Descansamos por meia hora, apreciando a sensação de vitória. Chegar até o final era algo realmente recompensador, mas o prêmio estava atrás daquela porta e nós tínhamos de pegar.

Junto com a alegria criada por termos chegado a fase final, havia um medo, um receio. Nós vimos como é a morte dos amigos da forma mais real possível e isso havia nos deixado com um pé atrás. Talvez a real morte de todos estaria lá dentro, ou talvez a perda de algum ente querido.

Sentei perto do meu irmão e joguei conversa fora com ele. Algo em minha cabeça dizia que eu poderia nunca mais falar com ele depois de enfrentar o chefão. O espírito de proteção pulsava dentro de mim, querendo esconder Fear ali do lado de fora. Do que adiantaria fazer tudo aquilo se o real motivo de eu enfrentar tudo aquilo estivesse morto. Não minto, pois admito que também quero ir para a Lua, mas meu irmão deve vir junto. Ou pelo menos deveria.

Quando nos sentimos preparados, arrumamo-nos na frente da grande chapa de ferro, com o coração acelerado. A expectativa antes da batalha era a pior parte, pois depois que a luta começa, meu corpo relaxa. Virei-me.

— Amigos — comecei. — Vocês sabem que podem morrer lá dentro, não sabem? — recebi um aceno de cabeça dos outros. — Sabem que podem sofrer ainda mais com a morte de um colega, certo? — Eles concordaram novamente. — Mas… se um de nós morrer, o que vocês farão?

Houve uma longa pausa silenciosa. Mesmo eu, que perguntei, não sabia o que faria. Porém eu sabia que era fundamental pensar nisso agora. Se ficássemos em choque, perderíamos.

— Eu irei me vingar — Fear retrucou sombriamente. — Se alguém morrer, vou usar todas as minhas forças para lutar e fazer quem matou os outros sofrer.

Escondido pelo capuz, seu rosto não era visível. As machadinhas giravam e paravam sempre em posição de combate sob sua palma. Pela mudança na respiração, pude notar que a raiva do meu irmão nascia mesmo só em pensar que um de nós poderia morrer.

— Eu também irei vingar a morte de algum de vocês — Limcon falou em tom sério.

— Também irei — Supreme disse fazendo uma descarga elétrica passar pelas correntes enroladas nos braços.

— Já que vocês querem vingança, vou ajudar — Life Taster girou a espada de lâmina cintilante com os dedos.

— Vou fuzilar esse chefão até ele sumir — Skarlatte cuspiu as palavras com raiva no olhar de fera.

— Então sei que posso confiar minha vida a vocês — eu concluí. — Não quero morrer e ser esquecido.

— Mas você… — Limcon começou, mas parou com meu sinal com a mão.

— Talvez eu vá. Tirem o pensamento positivo da cabeça, mas não lutem pensando que vão perder. Devemos estar pronto para perder aliados, porém lutar querendo salvar todos — discursei.

Sérios, todos me olharam. Eles não queriam admitir, mas minhas palavras estavam repletas de verdade. Acendi fogo em minhas manoplas e me virei contra a porta. Meus dedos, cobertos pela luva de ferro, tocaram a porta, empurrando-a. Sem ranger, o portal cinzento abriu espaço para nossa equipe.

O salão que nos esperava era gigantesco e circular. De um lado ao outro deveria caber uns quatro ou cinco vagões de trem. A altura fazia parecer uma catedral, com seu teto abobadado, mas cheio de estalactites negras. Haviam três círculos de construção no salão. O externo tinha um teto, que estava a um metro e meio de nossas cabeças. Esse teto era segurado por colunas grossas e quadradas. Por serem de coloração escura, imaginei que fossem de basalto ou ônix.

O teto era curto, dois metros e meio mais ou menos. Na ponta interna dele, começava o teto da parte abobada, que ia até o topo. Pelo que vi, o local mais alto devia estar a vinte metros de altura.

O segundo círculo não tinha cobertura, mas era recheado de estalagmites. Além das rochas pontudas, havia uma quantidade incontável de pedras negras com tamanhos e formados diferenciados.

