Anthony Edward Stark é uma pessoa distante, charmosa, com lábia, narcisista e encantadora, no entanto a característica mais cativante naquele homem era certamente a sua mente, a forma como ela trabalha, as criações que vêm dela, os seus pensamentos e planos… Uma mente cativante.

Estando do outro lado da sala do congresso científico em Berna com o copo de vinho na mão, conversava com as pessoas da sua área que eram minimamente dignas da sua atenção, enquanto discretamente espreitava pelo canto do seu olho para observar aquele homem brilhante.

Simplesmente um homem brilhante sem dúvida. É isso que Stark é: Brilhante. Infelizmente usa a sua mente essencialmente para a criação de armas, como médico e pacifista que Stephen é, o facto de tal mente ser desperdiçada na criação de armamento era um desgosto.

Apesar desse facto, Tony Stark ainda é cativante, por isso durante a noite toda ele o observa à distância, enquanto aprecia a face daqueles que tentavam conversar com ele com uma expressão de desagrado por conta dos seus comentários um tanto que desafiadores e arrojados.

Num momento da noite o olhar entre eles cruza, é cômico ver o bilionário olhar por cima dos seus óculos escuros o analisando de alto a baixo dando-lhe um sorriso de canto, este levanta o copo na sua mão como uma saudação e educadamente o doutor levanta o seu também.

Naquela noite Stark sai da sala com a mão sobre os ombros de uma mulher que ele tem quase a certeza que é uma bióloga. Pouco tempo depois ele vai embora, já que todos sabem: A festa está morta depois da saída de Tony Stark.

Ao entrar no seu carro ironicamente agradece a Stark por se ter ausentado , afinal ele nunca foi grande fã de festas.

No caminho para casa ele só consegue pensar no longo dia de trabalho que teria no próximo dia.

9 anos passaram-se desde aquela noite, durante aquele tempo ambos trocaram olhares furtivos e acenos educados, mas nunca uma palavra, Stark não parecia interessado em conviver com ele e no final ele também não tentou.

Um dia que o bilionário foi raptado, a comunicação social vai à loucura e o mundo estava à procura de um único homem: Tony Stark.

Secretamente ele acompanhou todas as notícias com afinco, não era todos os dias que as notícias tornavam-se tão interessantes, cheias de teorias loucas e sem sentido, comentários de pessoas sem dois dedos de testa e ainda os concorrentes da empresa Stark Industries que aproveitam a situação para fazer propaganda.

Então, contra todas as probabilidades, James Rhodes bateu à sua porta.

— Stephen Strange.

— James Rhodes. — Talvez ele devesse o ter convidado para entrar, no entanto não o fez. — O que faz um Tenente Coronel bater à minha porta?

— Não acho que seja um tema a ser discutido num corredor. — afirmou olhando para dentro do seu apartamento dando um passo em frente tentando entrar, porém sendo impedido pelo corpo do doutor. — Posso?

Sem outra opção Strange deixa o militar entrar na sua casa, era um apartamento sem divisão entre cozinha e sala de estar com o conceito de “open scpace”, com apenas um quarto que estava totalmente livre de decoração, tudo com linhas simples e cores básicas, dando assim um ar impessoal e requintado ao local.

O doutor o conduziu à sala de estar o fazendo sentar no sofá de frente para ele. Muitos sentiram-se intimidados na presença de um militar, mas Stephen é realista. Ele já viu coronéis e generais a chorar com medo da morte. Rhodes não é diferente desses homens.

No final somos todos humanos.

— Podemos ir diretos ao assunto, Tenente Coronel? — Cruzou as pernas olhando com intensidade.

James Rhodes ri educadamente com a pergunta — O senhor é exatamente como todos dizem.

— Não me chame de Senhor, prefiro Doctor Strange

— Doctor Strange. — Concordou rapidamente, um pouco da consideração por este homem cresceu dentro de Stephen. — Serei direto como deseja. — Rhodes respirou fundo. — Temos potenciais locais de onde o Tony poderá estar, precisamos de um doutor a bordo altamente qualificado, porque não fazemos ideia de como ele poderá estar. — Strange contraiu os lábios com o rumo da conversa. — Ninguém melhor que o brilhante neurocirurgião, Stephen Strange.

