Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 9: Do Frio Absoluto ao Calor Mortal


Entramos no escritório do general. Era um quarto pequeno, pelo menos eu acho pequeno para alguém que é o chefe do exército. Algumas estantes estavam nas paredes laterais, uma escrivaninha com uma poltrona de couro logo na minha frente, algumas tochas especiais (que não produzem fogo, pois aqui na floresta fogo era algo quase que proibido).

A poltrona estava virada para o outro lado, não nos permitindo ver o general, mas deduzi que a voz a seguir era a dele:

- Foram vocês que derrotaram o pelotão de ataque rápido de soldados de gelo?

- Sim, fomos nós. – respondi.

- Então vocês devem ser muito fortes, pois somente cinco jogadores conseguiram derrotar uns 50 soldados, isso é um grande feito. Principalmente contando o nível baixo de vocês.

- Tivemos de agir pensando na nossa segurança, senhor. – respondeu Limcon.

- Bem, então farei uma proposta a vocês. Sei que vocês são um grupo recém-criado, então vocês têm quinze dias para construir uma base para vosso grupo ou será desfeito essa união de vocês. Por isso vocês tem que achar o mais rápido possível um lugar para comprar.

- Não sabia disso. Mas e a proposta? Nos ajudará a achar um lugar para comprarmos? – perguntei.

- Muito melhor que isso. O que vocês acham de ter como base o quartel da cidade da floresta? Assim teriam um lugar com soldados protegendo sua base, equipamentos, comida, um ponto bem estratégico. Vocês sabem que quando morrem podem escolher em qual base do grupo vocês querem renascer, não sabem?

- Não sabíamos senhor. – falou meu irmão. – Mas uma proposta não é uma proposta sem que as duas partes tenham de dar algo. O que teremos de fazer?

- Você é esperto, garoto (todos chamavam os helmen de garoto ou garota, pois os helmen são pequenos). Vocês terão de cumprir missões para o povo da floresta. E sim, eu estou enxergando vocês. Estou aqui embaixo.

Olhamos para baixo e encontrei o general. Quase ri ao notar que era um anão. Estou falando de um anão de verdade. Como esse anão pode estar chamando meu irmão de pequeno se os anões e os helmen tem quase a mesma altura, a diferença é que os anões são fortes e os helmen são ágeis. O general foi até sua cadeira para poder ficar mais ou menos da nossa altura. Então nos olhou com um tom sério e perguntou:

- Aceitam servir ao exército da floresta em missões contra o povo do gelo em troca do quartel como sua base?

O grupo se virou e fez uma roda, para poder discutir se iríamos ou não aceitar a proposta. Enquanto discutíamos o general falou:

- Vocês terão um salário de 200 peças de ouro por semana.

Sem pensar, respondemos juntos:

- Aceitamos!

*Um mês depois*

Trabalhar no quartel era um saco. Achamos que teríamos missões legais, mas ficamos só limpando o quartel, fazendo guarda, ajudando a guardar as coisas no armazém. Mas pelo menos tínhamos algum tempo para procurar monstros para matar. Nenhum muito interessante, mas com esse um mês de jogo conseguimos chegar ao nível 5. Ganhamos alguns poderes, mas com o tempo vocês saberão qual é.

Em um certo dia, o general nos chamou para passar mais uma missão.

-Olá rapazes. Hoje tenho uma missão especial para vocês. Vocês terão de derrubar a ponte que liga o país da floresta com o país do gelo. Eles estão vindo com tanques por lá para nos atacar. Quero que cheguem antes, plantem bombas nos pilares. Quando os seis tanques deles estiverem em cima da ponte, exploda. Isso destruíra os tanques de gelo deles. Mas se apressem, logo eles chegarão na ponte, cerca de um dia. Vocês levarão mais ou menos meio dia para chegar lá, então, se nada der errado, terão tempo de sobra para plantar a bomba e armar uma emboscada. Possivelmente soldados virão junto, então vocês terão de lutar até que os seis tanques estejam no meio da ponte.

