Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 11: S-War contra a Rainha do Vulcão


A golem nos empurrou para fora da caverna com um supro de fogo. Antes que todos estivessem de pé, Ked já estava nos recuperando em velocidade máxima. Eu via o espírito de luta dele, tentando nos ajudar com tudo que podia. O jogo era inteligente, ele notava os jogadores que jogavam com vontade e dava bônus, condições especiais, coisas foras do normal.

Meu irmão invocou seu escorpião de areia para tentar lutar. Vocês se lembram daquele pequeno escorpião amarelo que ele ganhou de presente? Pois então, agora ele tinha exatamente o mesmo tamanho. Aquele pedaço de areia não cresceu nada, maldito. O pior é que ele era péssimo para lutar, pois meu irmão não tinha aprendido a usa-lo. Mas mesmo assim meu irmão sempre o invocava para as lutas, só que o pequeno maldito não fazia nada (estou falando do escorpião, não do meu irmão), só se escondia e esperava a luta acabar. Meu irmão atirou alguns espinhos de cactos e alguns tiros de areia, mas não fazia muito efeito contra o monstro.

Salocin puxou seu arco e invocou um espírito. Cada xamã tem um animal espiritual. No caso do Salocin, seu animal era uma raposa. Era realmente um fantasma, então não tem como descrever. Imagine uma raposa que virou fantasma. Pronto, você imaginou certo. Usando uma sequência de flechas solares e um ataque combinado com sua raposa, Salocin impediu um segundo sopro de fogo. As flechas choviam e explodiam, criando uma versão miniaturizada do sol onde acertavam. Paela, a raposa fantasma, correu contra o golem. Imaginei que ela fosse só morder ou algo assim, mas na verdade era dela que emanavam os poderes de ancião. Quando chegou perto do golem, Paela brilhou em um tom azul claro. Fantasmas surgiram do chão. Ao redor deles uma pequena nevasca caia. Eram Espíritos do Gelo. Salocin controlava eles, então mandou-os atacar a Rainha do Vulcão. A lava tinha resistência contra fogo, mas mesmo assim uma perna do golem foi paralisada. Mas a chefona tinha uma carta na manga: ela podia se transformar em mais de um ser.

O golem sumiu, deixando um momentâneo silêncio entre nós, que foi quebrado abruptamente por um rugido. Olhamos para cima e lá estava nossa inimiga, na forma de um grande dragão de lava. Eu sabia que para se transformar em outro ser consumia muita mana, mas ela parecia ainda ter muito poder. O dragão cuspiu fogo. O chão a nossa volta ficou levemente alaranjado, meus amigos sofreram danos altos, mas eu e Limcon não sofremos nada, pois tínhamos resistência alta contra fogo e poderes relacionados a queimaduras. Limcon sorriu e fez o que saiba fazer de melhor:

- Surprise Motherfucker!

Ele mirava sua escopeta bem para a cabeça do dragão e com um tiro poderoso arrancou algumas escamas do réptil voador. O dragão gritou de dor, pois mesmo tendo resistência contra o piche ainda foi danificado pelo veneno embutido nas balas. Mas Limcon tinha mais uma surpresa, algo que eu nem sabia o que era e decidi perguntar depois: ele acoplou uma mini serra-elétrica em sua escopeta. Correu contra o inimigo, brandindo sua nova arma. O dragão caiu no chão, ainda gritando, e foi atacado por meu amigo atirador. Enquanto isso, os outros já estavam de volta a luta, pois Ked tinha os recuperado muito rápido. Falando no Ked, ele também estava pronto para atacar. Usou sua magia de roubar vida e entregou a alguns membros do grupo que ainda não tinham 100% de vida. O feiticeiro, Santerlock, preparou uma magia poderosa, um raio de pura energia. Disparou contra o inimigo e enquanto o poder viajava pelo ar, eu percebi que a ponta do golpe eram cães feitos de pura mana. Por isso o nome do golpe, que Santerlock gritou:

- Raio dos Cães!

O golpe tirou um dente do dragão, que estava sendo descamado por Limcon. Salocin e Zoey atiravam flechas em sequência enquanto eram protegidos por Troiana, que segurava seu escudo bravamente enquanto gritava:

- Morra lagartixa gigante!

Iron atacava o dragão, que estava deitado na rocha negra, pelo seu flanco, cravando a poderosa lança cinzenta em suas costelas. O guerreiro radioativo também atacava, mas pelo lado esquerdo do monstro. Vi a vida do dragão descer rapidamente: 800, 750, 650, 500, 300...