— Devem existir pessoas classificadas o suficiente para essa “missão” para além de mim. — O desgosto na voz do médico era evidente. — Entenda, Tenente Coronel, não é o meu lugar para atuar. E se ele precisar de amputar um membro? E se ele estiver a morrer por hemorragia? E se ele necessitar um transplante imediatamente? — Suspira levando a mãos os seus cabelos os puxando ainda mais para trás. — Existem muitos “e se”. Não posso garantir que o seu amigo sobreviva só porque estou lá, temos que ser realistas: Existe uma maior probabilidade com a minha presença que o seu amigo continue na terra dos vivos, mas ela continua a ser baixa.

— Mas pelo menos poderá dizer que tentou. — Rhodes afirmou determinadamente olhando profundamente para o doutor.

— E mancharia o meu registo limpo tentando. — Stephen respondeu no segundo seguinte, sem pestanejar duas vezes.

— É disso que se trata? — questionou o militar se levantando sobressaltado. — O seu registo? Posse? Estatuto?

— Tudo nesta vida é sobre estatuto, sabe disso melhor que ninguém. — Stephen mantém-se sentado em perfeita calma, existe algo em Rhodes que lhe dizia que não lhe faria mal. Respirando calmamente ele observa o homem olhando perdido para ele como se Strange fosse uma salvação certa que lhe foi negada, um olhar que tinha visto muitas vezes dirigido a si.

Uma ideia surge na sua cabeça, uma ideia estúpida e louca que se Christine soubesse que tinha passado na sua cabeça diria que ele estava doente. No entanto, era Tony Stark em risco, uma mente que ele realmente apreciava.

Ele ia fazer isso, não ia?

— Tenente Coronel, eu poderei participar na “missão” e também nas outras, porque o senhor não pode realmente pensar que sou tão ingênuo que acredito que em uma só “missão” iremos conseguir encontrar Anthony Edward Stark. — Com uma certa culpa o soldado observa, esperando com uma esperança idiota nos olhos. — Mas a minha participação terá que permanecer secreta. Ninguém poderá saber que Doctor Strange agiu como médico nas buscas pelo “Merchant of Death”. Faça o que for preciso, não me interessa o quê. — Lentamente e arrogantemente se levantou estendendo a mão para o soldado. — Temos um acordo?

O soldado aperta a sua mão firmemente.

— Eu sabia que não poderias ser tão irritante quanto o Tony.

— Assim me ofende, Tenente Coronel — Afirmou revirando os olhos cinicamente.

— Rhodes está bom. — diz rindo ligeiramente.

— Para quem envio a conta? — Com um sorriso de canto Stephen questiona.

Desta vez Rhodes gargalha e lhe responde entre os risos.

— O Tony é que está desaparecido, não eu!

Durou seis missões para finalmente encontrar o bilionário, ao longe ele conseguia ver o homem a andar devagar pelas areias do deserto com um tecido desgastado sobre a cabeça, com sangue, queimaduras e sujidade, tão diferente daquele homem impecável que ele estava habituado a ver em todos aqueles eventos sociais.

Stark acenava desesperadamente para os helicópteros e gritava com esperança na voz. Um homem quebrado foi a primeira coisa que lhe veio à mente.

O piloto pousou o helicóptero e os militares preparam-se para sair para ir buscar Tony Stark, James Rhodes olha para ele por cima do seu ombro, as mãos dele eram as únicas vazias prontas para carregar o seu amigo. Ele percebeu durante estas seis missões que James Rhodes é realmente um bom homem.

— Aguarde aqui, doctor.

— Para onde iria? — Isso arrancou um sorriso de canto do soldado. Christine diria que ele e o Tenente Coronel se tornaram amigos e talvez ela teria razão.

Ao longe, James Rhodes se abaixou perante Tony e o abraçou que não foi retribuído, mas obviamente apreciado, assim o militar ajudou o seu amigo a andar pelo seu próprio pé até chegar ao helicóptero. Enquanto Stark se aproximava ele conseguia ver uma luz estranha vinda do seu peito, existia uma curiosidade que consumia parte da sua mente, porém aquilo cheirava-lhe a sarilhos, por isso ele decide se abster de tentar saber mais sobre isso. Quando chegou o soldado sentou o bilionário ao seu lado para este ser atendido de imediato.

