escudos-humanos.

Divinos (usando o poder que os deuses lhes deram, os divinos são bravos e honrados lutadores):

Clérigo: Um padre que aprendeu a lutar, jurando defender a honra de sua divindade em qualquer parte do mundo.

Paladino: Até uma igreja precisa de um exército. Esse exército é formado por paladinos, os soldados dos deuses.

Honrado: Quando bons lutadores viram religiosos e escutam seus deuses serem difamados, nascem os honrados. Lutadores que juram vingar seu deus são chamados de honrados, pois defendem a honra, pelo ponto de vista deles.

Campeão: Como a voz dos deuses com o mundo, os campeões usam o poder divino de forma bruta, parecido com o que os feiticeiros fazem com a magia.

Ancião: Usando a força dos espíritos dos mortos e um poder divino, os anciões convocam poderes catastróficos.

Mais classes serão adicionadas nas próximas atualizações.

Depois de eu ler tudo isso só precisei ler mais uma informação, sobre os atributos de cada jogador, que eram:

Força: referente a força física, utilizada para golpes, empurrões, escalar, etc. A partir disso calculasse a energia física.

Agilidade: a capacidade de atirar objetos, equilibrar-se, pular, etc. A partir disso calculasse a velocidade.

Vitalidade: a vida do personagem. A partir disso calculasse a regeneração.

Personalidade: a força de vontade, carisma, beleza e influência. A partir disso calculasse a regeneração de energia física e a regeneração de mana.

Mente: a inteligência, sabedoria, esperteza, pensamento lógico e conhecimentos do personagem. A partir disso calculasse a mana.

Defesa: tanto a defesa de golpes físicos, quanto arcanos, divinos, mentais e etc.

Depois de ler tudo isso, foi fácil dormir. Essa é e sempre será, na minha opinião, a parte mais chata do jogo. Mas pelo menos agora eu já poderia saber o que um jogador é e o que devo fazer enquanto luto com ele.

No outro dia todos nós resolvemos escolher o nome do grupo.

– E então? Ideias? –perguntei.

– Que tal TecnoGrupo. – falou Limcon.

– Não, só você é tecno. – falou Fear.

– Mas a Iron também é tecno, de certa forma.

– Mesmo assim, outras três pessoas não são. – falei.

– Que tal um nome em inglês então? – disse Ked.

– Boa ideia. Que tal TecnoGroup. – não preciso nem dizer que falou.

– Já disse que não. – respondi.

– Que tão Bélicos. – disse meu irmão.

– Muito bom, mas acho que tenho uma ideia melhor. Que tal Supreme-War. Poderíamos resumir para S-War.

Todos sorriram com a ideia e concordaram. Como eu tinha criado o grupo era eu que tinha o dever de cuidar dessas coisas, como o nome. Não me considerava líder, acho que eles também não. Preferia assim. Ser líder fazia toda a responsabilidade vir para mim e eu não gosto disso já que já tenho muita responsabilidade cuidando do meu irmão.

– Mas precisamos de uma cede. Pelo que as regras para ir para a Lua dizem, uma cede deve ser construída ou comprada para representar o poder que o grupo possui no mundo. Vamos comprar uma casa bem simples e definir como nossa cede temporária, quando estivermos com bastante dinheiro nos compramos uma melhor. – disse Limcon.

– Pode ser.

E foi assim que saímos do bar, a procura de um lugar para comprar e chamar de nosso.

Caminhando algum tempo vimos muitas coisas na cidade, o que fazia nosso mapa ficar mais detalhado. Encontramos o quartel, a favela, o palácio, o mercado, a arena, entre outras coisas que marcavam a cidade.

Passávamos pelo quartel quando escutamos um barulho. Eram gritos, gritos de guerra. Achamos normal, já que estávamos perto do quartel. Devia ser os soldados treinando. Mas não era isso. Pelo fim da rua de terra que cortava a cidade de lado a lado, um exército vestido de branco surgiu. Por várias coisas que eu já tinha lido no manual deduzi que deveria ser o exército do Reino de Gelo. O Reino de Gelo tinha uma forte rivalidade com o Reino da Floresta. Acho que tínhamos chegado em uma péssima hora, já que os dois reinos iriam batalha.

