Prometidos

Capítulo XXXIII


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Jack Hyde estava diferente desde a última vez que Ana o viu, o cabelo cortado mais curto, não tinha mais barba e nem o brinco de diamante na orelha. Porém, ele parecia mais cheio de si ainda.

Ana sentia suas mãos suarem frio, seus batimentos cardíacos estavam acima do normal e ela podia sentir seu sangue correndo em suas veias de forma quase palpável.

A garota recostou a cabeça no estofado do carro, tentando se manter calma - mesmo naquela situação - e seguir as instruções que a Dra. Greene lhe dera: inspirar e expirar profundamente, os olhos fechados e a mente vazia. A pressão de Ana oscilou muito durante a gestação, o que era perigoso - ela cansou de ouvir aquilo de todos.

Então, naquele momento o seu bebê quem precisava de ajuda, e ela iria ajudá-lo.

A obstetra havia sido bem clara na última consulta: qualquer estresse podia ser fatal.

Jack dirigia sem dizer uma palavra, cada vez mais rápido, sempre olhando de relance para Ana pelo retrovisor.

— Para onde está me levando? - a morena perguntou.

O outro bufou.

— Jack, por favor - pediu. - Se você quer dinheiro, tudo bem, não precisava...

— Você sabia que o seu marido destruiu a minha vida - ele cuspiu a palavra "marido" com um desprezo assustador. - Eu quero sim o dinheiro dele, mas é muito mais do que isso.

Ana tinha as duas mãos na barriga, os olhos já deixando as lágrimas escorrerem, o desespero começando.

— É melhor colocar o cinto de segurança, não queremos que nada aconteça com você que não seja pelas nossas mãos - murmurou ele.

Ana engoliu em seco.

— Nós? - questionou.

— O cinto de segurança, Anastacia! - gritou ele.

A garota se assustou e logo tratou de colocar o bendito cinto, fazendo qualquer palavra que fosse sair de sua boca morrer em sua garganta.

Ana ficou bons minutos com os olhos fechados, sentindo o enjôo subir e voltar, se desesperando cada vez mais pela vontade de vomitar de repente.

O bebê estava quieto, como se soubesse que não deveria se mover naquele momento tão trágico. A morena acariciava a barriga no lugar onde fazia mais pressão, onde parecia que o bebê estava mais aconchegado.

O carro parou o que parecia meia hora mais tarde, depois de entrar por uma estrada de terra, em frente um mausoléu.

Ana começou a hiperventilar antes mesmo de Jack sair do carro. Ela queria dizer para que não fizesse sabe se lá o que ele iria fazer, ela queria pedir que ele apenas a deixasse em paz... Mas nada saía, nem mesmo quando o outro a levou a força para dentro da casa assustadora e abandonada.

Ana olhou rapidamente ao redor antes de Jack a levar porta a dentro, não havia nada ao redor, apenas terra e poeira. Ela não sabia o que a assustava mais: Jack, o lugar vazio ou a casa horrível.

Foi só ela entrar e ouvir os saltos batendo no chão de madeira do recinto que ela percebeu - em retrospecto talvez - que nenhuma daquelas coisas era tão assustadora quanto Elena Lincoln sentada numa cadeira velha, segurando uma arma, encarando-a.

Para Ana, Elena sempre teve um quê meio sociopata, com aquele sinistro brilho no olhar de quem estava prestes a estripar alguém, mas sem tirar aquele maldito sorriso cínico - e agora bem macabro - do rosto.

O tempo ficou parado no ar, era como se tivesse passando o mundo a sua frente mas ela não sentia nada, seus pulmões pareciam prestes a explodir por falta de ar, e anos poderiam ter se passado que ela não perceberia. Apenas quando a mão de Jack segurou com força seu braço e a fez entrar mais na casa - que era apenas um quarto sujo e poeirento - que Ana voltou a respirar.

A morena sentia a vida sair de si, ser forçada para fora como se fosse sua alma indo embora. Desde o começo, a única pessoa que ela realmente deveria ter tido medo era de Elena, mas a loira foi a primeira que ela desafiou.

Era assustador até para quem via de fora: atrás de si estava Jack Hyde e a sua frente Elena Lincoln.

A loira - que ela nunca mais vira desde o jantar - estava diferente assim cono Jack, mas não era nas roupas, ou no cabelo, nem mesmo nas jóias. Era na expressão. Ela tinha a face completamente fria, destituída de qualquer sentimento bom ou uma emoção sequer gentil.

Ana sentiu a bile subindo novamente, e então voltando - para sua felicidade.

— Olá, querida - cumprimentou Elena, a arma rodando em seu dedo indicador, as pernas cruzadas, o olhar brilhante, a droga do sorriso.

Elena se levantou, andou com postura - um pé na frente do outro - o salto fazendo um barulho alto, ela parou na frente de Ana e segurou seu queixo com força, a morena ainda sendo segurada por Jack pelo braço, onde já doía com a força que ele usava contra si.

— É ótimo vê-la novamente, pequena Ana - Elena sussurrou contra seu rosto, tão perto que por um momento Ana pensou que a mulher fosse beijá-la.

Ela soltou seu rosto com força, fazendo-a virá-lo com a intensidade, e então olhou para sua barriga.

