Sentado de frente para Paloma, Félix analisava cuidadosamente Niko enquanto o loiro preparava um barco de sushi no balcão mais à frente. Em poucos minutos o chef se aproximou trazendo a obra prima enorme e apetitosa à mesa dos irmãos. Félix não pôde conter um suspiro de satisfação.

– Faz muito tempo que eu não como sushi... E esse barco está maravilhoso! – Disse isso ao mesmo tempo em que desembrulhava os hashis esfregando um no outro com as mãos.

– Mas Niko, você não acha que exagerou? É muita coisa... – Paloma olhava para Félix na esperança de que ele concordasse com ela.

– Imagina! Está perfeito... Luxo nunca é demais... Ai que saudade de comer um sushi! – Sem perder tempo ele capturou uma porção da iguaria japonesa e colocou na boca para em seguida soltar um suspiro orgásmico, deixando Niko roxo de vergonha.

– Bom, gente, fiquem a vontade e bom apetite. – Niko esfregava as mãos todo sem jeito, enquanto saía envergonhado com o gemido escandaloso do moreno.

Félix notou o desconforto do chef e não pôde deixar de ter uma ideia maligna: Fazer “a criatura ousada do Gelato” provar do próprio veneno. Primeiro se certificou que o loiro estivesse de olho nele, coisa que mesmo que Niko tentasse disfarçar, era notória. Então Félix começou o show.

– Nossa, isso aqui tá um delícia! – Félix colocava o camarão enorme na boca fazendo bico, para logo após tirar o rabinho do mesmo com delicadeza, isso tudo sem tirar os olhos do pobre chef que deixou cair a faca no chão, tamanha a surpresa com a cena. Como se não bastasse, Félix pegou um pedaço de sashimi e passou nos lábios delicadamente antes de dar uma mordida vigorosa e soltar um suspiro sensual.

Niko não acreditava no que via, boquiaberto e sem tirar os olhos do moreno abusado, sentiu uma calor subir lentamente e dominá-lo.

– Minha virgem maria! – O loiro se apoiava no balcão para apreciar o show erótico do cliente sedutor.

– Félix!!! Você está bem? Tá sentindo alguma coisa? – Paloma queria entender o que se passava com o irmão. Nunca o vira se comportar daquela forma.

Félix estava tão concentrado no flerte que levou um susto e acabou se engasgando com a comida. Depois se algumas tossidas ele se recompôs e assumiu um ar sério.

– Estou bem, muito bem... Fazia tanto tempo que não comia tão bem assim, me empolguei. – O moreno dizia isso sob os olhares atentos de Niko e ainda deu uma piscada para o chef que corou novamente atrás do balcão.

Niko estava começando a ficar nervoso. Deu uma olhada nos outros clientes e viu que por sorte eles não notaram o kama sutra gastronômico praticado na mesa dos irmãos Khoury.

Depois de se deliciar com as iguarias japonesas, gemer, suspirar, lambiscar e beijar as tiras de peixe cru, Félix precisava dar o golpe de misericórdia.

– Vou pedir sobremesa... Você quer, Paloma? – Félix fazia um sinal para o garçom que prontamente o atendeu.

– Não, obrigada... Vou ao toalete, com licença. – Paloma levantou-se na hora que o garçom trazia a banana caramelada com sorvete, pedida pelo irmão.

– Ai, isso tá maravilhoso! – Os olhos de Félix brilhavam perversos. Ele olhou para a sobremesa e para Niko que estava atrás do balcão, estático, esperando pela nova peripécia do seu cliente sem noção. Mas a verdade era que no fundo, o chef estava adorando ser o alvo de todas aquelas provocações... vez ou outra soltava um sorrisinho maroto de volta.

E então Félix começou a degustar a sobremesa. Lambeu a colher em espiral sensualmente sem tirar os olhos da sua presa. Lambuzou os lábios com o sorvete, passou a língua delicadamente em círculos limpando o doce e para finalizar, como golpe certeiro, deu uma mordida voraz na banana caramelada, de tal forma que Niko sentiu algo estufar dentro da própria calça.

Com o pedaço do doce na boca, Félix fechou os olhos, jogou a cabeça pra trás, cerrou os punhos e começou a gemer. Todo e qualquer pudor por estar sendo observado, se é que existia, fora jogado longe, à medida em que ele jogava a cabeça de um lado para o outro, batia os punhos na mesa e se contorcia na cadeira. Estava praticamente gozando na mesa do restaurante.

Niko atrás do balcão suava em bicas, olhava a cena e não acreditava na ousadia daquela criatura. Ele desabotoou o colarinho da camisa e se abanou em desespero.

