Entrei no carro e Mokuba começou a conversar sobre assuntos aleatórios e descobri que a infância deles não foi fácil, afinal. Perderam os pais ainda bem pequenos e foram abandonados pelos familiares em um orfanato. No fim, acabaram sendo adotados pelo antigo CEO da Corporação Kaiba porque Seto o desafiou para uma partida de xadrez e venceu.

Chegamos ao restaurante, um dos mais refinados por sinal. Por um instante, me senti um nada por estar em um lugar tão elegante daquele e junto com os tão famosos irmãos Kaiba, o que me fez pensar em uma coisa.

— Por que não tem nenhum fotógrafo ou uma multidão de fãs atrás de vocês para onde vão?

— Da última vez que isso aconteceu eles acabaram tendo que indenizar o Seto por uso indevido de imagem. – Mokuba respondeu – E a quantia que cada um teve que pagar não foi pouca. Além disso, a maioria das pessoas tem... Receio de chegar perto do meu irmão.

Olhei para o Kaiba por um instante, que parecia neutro mesmo com olhares furtivos na direção da nossa mesa. Sua preocupação estava no celular, visto que sua expressão mudava suavemente a depender da notificação que recebia. O garçom trouxe nossos pratos e mesmo assim continuamos a conversar. O momento de pagar a conta chegou e, por mais que eu não pudesse gastar em um restaurante daqueles, peguei minha carteira.

— Pode guardar seus trocados da padaria, Kamisawa. – Kaiba respondeu, entregando o cartão para o garçom – Nós a convidamos, então nada mais justo que paguemos por você. E não preciso que me devolva nem um centavo.

Isso me aliviou por dentro. Dinheiro certamente não era problema para eles, então imagino que a conta não deva ter feito cócegas na conta bancária dele. Nos retiramos e agradeci, começando a caminhar no sentido de casa.

— Para onde vai?

— Para casa, oras.

— Você está começando a me aborrecer. Entre no carro, te levamos de volta.

Eu ia protestar, mas a cara feia do Kaiba me fez fechar a boca no mesmo instante para entrar no carro o mais depressa possível antes de ser arrastada pelos cabelos. Falei o endereço para o motorista e logo estávamos nos afastando do restaurante. O silêncio permanecia no carro, mas não era incômodo. Logo, comecei a juntar minhas coisas que acabaram se espalhando no chão da limusine.

— Se importa se eu pegar um desses?

Olhei para a pasta nas mãos do Kaiba e vi que tanto ele quanto Mokuba liam meu currículo atenciosamente.

— C-claro. – respondi, meio sem jeito.

Os dois se entreolharam e Seto ligou para alguém no mesmo instante.

— Sou eu. Pode retirar os anúncios da vaga de estágio que publicamos, encontrei alguém que pode dar conta do serviço. Não, não precisamos de nenhum tipo de entrevista, tenho quase certeza de que ela está completamente apta.

Esperei a ligação terminar para me manifestar.

— Com licença, isso é o que estou pensando?

— Apareça na minha sala amanhã às sete em ponto, entendeu? Não tolero atrasos.

Não pude conter a enorme alegria que me dominava. Nunca imaginei que teria uma chance, principalmente vinda de uma fonte como essas. Na verdade, nem mesmo me lembrei deles enquanto distribuía meus currículos por aí.

— Realmente não sei como agradecer, vocês salvaram a minha vida.

— Acho que deu para perceber o nível do seu desespero pela quantidade de cópias que tem nessa pasta.