Então o dragão voltou a ser um golem, que estava de pé, olhando para todos nós com cara de velho quando vê criança fazer pirraça. Com uma pisada forte fez todos cairmos. Em seguida, chutou Iron para longe, atingindo Ked. Depois agarrou o Murrada com uma mão e o atirou alguns metros longe. Cuspiu fogo nos nossos arqueiros, mas por sorte Troiana anulou todo o dano. Eu não podia deixar meu grupo morrer assim, então me preparei para atacar o monstro, mas fui impedido com uma coisa surpreendente. Supreme gritou:

- Monstro gigante, você vai morrer!

Então ele correu contra o monstro tão rápido que parecia um relâmpago. Na verdade ele tinha se transformado em um relâmpago. Um borrão púrpura se moveu por entre as pernas do golem, subiu por usa panturrilha e parou em cima da cabeça do monstro. Gritando furiosamente, Supreme socou a cabeça do monstro, tirando pedaços de rocha e fazendo espirrar lava. O monstro tentou acerta-lo com um tapa em sua própria cabeça, mas Supreme correu no último instante, fazendo o monstro bater em si mesmo. Invocando um raio, Supreme estourou parte do rosto do monstro. Em seguida, Limcon cortou fora parte do joelho e meu irmão, para tentar terminar o serviço, cortou alguns dedos da mão direita com uma sequência de golpes de machadinhos. Mas o monstro ainda estava de pé, só que agora na forma da mulher.

Como um último apelo, ela invocou lagartos de lava. Infelizmente ela não conhecia meu poder. Gritei:

- Chuva Cortante!

Uma chuva forte apagou os lagartos de lava, fazendo eles desmoronarem como um prédio sendo derrubado. A Rainha da Lava estava gritando de raiva, quase chorando.

- Vocês não vão me venc...

A frase foi cortada tão rapidamente quanto a cabeça da monstra. Limcon segurava sua escopeta-serra-elétrica. Ele segurou a cabeça da inimiga e guardou na mochila, em seguida disse:

- Vamos voltar para aquela sereia maldita.

Gritamos de alegria por termos vencido, mesmo estando todos queimados, com metade da vida e sem mana. Ked recuperava sua mana bebendo poções, enquanto todos caminhavam ao seu lado, esperando a cura. Zoey e Salocin falavam um discurso de vitória, mas eu e Limcon fomos caminhando na frente deles. Nós dois pensávamos a mesma coisa: vitórias podem ser legais, mas nós não estamos aqui para jogar, estamos aqui para poder viver na Lua.

- Limcon, você não acha que a górgona vai querer nos atacar quando entregarmos a cabeça?

- Sim, por isso bolei um plano. Vou usar meu poder de psíquico para não ser encantado pelo canto da sereia e terei somente alguns segundos para atirar na cobra traidora. Entregue esse anel ao seu irmão, ganhei um novo, o anel da lava.

Ele sorria e eu sabia o porquê. Com um anel da lava ele ganharia poderes fortes e também mais resistência contra o fogo. Eu e ele agora podíamos resistir a maior parte dos ataques de fogo, pois tínhamos resistência 20 contra danos flamejantes. Nós poderíamos absorver todos os golpes de fogo que qualquer jogador até o nível 10 poderia nos causar, isso pensando que o jogador teria focado todos os bônus para dano flamejante, o que era quase impossível. Nós teríamos de proteger nosso grupo, era nosso dever fazer isso.

Caminhamos conversando sobre os possíveis meios de ganhar da serpente-peixe, mas o melhor de todos parecia ser o que Limcon tinha dito. Não tínhamos como lutar sem olhar para a górgona, mas pelo menos demorava cinco segundos para petrificar completamente quando ele olhasse para ela. Ele teria de usar a mira de sniper para acertar na cabeça, matando com um tiro só. Além disso, teria de cuidar para não ser atacado por nós mesmo, já que nós estaríamos sendo controlados pelo canto da sereia. Era um plano arriscado, mas era o melhor que tínhamos. Pensamos em deixa-lo longe do templo, mirando pelo lado de fora, mas os primatas iriam ataca-lo enquanto estivesse sozinho. Também pensamos em colocar veneno na cabeça da Rainha do Vulcão, pois sabíamos que a górgona iria comer isso, mas possivelmente, por ser meio cobra, ela teria resistência a veneno. Atacar em conjunto não daria certo, nós já teríamos de ficar lutando contra os soldados-babuínos. Os únicos que ficariam conscientes do que estão fazendo são Zoey e Limcon. Infelizmente Zoey não parecia ser boa em combate, só em convencer as pessoas com a fala, mas não achávamos que se a górgona quisesse nos matar iria dar tempo de conversar.

Finalmente chegamos ao templo, preso entre as duas paredes de pedras que formavam o desfiladeiro. Fizemos uma formação de batalha, onde os tanks iam na frente, o healer no meio, os arqueiros e Limcon logo atrás e o resto protegia o flanco. Iron e Troiana pareciam duas muralhas, marchando rumo ao centro do templo. Salocin e Zoey estavam conversando em tom baixo, mas eu os ouvia dando algumas risadas de vez em quando. Bravo, por algum motivo que eu não sei dizer, gritei:

- Salocin, quieto, estamos em um momento tenso.