O terceiro, e último, círculo era o central. Escadas levavam até um pequeno altar redondo. Nele estavam vários artefatos e baús de madeira. De pé, em meio as recompensas, um senhor de longos cabelos negros e oleosos nos observava com curiosidade.

— Sejam bem vindos, heróis! Há três anos ninguém chega nessa parte do labirinto, então já estava ficando chato esperar sozinho. Obrigado por aparecerem — o homem disse batendo na roupa negra.

Suas vestes escuras eram cobertas por uma capa roxa, que combinava com os olhos púrpuros. As mãos eram fortes e o dedo indicador da mão direita tinha um anel negro. Não consegui identificar qual era o tipo de poder daquele artefato, mas sabia que não era coisa boa.

— O prazer é nosso — meu irmão respondeu com ironia no sorriso, curvando-se em sinal de respeito.

— Posso saber de onde são? Que parte do país? — o inimigo perguntou com real interesse na voz.

— Não somos desse mundo — o ladino falou. — Somos jogadores, viemos… do lado de fora.

— Como assim do lado de fora? — o chefão questionou.

— É muito complicado para te explicar agora. Sabe, estamos com pressa, já não aguentamos mais esse lugar escuro e cheio de perigos. Será que poderia nos dar o totem e ficar tudo em paz? — Fear tentou convencer.

— Claro! — o homem se virou e procurou o artefato, exclamando quando o achou. — O totem de arquivo, certo? É este aqui.

Diferente do que eu sempre imaginei, o totem tinha um formato de ímã, igual aqueles de desenho animado, mas feito de madeira. Nas pontas de norte e sul estavam duas esperas, uma de ouro e outra de prata.

— Mas, por favor, vamos conversar mais um pouco, é muito tedioso aqui. Explique-me essa história do lado de fora.

— Ilmo senhor, não temos tempo para isso. Agradeço-te por nos ajudar e agilizar nosso trabalho, contudo, realmente temos que ir embora, há mais pessoas precisando de atos heróicos lá fora. Poderia, por gentileza, mostrar-nos a saída e entregar? — meu irmão disse no tom mais cordial que podia, mas eu sentia a ironia tanto na voz dele, quanto na voz do homem com o artefato.

Com uma risada leve, o adversário retrucou.

— Bem, terei que eu mesmo descobrir essa história.

Ele apontou o anel para Fear, que caiu no chão de joelhos. Alguns segundos depois o ladrão se pôs de pé, reclamando.

— Malditos usuários de magia psíquica, sempre lendo a mente dos outros.

— Você tem ótimo segredos, garoto, mas sei guardá-los muito bem. Agora quero mais historinhas para assistir.

Foi a vez de Skarlatte cair de joelhos e levantar com o rosto enfurecido.

— Quem te deu permissão pra fazer isso, seu velho?

— Desculpe, mas pelo menos assim eu adio a morte de vocês — ele respondeu em tom sarcástico.

— Somos nós que vamos te matar — Supreme falou colocando o pé atrás para pegar impulso, mas caiu de joelhos também.

— Sua história é meio sem graça, mas a parte da sua irmã… — o leitor de mentes sorriu maliciosamente.

— Cale-se, seu verme — o bárbaro gritou.

Aparentemente as vítimas da leitura de mentes ficavam desnorteadas por um tempo. Jujuba levou Fear para trás de um pilar, enquanto eu levava Skarlatte atrás de outro e Limcon cuidava de Supreme. Quando o atirador ficou distraído, sua mente também foi lida.

— Interessante, mas não é o bastante para mim.

— Saia da minha cabeça! — o elemental de fogo brigou.

— Jujuba, resgata ele — pedi.

Quando a paladina foi puxar Limcon para trás de uma proteção, ela também caiu no chão. Pensei rápido e comecei a puxar os dois.

— Você quebrou minha ligação com ela! — o vilão reclamou.

Life Taster resmungou algo. Pelo que pareceu, o movimento fez a leitura ser interrompida, mas isso deixou a garota muito mais indefesa que os outros. A milésima bola de fogo surgiu na palma de minha mão, fazendo o local brilhar. Notei que perto de nós haviam tochas, por isso o ambiente não estava escuro. Rastejando, fui até onde uma estava presa na parede.