— E aqui está o pirralho - disse com desprezo.

A arma contornou a barriga de Ana, fazendo a garota prender a respiração e fechar os olhos, ao sentir o cano passando pelo pano de seu vestido para lá e para cá.

— Não se preocupe, querida, vamos nos divertir por mais algum tempo - a loira garantiu. - Solte ela, Jack, não vamos tratar nossa anfitriã assim, não é? - ordenou.

Hyde soltou seu braço, e Ana pôde sentir a dormência se espalhando por ele todo, latejando no lugar que ele apertou com tanta força.

Elena continuou com a arma em sua barriga, e Ana sentiu o bebê chutar de repente, fazendo Elena sorrir e colocar a ponta da arma bem no local.

— Parece que a coisinha acordou - comentou a loira.

Ana soltou o ar devagar, não conseguindo desviar o olhar da arma. Ela parecia paralisada no lugar, como esteve desde que entrou no carro e viu Jack, as palavras da Dra. Greene ecoando em sua cabeça como uma música no repeat: ela não podia se estressar, não podia se estressar, não podia estressar...

Elena destravou a arma, o som tão alto que Ana sentiu que poderia ter escutado até mesmo do outro lado do país.

— Não, Elena, por favor - Ana implorou, o rosto molhado com as lágrimas.

— Por favor? Você? Logo você está me pedindo por favor? - a loira riu, afastando-se dela, mas ainda assim, o alívio não veio. - Ah, Ana, tão bobinha. Acha mesmo que eu te ouviria depois da humilhação que você me fez, de toda aquela cena na frente dos meus colegas de trabalho? E ainda fez Christian me demitir.— ela balançou a cabeça em descrença, a arma mudando de mão. - Como acha que eu fiquei? Nunca me senti tão humilhada, e ainda por uma criança como você - ela voltou a se aproximar da garota, que deu um passo para trás, encostando as costas na parede, as mãos na barriga protetoramente. - Você não achou mesmo que eu fosse deixar passar, não é? Seria muita burrice. Eu esperei, meu amor. Porque essa é a diferença enorme entre nós, sabia? Garotinhas como você, agem por impulso, como animais selvagens, sempre querendo atenção, querendo mostrar que é o melhor na frente de todo mundo. Já mulheres, como eu, esperamos pacientemente a vida dar uma volta inteira e parar em nós. Devo dizer que, claro, nós somos mais inteligentes. Eu iria esperar mais. Eu sei que Christian logo logo estaria nas minhas mãos novamente.

— Iria tanto que eu estou grávida - rebateu a morena, sem conseguir se conter.

Os olhos de Elena vibraram e a loira levou as mãos com as unhas grandes pintadas de vermelho ao seu pescoço, apertando com vontade, deixando as unhas arranharem a pele de Ana.

A garota arregalou os olhos, segurando as mãos de Elena, que foi rápida em apontar novamente a arma para sua barriga, o que fez Ana baixar as mãos.

— Você tem que entender que quem manda aqui sou eu, e você só fica calada me escutando - Elena vociferou, a testa quase tocando a sua com a proximidade.

Elena a soltou, voltando a sorrir.

Ana tossiu, a mão na garganta tentando respirar novamente.

— Estava tudo bem no começo - continuou a loura como se contasse uma história - eu deixei Christian brincar de casinha com você e achar que era isso o que ele queria, eu sabia que logo ele cairia na real e voltaria para mim. Como ele sempre faz. Demorou um pouco, eu estava impaciente, devo admitir. Mas aí, eu estava no meu salão e de repente escuto uma conversa sobre o bilionário Christian Grey que terá seu primeiro herdeiro.

Elena balançou a cabeça, a expressão cínica enquanto rodava a arma no indicador novamente e se afastava alguns passos de Ana.

— Ah, Ana, aquilo tirou o pior de mim. Sabe quando o seu sangue ferve e você seria capaz de matar até um padre se ele entrasse no seu caminho?

A loira bateu com o salto irritantemente no chão de madeira.

— Tudo girou de repente e então BAM - Ana se assustou com a dramatização da loira - Jack Hyde apareceu. Eu me lembrei do incidente trágico com o professor que Christian havia me contado. Eu fui atrás dele, o homem estava pior do que mendigo, sem emprego, sem casa, sem nada. Tudo graças ao Christian - Elena riu. - É o meu garoto!

Ana viu de relance Hyde estalar o pescoço, cruzando os braços com raiva.

A morena sentiu vontade de vomitar.

— Eu dei uma proposta a ele, e uma vingança de brinde. Ele aceitou, claro, não tinha escolha - a loira suspirou. - E aqui estamos nós.

Elena bateu com o revolver na parede, ao lado de Ana, como se para dar ênfase à sua frase, e a morena sentiu com se uma bexiga cheia de ar dentro de sua barriga de repente estourasse.

— Aaaah - Ana gritou, não porque sentiu dor, mas pelo o que aquilo significava.

Elena olhou para baixo e viu o líquido no chão.

A bolsa havia estourado, o bebê estava vindo.

— Huuum, parece que o bastardo está pronto para nascer - comemorou Elena.

Ana encarou a loira com espanto enquanto via o sorriso dela se abrir novamente.

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