Depois de uma invasão alien tudo só poderia melhorar, pois bem Stephen está errado: Tony ficou traumatizado. Tem ataques de pânico constantemente, pesadelos terríveis e estava a ficar paranoico.

Apesar de tantos problemas acumulados ao longo dos anos, Anthony ainda se recusava a procurar ajuda. Sendo assim Stephen foi os ouvidos que Tony necessitava.
Com o tempo Strange se acostumou a cuidar do bilionário, tanto que a campainha do seu apartamento tocar no meio da noite tornou-se rotina.

Ele aprendeu os procedimentos necessários para acalmar alguém no meio de um ataque de pânico depois de ver Anthony ter um. A sua memória brilhante não deixa a imagem do homem impecável enrolado no canto do seu apartamento a chorar escapar da sua cabeça.

Os sinais de alarme tocaram na sua cabeça quando Stark parou de o visitar durante uma longa semana. As notícias começaram a correr, sobre o terrorista, sobre o ataque à casa de Stark em Malibu, sobre a mais recente aparição do Iron Man, sendo assim a ansiedade começara a apertar o seu peito.

Assim, quando este finalmente aparece novamente à sua porta o olhando sem expressão alguma... Stephen o acolhe, o deixa no seu sofá, dá-lhe a sua almofada mais confortável e faz uma chávena de chá quente para os dois.

O silêncio reina por um longo tempo, até que Tony decida falar.

— Pepper pediu-me como amiga e como CEO para deixar de ser o Iron Man. — A sua voz era vaga, fraca e vazia de qualquer sentimento. O peito de Strange aperta… — Ao que parece ser atacado, ameaçado, raptado e quase morrer é demasiado perigoso para mim. — Olha para o chá como se pudesse ver o seu reflexo nele. — Eu poderia ter dito à JARVIS para destruir todas as armaduras naquele exato momento, poderia deixar tudo para trás, seguir para uma nova etapa. — Engole em seco. — E eu não consegui fazê-lo.

— Tony. — Stephen chama-o, fazendo-o levantar o rosto. — Não tens que fazê-lo. — Se alguém dissesse que as suas palavras tinham sido gentis, ele iria negar.

— Eu só coloco as pessoas que gosto em perigo por causa de uma estúpida armadura. — O líquido dentro da chávena estremece com a força com que esta é apertada.

— Uma estúpida armadura que te ajudou a salvar Nova Iorque. — Um certo brilho pareceu voltar lentamente aos olhos de Stark. — Não sou a melhor pessoa para este tipo de discurso, mas acredita em mim quando digo: Tu és o Iron Man, com ou sem armadura. Não precisas deixar nada para trás quando não é preciso.

Com essas palavras um sorriso suave apareceu nos seus lábios, porém deixou mais evidente o cansaço na sua face.

Tony relaxa o aperto que mantinha sobre a chávena, no entanto esta permanece entre as mãos para aquecer a ponta dos dedos, enquanto acomoda-se na almofada que Strange deu-lhe. Existia algo na expressão de Stark que Stephen não está habituado a ver e que com toda a sinceridade ele não tem a certeza se sabe identificar o que é.

— Mas eu posso fazer algo. — Olhou para Strange intensamente. — Lembras que disseste que não querias saber o que é isto no meu peito? Quando me salvaste com Rhodey no Afeganistão? — O médico concorda com a cabeça. — Ao que parece, quando fui raptado fiquei gravemente ferido, por causa de uma bomba da minha própria empresa. Estilhaços dessa bomba ficaram presos no meu abdômen, para sobreviver colocaram-me um eletroíman no meu peito para impedi-los de ferir o meu coração. — As sobrancelhas de Stephen sobem. — Os estilhaços ainda estão dentro do meu peito, o mínimo que posso fazer pelos meus amigos é retirá-los.

— Já sei para onde isto está a ir. — Suspira profundamente tentando processar toda a informação. — Estás novamente a colocar a tua vida nas minhas mãos. Queres que eu os tire, não é?

— Tu conheces-me tão bem!

— Não sou um cirurgião de cardiovascular.

— Eu confio na tua magia, doc.

Stephen dá-lhe um sorriso de canto tentando evitar que este alarga-se mais por conta da demonstração de confiança que Stark tinha nele. — Eu vou te recomendar o melhor entre os melhores, mas na sua devida área.

Tony concorda com a sugestão, apesar da sua confiança cega nele.