— Um presente para ti.

— Claro que o primeiro presente que darias-me seria um peso morto — Comentou ironicamente olhando para Stark que o observava ligeiramente admirado. — É um prazer, Anthony Stark, eu sou-

— Stephen Vincent Strange — Respondeu sorrindo de canto. — A tua tese é brilhante e o teu trabalho como neurocirurgião é genial — Rindo ligeiramente ele bate no braço de Rhodes. — Rhodey, encontraste gente da pesada.

— Rhodey — Questionou Strange olhando cinicamente para o militar que lamentou entre dentes.

— Rhodes é melhor.

— Como quiseres, Rhodey. — Isso fez Stark dar-lhe um olhar cheio de diversão. — Já gastámos muito tempo a conversar. Deixem-me fazer o meu trabalho.

— Faça a sua magia, doctor. — Concordou Stark com ironia na voz, porém arregalou os olhos quando Stephen começou a analisar cada ferida.

Assim passou um processo de limpeza de feridas e de tratamento destas mesmas, limpando queimaduras e aplicando o necessário, limpando o sujo do rosto e desinfetando as feridas deste mesmo e por final um braço fraturado que foi colocado ao peito por muito desagrado de Tony.

— Tratei o que podia, agora quando chegares tens que ir a um hospital, pode existir algo que não pode ser detectado a olho nu e eu não tenho o equipamento necessário comigo. — Começou Stephen a falar enquanto cuidava do últimos detalhes como feridas menores. — Terás que sair do avião de cadeiras de rodas, procedimentos. E acima de tudo terás que dizer que foi uma pessoa qualquer que o Rhodey escolheu que tratou-te.

Tony arqueou a sobrancelha.

— Porque?

— Desculpa desiludir-te Stark, mas não quero o meu nome associado a qualquer coisa que o exército mexa. — Stephen afirmou com desgosto na voz. — Sou um pacifista assumido e como tal a minha credibilidade pode ser comprometida.

Tony concordou com a cabeça, obviamente perdido nos pensamentos, parecia que até mesmo as suas palavras o tinham afetado, o que certamente era impossível, pelo menos no seu ponto de vista.

— E isso no peito dele — Perguntou Rhodey curioso e preocupado ao mesmo tempo.

— Nem vou falar disso. — O rosto de Tony ficou sombria. — Não sou mecânico. O corpo não é meu. O problema não é meu. — Ele encolheu os ombros fazendo Rhodes suspirar conhecendo a personalidade indelicada do doutor, porém isso pareceu agradar a Anthony de uma forma peculiar, pela forma de como o canto do lábio se inclinou para cima.

O helicóptero baixou lentamente e no local existiam dois aviões, um maior e outro muito menor e discreto. Todos saíram do helicóptero e os militares correram para o avião maior enquanto Stephen começou a andar para o menor antes de se virar para trás com um sorriso desagradável no rosto.

— Foi um prazer trabalhar com vocês, Rhodey e Stark.

— Chama-me Tony. Stark era o meu pai, Strange.

— Doctor Strange. — Rhodes e Strange o corrigiram ao mesmo tempo fazendo o Tony rir da situação.

Stephen virou as costas e levantou a mão se despedindo gritando enquanto andava.

— Depois envio-lhe a conta, Tony Stark.

Ao longe ele ouve Rhodey rir.

Stephen não costuma estar em eventos como aquele, mas eles davam uma boa imagem e sempre eram em locais amplos, de luzes intensas onde o cheiro de dinheiro pairava no ar.

Caridade sempre dava uma ótima imagem às pessoas, por mais que a maioria de todos os presentes fossem as pessoas mais esnobes que ele conhece. Para além de que todos eram incrivelmente superficiais, provavelmente teria sido uma boa ideia ter trazido Christine com ele.

Nesse momento um homem interessante entra pela sala, Tony Stark, provavelmente não estava convidado pela face que os organizadores estavam a fazer, porém nenhum teve coragem de dizer para o homem ir embora. Muitos diriam que a atitude é de alguém que sofre de stress pós traumático, ele acredita que faz parte do charme de Tony, por mais que a parte do stress pós-traumático ele acredite que seja real.

