Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 6: O Presente e a Fúria


… ESCORPIÃO!

Sim, o presente do meu irmão era um escorpião. Mas por mais que eu tenha dito que era pequeno, quis dizer pequeno em relação a nós, porque entre os escorpiões esse era enorme. Ele devia ter um meio metro de extensão do rabo até a pinça e uns vinte centímetros de altura do chão até seu ponto mais alto. Ele era amarelo como a areia. Na verdade era exatamente como a areia. Talvez esse fosse um dos animais modificados do jogo. Com a radiação e a magia que aconteceram aqui nesse jogo acabou surgindo nossos poderes. Mas não foram somente os seres humanos que ganharam poderes, os animais também. Na verdade só metade da população animal conseguiu poderes, o resto continua sendo animais comuns. No caso essa aranha parecia ter algo alguma relação com o elemento da areia.

Meu irmão pegou ele e colocou no ombro. Então começou a ler o tutorial de como usar o escorpião. Enquanto isso falei com o Limcon.

–Limcon, onde conseguiu essas coisas?

–Quando acordei durante a noite vocês tinham sumido. Então escutei gritos de socorro vindos de uma direção. Corri lá e encontrei jogadores sendo atacados por lobos. Quando cheguei perto a imagem evaporou e deu lugar a um jogador vestido de roxo. Ele ia falar algo, mas percebi que era uma armadilha e dei um tiro nele. Ele começou a queimar com meu piche e então segui atirando. Não demorou nem dez segundos e ele morreu. Então peguei os itens dele. Ele tinha ótimas coisas, como essa esfera do escorpião, seu anel d'água, minha espada curta e também isso aqui.

Ele mostrou um anel (mais um, eu sei, isso tá ficando irritante), mas este tinha o símbolo de um cérebro. Possivelmente era o anel do poder psíquico. Quando ele colocou no dedo escutei uma voz no meu cérebro dizendo:

– Olá Balazar e Fear. Viu que legal, podemos nos falar mentalmente agora. Mas vocês precisam estar até cem metros de mim, senão não teremos conexão, além que nós devemos ser do mesmo grupo.

Limcon deu risada com minha cara de espanto. Ter alguém em seu cérebro é uma coisa muito horrível. Olhei para meu irmão, ele também tinha percebido a invasão, mas não estava preocupa porque estava prestando atenção em seu novo bichinho de estimação.

O símbolo de mensagem apareceu em minha visão, pelo lado esquerdo da tela, de uma forma transparente que eu poderia olhar através, para não atrapalhar nas lutas. Abri a mensagem. Era o Jeff falando:

–Cara, sinto te informar, mas vocês estão ai o dia inteiro. Se ficarem mais tempo poderão ter problemas no cérebro. Arranjem um lugar pra deixar seus personagens e saiam do jogo. Se não saírem em vinte minutos eu desconecto vocês. Até daqui a pouco.

Avisei meu irmão e Limcon, então decidimos entrar um pouco mais na caverna. Talvez lá dentro tivesse um lugar seguro para sair do jogo. E estávamos certos. Andamos um pouco até chegar ao fim da caverna. Mas lá tinha uma porta, feita na parede de obsidiana que cobria essa parte da montanha. Talvez aqui tivesse sido um vulcão muito antigamente ou talvez isso tenha acontecido por causa de algum efeito especial do jogo. Batemos na porta de carvalho. O som viajou pela caverna, assim como o som de passos que vieram atender nosso chamado. Alguém gritou pelo lado de dentro:

–Quem é?

–Somos viajantes. - respondi.

–O que querem?

–Um lugar para desconectar do jogo.

A porta se abriu. Um jogador com um personagem velho estava nos olhando fixamente. Era um humano e pelo que parecia algum tipo de mago. Suas vestes eram azuis, com um capuz que não estava sendo usado. Era uma grande capa que chegava até os calcanhares. Ele tinha uma barba cinza, quase branca, era careca e tinha minha mesma altura: 1,70 m. Percebi que ele tinha anéis, incluindo o da água, mas era um pouco diferente do meu, era maior e parecia mais poderoso. O outro anel era do vento. Ele também tinha um cajado com uma esmeralda na ponta. Pelo que sei isso representa o poder da floresta. Resumindo, era um mago do vento/água/floresta humano. Ele nos convidou para entrar e disse:

–Se vocês quiserem passar o tempo aqui terão de me ajudar com uns inimigos meus assim que voltarem a jogar, entendido? Eles querem dominar essa minha ruína desde que o jogo começou. Eu fui o primeiro a vir aqui, derrotei os monstros e tomei esse lugar. É uma torre que perfura a montanha inteira. Agora, vão descansar e amanhã entrem no jogo antes das dez horas.

Aceitamos o acordo. Nenhum inimigo poderia derrotar nosso trio. Além disso, seria um bom treino para as novas armas. Minhas manoplas estavam quase passando de nível. Minha armadura tinha de ser trocada, estava desgastada. Talvez amanhã fosse a última luta com armadura, depois teríamos de chegar logo a cidade da floresta para comprar coisas novas.