Não muito tempo depois, já que Stark usou alguma da sua influência para acelerar o processo, o mesmo estava pronto para fazer a cirurgia. Contou aos seus mais próximos que a iria fazer e teve o máximo cuidado para que a informação da sua cirurgia não vazasse. No dia os seus mais próximos estavam presentes.

Stephen preparou uma playlist para o cirurgião, que agradeceu a Strange amigavelmente, entre as músicas existiam vários estilos musicais, desde jazz, My Way, The Best of Frank Sinatra, 21 de julho de 1997, a rock clássico, I Want To Break Free de Queen, The Works de 1984. Do outro lado da porta da cirurgia estava a Senhora Virginia Potts, Rhodey e Harold Joseph Hogan que esperavam o seu amigo.

Foi com eles que ele foi falar enquanto estes aguardavam, todos pareciam ansiosos, Rhodes o olhava quase como se quisesse gritar para ser ele a fazer a operação.

— Rhodey. — Cumprimentou Strange estendendo a mão que foi pega apenas para ser puxado para um abraço desconfortável. O neurocirurgião deixou Rhodes ter o seu momento de conforto… Até afastar-se bruscamente com as suas mãos nos ombros do soldado. — Ok, chega de contato.

— Alérgico a contato como sempre, Doctor Strange. — Afirmou brincalhão, tentando disfarçar os nervos, arrancando um sorriso simpático de Strange.

O médico virou-se para os dois presentes e estendeu a mão para cada um deles, que foi apertada firmemente das duas vezes. Os dois pareciam brancos de preocupação, então ele profissionalmente contou tudo sobre o estado do Sr. Stark.

Os três ficaram mais aliviados, provavelmente o Stark demoraria algumas horas para acordar, após a cirurgia, mas eles escolheram esperar, Strange tinha trabalho a fazer por isso os abandonou para ir continuar os seus afazeres durante o resto do dia.

Já perto da noite ele visitou o quarto em que Tony está.

O tempo passa a voar quanto se tem trabalho a fazer…

— Branco não é a minha cor. — Comenta Stark vendo Stephen entrar.

— Irei avisar para terem cuidado numa próxima visita. — Responde ironicamente. Ele puxa um banco existente na sala e se senta ao lado de Stark. — Como estás?

— Como eu disse ao Rhodey, Happy e Pepper: Eu estou bem.

— Muito eloquente para alguém que acordou há pouco tempo.

— Sem palavras complicadas. — Pede Tony revirando os olhos e franzindo a testa dramaticamente. — A minha cabeça vai começar a doer se eu pensar muito.

— Isso é um problema. — Bate ligeiramente na testa de Tony e este resmunga. — Essa cabeça nunca para de pensar.

— Então tu conhecesses a minha dor. — Suspira teatralmente.

Stephen revirou os olhos e levantou-se calmamente para baixar a persiana da sala, enquanto isso ele olha a sala em volta para certificar-se se está tudo no seu devido lugar ou se é necessário fazer algo. Era pouco provável que existissem falhas onde o “grande” e “poderoso” Tony Stark, está mas é melhor prevenir.

— A anestesia deve ainda estar a atuar. — Comenta Stephen dirigindo-se ao banco ao lado de Tony novamente. — Estás mais dramático que o habitual.

— É assim que tratas os teus pacientes? Porque eu estou a sentir-me atacado.

— Sim, definitivamente mais dramático. — Confirma, mais para si do que para Tony.

— Dramático o suficiente para dizer que és atraente sem saíres da sala a correr? — Strange arqueia a sobrancelha para Tony que retribui com uma piscadela. — Porque tu estás lindo.

— Eu estou vestido com a minha roupa do hospital, Tony. — Afirma Stephen sem entender. — Se quiseres elogiar-me, tenta quando eu estiver apresentável e quando não tiveres anestesiado.

— Eu vou me lembrar disso!

— Claro que vais.


Stephen Vincent Strange nunca pensou em estar numa situação daquelas, mas sendo próximo de Anthony, obviamente que mais tarde ou mais cedo seria arrastado para uma situação de vida ou morte.

Não era a sua primeira vez na Avengers Tower, pois já tinha sido convidado inúmeras vezes por Tony. De certa forma, ele já estava a habituado aquela sala de janelas enormes de vidro, decoração minimalista obviamente inspirada no seu apartamento e aquele bar bem equipado e abastecido.