Sem dizer nada, pegamos a lista de informações e corremos para a ponte. Já sabíamos onde era, pois tivemos de ir lá em uma das missões chatas, para ajudar mercadores a arrumar a carroça quebrada.

Como esperado, em meio dia de jogo nós chegamos lá. Limcon foi plantar as bombas. Decidimos que ele explodiria elas com um tiro. Enquanto esperávamos ele plantar, vimos o exército de gelo chegar. Eles chegaram antes do previsto.

- Vamos defender a ponte! - gritei.

Fizemos uma parede que impedia os soldados de passarem para a outra metade da ponte. Demoraria uns cinco minutos até eles chegarem onde estávamos, mas mesmo assim nós nos mantemos em posição de batalha. Quando os soldados chegaram na ponte, gritaram seu grito de guerra e correram contra nós. Com exceção dos tanques, todos eram soldados de gelo usando espadas feitas de em gelo encantado, que não quebrava nem derretia facilmente. Era como metal.

Os primeiros soldados foram mortos pelos tiros de prego da Iron. Em seguida, queimaram com minhas bolas de fogo. Mesmo assim eles não desistiram. Dessa vez a batalha seria difícil, eram mais de cem soldados, fora os tanques que podiam nos causar problemas.

Os inimigos começaram a chegar perto. Estavam a alguns metros de distância. Nossa parede, feita por mim, a Iron e meu irmão, cobria de um lado ao outra a estreita ponte de cimento. Ela passava por cima de um penhasco muito alto. Era segurada por quatro grossos pilares. Limcon já estava colocando a bomba no último quando os inimigos chegaram perto o bastante para o combate corpo a corpo. Mas eu estava preparado, minhas luvas gritavam por dor.

Um primeiro soldado tentou me atacar com um golpe por cima. Antes que ele pudesse começar a descer a espada minha mão já tinha atravessado seu peito, incendiando (literalmente) seu coração. Um segundo soldado, tentando vingar seu amigo, me acertou com um golpe no braço. Por sorte eu tinha balançado o corpo, então o golpe passou de raspão, mas eu sabia que se fosse acertado por mais golpes seria paralisado pelo poder do gelo. Usei um dos meus poderes novos para cuidar carinhosamente de dez soldados que lutavam contra mim. Levantei meu braço até a altura do peito, esticado, e soltei uma rajada de fogo, como um lança-chamas humano. Meus inimigos queimaram, gritando de dor, e em um último ato de desespero, pularam da ponte, para tentar se banhar ainda vivos no rio que passava no fundo do penhasco. Se meu fogo não os matasse, a queda possivelmente faria, pois já estavam fracos.

Um barulho de explosão mudou o clima da batalha. Um tanque tinha atirado seu primeiro projétil. Iron fez seu trabalho e recebeu todo o dano, enquanto Ked a curava rapidamente. Ked podia curar aliados a uma distância de 100 metros, pois quando passou de nível aumentou seus poderes de cura, podendo atingir uma distância maior, curar mais rápido e curar efeitos especiais, como congelamento, petrificação, queima, veneno e paralisia por eletricidade. Assim Iron não foi paralisada pelo tiro do tanque. Mas ela não podia parar a explosão, que os empurrou, desfazendo a parede de defesa. Nesse momento Limcon gritou que estava pronto e subiu de volta para ponte. Lutamos por mais alguns minutos, esperando os tanques chegarem. Só faltava mais um. Meu irmão matava os inimigos com uma velocidade alarmante. Ele usava um de seus novos poderes, que tornava suas mãos em grandes maças de cactos, por causa da luva de cactos que ele ganhou. Iron cravava sua lança nos inimigos, Limcon da tiros de longe, que agora além de conterem piche também eram venenosos graças ao dente de um cobra gigante que ele conseguiu nesse último mês. Iron tinha como novo poder a capacidade de atirar lanças de puro titânio. Na verdade não eram lanças, estavam mais para estacas de titânio.

