Radiação Arcana: Totem De Arquivo

Capítulo 12: Mestre dos Peixes


O caminho pelo país psíquico era calmo e sem inimigos. A área que ocupava era um grande campo, com poucas elevações e árvores. A estrada cortava as plantações que cobriam o campo. Claro que elas eram de alguém, em geral eram das vilas que marcavam alguns pontos importantes da região, mas nada muito fora do normal. Parecia um país comum, como se nada tivesse acontecido com esse país, como se nem vivêssemos em um mundo cheio de monstros. Às vezes parávamos em alguma vila para descansar, comprar comida e água, mas nunca fomos abordados pelos NPCs, que pareciam boas pessoas. Talvez esse fosse o país mais parecido com o meu mundo real antes das bombas e em parte ele parecia até mesmo depois da destruição. As vilas me lembravam muito as vilas vizinhas lá do Polo Norte, algumas pareciam muito a que eu vivo, pois tinha poucas diferença, como as construções e não ter neve e gelo por todo lugar.

Depois de três dias viajando após a luta contra a górgona nós finalmente chegamos à capital. Seu nome era Einstein, por que será? Não tinha nenhuma muralha, só algumas torres onde guardas vigiavam o horizonte, mas nenhum veio falar conosco. Fomos até o mercado, comprar algumas coisas e já notamos a diferença da economia entre aqui e a floresta. Na floresta vendiam-se muitos itens de madeira e de recuperar vida, enquanto aqui se vendiam muitos itens para recuperar mana e runas, que eram pergaminhos ou pedras com desenhos de símbolos encantados, que davam bônus aos jogadores. Limcon pegou algumas, meu irmão também e claro que eu tive de entrar na moda. Escolhi uma que me dava mais mana e uma que aumentava meu dano por magia. Como eu era o mago do grupo eu tinha que ter muita mana e dano. Agora no nível 6 eu conseguia invocar 15 bolas de fogo ou 10 bola de fogo frio. Não vou citar os outros poderes porque só esses são importantes. Na verdade eu queria gastar menos mana para lançar uma bola de fogo frio, pois assim eu sempre iria usar ela. Eu espero que o mestre que vá me ensinar saiba como me ajudar nisso ou me de um poder mais forte.

Depois de darmos uma de patricinha e olhar todas as lojas da área comercial nós resolvemos ir aos templos. Mas existiam diferentes templos, cada um com sua especialidade, então tivemos de nos separar. Combinamos de mandar uma mensagem quando terminássemos o treinamento.

Segui o caminho que levava a uma casa simples, onde estava escrito: Templo Flamejante. O templo era bem rústico, feito de tábuas amareladas que faziam o templo parecer um casebre reformado. Bati na porta de madeira que rangeu ao abrir. Um NPC humano me esperava, olhando com cara de: ó meu deus, um cliente! Ele segurou minha mão e me cumprimentou, dizendo:

- Seja bem-vindo, achei que você não viria mais.

- Mas como você sabia que eu viria?

- Eu sempre sei de tudo.

Era difícil acreditar nele, pois ele não tinha cara de sábio. Na verdade ele parecia ter quase a minha idade, talvez tivesse uns 25 anos. Seus cabelos pretos eram bagunçados, mas lisos. Seus olhos negros brilhavam de alegria, como se ele tivesse tomado energético. Ele tinha minha altura e usava roupas comuns, ou melhor, incomuns para a temática do jogo. Jeans com uma camisa preta onde estava estampada uma espada.

- Você é o mestre de fogo? – perguntei.

- Sim. Sou eu mesmo.

- Prove. – falei em um tom sério.

- Agora mesmo. – ele falou alegre, mas mudando sua feição para algo mais sério.

O mestre estendeu a mão e uma chama apareceu em sua palma.

- Viu, eu sou o mestre. – ele disse.

- Isso até eu consigo fazer.

- Baka (idiota, em japonês). Você é esperto, achei que iria cair nessa.

Ele se concentrou um pouco mais e seu braço incendiou. Em seguida tentáculos flamejante surgiram em seus dedos, como uma extensão de seu corpo. Os tentáculos envolveram meu corpo, mas sem me queimar, me ergueram do chão e me soltaram quando eu estava alguns centímetros acima do chão.

- Isso é o bastante? – perguntou o mestre, usando um dos tentáculos para coçar seu fino nariz.

Olhar para alguém que parecia mais um jogador antissocial não me fazia crer que ele podia ser o mestre do fogo, mas eu respondi:

- Sim, é o bastante. Qual seu nome?