Foram tantas as suas visitas que se tornou um amigo íntimo de Rhodey, Pepper e Happy. Levou mais tempo para conhecer os Avengers, porém era culpa dele, já que o seu corpo possuía uma péssima tendência de fugir da Torre quando esta abrigava mais de 2 Heróis.

Sendo assim, não é surpresa nenhuma quando no final de uma festa, aparentemente pacífica, aparece um robô maluco com outros robôs descontrolados, a tentar matar todos eles. Naquele instante ele só teve tempo para se esconder, enquanto Tony interceptava os robôs que se dirigiam a ele, que pareciam estar a ser controlados pelo outro robô doido que fala.

Parecia um fodido filme de terror de baixo orçamento.

Mas isso não impediu o gosto desagradável da violência na sua boca, aquela brutalidade só terminou quando todos os robôs foram destruídos e aquele “ robô doido que fala” foi atingindo por Thor pelo Mjölnir.

Todos ficaram em um silêncio constrangedor por vários minutos, até que Stephen bufou com desagrado batendo o punho no ombro de Tony fazendo este choramingar de dor e o olhar de canto.

— Porque estou sempre presente quando estás quase a morrer? — questiona frustrado olhando para Tony. Suspirando vira-se para a saída. — Acho que esta é a minha deixa. — Afirmou Stephen caminhando com a intenção clara de partir.

— Stephen! — Chama Tony apressadamente fazendo o doutor parar bruscamente para olha-lo. — Tens a certeza que é seguro ires embora agora depois disto? — Questiona ligeiramente atrapalhado. Strange já o tinha visto assim… Algo dentro de siteme que seja um novo ataque de pânico. — Eu posso te levar lá? Espera um instante eu-

— Anthony Edward Stark. — Ao longe ele pode ouvir no silêncio da sala o Rhodey a dizer “Oh, ele está tão tramado.” — Acredito que tens problemas mais importantes a serem resolvidos neste momento. — Olhando para todos os presentes na sala sarcasticamente.

— Sim, certo, eu não sei onde tinha a cabeça. — Concordou apressadamente, no entanto era óbvio o quanto ele não gostava de deixar o Stephen desprotegido assim.

Andando calmamente até a porta ele vira-se para trás no último momento dando um sorriso que ele espera que seja calmante para Rhodey e Tony. — Tenta manter-te vivo, Tony.

— Telefona quando chegares a casa.

Ele sai sem confirmar que o iria fazer.

Quando chega a casa ele envia uma mensagem a Tony que foi respondida no segundo a seguir.


Tony aparece meio morto à sua porta.

Para variar.

Não que os seus ferimentos já não tivessem tratados, pois eles estavam, no entanto, o problema era o quanto cansado o Tony parecia, o quanto silencioso, o quanto sem expressão, o quanto vazio…

Naquela noite Stephen não leva-o até ao seu sofá, naquela noite ele deita-o na sua cama, aconchega-o e senta na ponta da cama observando o homem afundar-se nos seus cobertores e abraçar-se como uma pequena criança.

Ele espera o tempo necessário para Tony finalmente adormecer, quando a respiração do génio parece mais profunda e os olhos deste estão fechados Stephen se levanta pronto para deixar Anthony ter o seu tão merecido descanso.

— Fica. — A voz rouca de Tony ecoa pelo quarto.

Os olhos castanhos de Tony o observam e Strange olha entre a porta o espaço ao lado na cama de Tony. Com passos hesitantes caminha até ao lado da cama sentando-se ali um pouco estático e hesitante em fazer qualquer movimento.

— Deita-te comigo... — Pede num sussurro como se fosse um pensamento que escapou por entre os seus lábios sem querer.

No entanto, Stephen faz exatamente isso que Tony pede-lhe, ele deita-se ao seu lado virado para ele. Olhando um para o outro nos olhos, Strange repara que o olhar sem brilho de antes agora estava ligeiramente mais vivo, porém sonolento. Anthony coloca a sua mão pousada entre eles como se fosse um convite.

— És lindo. — Elogia Tony baixinho como se tivesse medo de estragar o momento calmo desenvolvido entre eles.

— Elogia-me quando tiveres totalmente consciente. — Pede o médico calmamente.

— Eu vou. — Os olhos de Anthony começam a pesar e lentamente a perder o foco, este solta um bocejo sonolento fazendo Strange observá-lo com carinho.