O último tanque chegou à ponte. Rapidamente corremos, fingindo estar fugindo. Quando já estávamos a alguns metros da ponte, Limcon deu um tiro na primeira bomba, causando um efeito dominó, destruindo as outras três que faltavam. Os soldados e os tanques caíram no penhasco. Os gritos foram sumindo até que o barulho da explosão dos tanques batendo no rio marcou o fim da batalha. Ou pelo menos era o que esperávamos.

No início fraco, mas existente. Com o passar dos segundos foi ganhando força. Foi assim que o barulho de caças (aviões) surgiu. Só os enxerguei quando estavam a mais ou menos cem metros de nós. Eram cinco no total, voando em uma formação de V. Antes que pudéssemos ataca-los, bombas caíram. Fomos atingidos por uma, perdendo muita vida, e quando falo em muita, eu digo que quase morremos. Antes que nossa situação piorasse, gritei:

- Vamos bater em retirada! Fujam! Fujam! Se ficarmos vamos morrer!

Não precisei falar mais nada. Todos começaram a correr para dentro da floresta. Por vãos entre os galhos eu vi os aviões voltarem.

Corremos sem parar em direção ao quartel. Enquanto corríamos, Ked nos curava aos poucos. Quando chegamos ao quartel nossa vida estava recuperada. Fui na frente, preparado para dar a terrível notícia ao general. Abri a porta da sala do anão. Ele nos olhou com cara de espanto. Nossas roupas estavam rasgadas e nossa pele suja de fuligem.

- O que aconteceu com vocês?

- Cumprimos a missão, mas depois de derrubar a ponte com os tanques, um grupo de aviões nos bombardeou. O exército de gelo possui esse tipo de armamento. O que faremos?

O general ficou nos olhando com cara de espanto, por causa da minha resposta para sua pergunta. Em seguida, ele disse:

- Vocês terão de invadir a capital do reino de gelo. Levem gasolina adulterada, coloquem nos aviões. Assim quando eles tentarem voar dará problema. Com sorte os aviões podem estragar. Se puderem, também envenenem a água da cidade. Por mais que seja o país do gelo, eles possuem pouca água. É difícil fazer fogo para aquecer o gelo lá, então eles têm que procurar poços onde a água não congelou. Pelo que eu sei, a cidade contém dois poços para a população e um dentro do palácio do rei. Será impossível vocês conseguirem invadir o palácio agora, com tão pouco planejamento.

O anão gritou para um soldado, que veio correndo ao encontro do pequeno chefe, escutou o pedido do pequeno barbudo, que pedia frascos com veneno e gasolina adulterada, e saiu correndo para trazer os itens do armazém. Em poucos instantes, o soldado verde voltou correndo, com uma mochila onde se encontrava os itens pedidos. Em seguida o anão falou para nós:

- Vocês devem partir agora. Os aviões devem ter voltado para serem arrumados e colocarem gasolina. Com sorte vocês conseguem chegar lá antes deles saírem. Se esses aviões chegarem aqui na capital da floresta, iremos perder a guerra.

- Vamos cumprir a missão, senhor. – respondeu Fear. – Vamos lá galera, temos que correr, não podemos perder tempo.

Antes de sairmos, fomos ao mercado comprar poções de mana e vida. Mas não demoramos muito. Por não demorarmos na cidade, conseguimos chegar ao local da missão em menos de um dia de viagem. Mas paramos para deslogar e esfriar a cabeça.

Como do lado de fora do jogo não aconteceu nada de relevante, seguirei narrando a missão.

Quando todos estávamos de volta ao jogo, fizemos a estratégia rápida. Ked ficaria do lado de fora da cidade, em um morro, onde poderia enxergar toda a cidade feita de gelo e nos dar apoio, sem correr grandes riscos. Eu, Limcon, Fear e Iron entraríamos pela rede de esgoto, nos dividiríamos em dois grupos e cumpriríamos a missão. Quando terminássemos deveríamos voltar para o morro onde Ked estaria nos ajudando.