Anthony foi ao bar e ficou alguns momentos a falar com um homem insistente, mas entretanto Stark o encontra e a sua assistente Senhora Virginia Potts no meio da multidão, no entanto esta não parecia ter percebido a presença de Stark ainda. O bilionário fez a mesma coisa que fazia todas as outras festas, o olhava de alto a baixo levantava o copo como um comprimento educado e começou a andar noutra direção.

O doutor retribui-o gesto, com isso ele tentou colocar a atenção nas outras pessoas na sala, deveria existir alguém interessante para conversar no meio de tanta gente. Até que alguém toca no seu ombro e quando ele olha para a pessoa era nada menos que Tony.

— A quebrar tradições. Que ultraje. — Comentou Stephen bebendo um pouco do líquido alcoólico do seu copo. — A Senhora Virginia Potts está presente.

— Eu sei — Respondeu Tony solenemente. — E eu nunca fui de cumprir tradições. — Bebeu do seu copo piscando o olho para o médico que se manteve indiferente à atitude.

— Certamente demonstra-te isso ao sair do negócio de família. — Aquelas palavras estavam banhadas de ironia, porém isso parecia entreter Stark pela sua expressão divertida e desafiadora.

— O que posso dizer, sou uma pessoa inovadora. — Encolheu os ombros como se nada fosse lhe dando um sorriso mordaz.

— E chamativa. — Sarcasticamente ele levanta o copo como se fizesse um brinde. — Estás na boca do mundo.

— Isso não é uma novidade — Respondeu encolhendo os ombros. — Esperava algo mais doce vindo de ti em relação a isso, “pacifista assumido”. Insatisfeito?

— Nunca disse que estava. — Deu um sorriso matreiro. — Não coloque palavras na minha boca. — Rudemente lhe respondeu, no entanto nunca perdendo o pequeno arco que o canto dos seus lábios fazia.

— Não ousaria. — Retribuiu o sorriso.

Ambos partilharam um olhar íntimo cheio de sarcasmo e ironia, quando ambos terminaram as suas bebidas, Tony pegou ambos os copos e com um sorriso cheio de dentes disse que iria trazer uma bebida para os dois. Disse para Stephen esperar ali por ele.

Ao longe ele o vê a conversar com uma jornalista, esta dá-lhe um par de fotos e Stark a correr para fora da sala.

Nesse momento Stephen sabe que a bebida teria que ficar para outro dia.

Quando Tony diz que é o Iron Man, ele deveria ter ficado mais surpreendido. Amarelo e vermelho eram provavelmente as cores mais chamativas que Tony poderia ter pensado para colocar no fato.

A imprensa foi à loucura e isso foi divertido de ver. O estado a tentar conseguir a armadura de Stark ainda mais divertido. A cena do tribunal foi icônica, estaria certamente gravada para o resto da história da televisão.

No entanto existia algo diferente em Tony, uma certa loucura que não existia antes.

Uma corrida contra o tempo.

Um dia Tony aparece à sua porta e torna-se engraçado pois da última vez que alguém próximo de Stark apareceu no seu apartamento eles falaram sobre a possível morte de Anthony Edward Stark.

Stephen deu espaço para o bilionário passar pela porta do seu apartamento, este entrou olhando com curiosidade para todos os cantos do apartamento, como um pequeno cachorrinho cheio de curiosidade e vontade de explorar. Stephen ficou ali simplesmente a observar o génio se ambientar no seu espaço.

— É um local bonito. — Elogiou perdido nos seus pensamentos.

— Espero que sim, o dinheiro que gastei com o designer de interiores tem que valer a pena — Respondeu Stephen com desdém como sempre, retirando o génio do mundo da lua. — Senta-te no sofá. Queres algum café? Um chá?

— Whisky seria perfeito. — Caminhou até ao sofá se colocando confortavelmente.

— Então um chá será. — Vindo do sofá ele conseguiu ouvir um lamento.