Subimos a torre até chegar no topo da montanha. Lá continuava a subida, mas o dono da torre, chamado Leavyn (li o nome de jogador), decidiu que dormiríamos nos quartos do “térreo”. Nos acomodamos em um quarto com quatro camas. Cada um de nós pegou uma e deixamos nossas mochilas na quarta.

Saí do jogo.

Abri devagar meus olhos. Senti uma dor de cabeça. Eu estava deitado em uma cama com meu irmão deitado ao lado. Levantei e fui falar com o Jeff. Ele estava dando janta para alguns jogadores. Sorriu ao me ver e me ofereceu um lugar na mesa. Logo chegaram mais alguns jogadores para jantar, entre eles meu irmão. Comemos e fomos dormir. Agora cada jogador morava na casa de Jeff. Eram mais ou menos quarenta jogadores, divididos em quinze beliches e dez camas feitas no chão. Nossa comunidade estava trabalhando duro para alimentar os jogadores e dar o melhor conforto para nós, pensando que se algum de nós ganhasse o jogo poderia levar a vila à Lua.

Fui dormir, cansado, com dor de cabeça e confuso.

Acordei. Vi alguns jogadores levantados. Tomei um café da manhã nada reforçado e voltei para o jogo, junto com meu irmão, que tinha levantado um pouco antes de mim.

Acordei pela segunda vez. Estava na cama da torre arruinada. Escutei gritos, mas não eram de socorro. Era uma discussão. Prestei bastante atenção para entender quem estava falando e o que estava falando. Meu irmão também estava fazendo isso e Limcon ainda estava desconectado. Depois de alguns segundos escutando, entendi que era o dono da torre dizendo:

–Eu não entregarei a torre para vocês, nem hoje nem nunca, vocês são cruéis demais com os iniciantes, não merecem ganhar o direito de ir para a Lua.

–Nós então teremos de te derrotar. Homens, matem ele!

Um grito de guerra quebrou a discussão, seguido do barulho de tiros. Levantei assustado. Coloquei minhas manoplas e corri para fora do quarto. Leavyn estava na porta da parte de cima da torre. A porta estava tremendo com os tiros vindos dos adversários. Os tiros atravessavam a porta e causavam um dano fraco em Leavyn. Ele sorriu ao ver eu e meu irmão com as armas preparadas. Limcon apareceu atrás de nós, tinha acabado de acordar, mas já entendia a situação. Leavyn fez sinal de que abriria a porta para passarmos. Contou até três e abriu a porta. Nós saltamos para fora, surpreendendo os inimigos. Eles pararam de atirar por um segundo. Aproveitei esse tempo para atirar uma bola de fogo no inimigo mais próximo, que segurava um rifle simples (quando digo simples quero dizer que atira uma bala por vez, tendo que colocar mais uma bala para dar o próximo tiro). Três inimigos tinham rifles, mas um desses foi atingido pela minha bola de fogo e estava caído no chão. Outros sete inimigos usavam espadas ou lanças. Limcon deu um tiro no inimigo que eu atingi, diminuindo o número de inimigos. Meu irmão já tinha atirado um machadinho em um dos inimigos com espada e agora corria em direção a ele para recolher sua arma e ao mesmo tempo cravar seu segundo machadinho. Um segundo inimigo foi derrotado, mas agora não tínhamos mais o elemento surpresa. Os rifles apontaram para mim e o Limcon. Escutei o som dos tiros, senti uma dor no peito, mas por sorte minha armadura diminuiu o dano. Infelizmente, ela desgastou totalmente, como eu tinha imaginado, então sumiu como jogadores quando morrem, fazendo uma chuva de códigos binários. Os inimigos de espadas correram contra nós, com exceção de um. Este parecia ser o capitão, pois estava vestido com uma armadura melhor, feita de ferro, como os cavaleiros medievais. Ele usava uma espada de folha larga feita de ouro, enquanto seus subordinados tinham somente espadas curtas e armaduras de couro. Mesmo sendo mais fracos, os soldados eram difíceis de derrotar, principalmente se vinham em grupo. Desviei de duas espadadas e contra ataquei com um soco flamejante. O adversário caiu no chão, queimando, então tomou um tiro do Limcon e morreu. Limcon estava fazendo a finalização dos inimigos, dando o dano que faltava para eles morrerem. Fui atingido por uma lança que veio de longe. Três lanceiros estavam mirando em mim. Quando uma segunda lança voou em minha direção, agarrei o inimigo de espada mais próximo e usei-o como escudo humano. Ele foi atingido na cabeça, levando um golpe crítico, seguido de um soco nas costelas. Ele morreu queimando no chão. Senti o pavor no olhar dos inimigos. Somente três jogadores já tinham derrotado quatro inimigos quase sem ser machucado. Meu irmão já estava lutando contra os inimigos de rifle, que estavam tentando correr para ganhar distância para atirar. Infelizmente para correr eles deram as costas, então morreram com, cada um, um machadinho na coluna. Um último lanceiro se preparou para atirar, mas morrer com um tiro do Limcon. Só sobrou mais um soldado de espada, o capitão e dois soldados de lanças, que já tinham atirado suas lanças. Estes foram alvos fáceis para meu irmão, que deslizou até as costas deles e deu um golpe no pescoço, chegando despercebido. Ele se movia com um ladrão de verdade. O capitão estava calmo, vendo seu último soldado de espada morrer com uma linda sequência de socos no rosto e um chute na barriga.