– O senhor tá passando mal, seu Niko? – Perguntou Edgar, o subchefe, que parou de cozinhar para observar o patrão naquele estado lastimável.

– É a barriga, seu Niko? – Tornou a questionar Edgar.

– Não, é mais pra baixo! – Rapidamente o loiro tapou a boca com a mão se arrependendo de ter deixado escapar aquilo.

– Não é nada, Edgar, só calor mesmo, esse climatizador está desregulado... – Niko tentou desfazer o ar de dúvida da cara do funcionário com essa resposta, enquanto lembrava o problemão que se avolumava dentro da própria calça.

O chef agradecia aos céus o fato de estar protegido pela bancada de pedra. Não havia a menor condição dele sequer pensar em sair detrás daquela salvadora proteção, ou corria o risco de se expor para o restaurante inteiro. Estava ilhado ali até que passasse aquele estado de “alerta”. Nem uma catástrofe o faria sair dali.

– Minha santinha! Preciso urgente de um banho frio... Afinal, quem ele pensa que é pra vir no meu restaurante dar showzinho? – Niko falava baixinho, tentando fingir indignação, mas não conseguia tirar o sorriso dos lábios. Félix mexia demais com ele, como nunca alguém já mexera antes.

Na mesa ao lado, duas senhorinhas muito distintas observavam tudo caladas, de olhos arregalados. Uma delas fez sinal para o garçom que veio atendê-las sem demora.

– Moço, eu quero aquilo que o rapaz bonito e elegante ali tá comendo. – A senhora dizia enquanto apontava pra Félix que já estava recomposto e sereno como se nada tivesse acontecido.

Paloma retornou à mesa e finalmente contou tudo sobre a situação em que o pai deles se encontrava, antes de pedir ajuda ao irmão. Prontamente Félix concordou em ajudá-la, afinal, era seu pai e ele devia isso à irmã depois de tudo que já havia feito no passado.

Enfim, Paloma pagou a conta e Félix não deixou por menos, pediu ao garçom para chamar o chef. Precisava cumprimentá-lo pela comida espetacular.

O garçom sorridente foi até Niko passar o recado e na hora o loiro ficou tenso.

– Minha mãezinha! Só me faltava essa agora... Como vou sair detrás do balcão nesse estado? - Ele baixou o olhar para si mesmo, depois olhou ao redor procurando uma solução. Avistou a pilha de cardápios e não teve dúvidas: a única maneira de sair dali era com um cardápio protegendo as partes íntimas pulsantes. E lá se foi ele ao encontro dos irmãos, caminhando miúdo e envergonhado. Félix tentava segurar uma gargalhada observando a cena.

Assim que Niko se aproximou o celular de Paloma tocou. Era uma emergência e ela teve que sair às pressas, antes dando um abraço rápido no amigo deixando ele e o irmão para trás.

– Então... NI-KO! Apreciei o seu sushi assim como você apreciou o gelato em Milão naquele dia. - Félix não pode deixar de fazer uma cara zombeteira ao olhar o baixo ventre do loiro.

– Agora eu entendi onde você queria chegar... Isso tudo foi uma vingancinha? – Niko batia o pé chateado sem soltar o cardápio protetor.

– De certo modo foi, mas assumo que você faz eu me sentir de uma maneira diferente, nunca me senti assim antes... – Um leve ar de felicidade assumiu a face de Félix.

Os olhos negros fixaram os olhos verdes do chef de uma maneira tão sincera que Niko sentiu suas entranhas se derretendo.

– Também me sinto assim... – O loiro inclinava a cabeça para o lado enquanto dava um sorriso meigo. Estava tão hipnotizado que nem notou seu escudo de papel indo ao chão.

O silêncio tomou conta e ambos ficaram desconcertados ao sentirem a forte atração que um exercia no outro. Um Niko ruborizado quebrou o clima.

– Assim... Eu pensei, já que a gente se sente assim, quem sabe não poderíamos nos conhecer melhor? Félix... você aceita jantar comigo, na minha casa? Prometo preparar uma jantar maravilhoso pra gente. Aceita? – O loiro não conseguia esconder o brilho nos olhos e nem desviar o olhar da boca do moreno.

– Aceito! Claro que aceito... Carneirinho!– Félix, aquele que sempre fora o mestre em dar apelidos para todos à sua volta, surpreendeu-se consigo mesmo quando o apelido lhe saiu dos lábios mais rápido que chegou à sua mente... mas era o único que parecia perfeito e adequado à criatura tão meiga, meio envergonhada e de cachos loiros que sorria abertamente frente ao convite prontamente aceito.