— Eu sei. — Talvez influenciado pelo momento, as suas palavras fugiram dos seus lábios docemente.

A mão de Tony permanecia entre eles esperando por contato e, apesar de a de Stephen ser maior do que a de Anthony, elas se encaixaram perfeitamente naquela noite.

E quando acordaram elas ainda estavam perfeitamente entrelaçadas.

Era uma visão que ele poderia se habituar.


Se há uns anos atrás o seu futuro eu dissesse-lhe que estaria a acompanhar Tony Stark num evento para promover uma invenção que tem como objetivo tratar pessoas que tenham passado por eventos traumáticos: Primeiro ele diria que estava louco, porque era impossível viajar no tempo; segundo riria, pois um Stark nunca criaria algo que não fosse uma arma; terceiro falaria que era loucura o Anthony pedir a sua companhia.

Porém neste momento isso mesmo estava a acontecer, menos a parte de viajar no tempo, isso seria estranho…

Tony apresenta a sua mais nova invenção a jovens universitários no grande teatro entretendo todos com as suas palavras encorajadoras e atitudes cativantes, atraindo os interessados e impressionando os outros. Até que ele o chamou ao palco para dar as suas palavras como médico.

Eles tinham criado aquela invenção juntos e Stephen pôde afirmar com toda a certeza que as horas que passou a debater com o génio, durante a criação do aparelho, foram as mais cativantes que ele teve desde sempre. O bilionário, desde o princípio da ideia da invenção, pediu a sua ajuda de todos os detalhes sobre criar uma máquina sem danificar o cérebro das pessoas e ajustou todas as suas ideias e opiniões da forma mais prática e realista possível.

Eles faziam uma boa equipe.

Stephen quase que poderia dizer que aquela maquineta era o que mais se orgulhava na sua carreira, porém o processo de laminectomia que criou junto com Christine, por mais que ele afirme que foi só ele que participou na criação do processo, é o seu maior orgulho.

No final Pepper deu as suas palavras como CEO e Tony anunciou o financiamento que iria fazer. Anthony parecia radiante com tudo, do quanto aquela invenção parecia correta e o quanto ela iria ajudar as pessoas.

Tony Stark tem um bom coração.

— Bom trabalho ali em cima pessoal. — Elogia Tony para Stephen e Pepper que olha para ele com ironia.

— Tony… — A mulher suspira. — Eu tenho que ir. Tenho reuniões para participar. Papéis para assinar. Sabes, fazer as coisas que tu não fazias.

— Por isso é que tornei-te minha CEO. — Pisca-lhe o olho.

Ela bufou com carinho e deu-lhe um abraço sussurrando-lhe ao ouvido que estava orgulhosa dele. Foi um momento bonito que Strange se absteve de interromper. Pepper virou-se para Strange e também abraçou-o tão apertado quanto Tony e disse-lhe baixinho o quanto ele esteve bem e um carinhoso “Obrigado”.

O agradecimento parecia ser algo bem mais profundo do que deveria ser para aquele momento, por isso Stephen achou por certo deixar-se no escuro.

Quando Pepper sai, Tony vira-se para ele. — Quer ir comer fora? Ou podemos ir para minha casa e encomendar algo? Conheço um restaurante Chinês excelente ou podemos encomendar uma pizza…

— Uma pizza estaria bem. — Responde Stephen concordando sem pensar muito bem sobre o assunto, pois durante aquele tempo todo ele já estava a planear convidar o Tony para almoçar com ele, tinha sido uma sorte Tony ter pedido primeiro.

Stark ficou ali parado por momentos observando Stephen andar até a saída pronto para ir embora, como se ter aceitado o convite de Tony por uma segunda vez, não tornasse a situação ainda mais parecida com encontro. Ele seguiu o médico acelerando o passo por momentos para poder o acompanhar.

O gênio olha-o várias vezes, algumas delas discretas outras extremamente óbvias, isso dá lhe vontade de suspirar. Stephen começou a reparar que o seu número de suspiros aumentou consideravelmente desde que conheceu Anthony.

— O que foi? — Questiona Stephen parando no meio do corredor cruzando os braços no peito.

— É só que estás muito bonito. — Elogia Tony com um sorriso de canto no rosto, que é retribuído com o arquear de uma sobrancelha.

— Obrigado, eu acho.
Tony arregala os olhos. — “Obrigado, eu acho.”? — Repete Stark parecendo desacreditado. — Sério?