Palmas me fizeram parar de olhar para onde o soldado tinha acabado de morrer. O capitão nos olhava com um rosto de admiração, então disse:

–Vocês são ótimos jogadores, seria uma pena se morressem. O que acham de entrar para meu grupo de jogadores? Poderemos dominar essa ruína facilmente, derrotar esse velho e ganhar terreno para irmos à Lua.

–É uma oferta tentadora, mas esse “velho” combinou comigo de nos deixar desconectar em troca dessa batalha que estamos travando. Não deixarei você escapar, derrotarei você aqui e agora. Foi a promessa que eu fiz.

–Então sinto em te dizer, mas vocês terão de morrer.

O capitão puxou uma pistola de laser do quadril e mirou em meu irmão. Com um disparo certeiro, meu irmão caiu no chão. Olhei para seus pontos de vida e me assustei. Ele estava com um ponto de vida. Mas um simples golpe e morreria. O capitão avançou, levantando a espada acima da cabeça. Senti a fúria me tomar e a cena mudou. Em um momento estava vendo o capitão ir matar meu irmão, no outro eu aparava o golpe da espada com as mãos. Eu tinha corrido para interceptar o golpe. Minha pele estava quente, a grama minha volta estava escurecida, minhas luvas estavam, literalmente, flamejantes. Inconscientemente eu tinha usado o golpe Fúria Flamejante, da minha espécie, os demmarcs. O capitão me olhava assustado, prevendo a morte “calorosa” que o esperava. Com um soco extremamente rápido quebrei a armadura do adversário. Na verdade, eu não quebrei. Minhas manoplas estavam tão quentes que derreteram o ferro, abrindo um buraco para meu soco passar. O capitão gritou de dor e caiu no chão sentado, pedindo desculpas. Sem piedade, atirei minha bola de fogo. Mas ela era muito maior enquanto eu estava no meu modo de fúria. Ela tinha agora meio metro de raio. O grito de morte marcou o fim da luta. A grama estava toda queimada onde o capitão esteve antes de virar cinzas. Senti minhas habilidades voltarem ao normal, mas antes disso olhei meus níveis de armas e poderes. Todos tinham escrito, do lado do nível, MAX. Por isso minha esfera de fogo tinha sido tão forte, assim como minhas manoplas. Minha força, agilidade, inteligência e todos os outros atributos tinham aumentado em 20 pontos. Mas infelizmente meu poder de fúria durava só trinta segundos e demorava 30 horas para recarregar.

Limcon, Fear e o “velho” olhavam para mim como se um fantasma tivesse passado na frente deles. O velho veio agradecer a nós e entregou comida para partirmos, mas não nos convidou para entrar de novo. Buscou nossas mochilas e disse para irmos embora. Possivelmente estava com medo de ser atacado por nós três. Mas antes disso ele Me disse:

–Garoto, tome isso. Sei que você é forte, mas vai te ajudar. Troque pelo seu.

Ele entregou o anel d'água que tinha, em troca do meu.

–Esse meu anel tem um dos subníveis de anéis. Cada objeto elementar tem, no mínimo, quatro subníveis. Seu anel é o Anel de Água da Chuva. Procure os outros três subníveis para tornar seus poderes mais fortes, que são: Mar, Rio e Cachoeira. Talvez tenham mais alguns perdidos ou talvez venham mais subníveis nas próximas atualizações do jogo. Mas por enquanto, aproveite.

–Arigato. Aproveitarei muito esse presente. Mas o que você quer dizer com atualizações?

–O jogo será atualizado de um em um mês. Mas agora vão, sei que vocês têm muito para fazer. Seu amigo me contou ontem que vocês estão indo para a cidade da floresta. Tomem cuidado, sei que vários jogadores estão indo para lá também. Sei também que alguns jogadores da Lua conseguiram se infiltrar nos servidores. Além disso, vários grupos fortes já surgiram, mas somente os dez primeiros grupos a cumprirem a missão dada pelos moradores da Lua poderão ir para lá. Se apressem, vocês precisam ganhar nível e membros logo.

–Nós vamos. Muito obrigado por tudo. Até logo.

Seguimos viagem ruma a cidade da floresta. A floresta era tão extensa que não conseguíamos ver o fim dela de cima da montanha, mas pelo menos conseguíamos ver a cidade. Daqui a pouco chegaríamos lá. Mas até lá teremos de viajar pela floresta, onde muitos animais elementares, jogadores trapaceiros e armadilhas podem ser encontradas. Espero não encontrar nada.

De cima da montanha avistamos uma última coisa. As árvores na floresta estavam caindo. Decidimos ir investigar o que estava fazendo as árvores cair, já que essa área fazia parte da trilha que nos levaria até a cidade. Agora só tínhamos que chegar lá para descobrir o que estava desmatando a verde e gigante floresta. O que será que é?