Stephen prepara o chá calmamente sem se incomodar com o tempo que gasta a o fazer, até ele ficar exatamente da forma que ele gosta. Depois de perder uns bons dez minutos de volta do chá ele oferece uma chávena de chá para Tony e mantém a dele entre os seus dedos.

Tony dá um gole no chá de forma desconfiada, no entanto pareceu agradar ao seu paladar o suficiente para dar outro de seguida.

— É um bom chá.

— Eu faço por isso. — E deu um gole do seu próprio. — Diz-me Tony, porque estás a correr contra o tempo?

— Como? — Os olhos se arregalaram cheios de espanto e admiração.

— Já vi muitos pacientes a fazer o que estás a fazer. — Stephen partilha um sorriso secreto com Tony.

— Claro o grande Doctor Stephen Strange já notou a minha condição. — Comentou ironicamente respirando fundo.

— O mundo já deveria ter notado também, mas o mundo é estúpido. — Tony arqueou a sobrancelha para ele. — Só não vê quem não quer. Ainda estás traumatizado com o rapto e com certeza não procuras-te ajuda, isso torna-te ainda mais autodestrutivo. Poderiam pensar que é pura excentricidade, porém os últimos acontecimentos e atitudes foram para além disso. Tornar a Senhora Virginia Potts a CEO deveria ser uma grande pista para todos.

— Pepper é totalmente capaz como CEO.

— Mas Tony Stark também é alguém capaz. — Strange suspira. — Ele não iria oferecer aquilo que ele trabalhou para construir, mesmo que fosse para a Senhora Virginia Potts.

— Ok, Sherlock.

— Doctor Strange, por favor.

— Doctor Strange. — Corrigiu-se como se fosse uma piada. — Custa-me dizer isto, mas está certo. — Ele faz uma cara de desagrado como se fosse vomitar. — Oh, é isto que as pessoas sentem quando admitem algo. — A sua face se contrai em mais caretas de aborrecimento excêntricas e emita um arrepio exagerado. — Desagradável. — Faz outra careta. — Mas, eu estou a morrer. O paládio que uso no núcleo do meu reator e na minha armadura está a envenenar-me e eu já não consigo pensar em mais nada para o substituir. — Suspira.

— Morte por envenenamento, interessante — Comentou intrigado. — No que eu posso te ajudar?

— Pensei que a visão de um médico seria bom.

— Essa não é a minha área, eu trato pessoas, não crio poções mágicas para curar alguém milagrosamente. Não sou nenhum feiticeiro. — Ele bebeu mais do seu chá até este acabar. — Que tal não pensares no que já tens e sim naquilo que ainda não tens? Pensa fora da caixa, tu é que és o inventor entre nós dois.

Com isso parecia que as roldanas de Stark começaram a mover novamente, ele saltou do sofá de Stephen correndo para a porta esquecendo totalmente do chá, um sorriso parecia estar colado no seu rosto e o corpo a correr de emoção.

— Stephen Strange se eu não tivesse com tanta pressa e com um homem de fato estranho no carro à minha espera eu juro que beijava-te — Grita Tony Stark pelo seu apartamento fazendo o médico arquear a sobrancelha para a afirmação de Tony. — Eu tenho que correr. O chá e a companhia estavam ótimos, mas tenho que ir salvar a minha própria vida.

Stephen olha para o homem extremamente animado pronto para sair pela porta do seu apartamento olhando para ele quase como se esperasse uma autorização para sair, isso fez Strange suspirar com a atitude do génio louco.

— O que te deixar feliz Tony. Tenta não voltar aqui só quando tiveres quase a morrer.

— Conta com isso!

Tony sai a correr e ele sente que o apartamento de repente ficou vazio e silencioso demais. O seu telemóvel toca, era Christine. Por momentos ele pensa em atender, mas ele deixa tocar e acende a televisão pronto para ver todas as notícias sobre o Iron Man que certamente viriam.

E elas vieram.

Quando ele acabara de fazer a sua barba e vestir um par de roupas cômodas, certamente não esperava de forma alguma que a campainha do seu apartamento toca-se de forma estridente. Assim, com o seu cabelo estava a cair ligeiramente por cima da sua testa, uma T-Shirt solta e calças de pijama pretas enquanto caminhava descalço, ele foi abrir a porta.