— Não vejo para quê tanta admiração, Anthony. — Stark desta vez é que arqueia a sobrancelha, — Vês-me de fato inúmeras vezes. Não estou vestido para impressionar.

— Oh, acredita querido, tu estás.

— Obrigada, eu acho… — Encolhe os ombros seguindo em frente com um sorriso brincalhão no rosto que nem tenta esconder.

— Sério? De novo? — Reclama, porém ele tinha um sorriso igual no rosto.

— Que foi? — Ele olha sarcasticamente para Tony. — O grande Stark está a tentar pescar elogios?

— Só de ti Dr. House.

— É Doctor Strange.

— E para ti é Tony.

No final do corredor uma mulher apareceu, ela ficou parada ali por momentos a olhar para eles, tanto Tony como Strange sabiam que aquele pequeno momento entre eles tinha sido interrompido pela intensidade fria que a mulher olhava para Tony.

Stephen mete-se na frente de Tony impedindo que este olhasse para a mulher e forçasse-o a olhar para ele, e só para ele.

— Acho que vamos ter que deixar a pizza para outro dia. — Afirma Stephen brevemente.

Tony sorri tensamente para ele. — É uma pena, eu estava com vontade de comer pizza de pepperoni.

As suas mãos tocam-se por meio segundo antes de Strange se afastar ir embora.


Christine chama-o a meio do seu incrível dia de trabalho: Ele fez duas operações que correram na perfeição; acertou como sempre em todas as músicas que os seus colegas de trabalho colocavam; teve um almoço realmente saboroso que tinha comprado no restaurante perto do hospital. No entanto, pelo olhar dela o seu dia não seria mais tão incrível.

Ela levou-o a um dos quartos do hospital, aqueles que eram usados normalmente para pessoas que querem ficar sozinhas, consequentemente pessoas com mais dinheiro. Christine mantinha-se calada olhando com incerteza para ele. Quando os dois estão à frente da porta ela o impede de entrar.

Para ser honesto ele tem quase a certeza de quem está por detrás da porta e ele sinceramente não gosta nem um pouco desse pensamento.

— Stephen tens que saber que quando ele chegou aqui o seu corpo estava a entrar em estado de choque, múltiplos cortes, ossos fraturados e choque térmico. Ele tinha recebido alguma atenção médica antes de chegar cá, mas nem metade dos problemas tinham sido resolvidos. — A atitude de Strange torna-se cada vez mais rígida a cada palavra dita por Christine. — Nós fizemos o nosso melhor e-

— Por que não me chamaste?

— Estavas no meio de uma operação e o teu paciente tinha menos probabilidades de sobreviver sem ti do que o Sr. Stark. — Claro que ela tem que ser lógica, mas a única atitude a fazer sentido na sua cabeça era terem o chamado. — Provavelmente é tudo por causa daquela “Guerra Civil” que todos os jornalistas andam a comentar nos últimos dias… — comenta incerta. — Stephen, ele ficou ferido por causa de pessoas que ele considerava amigos. — Afirma com tristeza, mas medo nos seus olhos. — Tens a certeza que é seguro continuares a passar tanto tempo com ele?

— Estás a ouvir-te, Palmer? — questiona Strange friamente. — Não sabia que pensavas tão pouco sobre mim.

— Eu só estou preocupada contigo. — Morde o lábio com a culpa a consumi-la. — Claro que não espero que afastes-te dele por causa de outras pessoas. Sempre foste indiferente ao que os outros pensam. — Ela aperta o braço se Strange calorosamente, porém sem força, só carinho. — Só tem cuidado, ok? Não te magoes por causa dele.

— Não sou um idiota. — Bufa afastando-se dela colocando uma mão na porta para abrir. Christine exala felicidade vendo o seu amigo sair daquela atitude fria e voltar ao seu ar sarcástico de sempre.

Anthony está deitado na maca a olhar para o teto, o seu rosto está ferido com curativos, existiam ligaduras pelos seus braços que ele só conseguia ver pelas mangas ligeiramente puxadas para cima.

Não existia nada fora do comum de um “Tony Stark ferido no seu hospital”.

Excepto o seu olhar.

Aquele olhar perdido...

