Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 28: Heróis? Que Piada!


Capítulo 28: Heróis? Que Piada!

O golem de pedra, enfurecido, rugiu e disse:

− Morra, seu lagarto desgraçado! − o golem feito de rochas invocou um bloco de pedra e arremessou contra Supreme.

Supreme tentou fugir, mas seus pés estavam presos por algemas de rocha, criadas pelo inimigo. O bloco iria esmagá-lo e não tinha o que se fazer.

O barulho de um gatilho era o som da salvação. O bloco de pedra foi transformado em mil pedaços em pleno voopor um tiro de sniper. Olhei para o lado e vi Limcon deitado no chão com o olho na mira. O soldado fez um pequeno ajuste e disse:

− Headshot!

Uma rajada de tiros viajou do cano da arma até a cabeça do monstro. Em seguida, os tiros foram para o tronco e os braços, despedaçando a estátua viva. O piche fervente ardia na pedra, que tinha se transformado em brita de tanto ser despedaçada. Aos poucos, os pedaços do monstro tentavam se juntar para refazer o corpo.

− Vou te transformar em asfalto, monstro maldito!

A sniper se transformou em um lança-foguetes. O míssil mágico já estava preparado para a destruição que o maníaco por armas ia fazer. Cortando o ar, a bomba de piche atingiu o golem, cobrindo da gosma fervente que impedia a regeneração.

Sorrateiramente, o golem de sombra tentou atacar Limcon enquanto todos estavam distraídos com o espetáculo. Por sorte eu vi o ataque e protegi o atirador com uma esfera de fogo. Como as sombras não passam pela luz da chama, o braço do monstro foi desmanchado quando tocou a proteção. A sombra grunhiu enraivecida e falou:

− Então você será o primeiro, demmarc insolente.

Me preparei para a batalha acendendo minhas chamas mais quentes. Eu sabia que o fogo frio não ajudaria nessa batalha, assim como a chama selvagem poderia atrapalhar a missão por causa do descontrole. Eu precisava do fogo divino, mas não sabia como criá-lo. Precisava de uma estratégia. Como eu poderia destruir uma sombra?

Era difícil pensar em algo enquanto se desviava das garras maléficas do golem, mas, aos poucos, comecei a formar uma ideia na minha cabeça.

− Galera, se juntem! − ordenei.

Sem questionar, Limcon e Fear correram para perto de Supreme, que estava quebrando suas algemas de pedra. Todos se juntaram e ficaram de costas um pro outro, preparados para os ataques surpresa dos outros três golens.

− Monstro desgraçado, vai aprender uma lição agora. Nunca mexa com um dominador de fogo.

Protegi Fear e companhia com uma proteção de fogo, para que não fossem atingidos pelo próximo golpe que eu daria. Em volta de mim criei outra esfera de proteção. Escutei o golem gritando de raiva por não conseguir me acertar. Aos poucos, fui aumentando o diâmetro da esfera e aumentando a intensidade da chama, fazendo mais luz. Dentro da esfera não havia sombra, pois a luz forte sumia com tudo. Fechei os olhos quando aumentei ainda mais a esfera e a luz.

Usei o máximo de poder que podia e consegui criar chamas o bastante para cobrir todo o interior do templo. Os gritos de tortura do inimigo eram amedrontadores, mas aos poucos diminuíram. Ele tinha que morrer logo, o oxigênio estava sendo todo queimado por causa do fogo.

Não conseguia mais aguentar o poder. Desmanchei a proteção e abri os olhos. Respirei fundo pedindo por ar. Meus amigos também pareciam sofrer com a sufocação momentânea. Olhei ao redor, ainda tonto, e não avistei mancha negra, somente um corpo pequeno de pó e nuvens, um corpo de luz que doía meus olhos de tão brilhante e um grande corpo de fogo, recém alimentado com o fogo do meu ataque.

− Obrigado, demônio tolo. Você me encheu de comida − o monstro riu e passou as mãos de fogo na barriga.

