O barulho de cada gota ecoava por meus ouvidos, me fazendo contar cada uma que atingia o mármore da pia do banheiro. Soltei um suspiro inquieto, sentindo meu corpo se aquecer e uma leve raiva me atingir. – 1, 2, 3 e... – Ouço a tranca ser destrava e a porta se abrir, fazendo o barulho da porta ranger.

— Olá, senhorita Curie. Como está hoje? – A mulher de aparência calma adentrou meu pequeno quarto e observou tudo atentamente, tentando achar alguma anormalidade na minha residência.

— Da mesma maneira de ontem. – Minha voz soou rouca, pois eu não tinha muito costume de falar com alguém, apenas nos períodos da manhã.

— Então pela minha analisa está bem. – Ela deixou um sorriso acolhedor escapar e eu julgava que isso era muito comum, pois seu sorriso logo foi substituído para uma face séria quando me entregou alguns remédios. – Os seus comprimidos. – Colocou-os em cima da minha mão.

— Até quando vou permanecer presa aqui? – Indaguei, sentindo um certo desconforto, pois eu sempre fazia a mesma pergunta. – Já são três meses e estou perdendo minhas aulas. – Não que isso fosse algum tipo de preocupação.

— Não diga assim, Marilyn. – Ela sentou ao meu lado e arrumou suavemente suas vestes brancas. – São apenas três meses e logo você poderá se interagir com outras pessoas, o seu problema é um tanto grave... Estamos apenas analisando o seu comportamento. – Ela levantou-se e abriu novamente um sorriso. – Agora tome o remédio.

Esboucei um sorriso e concordei, jogando-os em minha boca e escondendo-os debaixo da minha língua. – Pronto.

— Seu café já será servido. – Dito isso ela fechou a porta e saiu.

Senti meu corpo relaxar quando cuspo os remédios e solto um suspiro frustrado, pois iria fazer três meses que estava presa nessa clinica, diversas pessoas não entenderiam o que está acontecendo comigo. Mas eu remoía essas lembranças todos os dias antes de eu vir parar aqui, tudo começou quando a vadia da namorada do meu irmão me deu uma bebida qualquer em uma festa e depois eu acordei em uma cama, com diversos médicos ao meu redor e meus pais chorando desesperadamente achando que eu tinha tentando algum tipo de suicídio mal elaborado. Mas o por que deles acreditarem nessa teoria? Talvez pelo fato de eu estar uma semana chorando em meu quarto, mas ninguém conseguiria me entender, pois eu apenas disse que estava chorando porque seria a ultima temporada de Teen Wolf e sim, esse era o motivo das minhas lagrimas, mas que tristeza, não aceitaria o final sem Stydia.

Mas eles reformaram diversas teoria desde o dia que nasci.

1 – Minha falta de amigos.

2 – Minhas sumidas.

3 – Minha falta de responsabilidade com as festas sociais deles.

4 – Alguns casos do fundo de um baú bem velho.

E eu poderia listar diversas teorias malucas que se passaram na cabeça daqueles velhos, mas quando alguém indicou essa clinica, eles acharam que seria o melhor, era apenas um mês. UM MÊS.

Mas como uma boa Curie eu tive que estragar tudo. Minha primeiras semanas não foram fáceis, eu juro que quase matei alguém, nunca tinha dado um ataque de raiva, mas quando fui forçada a entrar em um carro e ser direcionada a esse local no fim do mundo, senti que tinha pisado em um formigueiro. – Tortura.

Fiquei exatamente três semanas tentando achar uma forma de fugir e por isso estou em algum tipo de prisão e recebendo remédios, depois de um tempo tento que toma-los, resolvi me comportar e esperar o momento certo, hoje, eu não os tomo mais, é claro, até porque eles não me disseram para que servia os malditos e odeio toma-los.

Ouço uma batida na porta e percebi que me perdi em devaneios quando o café da manhã foi colocado em um criado mudo por uma outra senhora. – Café da manhã.

— Torrada e geleia. – Falei sozinha até me aproximar e ver que realmente era o que pensava e comecei a come-lo, tentando ignorar a falta do café, mas isso era impossível, pois depois que eles perceberam que os consumia durando o dia toda, eles pensaram. “Será que algum tipo de vicio?” Sério? Por favor né. Provavelmente metade da população começa o seu dia com um café e os toma durando a tarde.

