Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 17: O Mago Renegado


Fear, Troiana e eu chegamos correndo no quartel. Meu coração batia rápido por causa do cansaço da corrida. Olhei em volta, procurando Salocin, mas só encontrei soldados treinando golpes de espada uns nos outros. Sentada em um banco, Zoey estava lendo um livro. Nós corremos em direção a ela:

- Zoey, voltei da missão. – disse meu irmão.

- Isso é ótimo, Fear. Conseguiu cumprir? – respondeu Zoey.

- Não. Voltei por outro motivo.

- Como não conseguiu cumprir?! Eu disse que não era para voltar aqui se não tivesse cumprido! – gritou para meu irmão.

- Como ousa falar assim com meu irmão?! – gritei, tentando defender meu irmão.

- Desculpe-me, Balazar, mas as missões dele são muito importantes. Duvido que o motivo da volta dele seja mais importante que as missões que eu o mando fazer. – disse a diplomata.

- Manda? Ninguém manda em ninguém nesse grupo. Você pede para ele fazer, mas não manda nele.

- Parem de brigar! – disse Troiana. – Zoey, você sabe que não manda em ninguém, somos uma equipe, não somos ditadores. Agora peçam desculpas.

- Nunca que eu vou pedir desculpa para ela!

- Nunca que eu vou pedir desculpa para ele!

Zoey e eu falamos ao mesmo tempo. Nós dois não estávamos dispostos a perder nossa honra pedindo desculpas. Troiana falou algo no ouvido de Zoey, que subitamente a fez mudar de ideia.

- Me desculpe Balazar Terror e me desculpe Fear. Eu realmente não mando em ninguém, espero que possa me desculpar.

Troiana chegou perto do meu ouvido e sussurrou:

- Peça desculpas, querido Balazar.

Ela fez uma voz fofa, como quando uma criança quer um presente. Eu não pude aguentar esse charme e disse:

- Eu que peço desculpas Zoey... Como é mesmo seu sobrenome de jogo?

- Sou Zoey Luna.

- Bem, me desculpe Zoey Luna. Eu não deveria tentar te ensinar a como comandar seu setor.

Nós dois nos encaramos. Uma pequena rivalidade nascia ali. Nenhum de nós queria perder para o outro. Infelizmente eu sabia que se fosse na parte de falar ela iria me ganhar facilmente, mas acho que na parte de luta eu poderia ganhar.

- Agora me diga o que você descobriu, Fear.

- Eu estava olhando o mapa para traçar uma rota de volta, pois a área que eu estava vasculhando “aquilo” que você me pediu para achar era muito perigosa. Vamos precisar de mais gente para cumprir essa missão, falando nisso. – emendou meu irmão. – Mas voltando ao que eu descobri... Olhei o mapa da região da Escuridão, e acabei descobrindo que um dos pontos mais importantes de lá se chama Montanha de Obsidiana. Esse é exatamente o nome do lugar que temos que ir, segundo a missão do Totem de Arquivo.

- Você é incrível, Fear! Parabéns. Como eu não tinha pensado nisso antes. Mandei tanto tu procurar “aquilo” que até esqueci-me de te pedir para encontrar esse lugar. E como eu não pensei que essa montanha podia ser lá? – disse a elfa arqueira.

- Muito obrigado. Mas me desculpe por não ter achado o que você me pediu. Seguirei procurando outro dia. – meu irmão disse.

- Hey, maninho. Por que você não mandou uma mensagem escrita para nós, ao invés de viajar pelo continente? Teria sido mais rápido e você não teria que parar a missão.

- Eu não me lembrei disso na hora. Mas tem outro motivo. Eu quero fazer parte dessa missão, então se eu estivesse lá eu não poderia fazer isso. Quero ajudar a planejar a missão.

- Ok, então vamos fazer isso. Mas Zoey, onde está o Salocin? Temos que avisá-lo.

- Não se preocupe com isso, eu vou mandar uma mensagem para todos os membros, reunindo-os aqui.

Minutos depois todos os membros que estavam jogando se reuniram no quartel. Alguns estavam fazendo missões, mas mesmo assim voltaram para a base ao receber a missão que avisava de uma reunião urgente. No total, 14 membros estavam online.

- Bom dia a todos. – disse. – Estamos aqui reunidos... Se eu seguir falando assim irá parecer que sou padre de casamento.

Todos riram, com exceção de Zoey. Ela ainda parecia brava pela nossa briga.

- Bem, seguindo. O negócio é o seguinte: descobrimos onde é a primeira missão do Totem de Arquivo. No país da Escuridão, uma montanha chamada Montanha de Obsidiana se encontra perto da divisa entre esse país e o país da Morte.

Dei um tempo para que todos assimilassem essas informações, então prossegui:

- Nós temos que formar uma equipe de no máximo 10 integrantes para cumprir a missão. Não sabemos exatamente o que é, mas sabemos agora onde fica. Possivelmente quando chegarmos à montanha iremos receber mais informações. Quem quer ir nessa missão?

Alguns levantaram a mão. Procurei Limcon para ver se ele estava com a mão levantada, mas percebi que ele nem estava ali. O que será que houve com ele? Eu não o tinha visto desde que formou a equipe da tesouraria.

Entre os que levantaram a mão estavam: Fear (obviamente), Troiana (a missão já tinha ficado 100% mais interessante), Tartaruga, Reaper, Ynad (uma jogadora nova, que é uma barda/música) e Murrada.

- Ok, contando comigo e com um novo membro que será adicionado pelo Fear, no total são oito membros para essa missão. Ficarão aqui para a defesa da base somente Salocin, Supreme, Dad Killer, Ked, Zoey, duas das novas jogadoras do grupo e caso fiquem online Santerlock, Iron e Limcon também. Nossa força de defesa está baixa.