E minutos depois estávamos em um lindo e cheiroso esgoto. Que dia alegre que eu tive. Ou melhor, já não era o mesmo dia, já que demoramos um dia pra chegar na cidade do gelo. Mas bem, resumindo: fui bombardeado, viajei durante horas a pé, caminhei no esgoto. Sou um garoto de sorte.

O esgoto era uma boa trilha até certo ponto. Não quero explicar o motivo de não podermos seguir por ele, mas tivemos de sair por um buraco no teto. A cidade do gelo tinha sido baseada em uma das cidades da época antes da sétima guerra mundial, lá no meu mundo real. Grandes prédios abrigavam várias famílias, algumas pessoas mais ricas tinham casas luxuosas, algumas pessoas eram mendigas, as ruas cortavam a cidade como grandes veias em um corpo. A única e pequena (sarcasmo) diferença é que onde deveria ser concreto, era gelo, onde deveria ser asfalto, era neve, onde deveriam ter árvores frutíferas, tinham pinheiros. Parecia a vila do Papai Noel (sim, mesmo depois de tantas guerras, o Papai Noel ainda existe para as crianças com menos de oito anos, certas crenças nunca morrem).

O buraco no teto saia na parte pobre da cidade. Isso nos ajudava, pois lá na parte pobre, durante a noite, ninguém ficava caminhando pelas ruas, então não fomos vistos saindo do chão. Também tínhamos o fator luz. Como estava de noite, ficava mais fácil para nos escondermos. Não que precisássemos, pois somente os soldados poderiam nos reconhecer, já que tínhamos fama de derrotar soldados do gelo, mas a população não nos reconheceria. Seguimos os becos da favela de neve, até chegarmos a um lugar onde o grupo deveria se separar. Iron e Fear foram por um lado. Fiquei triste por isso, não queria deixar meu irmão sozinho, mas eu sabia que era melhor assim, pois Iron poderia ajudar Fear muito mais que eu. Fear iria colocar o veneno nos poços.

Ate me esqueci de contar uma coisa. Antes de sairmos, o general nos entregou mais alguns itens que poderiam nos ajudar. Para meu irmão, uma capa que poderia torna-lo invisível por alguns minutos. Para Iron, um capacete com células solares, para recarrega-la. Para Limcon, uma mira de sniper, que poderia ser encaixada na escopeta, mudando a forma da arma para uma sniper poderosa, que condensaria o tiro de piche em uma bala, podendo alcançar uma distância maior, mas acertar somente um inimigo. Já para mim e o Ked, não recebemos nada. O Papai Noel não vem para todos, infelizmente.

Eu e Limcon caminhamos por alguns minutos, até chegar ao quartel de gelo. Os aviões estavam lá dentro. A estrutura do quartel era bem simples: uma torre, um muro que parecia uma muralha e um portão de gelo que levava a parte interna. Mas o muro era alto demais para pularmos por ele, então decidimos fingir que éramos guardas. Procuramos soldados de vigia, para poder atacar e pegar as roupas deles. Foi fácil, pois em todo canto tinha uma dupla ou trio de soldados. Usando técnicas silenciosas, abatemos os soldados e roubamos suas roupas. Os corpos desapareceram, pois eles tinham morrido. Estranhei por podermos usar golpes dentro da cidade, talvez fosse pelo motivo de estarem em guerra. Isso significava que a cidade da floresta também podia ser atacada.

Usando as roupas de guardas, eu e Limcon fomos até o portão do quartel. Um guarda esperava na frente do portão e ao nos ver, gritou:

- Abram o portão.

Imediatamente, os portões foram abertos e sem demorar, nós passamos. Era fácil achar o hangar dentro do quartel. Infelizmente eram no subterrâneo, então demoramos um pouco para achar as escadas. As escadas levavam a uns dois andares para baixo da terra, até chegarem a uma porta, a porta do hangar. Dentro do hangar os cinco aviões estavam estacionados. Por serem caças, podiam começar voando para cima e depois voar para frente, por isso os colocaram no subterrâneo. Olhei para o teto e vi que dois grandes portões na horizontal estavam fechados. Devia ser por eles que os aviões saiam.