Soldados usando arcos feitos de gelo se prepararam para atirar. Flechas brancas voaram pelo céu nublado, vindo em direção ao quartel e consequentemente em mim e meus amigos. Iron tentou proteger Ked, já que ele poderia nos curar depois dos golpes. Meu irmão usou a velocidade dele para correr para trás de uma árvore. Somente eu e Limcon que fomos atingidos, mas nós tínhamos os poderes de fogo, que derreteram as flechas em pleno voo. Corri contra o exército. Minha fúria podia ser usada, mas decidi guardar para um momento mais apropriado. Usei meu poder de chuva e uma chuva cortante começou. Os arqueiros sentiram a pele cortar como se pequenas agulhas estivessem passando de raspão. Mas meu golpe era fraco demais, então eles seguiram vivos. Limcon começou uma séria de tiros loucos, gritando sua frase de efeito enquanto via os inimigos morrerem. Estávamos tão atentos a luta que nem pensamos que nossas armas estavam desbloqueadas, já que dentro de cidade elas são bloqueadas e os jogadores não podem usar. Depois descobri que em casos de guerra todos podem usar arma, mas somente em guerras sérias. Enquanto não sabia disso eu segui lutando, sem me importar com os detalhes.

Quebrei narizes com meus socos, queimei algumas armaduras, matei alguns inimigos, tudo em questão de segundos. Eu adorava poder lutar. Mas com o tempo comecei a me sentir lento. Olhei para meu corpo, que estava congelado. Logo depois eu não conseguia mais me mover. Os soldados de gelo têm a habilidade de congelar aos poucos seus inimigos, atacando, mesmo de raspão. Como eu recebi alguns golpes, não demorou muito para estar assim. O problema era que eu estava com pouca vida, iria morrer se ninguém me ajudasse e se eu morresse eu iria renascer no lugar onde se começa o jogo. Por sorte, meu irmão decidiu aparecer e me salvar. Ele ficou lutando na minha volta, cortando braços e pernas para impedir a chegada dos inimigos. Ele dava saltos, piruetas, rasteiras, prendia os inimigos com a areia que ele guardou, usava as raízes de suas mãos para pendurar inimigos e depois cortar suas cabeças. Eu até fiquei com medo do meu irmão, pois assim como eu, ele adorava lutar.

Cerca de cinco minutos depois do início da batalha, o exército da floresta saiu do quartel, armado até os dentes com espadas, cajados, arcos e armaduras. Mas infelizmente o exército de 50 soldados de gelo tinha sido reduzido a 10, graças a mim, meu irmão e o Limcon. Iron tinha tentado lutar, mas ela tinha sido congelada assim como eu. Ked ficou perto do Limcon, recuperando a vida da equipe de longe. O exército da floresta terminou o serviço, enquanto seus magos me descongelavam, assim como faziam com Iron.

Horas depois fomos chamados no quartel, o general queria falar conosco sobre um assunto sério.

Entramos na parte interna do quartel, que não podia ser vista de fora, a não ser por cima. Um grande pátio de terra abrigava bonecos de treino. Ao redor do pátio os dormitórios, escritórios e armazéns ficavam. O quartel era como um grande retângulo, onde a parte interna era o local de treinamento e a parte de fora era a construção em si. O escritório do general era o mais longe da entrada, que estava do lado oposto do retângulo. As laterais serviam de dormitório e do lado do escritório do general e seus capitães ficava o armazém, onde eram guardados armas, comida, armaduras e equipamentos necessários para um exército.

Caminhamos pelas laterais calçadas de madeira. Madeira era a moda da cidade. Suas casas eram feitas de madeira, suas calçadas eram de raízes, seus telhados de tábuas. Onde usava-se pano, nessa cidade usavam folhas. Como cordas, os cipós amarravam as coisas. No lugar de carros: cavalos, tigres e vários animais de porte grande o bastante para sustentar pessoas. Chegamos a porta do escritório, bati. Em resposta escutei:

– ENTREM!!!

A voz dava tanto medo que até a Iron tremeu. Devagar, abri a porta. O general nos esperava.