A culpa não é dele quando Tony Stark apareceu naquele dia e naquela hora, vestindo um fato sobre medida, um par de óculos de sol e com uma garrafa de vinho que obviamente custa mais que o seu apartamento e tudo aquilo dentro dele junto. Quando o inventor olha-o por cima dos óculos de sol de alto a baixo ele tenta manter a sua face de indiferente ao máximo.

— Não sabia que vinhas hoje.

— Tu é que dês-te o convite. — Afirmou Tony encolhendo os ombros e entregando a garrafa a Stephen entrando sem fazer grandes cerimônias. — Infelizmente não vinha com data e hora.

— Podias ter mandado uma mensagem.

— Não dês-te-me o teu número.

— Não te faças de inocente, Tony Stark. — Caminhou até a cozinha abrindo a garrafa e pegando dois copos. — Tu conseguirias-o de alguma forma.

— Verdade. — Respondeu indiferente olhando tudo como se fosse a primeira vez ali. — Tens que dizer-me quem contratas-te para a decoração.

— Para algum projeto? — Perguntou colocando o vinho nos copos.

— Algo assim. — Sentou-se. Stephen caminhou até ao sofá e ofereceu o outro copo a Stark que o olhava de forma estranha. — Sabes, sempre pensei que usavas um fato a qualquer momento do dia, até mesmo enquanto dormias. — Rodou o líquido rubro e alcoólico dentro do copo. — Expectativas arruinadas.

— Sabes que trabalho num hospital, certo? — Questionou ironicamente apreciando o vinho, afinal era um bom vinho.

— Mesmo assim. — Ele voltou a olhar para Strange estranhamente. — Parece que estou a ver um documentário sobre a vida animal e estou a ver uma espécie em vias de extinção no seu habitat natural.

— Peço imensas desculpas por essa imagem. — Riu ligeiramente fazendo Tony prestar atenção na risada rude, como se fosse usada poucas vezes. — Parece traumatizante.

— Não imaginas o quanto. — Bebeu um boa quantidade do vinho. — Faz tempo que não bebo um vinho tão bom. — Comento Tony apreciando com gosto.

— Peculiar. — Deixou Stephen escapar. — Grandes festas, inúmeras festas, todas da mais alta classe e nenhuma delas tem vinho bom?

— Nenhum com esta qualidade.

— E em casa? — Arqueou a sobrancelha.

— Não é interessante beber sem companhia. — Tony fala tudo como se tivesse ensaiado para aquele momento, com a rapidez e velocidade que responde.

— Sempre tem a Senhora Virginia Potts. — Tony olhou na direção oposta de Stephen. — Ponto delicado?

— Tão delicado como o teu com Christine. — Respondeu ligeiramente rude, porém Stephen encolheu os ombros sem se mostrar admirado pelo génio saber que é Christine.

— Somos amigos. — Stark voltou a olhar para ele. — Existe amizade entre homens e mulheres, Tony. — Comentou sarcasticamente.

— Eu sei. — Com a mão livre ele amassou a cara como se tivesse cansado. — Eu só pensei que talvez pudéssemos ser mais, mas na altura perfeita… — Estalou os dedos. — … Simplesmente não clicou.

— Amizade é sempre uma opção.

— Sim… — Tony observou Strange acabar o seu copo se levantando para ir buscar a garrafa para encher os copos de ambos. — Amizade é sempre uma opção…

Partir daquele dia o mecânico voltou inúmeras vezes, de todas elas com uma garrafa nova e só ia embora quando ambos a bebessem por inteiro, por vezes ficavam tardes juntos compartilhando conhecimento e frases com carregadas de ironia, no entanto existia dias que Tony vinha sem nada e os dois bebiam chá e ficavam em silêncio apreciando a companhia um do outro.

Tony o convida para a inauguração e pequena festa privada entre ele, Senhora Virginia Potts, Harold Joseph Hogan e Rhodey, da Stark Tower no entanto ele tinha a agenda preenchida nesse dia e ele teve que recusar elegantemente com um simples “Não.” Tony não parecia ser afetado com as suas palavras.

Secretamente ele acredita que pediu a JARVIS para hackear o hospital e encontrar o seu horário no sistema, tal como fez com o seu número pessoal.