Limcon foi fazer sua parte da missão, que era a de colocar a gasolina adulterada nos aviões. Enquanto isso eu ficaria de vigia. Para o nosso azar, dois soldados vieram ao nosso encontro, perguntando:

- O que vocês estão fazendo?

Olhei para minha roupa, tentando achar minha patente. Por sorte eu era mais elevado que eles, então falei:

- Nós estamos colocando o combustível nos aviões. Vocês sabem. Alguém invadiu o quartel, viemos verificar a gasolina e percebemos que tinha sido retirada, então estamos preenchendo o vazio nos tanques de combustível. E vocês, o que fazem aqui embaixo? Já sei, foram vocês que tiraram a gasolina, não foi?

- Não senhor, por favor, nos desculpe, só recebemos ordens senhor. –falaram os dois soldados, tremendo de medo. – Por favor, continuem, vamos vigiar o hangar para mais ninguém entrar.

Limcon terminou de colocar a gasolina adulterada exatamente nesse momento. Ele entregou o galão para um dos soldados e pediu para o outro os acompanhar até a saída.

Facilmente saímos, mas foi difícil se localizar na cidade. Como estava de noite, não conseguíamos enxergar nada até uns dez ou vinte metros de distância. Usamos o mapa de jogador para nos localizar, mas mesmo assim foi difícil voltar ao esgoto.

Agradeci a todos os deuses do jogo quando saímos dos tubos de esgoto e corremos em direção ao morro. Ked, Fear e Iron estavam nos esperando. Quando chegamos lá, Fear me falou:

- Tome irmãozão, um presente por comandar nosso grupo nessa missão bem sucedida.

Ele me entregou alguma coisa. Olhei para a palma da minha mão e percebi que era algo para colocar em algum dos meus anéis. Analisando rapidamente, entendi o que eram. Um subnível do anel de fogo: Fogo Frio. Sim, parece idiotice um fogo frio, mas nesse jogo é bem fácil de entender. Enquanto o poder de fogo causa dano flamejante e o poder de gelo paralisa o adversário, o poder de fogo frio queima enquanto paralisa. O símbolo era de uma chama azul. Coloquei a peça triangular de ferro em meu anel e automaticamente ela se encaixou. Quando o anel se fundia a um subnível, ficava com um formato bem estranho. Como o anel era redondo e o subnível triangular, ficava parecendo uma cabeça com um chapéu de aniversário. Ri com minha comparação mentalmente.

- Vamos embora galera, temos uma longa viagem de volta. – disse Ked.

Horas depois estávamos nos escritório do general, informando sobre a missão bem sucedida. Ele entregou nosso salário e o xp pela missão, que não era muito, então disse:

- Vejo que por causa do quartel, vocês não têm conseguido evoluir muito, então darei um mês de férias para vocês, aproveitem.

Gritamos de alegria, então saímos do escritório. Discutimos sobre as missões que poderíamos fazer e os lugares que poderíamos ir. Era um pouco perigoso deixar o quartel sozinho, somente com a segurança dos soldados, mas nosso grupo era pequeno, então para fazermos missões tínhamos de ir todos juntos. Lemos o manual e descobrimos que na capital do país psíquico possuía mestres que nos ensinariam poderes especiais por preços baixos. Se fossemos para lá, talvez ficássemos mais fortes e recuperássemos o tempo perdido com as missões do quartel.

Novamente fomos ao mercado e compramos poções. Como íamos nos aventurar pelo mundo possivelmente acharíamos inimigos, tínhamos de estar preparados para lutar.

Traçamos nossa rota. Passaríamos por uma pequena parte da floresta que levaria até o Desfiladeiro Fervente, que nos daria passagem para o país da lava, onde fica o caminho mais rápido (não o mais seguro) para o país psíquico.