— Ele matou os meus pais. — Tony fala sem sequer olhar para ele. — Ele matou a minha mãe, Stephen. — A sua cabeça cai para o lado descansando a bochecha ferida na almofada na direção da porta, na direção de Strange. — E eu fiquei tão irritado. Steve sabia. Então, fiquei irritado e desapontado. — A sua voz é perdida, como se estivesse imerso nos seus pensamentos. — Ele era meu amigo, mas ele quase me matou para proteger o seu outro amigo. — Uma risada começa a escapar dos seus lábios. — Se eu quisesse os matar teria rebentado com aquilo tudo, mas não. Eu não queria isso, apesar de estar cego naquele momento.

Stephen calmamente aproxima-se da maca e senta-se ao seu lado, nunca perdendo o contato visual com o Tony, pois ele acredita que se desviasse por um único momento o Anthony iria levantar novamente todas as suas paredes.

— Eu arranquei o braço de Bucky. — diz o nome com desgosto na voz. — Steve, no momento a seguir, estava a atacar para matar. Aguentei por algum tempo, mas, no momento a seguir, ele estava em cima de mim. Ele espetou o escudo na minha armadura uma vez e depois mais outra, e outra, e outra, e outra, e outra… — Só para de repetir quando Stephen alcança a sua mão calmamente. — Ele parou só quando destruiu o meu reator. Levou o soldado com ele e deixou-me para trás para morrer. — Stephen apertou a mão de Stark por entre os seus dedos.

Talvez Strange devesse dizer algo, mas faltavam-lhe as palavras para poder falar.

Pela primeira vez em muito tempo ele sentiu-se incompetente.

— Devo ter desmaiado, porque quando acordei eu estava aqui. — A sua voz vaga novamente. — Tive muito tempo para pensar. Cheguei à conclusão que o sentimento que senti foi o mesmo que aquela senhora da ONU do corredor em relação ao Avengers. — A respiração de Tony fica presa na sua garganta. — Nós matamos o seu filho.

— Vocês salvaram o mundo novamente de uma ameaça global. — Strange corta-o rapidamente tentando o afastar desse pensamento.

— Uma ameaça que eu criei.

— Tiveste três dias para criar o Ultron. — Afirma Strange com toda a confiança que tinha. — Maximoff tinha mexido na tua mente. — Tony treme com aquela afirmação. — Imagina se tivessem mais tempo? Se ela não tivesse entrado na tua cabeça? Terias criado a melhor proteção possível para o mundo. A única pessoa que contaste foi a Banner por algum motivo: Vocês dois têm visão. — Stephen aperta ligeiramente a mão de Tony. — Tu criaste Ultron para proteger o mundo. Einstein passou toda a sua vida a se redimir pela sua fórmula ter levado à criação da bomba atômica, mas ele também é lembrado pelo grande gênio que foi, os seus conceitos são ainda uns dos grandes pilares da física. — Stephen se aproxima do rosto de Tony. — Todos cometem erros, até os mais brilhantes.

— Mas Einstein não criou a bomba ele criou a fórmula.

— Tu criaste Ultron para proteger o mundo, não para destruí-lo.

Tony manteve-se em silêncio olhando para o rosto de Stephen à procura de mentiras, porém não as encontrando lentamente o seu corpo começa a relaxar na presença do médico. A sua mão aperta contra a de Strange, que dá um pequeno aperto de volta.

— Esta coisa da mão está a ficar estranha. — Comenta Strange pronto para largar a mão de Tony que a agarra rapidamente com força.

— Não estragues o momento, Stephie.

— Strange. Doctor Strange. Quantas vezes eu vou ter que repetir? — Questiona ironicamente, no entanto Tony conseguia identificar uma certa suavidade que não existia em 2008.

Agora que ele pensa bem, faz muito tempo desde que eles falaram pela primeira vez.

— Stephen. — Chama com incerteza na voz. — Eu fiz bem em assinar os tratados, certo?

Strange acena com a cabeça. — Era a coisa certa a fazer.

— Eles não acharam.

— Tony Stark não se guia pelo que os outros acham e sim pelo que ele acredita. — Afirma vendo a admiração no rosto de Tony. — Se não assinasses não serias diferente dos teus inimigos.

Suspirando ele resmunga um obrigado sentindo o cansaço o alcançar lentamente, ele se esforça para se permanecer acordado, tal como tem estado a fazer durante toda a conversa, mas naquele momento parecia impossível.