Pensei que poderia levantar e agarrar a tocha, arremessando para um lado, o que distrairia o inimigo, e depois atacando-o pelo outro lado. Porém, quando me levantei para pegar a estaca coberta por óleo, fiquei exposto e senti a magia de leitura de mente passar pela minha cabeça. As memórias começaram a fluir como um filme em meus olhos. O velho procurava algo que satisfizesse a fome por histórias. Logo ele achou o meu passado e as imagens vieram à tona.

Fazia um mês que eu, meu pai, minha mãe e meu irmão tínhamos saído de casa para evitar bombardeios. Antes das grandes bombas atômicas destruírem tudo, houve um massacre feito por ataques de aviões e satélites bélicos. Se tivéssemos ficado em casa, com certeza morreríamos.

Passávamos pela terceira cidade fantasma. Meu pai nos guiava com seu rifle na mão, pronto para qualquer ladrão ou assassino que pudesse aparecer. Os tempos eram difíceis, pois pessoas roubavam e matavam para poder comer. Por sorte, ninguém tinha nos encontrado.

No centro da cidade, achamos um mercado que não fora atingido por bombas diretamente, mas seu teto tinha caído e as portas estavam quebradas. Com a preocupação de achar algo para comer, decidimos arriscar a sorte e investigar o supermercado.

— Mas tome cuidado, querido — minha mãe falou com o tom pacífico dela para meu pai.

Mesmo com todos os problemas, ela ainda estava calma. Seus olhos verdes demonstravam a força que havia em seu coração. Sempre que ela podia, nos limpava, dizendo que a sujeira poderia causar doenças. Recentemente tivemos de cortar o dourado cabelo comprido dela para fazer um pequeno pedaço de corda para amarrar uma parte da mochila que eu carregava. A ideia havia vindo dela e, por mais que tentássemos convencê-la que não precisava disso, ela cortou o próprio cabelo.

Meu irmão caçula estava de mãos dadas com minha querida mãe. Ele estava sempre com um sorriso no rosto, ainda que todos aqueles problemas estivessem nos atormentando. Eu brincava com o curto cabelo dele, distraindo-o da tarefa de meu pai. O garoto ficava preocupadíssimo quando nosso pai enfrentava perigos.

— Mãe, vou com ele para o caso de algo acontecer — disse com um quê de coragem levemente abalado.

— Está bem, meu filho — minha mãe deu a permissão depois de ponderar um pouco.

— Grite se precisar de ajuda — mandei com carinho.

Entrei no mercado abandonado junto com meu pai. O curto cabelo dele parecia brilhar quando ele passava por debaixo de um dos feixes de luz que achavam o caminho por entre o teto destruído. Logo na entrada consegui uma pequena barra de ferro, algo que poderia me servir como uma espada sem fio. Passamos pelos corredores com os olhos atentos para qualquer sinal de inimigo. Porém, disso não vimos nada, somente aliados, como frutas, bebidas e alimentos com a data de validade próxima do fim. Mesmo com toda a tecnologia da época, ainda vínhamos em supermercados como antigamente. Muitos hábitos milenares dos seres humanos nunca foram embora.

No canto do edifício encontramos uma porta entreaberta. Alguma coisa fazia barulho por detrás dela. Indiquei ela para meu pai, que respondeu rispidamente.

— Vamos lá, moleque.

— Eu abro e você atira — pedi.

Segurei a maçaneta sem fazer barulho e esperei o olho do meu pai ficar em linha com a mira da arma. Puxei a porta de uma só vez. A expressão de meu pai foi de surpresa quando um cão vira-lata correu para fora com um osso na boca.

— Maldito sarnento — ele mirou no cachorro.

— Não atire, pai — implorei, mas sabendo que só isso não bastaria como argumento, ajuntei. — Vai gastar balas em vão e vão escutar o disparo a quilômetros de distância.

Hesitante, ele baixou o rifle e gritou para o animal.