O monstro de fogo virou para o golem de ar e o sugou. Aquilo foi a coisa mais cruel que eu vi no jogo até agora. Quase consegui sentir pena do ser aéreo. As chamas cresceram ainda mais. Porém não foi o monstro de fogo que atacou.

Tão rápido quanto Supreme, o golem de luz correu contra nós, parando abruptamente e nos encarando.

− Quem será o primeiro a lutar comigo?

Diferente dos outros monstros, esse era sério e não parecia irritado. Ele sabia que uma batalha conosco não seria fácil e nos dava a honra de heróis.

− Serei eu − meu irmão disse dando um passo a frente.

− Me diga quando estiver pronto para lutar, pequeno soldado.

Fear fechou os olhos e cruzou as machadinhas sobre o peito. Aos poucos as veias do seu corpo todo começaram a enegrecer, enquanto sua pele ficava cada vez mais pálida. Ele rangia os dentes como se sentisse muita dor. Uma cortina de fumaça negra o cobriu por alguns segundos e depois desapareceu lentamente.

A metade de cima de uma caveira cobria seu rosto. Seu cabelos se tornaram brancos e transparentes ao mesmo tempo, como se ele fosse um fantasma. Seus olhos eram esferas negras com uma linha vermelho-sangue. Cada ombro era protegido por uma mão esquelética e os braços cobertos por placas ósseas. As mãos eram cobertas por uma luva branca como mármore e que parecia dura como marfim. O peito era revestido por uma armadura de costelas e a barriga estava escondida sobre um manto bordado de rostos fantasmagóricos, que se moviam e gritavam de dor, mas sem sair nenhum som. As pernas eram igualmente protegidas como os braços.

O assassino tirou as machadinhas de obsidiana do peito e olhou friamente para o golem de luz.

− Estou pronto − o assassino disse com a voz de mil almas condenadas a tortura eterna.

O inimigo atacou com um soco extremamente rápido, mas sua mão parou a centímetros do rosto sério de Fear. O monstro parecia fazer força para tentar acertar, pois seu braço tremia e o chão onde pisava começava a rachar por causa da pressão.

Meu irmão levantou a mão devagar e encostou no golem com calma. Imediatamente a luz dele começou a se transformar em uma mancha sombria, como se ele estivesse sendo consumido pelo mal. O ser luminoso começou a gritar e se afastou, mas a contaminação continuou, dominando o braço do monstro e seguindo para o peito.

Caindo de joelhos, o inimigo disse:

− Me perdoe, por favor! Eu não quero morrer.

Fear não demonstrou nenhuma expressão quando fez dois cortes no ar que se cruzavam, formando um X. O golpe não acertou o monstro, pois este estava a alguns metros de distância. A princípio ninguém entendeu o que Fear tinha feito, mas logo notei que o “filme” de almas na barriga dele tinham sumido. Quando o corpo do monstro de luz estava todo coberto pela mancha negra, mãos fantasmas brotaram no chão perto dele e tentaram agarrar a figura negra do inimigo.

− Não! Por favor! Isso não! Eu imploro! Tudo menos isso!

As mãos começaram a puxar o golem para dentro da terra, como se um portal estivesse aberto embaixo dele. O inimigo começou a afundar na terra como se ela fosse areia movediça. Os gritos de pavor eram de arrepiar, porém meu irmão não parecia estar sentindo nada, nem pena, nem medo, nem alegria. Como se lê-se meus pensamentos, ou talvez apenas por coincidência, ele disse:

− A morte chega para todos, só temos que aceitar e ir em frente.

O monstro afundou por completo e deixou um profundo silêncio. No meio do templo, o gigante de fogo estava paralisado de medo. Eu o entendia, depois de ver seu amigo ser sugado por fantasmas, era difícil manter a coragem.

Porém a sorte não estava do nosso lado. Fear se destransformou e desmaiou, exausto da luta. O monstro de fogo riu, percebendo que o soldado mais forte já estava fora de batalha.

− Vocês não têmchance contra mim, todos são fracos e estão cansados.