Alugamos uma carroça para nos levar até o desfiladeiro, pois ninguém queria nos levar até depois disso. Acampamos para esperar a noite passar. Enquanto dormíamos, fiquei revendo meus poderes:

Bola de Fogo: uma esfera de pura chama e atirada a partir de seu item.

Lança-Chamas: uma rajada de fogo é cuspida, provinda de seu item.

Chuva Cortante: você invoca uma chuva, que corta a pele dos inimigos em uma grande área.

Chicote de Água: um tentáculo líquido surge em seu braço e com ele você pode castigar seus inimigos.

Chuva-Flamejante: pingos de fogo caem do seu, nascidos da união do fogo e da água.

Esfera de Fogo-Frio: Uma bola de chamas azuis surge em sua mão, preparadas para queimar e congelar ao mesmo tempo.

Logo adormeci então não me lembro do resto das coisas que li. De manhã, assim que acordamos, caminhamos pelo desfiladeiro. Enquanto ríamos com nossas piadas e conversávamos, algo se aproximou de nós. Olhei mais atentamente e captei os detalhes. Um macaco muito desenvolvido, com menos pelos que o normal e um olhar astuto, que indicava não ser um indivíduo qualquer. Seus pelos eram marrons, com um toque dourado. Ele se parecia muito com um homem das cavernas, pois andava sempre com os dois pés, mas com a coluna envergada. Segurava um machado de aço na mão e mostrava os dentes, grandes lâminas brancas afiadas do tamanho do meu dedo.

- O que fazem aqui? – perguntou ele. – Está é a área da Grande Rainha Snit, a górgona-sereia. Ninguém pode passar pelo desfiladeiro.

- Pois nós vamos passar. – respondi.

- Tentem e se arrependeram. – disse o primata, com uma voz grave.

Ele desapareceu, como se nunca tivesse existido.

Olhei para o fim do desfiladeiro e de longe avistei um templo, parecido com um templo dos antigos maias, feito de grandes blocos de pedras cinza, empilhadas, formando uma pirâmide. Mesmo meu irmão não conseguiria subir essas pedras, então o único caminho era passar por dentro. Apressamos a caminhada para chegar ao templo rapidamente.

Uma grande abertura na parede dava entrada ao salão principal do templo. Nossos passos ecoaram ao entrarmos na masmorra. No centro do templo uma grande cadeira de ouro dava conforto a quem chamavam de Snit. Pela lógica do nome, ela era uma górgona, mas também uma sereia. Não nos arriscamos a verificar se ela realmente era, pois sabíamos que górgonas têm o poder de petrificar o inimigo em segundos e dificilmente alguém consegue se despetrificar antes que elas o matassem. Olhamos para o chão enquanto falávamos com Snit.

- Olá jovens jogadoresss. Sejam bem vindosss ao meu humilde lar. – disse Snit.

- Só queremos passar. Deixe-nos ir e não iremos lutar. Queremos passar pelo país de lava. – respondeu meu irmão.

- Mas isssso é impossssível. O golem de lava guarda a passagem, nunca ninguém conseguiu ganhar dele. Perdi muitos dos meus lacaios para o poderoso monstros do vulcão. – informou a górgona.

O barulho do ”sss” que ela fazia no fim de cada frase já estava me irritando, então respondi:

- Nós mataremos o golem para você. Só nos deixe ir.

- Então meus lacaios seguirão vocês. Se tentarem fugir, eles os matarão. Tragam a cabeça do golem de presente para mim e eu darei passagem livre quando quiserem.

- Aceitamos o acordo. Estamos de partida.

Como mágica, uma porta surgiu do outro lado do templo. Seguimos por ela, em direção ao agora visível vulcão. Lava escorria por ele continuamente, como o rio desse pela montanha. Nuvens negras saiam da chaminé natural. O calor nos atingia daqui. Sem olhar para trás, seguimos em direção ao nosso novo inimigo. Golens dão muito xp, por isso poderíamos passar de nível facilmente se nós matássemos esse chefão.

- Monstro da lava, aqui vamos nós. – disse meu irmão.