Depois que os comi, comecei a andar de um lado pro outro. – Já fazem um mês que não me mandam café. – Comecei a sentir meu corpo ficar tenso e mordi meu lábio.

Se eu não tinha nenhum problema antes de vir para cá, agora estou começando a ter.

Agora era se sentar e esperar o dia acabar: Café da manhã, almoço e janta. Sem o banho de sol, como sempre. Para que sol, né? Posso apenas ficar sem minhas vitaminas D.

Me jogo na cama e olho para o teto, vendo a pintura gasta. Aquilo é um gato? Mas quem desenha gatos no teto? Quero dizer, isso é impossível.

— Eu vou ficar louca, meu Deus... Eu acho que já estou ficando louca.

A porta foi aberta e quase dei um pulo, pois isso nunca estave nos planos e quando eu digo nunca é nunca.

— Senhorita Curie. – Estava cansada de pedir para elas me chamarem pelo nome, porque eu tinha um, que é parecido com o de Marilyn Monroe, provavelmente minha mãe tem uma historia interessante para esse dia, ela tem historia para tudo e até mesmo pelo Carrie, e por favor, não queiram saber aonde ela tirou.

Meu nome é a coisa mais linda vulgo feia do mundo.

— Senhora? – Pergunto e percebo que estou sendo muito educada, provavelmente ficar trancafiada está me mudando.

— Gostaria de informa-la que seu primeiro passo foi concluído, agora você ira se socializar... Poderia se sentar? – Uma mulher desconhecida com roupar formais falava tranquilamente, mas sua face dura era arrepiante. Daria uns 50 anos para ela.

Nem percebi que havia levantado, apenas me sentei e esperei que ela prosseguisse.

— Estava conversando com seus pais e eles concordaram em coloca-la em uma escola, pelo menos por uns meses... Pois eles gostariam que se formasse na sua antiga. – Ela se encostou na porta. – Você será transferida para um local apropriado, seus pais pediram que não dividisse um quarto e abrimos uma excesso... Lamento informar que estudara em uma escola publica, a única particular é um tanto longe e não gostaríamos de interferir nas rotinas que fazemos. – Me senti um peixinho fora da água ou uma Dori perdida no oceano, não conseguia entender muito o que ela dizia. – Vem, gostaria de acompanha-la ao seu nome alojamento.

Senti meu corpo esquentar e um alivio me consumir. – Oh, meu Deus... – Pensei, desejando não ter ninguém por perto para que eu pudesse pular loucamente.

Fui guiada para a fora de um imenso prédio e fui para um outro, no total eram dois, pelo que ela me contou um era para casos graves e o outro era para casos com uma analise mas leve.

Os corredores eram comuns, parecia um hospital, tudo muito branco e meus olhos ardiam com tudo aquilo. Tinha diversas pessoas neles, pelo que julguei eram enfermeiros ou estagiários. No decorrer do caminho chegamos ao terceiro andar e no final do corredor era onde eu ficaria, pelo que entendi os quartos são obrigatórios serem divididos e por pessoas do mesmo sexo, mas os quartos eram variados.

— Você vai ficar nesse andar e no quarto 501. – Apontou para ele, abrindo-o e me entregando uma chave. – Essa é sua chave. – Quando a porta foi aberta, pude ver o quarto simples e comum. Tinha uma janela grande com grade e duas camas, um espelho pelo que julguei estava protegido e duas malas em cima da cama. – Não tem como tirarmos a outra cama... Então vai ficar com as duas. Aqui está sua nova rotina e voltarei no seu primeiro dia de aula, seus pais mandaram algumas roupas. Tenha um ótima dia. – A senhora não esperou eu responde-la, apenas saiu do quarto.

Caminhei até as malas e vi uma carta. “Família”

Revirei os olhos antes de começar a lê-la.

Hello, queridinha... Aqui é a sua linda mãe te escrevendo, nunca pensei que voltaria a idade da pedra, ops, quero dizer da carta. Bom, hoje você está em uma nova fase por ai, eu espero que esteja se divertindo... Mas não beba muito, ok? Bebidas NO. “KK” Estamos com saudades da nossa princesa, sério, os dias está sendo uma tortura sem fim aqui. Queria pedir desculpar por não ter visto o problema que você estava tendo, sempre me mantive tão ocupada no trabalho e tudo, perdoe-me gordinha, espero que volte logo e que podemos comemorar essa merda com um bolo de morango. Bom, mas agora poderei ouvir sua voz, pelo menos foi o que a senhora disse. Mexi uns pauzinhos para que você tivesse um quarto só para você e tentei deixar livre o celular, mas eles não deixaram. (Como isso? Estou indignada.)
Seu pai gostaria de escrever uma carta também, mas está em uma viagem de negocio. :S

Mamãe tem que terminar a carta por aqui, estou com saudades amor. Amamos muito você e seus amigos dá escola mandaram beijinhos.