Ele foi trabalhar, fez o turno da noite e o da manhã, Stephen estava prestes a sair do hospital até que Christine vem ter com ele a correr e o impede de sair, ela o guia até onde é a sala dos enfermeiros e todos eles estavam a assistir como Nova Iorque estava sobre ataque, como o Iron Man, Capitão América, Hulk, Black Widow, Hawkeye e Thor lutavam.

Pareceu que demorou segundos até os feridos começarem a aparecer e o hospital foi à loucura. Um médico do seu calibre não deveria fazer trabalho como aquele nas urgências, no entanto eram muitos, nunca na vida daquele hospital eles conseguiriam cuidar de tantos sem ele, quantas mais mãos, melhor.

O seu telemóvel treme no seu bolso, enquanto ele coloca o ombro deslocado de uma mulher no local. Ele o fez rapidamente, sendo o máximo eficaz e proporcionando o mínimo de dor possível à mulher. Quando ele pega o telemóvel ele já tinha parado de tocar.

O número era do Tony.

No hospital cai o silêncio, todos os presentes naquela sala olharam para a televisão, o Iron Man levava uma bomba com ele para aquele buraco estranho no céu. Todos gritaram de alegria quando viram os robôs pararem de se mover, porém Stephen continuava a olhar silenciosamente a TV.

Tony ainda não tinha descido.

O portal começa a se fechar.

O coração de Stephen parece que lhe quer sair pela boca.

— Idiota de metal… — Sussurrou para ninguém olhando fortemente para a tela desejando que o homem aparece-se. — Aparece, Iron Man…

E ele apareceu, caindo do céu.

Um suspiro preso na sua garganta é solto e com as mãos a tremer levemente ele se volta para os pacientes cuidando deles com atenção.

Por mais algumas horas ele fica, cuida dos necessitados, faz algumas suturas e coloca no lugar alguns membros deslocados, existiam alguns que necessitaram de ser operados, no entanto a rapidez com que Stephen cuidava dos feridos menores era louca e com o número de horas que ele estava a trabalhar era mais apropriado ele ficar ali.

— Pareces cansado. — Perto dele uma voz rouca chegou aos seus ouvidos, olhou por cima do ombro olhando para o sítio onde Tony estava apoiado na parede.

Ele parecia morto.

— Já falamos sobre como tu sempre que estás quase a morrer apareces à minha frente? — Questionou retoricamente, era suposto a sua voz ter saído mais sarcástica do que foi, porém a preocupação que ele sentiu estava a o afetar como uma pancada com um taco de beisebol. — É que eu tenho a certeza que sim.

— Não me trates assim, acabei de salvar o mundo.

Stephen caminha até ele colocando o dedo indicador sobre a luz brilhante do reator, ele bate nele duas vezes como se as palavras tivessem lhe escapado, a sua face se contorce em desagrado e ele deixa o indicador ali mesmo pressionado. Agora na presença de Tony ele não consegue acreditar que à pouco tempo atrás poderia ter perdido o bilionário com desejo de morte.

Ser próximo a um super herói é uma merda.

— Salva-te primeiro. — Os olhos de Anthony se arregalam. — Se não tiveres aqui quem os vai salvar? A vida não é algo que possas dar e ter de volta, Tony. — Stephen descansa a palma da mão sobre o reator. — Morrer é uma viagem só de ida, idiota.

Ele vira costas e começa a se aproximar dos pacientes novamente ignorando o génio estático deixado para trás.

— Stephen…

— Eu tenho trabalho a fazer.

— Desculpa. — Tony diz calmamente, fazendo Strange voltar-se para trás admirado com as palavras. — Eu sei que isto deveria ser um momento emocional, mas esta palavra realmente tem um som estranho. Não quero voltar a usá-la. — Com isso o médico revira os olhos.

— Realmente ela não combina contigo. — Concordou com um pequeno sorriso no rosto deixando a tensão acomulada no corpo escapar.

— Concordo contigo, Stephanie. — Piscou-lhe o olho sorrindo de canto vendo a postura de Strange relaxar.

— Doctor Strange, Stark.

— É Tony, Doctor Strange.