Ver os dois tão felizes me dava raiva. Acho que era porque eu levava esse jogo tão a sério por ser a única forma de dar uma vida melhor para mim e meu irmão, enquanto eles ficavam rindo como se fosse uma brincadeira. Ou talvez fosse porque...

- Sejam bem-vindossss, meussss queridossss. – A górgona disse, quebrando meu pensamento.

- Aqui está a cabeça do golem. Na verdade era uma mulher, a Rainha do Vulcão. Tome!

Limcon atirou a cabeça, que caiu aos “pés” da górgona. Na verdade era na cauda dela, pois ela não tinha pés. A górgona comeu em uma só mordida. Quando engoliu ela levantou a cabeça em nossa direção, dizendo:

- Seus tolos, isso só me fez ganhar os poderes de lava. Agora vocês vão morrer!

Ela cantou, fazendo os primatas correrem para nos cercarem, enquanto, aos poucos, nós ficávamos encantados. Tentamos lutar contra os vassalos, mas logo eu não controlava mais meu corpo. Repensei o que a górgona tinha falado e me dei conta de que estávamos encrencados. Com os poderes de cobra e de lava a maldita tinha resistência contra o tiro de Limcon. Mesmo assim ele tentou. Levando sua sniper, colocou a mira no olho, ajustou exatamente a mira e apertou o gatilho.

- Surprise Motherfucker!

Escutei uma voz dizendo: “CRITICAL!”. Em seguida a górgona estava caída em seu trono, com a cabeça explodida e o corpo se desintegrando em códigos binários. Os primatas, morrendo de medo, correram para fora do templo, gritando de pavor. Limcon finalmente sorria, pois sabia que um tiro desses era difícil. Ele foi até Ked e entregou o anel de psíquico, alegando que não precisava mais e dizendo que o healer do grupo tinha de ficar com isso, pois sempre teria uma visão estratégica do campo e poderia falar mentalmente conosco. Limcon foi até a medusa e pegou um colar, o Amuleto de Estátua. Ele me mostrou os bônus e eu me impressionei. Colares dão bônus melhores que anéis, mas seus poderes são únicos. O bônus do colar era resistência total contra petrificação, mas não paralisia por gelo, raio ou veneno. O poder do amuleto era criar uma estátua que ajudaria Limcon a lutar.

Salocin veio ao meu encontro e disse:

- Cara, aquela hora, quando estávamos entrando e você me mandou ficar quieto, você deixou muito na cara. Está com ciúmes né.

- Eu? Não, não. Você entendeu errado. Só achei que não era hora de ficar namorando, estávamos entrando no covil da górgona.

- Como assim namorando? Eu e Zoey só somos amigos, praticamente irmão. Mas bem, tenho um assunto mais importante para falar com você, sobre a S-War. Nosso grupo é forte junto, mas temos que deixar o grupo mais forte ainda. Vamos fazer assim: dois do grupo fazem vigia no quartel, para ter certeza que sempre estará protegido, outros três fazem procura de novos membros pro grupo e o resto pode ficar fazendo missões. De semana em semana nós trocamos os grupos que ficarão protegendo e procurando. O que acha?

- Ótima ideia. Mas quem ficará protegendo e procurando?

- O que você acha de Ked e Iron ficarem protegendo, eu Zoey e Troiana ficarmos procurando enquanto o resto fica fazendo missões.

- Parecia uma boa, vou pedir para eles. Espero que vocês consigam mais membros.

- É claro que iremos conseguir, eu e Zoey somos ótimos com as palavras.

- OK. Então, vamos nos separar aqui.

- Até mais, cara. Vejo vocês outro dia.

Nós nos viramos, prontos para sair, mas uma pergunta me veio a cabeça e antes que eu pudesse segurar a curiosidade, perguntei:

- Salocin, a Troiana, ela tem...?

- Entendi o que você quis dizer. Não, ela não tem namorado, mas não sei, acho que Zoey foi mais com sua cara. Sabe, sou o melhor amigo dela, estou te dando esse conselho, acho que ela gostou de você.

Me virei, meio perplexo com a notícia. Caminhei até o resto do grupo e informei a divisão. Decidimos que os seis jogadores que sobraram iriam se dividir em outros dois grupos. Eu, Limcon e Fear iríamos encontrar os mestres enquanto Santerlock, Murrada e Supreme iriam para masmorras, ganhar nível. Falando nisso, todos estávamos agora no nível 6, tínhamos ganhado mais um poder, mas eu ainda não tinha escolhido o meu.

Caminhamos contra o pôr-do-sol, mas por algum motivo, ele parecia bonito, mesmo com o vulcão cobrindo o céu de fuligem.