- Não se preocupe Balazar, nós protegeremos a base. – disse Salocin. – Mas quem é o membro novo?

- Se chama Therin. – meu irmão contou – Ele é um mago que vive fora da cidade, dentro da floresta. Mas não demora muito para chegar à cabana dele. Vou pedir para ele entrar no grupo quando estivermos indo para a missão, já que ele mora perto da estrada que vamos usar.

- Então acho que só nos resta fazer as possíveis estratégias do ataque.

Passamos algumas horas fazendo as estratégias. Com o tanto de membros que iriam lutar nós conseguimos fazer várias estratégias. Não as deixarei aqui, pois são chatas demais para explicar.

No outro dia, do jogo, acordei cedo de manhã para arrumar minha mochila. Eu tinha dormido no dormitório do grupo, assim como algumas outras pessoas. Ao começar a fazer minha mochila, dei-me conta que outras pessoas já estavam fazendo isso. Então junto com os outros, sai do quarto.

No pátio interno do quartel meu irmão treinava ferozmente. Seus machados cheios de espinhos de cactos entravam e saindo dos bonecos de treinamento, arrancando pedaços de madeira do pobre coitado inanimado. Ao me aproximar dele ele parou o treinamento.

- Olá irmão. Tudo pronto? Eu já arrumei a carroça.

- Vamos só esperar todos chegarem.

Me sentei junto com ele perto do rudimentar automóvel. Alguns minutos depois os outros membros da missão chegaram. Eu iria na frente, junto com meu irmão. Ele iria ali comigo até chegarmos à casa do amigo dele, do mago Therin.

Fear foi guiando-me pela cidade e por parte da floresta. Em quinze minutos nós já estávamos na pequena cabana feita de pele castanho-escuro de animais, possivelmente ursos, sustentada por gravetos, formando um cone. Do lado de fora da cabana pequenas pedras formavam um circulo no chão e no meio delas um pouco de cinzas restavam de uma possível fogueira da noite anterior.

Por causa do barulho de nosso meio de transporte, Therin percebeu que nós nos aproximávamos. Ele saiu de dentro da pequena cabana, segurando seu cajado de madeira que continha uma esmeralda na porta. A esmeralda brilhava em um tom verde claro, o que indicava que energia mágica passava por ali, então Therin estava pronto para nos atacar, se fosse o caso. Meu irmão pulou na carroça e caminhou até Therin, que o reconheceu rapidamente. Baixando o capuz da capa preta feita de pele de urso, Therin disse:

- Fear, meu amigo! Seja bem-vindo a minha humilde floresta.

Ele riu como se a floresta realmente fosse dele. Ele passou as mãos seus próprios cabelos grisalhos, bem cortados e espetados, como os de um velho que dentava parecer jovem. Sua raça era um renegado, os elfos que foram banidos das sociedades élficas. Sua pele era escura, com um tom levemente azul. Seus olhos eram inteiramente vermelhos. Mas mesmo com a aparência maligna, eu sentia que ele era um bom jogador. Ele parecia ser muito forte, e confirmei isso ao ver que ele estava no nível 11.

- Therin, tenho um pedido a te fazer. – meu irmão disse.

- Então faça pequeno ladino.

- Esse grupo de jogadores que está junto comigo faz parte da S-War, o grupo do qual eu pertenço. Nós estamos indo realizar uma missão no país das sombras. Eu gostaria muito de que você entrasse para a S-War e fosse junto conosco para essa missão.

- Que missão é essa? – Therin perguntou.

- Iremos à Montanha de Obsidiana. Nós não sabemos o que irá acontecer lá. Essa missão é parte da missão que precisamos cumprir para viajarmos à Lua.

- Vocês já conseguiram uma missão dessas? Mas você nem está no nível necessário! O que indica que algum de vocês eliminou metade de um grupo de jogadores da Lua. Quem foi?

- Foi meu irmão, Balazar e m outro jogador que não está online. – disse meu irmão, apontando para mim.

- Olá. – eu disse, acanhado.

- Você é um demmarc, certo? – disse o renegado, me analisando.

- Sim, e você é um renegado, certo? – perguntei, pensando o motivo de alguém escolher essa raça.

- Sim, algum problema? Tem preconceito por eu ser assim?

- Não. Você deve saber tanto como eu sei que os renegados e os demmarc são povos que não tem boa fama. Mas mesmo assim aqui estamos nós, jogando com os amigos.

- Você está certo. Quando a você Fear, me mande agora o convite para entrar no grupo.

- Mas é claro. – disse meu irmão, sorrindo.

O convite deve ter aparecido na tela/olho de Therin, mas mesmo assim ele fez como se pensasse se iria ou não aceitar. Parando de brincar ele aceitou o convite.

- Que legal, agora eu faço parte de um grupo. – disse o mago, fingindo estar feliz.

Eu o entendia. Jogar sozinho faz você jogar melhor, pois te treina mais. Mas jogando em grupo você vê como é bom ter uma família, mesmo que ela seja somente dentro do jogo.

Therin, meu irmão e eu subimos na carroça. Eu seguiria dirigindo, mas agora como minha acompanhante estava ninguém mais ninguém menos que. Sim, ela mesma! Troiana! Que legal não? Ao vê-la subir na parte da frente da carroça eu sorri como uma criança. Ela ficou vermelha por ver que eu estava feliz com a presença dela.

A parte de trás da carroça era coberta por um pano, então eu não conseguia enxergar os outros membros lá dentro. Mas isso dava uma vantagem para mim: eles também não poderiam ver a mim e a Troiana.