- Sou Water. Sim, meu nome é uma ironia, mas é porque eu nasci em uma vila de dominadores d’água e o ancião dela profetizou que eu seria um grande dominador, então meus pais deram esse nome, achando que eu seria um dominador de água. Infelizmente eu acabei sendo de fogo, pois um tatarataratara...avô meu tinha linhagem de fogo. Acabei virando o maior dominador de fogo do mundo, mas não podia ser aceito no país de fogo já que eu tinha nascido no da água. Eles tem uma rixa forte. E você, quem é?

- Sou Balazar Terror, sou um jogador dominador do fogo. Faço parte de um grupo chamado S-War, mas por enquanto estou de férias então decidi vir tentar aprender alguma coisa com o senhor. Será que você poderia me ajudar?

- Depende, deixa-me ver seu anel de fogo.

Mostrei para ele meu item. Ele ficou observando durante alguns segundos e então me disse:

- Você também tem o anel de fogo frio! Bem, saiba que isso é raro, só existem 50 anéis desse no mundo, é raro achar os materiais necessários para forjar algo assim. Eu também tenho, mas o meu é especial.

Ele mostrou o anel dele, que tinha todos os quatro subníveis do fogo: Fogo Frio, Fogo Negro, Fogo Selvagem e Fogo Estelar. Pelo menos eram esses os quatro que foram publicados no manual.

- Bem, para seu treinamento eu vou buscar algo especial. – Water me disse, correndo porta a fora.

Dois minutos depois ele voltou com algumas caixas cheias de peixes. O dono da peixaria ajudou-o a trazer mais algumas caixas. Depois de descarregar tudo, Water se virou e pagou algumas moedas de ouro para o peixeiro, que saiu agradecendo. Me ofereci para pagar pelos peixes, mas Water disse:

- Por hoje você não vai precisar. Você tem muita coisa para aprender comigo, então essa primeira lição será de graça. Aproveite. Agora quero que você enfileire todos esses peixes, em filas de 5x5. Temos 300 peixes aqui, então dará 12 grupos, se eu não me engano. Quando acabar de fazer isso, me chame.

Comecei a pegar os peixes na caixa para enfileirar. Water foi para outro cômodo da casa, me deixando sozinho na área de lazer, onde deveria estacionar uma carroça ou algo do gênero. Demorei meia hora para separar todos os peixes, então gritei:

- Water, terminei!

Alguns segundos depois o jovem mestre voltou. Ele tinha ido aparar sua curta barba escura, então estava com alguns cortes na cara. Como pode que o dominador de fogo mais poderoso do jogo tivesse problemas para cortar a barba.

- Vamos para o segundo passo.

Water levantou a mão direita até a cintura, em seguida começou a criar uma bola de fogo frio normal. Quando ela já estava pronta ele criou mais quatro em sequência. Ao final disso tinham-se cinco bolas de fogo frio (sério Balazar? Você é um gênio, descobriu sozinho que eram cinco?) girando em torno da mão dele. Ele começou a se concentrar e fez as esferas se aproximarem uma das outras. Quando já estavam tocando umas nas outras ele fez elas se fundirem, tornando-se uma só. Em seguida disse para eu fazer isso também.

Concentrei-me e criei a primeira esfera. Era difícil se concentrar para fazer uma segunda, mas tentei. Alguns segundos depois eu tinha a segunda esfera. Era difícil manter as duas estáveis enquanto criava uma terceira, mas eu consegui. Nem vou contar e dificuldade para criar as outras. Depois de cinco minutos se concentrando eu tinha cinco esferas em torno da minha mão, girando como os planetas giram em torno do sol. Agora era hora de fundi-las.

Eu suava feito um porco (isso não tem sentido, é só um termo que se usa, sei lá né, quem sabe quando criaram os porcos suavam muito). Minhas mãos tremiam e eu estava pálido. Mesmo assim Water mandou-me continuar o treinamento. Fechei os olhos e pude sentir meu poder indo todo para as esferas. Senti-las se aproximando, queimando o ar a sua volta e o resfriando ao mesmo tempo. Quando elas se tocaram eu senti um cansaço muito grande. Era difícil fazer todas irem para o mesmo ponto, e dez vezes mais difícil fundi-las. É como fundir duas esferas de titânio usando as mãos. Minhas pernas pareciam não terem mais forças, mas mesmo assim segui em pé.

Então tentei me inspirar em alguma coisa. Lembrei do meu irmão, lutando contra os outros jogadores, lembrei da equipe sendo atacada pelos aviões, lembrei da guerra contra o golem de lava, lembrei do rosto de cada um dos membros da S-War. Fear, Iron, Ked, Limcon, Salocin, Murrada, Supreme, Santerlock, Troiana e… Zoey! Eu tinha que ser mais forte para protege-los, eu tinha que conseguir aprender esse poder para ser mais forte. Eu tinha!