Eu te amo.

Com amor, sua melhor amiga vulgo mamãe gatona.

Senti meus olhos arderem com aquela carta, pois eu não tinha problema e eles achavam que sim. Meus pais sempre foram muito diferente, minha mãe de família pobre e meu pai de família rica. Quando se casaram ambos tiveram destinos oposto, minha mãe abriu uma confeitaria e meu pai permaneceu na sua rede de imóveis. Mas tudo que eles fizeram até hoje foi para nossa educação, eu sabia disso, claro que passei por muitas coisas sem eles saberem, você crescer em uma escola cheio de merdinhas que só se preocupam com roupas de marca não é a coisa mais legal do mundo, mas Noah, uau, ele amava isso. Provavelmente ele tomou alguma vacina diferenciada, pois ele era vacinado.

Desde o dia que sai de casa, decidi não falar com meus pais, pois eles em nenhum momento me perguntaram se era verdade o que tinha acontecido. Claro que a carta me emocionou, mas isso não mudaria minha opinião.

Guardei-a no criado mudo e peguei minha lista de rotinas, comecei a lê-la e tentei só lembrar das informações relevantes.

A rotina iria começar ás 5:30 hr. Depois tinha que me arrumar, tomar café da manhã e ir para a escola, voltar e iria ter o tempo livre para estudar, ok, tempo para ficar no quarto trancada. Eu era proibida de sair a noite ou em qualquer período sem permissão.

— Tá lindo. – Suspirei, rendida por ainda ser um domingo, então provavelmente meu primeiro dia de aula é amanhã.

Abro minhas malas e observo diversas roupas e acabei sorrindo ao ver outro bilhete.

“Escolhi as melhores. ;)”

Realmente, minha mãe escolheu as minhas roupas preferidas e eu não conseguia imaginar como ela lembrava disso tudo. Acabei suspirando ao ver minhas vestes de hospitais e decidi me livrar dela. Andei até o banheiro e fiz minha higiene matinal, soltando um suspiro aliviado quando a água morta caiu em meus cabelos. – Uau... – Sussurrei e provavelmente fiquei uns 30 minutos no banho.

Depois de sair do banheiro, me direcionei as roupas e escolhi algo mais confortável: Conjunto de moletom.

Esse era um grande problema no meu guarda roupa, pois adorava moletons. Tentei tirar uma pulseira que tinha no meu pulso, mas era impossível. – Senhor.

Fui em direção ao único espelho que parecia estar guardada em algum tipo de vidro brindado e me analisei. Meu rosto parecia mais pálido que o normal, meus olhos castanhos escuros estavam um tanto vermelhos e meu cabelo parecia ter crescido alguns centímetros, pois estava batendo quase no ombro, fazendo eu admirar a tonalidade do castanho. – Amava-o.

Joguei minhas malas no chão, não estava disposta a arruma-las. E decidi dar uma volta nos corredores, pelo que entendi aqui tinha uma biblioteca. Quando coloco meu pé para fora, observo tudo muito quieto, quero dizer, tinha pessoas no corredores, mas eles não faziam questão de conversar ou se relacionar. Solto um suspiro e aperto o mapa em mãos, começando a me guiar até o local desejado.

Não demorou muito para eu me deparar com uma imensa porta. – Uau. – Pensei, quando adentrei-a e percebi que tinha diversas pessoas lá dentro. Algumas pareciam apenas estar sentada e se distraindo com os grupos que pertencia, pois eles conversavam baixos e riam de alguma piada qualquer. Mas senti um certo desconforto ao perceber que algumas pessoas passaram a me analisar e discretamente cutucavam seus amigos para acompanha-los ao encarar a novata. Pelo menos foi o que eu ouvi uma menina sussurrar para outra, nada discreta... Nenhum deles eram. Senti meus olhos vagarem para rostos desconhecidos e sérios, percebi que aqui tinha pessoas de vários grupos: Metidinhos, nerds, encrenqueiros, religiosos e por ai vai.

Eu não saberia dizer qual seria o meu grupo e me encaixar em um não estava em meus planos.