O golem levantou as mãos na frente do rosto e começou a criar uma bola de fogo. Mas a sorte nos escolheu dessa vez. O teto do templo rachou e peras caíram sobre o ritual e o golem, que desviou e só foi atingido de raspão. Uma boca reptiliana gigante desceu e engoliu o monstro de uma vez só, como se não passasse de um grão de milho na boca de uma galinha. Em seguida a boca saiu do templo e uma voz grave e rouca disse:

− Pequenos seres, eu convoco-os a sair.

Amedrontados, decidimos sair. Peguei meu irmão e joguei sobre o ombro. Seu corpo era leve como um travesseiro. Caminhei lado a lado com Supreme e Limcon. Sentia a tensão no ar. Esse ser que comeu um golem inteiro de uma vez só devia ser muito poderoso.

Quando atravessamos a saída, vimos nossos mestres com cara de espanto. Se até eles estavam com medo, o que seria esse monstro?

A lua verde brilhava no alto de uma forma assustadora e linda ao mesmo tempo. Talvez eu achasse mais assustadora porque uma parte dela era coberta pelo rosto do monstro.

O lagarto gigantesco estava sobre quatro patas. Da ponta da cauda até o nariz devia ser uns cem metros. Parecia que um dinossauro viajou no tempo para nos encontrar. O corpo era todo coberto por escamas vermelhas. Suas patas eram o dobro do meu tamanho e tinha garras afiadas que pareciam espadas gigantes. O rosto parecia duro como um diamante. Na lateral da cabeça vários chifres sobressaiam, sendo os mais de baixo do tamanho de uma faca e os mais de cima do tamanho de uma lança. A boca podia engolir um golem inteiro, algo que já tínhamos visto, e os dentes pareciam poder comer mármore como se fosse manteiga. O longo pescoço encouraçado brilhava fracamente como brasa quente, assim como os espaços entre as escamas, as costas dos monstros tinham pequenas fogueiras, a ponta da cauda estava em chamas e os olhos vermelhos pareciam rubis.

Mas a exibição de beleza não estava para acabar. O gigante monstro escalou o templo até o topo quebrado e abriu suas gigantes asas. Elas eram como a garganta, brilhavam como se estivessem em chamas por dentro. Se medisse de um lado ao outro, possivelmente teriam o tamanho de um campo de futebol, ou até mais. Porém o ser magnífico ainda tinha mais um truque. Ele olhou para cima, como se fosse uivar para a lua como os lobos fazem, e cuspiu uma labareda que fazia aquecer meu rosto, mesmo eu estando longe. As chamas eram de um vermelho vivo cor de sangue, com uma pequena parte laranja dentro. Por alguns segundo a luz verde perdeu a briga contra o radiante vermelho que preencheu o seu.

O dragão parou de se exibir e desceu o templo, quebrando algumas árvores para poder sentar e olhar para nós.

− O que fazem aqui? − a fera perguntou calmamente.

− Nós fomos os heróis escolhidos para destruir o ritual dos golens.

− Heróis? Que piada − o dragão gargalhou, ou fez o mais próximo que um dragão consegue − Seres tão fracos como vocês não podem ser heróis. Vi quando entraram. Demoraram mais de cinco minutos para derrotar aqueles golens.

− Por que nos ajudou? − eu perguntei.

− Você me salvou um dia, me salvou de uma maldição terrível, então estou devendo-lhe muito. Sei de sua missão, vou ajudá-los.

− Quando eu o salvei e como nos ajudará?

− Eu estava confinado na prisão de obsidiana, quando você derrotou meu guardião, destruindo o ergástulo. Fiquei seguindo você, demônio libertador, para retribuir. Não salvei sua vida agora a pouco, só estava com fome e aquela chama parecia ótima. Realmente estava, há tempo devorava algo tão bom. Mas quanto a te ajudar… Vocês estão procurando o Totem de Arquivo, certo?

− Sim − respondemos todos em coro.

− Eu sei onde está e vocês só poderão chegar lá se forem comigo.

− Por quê? − Supreme questionou.

− Porque está em outro continente.