As cinco esferas se juntaram de uma vez só. Eu sentia o poder irradiando dela, junto com um brilho azulado que iluminava o quarto, pintando as paredes de madeira de azul.

- Agora jogue nos peixes! – gritou Water.

Lancei a esfera, que congelou todos os peixes de um dos grupos, atingindo uma área de um metro quadrado mais ou menos. Uma camada grossa de gelo cobriu todos os peixes e um pouco mais. Mas isso não parecia ter alegrado Water.

- Isso é só o começo. Faça isso com todos os grupos. Quando você acabar eu darei seu último alvo. Tente criar e concentrar as esferas em menos tempo, além de atingir uma área maior, talvez acertando quatro grupos ao mesmo tempo.

- Sim, mestre.

- Pode me chamar de Water ou sensei. Gosto de palavras em japonês, depois te ensino umas.

- Sim... sensei Water. Vou seguir meu treinamento.

Fiquei fazendo isso por longas três horas. Water me trazia algumas poções de mana para que eu pudesse seguir o treinamento a cada vez que acabava. Em alguns momentos eu descansava um pouco, mas quanto mais treinava menos tempo eu demorava descansando e menos tempo demorava para fazer uma esfera unida. Quando cheguei ao último grupo de peixes eu demorava 10 segundos para criar e unir todas e a área congelada era de 10 metros.

Quando Water entrou na sala de treino improvisada ele escorregou e caiu, derrubando a caneca de cerveja que ele estava tomando.

- Por que você congelou todo o chão?

- Eu estava treinando, foi você que me mandou.

- Mas eu não achava que você fosse congelar minha casa inteira. Bem, fazer o que. Vamos para seu último alvo.

Water acendeu uma esfera de fogo em sua mão. Ele olhou para mim com uma cara de psicopata, levantou sua mão e atirou o poder flamejante sobre mim. Usando meu reflexo, acendi uma esfera de fogo frio condensada em minha mão e acertei a esfera de fogo normal no ar. Uma explosão de fagulhas me cobriu, mas eu não levei dano nenhum. Os golpes se anularam.

- Parabéns, você aprendeu sua primeira lição. Pode ir embora se quiser. Quando quiser aprender mais alguma coisa, volte aqui, mas eu irei cobrar um bom preço. Junte dez mil moedas de ouro e eu te darei uma aula. Mas não ache que estou cobrando caro, pois esse poder que eu acabei de te ensinar é o mais fraco. Agora vá testá-lo, você não irá se arrepender.

Sai da casa espantado com minha reação. Normalmente eu teria tentado desviar ou me proteger, mas meu corpo se moveu sozinho, anulando o ataque. Isso ainda que fosse uma esfera de fogo do mestre Water, que já deveria ser muito mais forte mesmo com seu pequeno tamanho. Claro que ele não deve ter usado nem 10% do seu poder contra mim, mas mesmo assim eu estava impressionado comigo mesmo.

Recebi uma mensagem do Limcon, pedindo para eu encontra-lo perto do rio, no porto, onde iríamos pegar um barco para fazer uma missão pequena enquanto meu irmão terminava seu treinamento. Falando no meu irmão, ele mandou uma mensagem que demoraria mais umas duas horas para acabar o treinamento, pois estava muito difícil, mas pelo menos ele iria receber um bom prêmio.

Cinco minutos depois eu estava no porto, observando o Limcon atravessar um último amontoado de marinheiros para chegar até mim.

- Beleza atirador!

- Beleza chifrudo!

Demorei alguns segundos para entender. Eu estava sem capuz, então meus chifres de demmarc. Escondi rapidamente. Eu sabia que nenhuma raça gostava dos demmarcs, pois eles eram considerados demônios. Talvez eu estar com os chifres ao ar livre foi o motivo de tantos olhares raivosos contra mim. Acho que os demmarcs fizeram algo mais do que virar meio-demônios, mas não sei o que é.

- E então, vamos contratar o barco? Qual é a missão? – eu perguntei, tentando esquecer o assunto dos demmarcs.

- Já contratei o barco. A nossa missão é lutar contra um grupo de jogadores que vem saqueando essa capital de tempos em tempos. Como o exército aqui não é muito bom, eles conseguem invadir e pilhar facilmente. Dizem que é um grupo pequeno, mas forte. Garanto que vamos ter um pouco de trabalho, mas vamos ganhar, sempre ganhamos.

- É, até agora não morremos nenhuma vez, vamos tentar manter essa média. Mas então vamos.

Limcon me levou ao barco. Nossa primeira luta de grupos estava nesse rio.