— Hoje é seu dia de sorte, seu roedor de ossos imundo!

Segurando o riso por ver a reação de meu pai em relação ao susto, falei.

— Vou lá chamar a mamãe e o Tiago.

Corri para fora e chamei o resto da família, avisando que não havia inimigos, só comida e bebida quase velha.

Minha mãe e meu irmão estavam escolhendo as melhores frutas para guardar nas mochilas. Podíamos estar passando um pouco de fome, mas não podíamos arriscar a saúde nem guardar alimentos que talvez apodrecessem os outros. Se comêssemos algo estragado e com doenças, não tínhamos médicos nem hospitais para ir.

Eu fui atrás de outros alimentos, como doces, barras de nutrientes, arroz e feijão, carne e enlatados. Além disso, procurei utensílios como talheres, panos, garrafas térmicas, fios, potes, etc.

Meu pai aproveitou a oportunidade para pegar bebidas, como água, suco, refrigerantes e bebidas alcoólicas. Ele tinha uma queda por este último tipo.

Decidimos dormir ali, pois poderíamos comer e estar protegido da chuva em alguns pontos. Antes de anoitecer, fizemos uma pequena fogueira, aquecemos água em uma panela e cozinhamos arroz e feijão. Aproveitamos o fogo para assar alguns pedaços de frango e carne.

Ao anoitecer, eu e meu irmão brincávamos com um tabuleiro que minha mãe havia encontrado. Meu pai bebia sentado próximo ao fogo e minha mãe limpava os talheres que usáramos.

— Tiaguinho, vou lá ajudar a mamãe, está bem? — avisei.

Ele sorriu alegre como sempre em sinal de permissão. Fiz continência e fui correspondido com uma risada alegre.

— Mãe, precisa de ajuda? — perguntei.

— Muito obrigado, meu filho. Poderia lavar a panela com a água quente da chaleira?

— Claro — respondi e fui buscar a água na fogueira.

Olhei para o lado, onde meu pai acabara mais uma garrafa.

Tráiz mais uma, mulier — ele falou com a voz enrolada.

Voltei para onde minha mãe limpava mais coisas com a água de galões do mercado.

— O bêbado quer mais coisa para beber — retruquei.

— Já pego! — ela gritou para meu pai. — Preciso acabar isso aqui, não tenho onde soltar, já que essas bancadas parecem sujas — ela disse apontando para as prateleiras e bancadas sujas do mercado.

— Mãe, é pra lavar assim? — perguntei derramando água no interior da panela.

— Sim. Agora tampe e mexa, para fazer a água passar por toda a sujeira com força e calor.

Fiz como ela mandou e tirei a tampa da panela depois. Fumaça saiu de dentro, mas eu consegui enxergar o fundo com toda a sujeira que antes estava presa nas laterais.

— Funcionou mesmo.

— Dica de mãe nunca falha — ela piscou para mim e deu seu sorriso jovial que meu irmão herdara.

Joguei a água fora, pois não conseguímos achar alguma utilidade para ela. Quando retornei para o lado de minha mãe, perguntei.

— O que mais eu posso fazer para te ajudar?

Ela se virou para mim com uma expressão séria.

— Filho... tenho um pedido muito importante para ti.

— Diga, minha mãe.

— Se algo acontecer comigo ou com seu pai, por favor, cuide do seu irmão. Ele é pequeno e merece a vida mais que nós. Ensine-o como sobreviver, lutar, caçar e se esconder, sei que você aprendeu um pouco disso no treinamento que seu pai lhe deu.

— Farei isso, minha mãe — disse em tom compreensivo.

— Promete? — ela sorriu sabendo que eu nunca descumpriria uma promessa.

— Prometo — retribuí o sorriso.

Os olhos verdes giraram e o corpo de minha mãe ficou mole quando uma garrafa de vodca quebrou em sua cabeça. Na queda, seu braço bateu na chaleira com água quente que eu deixara entre nós, fazendo com que o líquido caísse sobre seu corpo. A minha esquerda estava meu pai, com um olhar de raiva e o resto afiado da garrafa na mão.

— Cadê minha bebida? — ele gritou.