O médico vendo o cansaço atingir Stark afasta devagar a sua mão para não assustar o outro, se levanta e prepara para ir embora, porém os seus olhos ficam presos na figura que está prestes a cair no sono. Por momentos ele fica quieto, mas ele começa a se aproximar hesitantemente de Tony e depois de segundos de pensamento ele beija-lhe a testa.

— Descansa. — Ele pede.

Saindo da sala, a Christine está do lado de fora com um sorriso de quem sabia algo que tu não sabias e ele detesta aquele sorriso seja em que cara for. Eles ficaram ali a trocar olhares por uns momentos até a Palmer começar a rir.

— Vocês são adoráveis.

Com uma cara de desgosto Stephen sente-se obrigado a responder. — Sinto-me ofendido.


Fazia algum tempo desde que ele ouvia Anthony a falar sobre alguém de forma animada e por mais que este tentasse disfarçar a sua alegria ao redor das outras pessoas Stephen o conhece muito bem e sabe que ele está feliz com a presença de Peter na sua vida.

Peter Parker despertou dentro de Tony algo que não existia dentro dele antes, um lado paternal. Era divertido ver como estava fascinado com a ideia de fazer um novo disfarce que não parecesse um pijama para o miúdo ou de como constantemente estava a verificar se Peter estava bem, às escondidas de todos.

Porém, como todas as famílias felizes, o Spider-Boy e o Iron Man tiveram uma discussão desagradável, ele viu nas notícias o Iron Man a salvar as pessoas de um barco que estava cortado ao meio com o Spider-Boy lá a tentar fazer o mesmo. Tony contou-lhe o que tinha acontecido e que por causa das últimas ocorrências retirou o pijama que ele mesmo fez ao miúdo…

No final eles os dois voltaram a acertar as coisas um com o outro e Tony parecia leve por estar novamente em bons termos com o Spider-Boy.

Isso levou a que Anthony quisesse apresentar Peter a ele, e se ele fosse sincero por um momento, a curiosidade por conhecer o famoso Peter Parker era grande.

Mas ele não queria que o miúdo o associasse ao “Mr. Stark”, Peter tornou-se alguém importante para Tony com aquelas mudanças todas repentinas e isso fazia um lado dele querer que Peter goste dele como um igual.

A outra parte dele estava a rir dele, pois ele estava a tentar impressionar um miúdo, porém, quando a oportunidade apareceu, essa sua parte permaneceu em silêncio, afinal, existe um melhor momento para impressionar Peter depois de quase se tornar um Avenger?

Provavelmente muitos outros…

— Peter Parker? — chama Strange vendo o adolescente sair do prédio olhando hesitantemente para todos os lados como se procurasse por alguém. — Eu sou Doctor Stephen Strange. Tony disse que precisavas de uma carona. — Ele mostra as chaves do carro e segue o caminho para onde este estava estacionado.

O garoto segue atrás dele em passos apressados para acompanhar as longas pernas de Strange. — É um prazer o conhecer, Senhor Strange.

— Doctor Strange. — Corrige por instinto amaldiçoando Tony por todas as vezes que o fez corrigir ao ponto de se tornar um hábito.

— Doctor Strange. — Corrige-se rapidamente olhando um pouco mais hesitante que antes. — Obrigado pela carona.

— De nada, o prazer é meu.

— O senhor- — Do nada se interrompe, olhando como se tivesse cometido um pecado e engolindo o seco. — O doutor não tem que o fazer eu posso apanhar um ônibus. — Então ele arregala os olhos com medo. — A menos que seja o seu trabalho! Eu não quero o prejudicar.

— Eu não trabalho para o Tony. — Responde encolhendo os ombros chegando ao parque de estacionamento, procurando entre os carros o seu. — Vou te levar porque quero, miúdo.

— Oh. — Escapa por entre os seus lábios em compreensão. — Obrigado.

— Já agradeceste. — Responde com um sorriso de canto, logo ele encontra o seu carro. Ele destranca as portas com o comando e abre a do condutor pronto para entrar, até ver Peter ali parado a olhar para o carro. — Vais entrar ou não?

— Este carro é do Mr. Stark? — Questiona apontando para o carro de boca aberta.

Pelo menos o garoto sabe apreciar carros.

— Não. Eu é que o comprei.

— Woow.

O medo e a hesitação desaparecem do sistema de Peter e a animação pela máquina bela consumiu toda a sua atenção. Naquele momento Stephen acha que consegue perceber um pouco de onde vem toda aquela animação que Tony sente pelo miúdo.

Mas só um pouco.