O sangue ferveu em minhas veias. No chão, a cabeça de minha mãe estava cortada e saía muito sangue. O homem não parecia se importar com isso.

— Seu bêbado louco — disse antes do meu punho acertar o rosto cheio de barba grisalha dele.

Meu pai cambaleou e passou a mão onde eu o acertara. Com mais raiva, avançou contra mim com a arma improvisada. O pedaço da garrafa parecia realmente perigoso com uma das pontas maior que a outra. Se ele me acertasse em um ponto crítico, tinha medo do que faria depois.

Desviei de um golpe vertical e aproveitei para chutar a barriga exposta dele, tirando o ar de seus pulmões.

— Seu filho de uma… — ele tentou dizer.

Posicionei-me em combate como meu próprio inimigo me ensinara tantas vezes.

— Se renda, pai, você está muito bêbado. Vamos cuidar da mãe antes que algo pior aconteça com ela — eu disse sabendo que não poderia cuidar dela enquanto lutava com o maldito beberrão.

— Você tem que apanhar pra aprender a não se meter nas minhas brigas com sua mãe!

Ele levou a mão até atrás da cabeça e movimentou rapidamente para frente, arremessando o bico de garrafa afiado. A ponta maior teria acertado meu ombro direito, então não precisei me esforçar muito para desviar. Porém eu não ouvi o esperado barulho de vidro se quebrando no chão.

A expressão de raiva no rosto de meu pai se tornou um misto de seriedade e medo. Olhei para trás e meu coração parou por um segundo.

— Não! — gritei com todas as forças.

Meu irmão olhava para o lado esquerdo do peito, onde seu pequeno coração estava furado pela garrafa. As pequenas mãos com os dedos gordinhos se mexiam em volta da ponta de vidro que o furara. Ele olhou nos meus olhos com medo e lágrimas passavam pelo rosto dele. Enquanto nos via lutar, ele chorou, mas agora as gotas não caíam por esse motivo. Com um último sorriso, ele pareceu querer me tranquilizar. Sua voz fraca teve tempo de pronunciar uma última palavra antes que o pequeno caísse no chão.

— Irmãozão...

A dor que eu sentira em meu peito era cruel. Meu irmão, tão novo, só oito anos. O jovem anjo sempre tão alegre estava morto. Meus punhos pareceram agir sozinhos quando agarram a barra de ferro próxima a mim. Virei-me e vi o homem bêbado em seu ápice de medo. Porém o medo não era mais por ter matado o filho, mas sim pelo que eu iria fazer.

Caindo de joelhos, ele implorou.

— Me perdoe, por favor!

— Você não tem perdão! — girei minha arma e acertei a lateral da cabeça dele, fazendo-o cair com um corte longo entre os fios loiros de cabelo.

Corri para onde meu irmão estava e procurei pulsação, mas não encontrei. Com lágrimas nos olhos, fui até minha mãe. Dessa vez senti as batidas do coração, mas eram muito fracas. A queimadura em seu rosto parecia muito dolorosa e o corte em sua cabeça era uma fonte de sangue. Mesmo se ela acordasse, eu não teria como cuidar daqueles ferimentos. Ela morreria sofrendo se tentasse vencer essa luta.

Meu coração apertou quando eu usei uma faca para dar fim ao sofrimento de minha mãe. A raiva tomou meu coração quando olhei para meu pai. Peguei o rifle dele e me aproximei do corpo do bêbado. Seu peito subia e descia com dificuldade, mas ele estava vivo.

— Você merece morrer sofrendo.

Segurei a faca com toda minha força e cortei os tendões de aquiles e furei a virilha do assassino de crianças.

— Que os bandidos venham te fazer sofrer — disse dando um tiro na mão dele.

O barulho iria chamar atenção de quem estivesse na cidade. Ladrões viriam de toda parte atrás de quem havia dado o tiro. Corri para fora do supermercado, não queria ficar ali para morrer. Eu tinha de continuar a viagem sozinho, com a dor no coração pela morte de meu irmão e minha mãe e o peso na consciência por não ter cumprido a promessa que fiz à minha mãe.